Capítulo 8 Um lindo sorriso

O calor da sala começou a dispersar gradualmente o frio que Yusuf sentia por ter ficado tanto tempo do lado de fora. Ele segurava o copo entre suas mãos, mas ainda não tinha bebido a água. Então, ele abaixou a cabeça ligeiramente, mostrando como seus cílios eram longos e grossos.

Naquele momento, o clima do ambiente ficou um pouco incômodo.

Maya o observava, sentada ao seu lado em silêncio. Olhou para Preciosa, que estava sentada a observando sem dar um único latido. De repente, Maya sentiu que estava presa em uma situação confusa e desagradável.

"Aham...".

"Ronc..." Com a mão nos bolsos do longo casaco, Maya pigarreou para reunir coragem e falar. No entanto, antes mesmo que pudesse abrir a boca, foi interrompida por um som tão estranho que a surpreendeu.

Se não estivesse enganada, aquele som parecia vir da barriga do homem sentado a seu lado. A garota imaginou que Yusuf agora estaria bastante envergonhado, assim, achou melhor não olhar para ele. No entanto, depois de alguns poucos instantes, não conseguiu mais resistir a vontade e olhou discretamente para ele. Nesse momento, percebeu que ele também a estava observando.

Os olhos de Yusuf eram mais claros do que água cristalina e seus lábios estavam ligeiramente apertados. Yusuf aparentava estar calmo, mas Maya era muito boa em ler pessoas. Dessa forma, ela percebeu que tinha alguma coisa errada com as orelhas de seu vizinho, pois estavam muito vermelhas.

'Será que devo perguntar se ele está com fome?', pensou ela, tentando achar uma maneira para iniciar uma conversa. 'Seria indelicado fazer uma pergunta assim? Talvez eu devesse oferecer meu celular para que ele possa ligar para alguém que tenha uma chave reserva. E se eu o ajudasse a encontrar alguém que possa abrir a sua porta?'

Infelizmente, ela não conseguiu fazer nenhuma das tantas perguntas que giravam em sua cabeça, pois o homem tomou primeiro a iniciativa de falar.

"Desculpe o meu atrevimento, mas você poderia dar alguma coisa de comer para o meu cachorro? Já passou a hora de refeição dela." Um leve rubor cobriu o rosto frio e indiferente de Yusuf, deixando suas orelhas ainda mais vermelhas. Ainda assim, manteve seu olhar fixo em Maya, sem nem mesmo pestanejar, como se sua vida dependesse da resposta que receberia. Maya não pôde acreditar que ele estava realmente pedindo que ela desse comida para seu cachorro

e ficou sem saber como responder.

Apesar de ser uma pessoa que não ria frequentemente, desta vez ela não estava conseguindo resistir a vontade de rir e teve que morder os lábios com força para não cair na gargalhada. Ao olhar o animal faminto deitado no chão, Maya considerou a situação e viu que seria maldade recusar o pedido.

"Sem problemas." Naquele momento, Maya se lembrou de que ainda tinha umas latas de peixe seco e mingau. Foi até a cozinha, pegou as latas no armário juntamente com uma tigela grande e limpa. Antes que tivesse tempo de passar a tigela para Yusuf, ele já a havia tirado de sua mão, agradecendo e agachando-se imediatamente para alimentar sua amiga de quatro patas.

Enquanto observava a cena agradável à sua frente, Maya não pôde deixar de notar as costas esguias e os maxilares marcantes de seu vizinho. De repente, ela se lembrou de que tinha ovos, tomates e macarrão na cozinha.

Yusuf não conseguia parar de pensar que ficar na casa daquela garota por mais de vinte minutos era a situação mais desconfortável e complicada pela qual já tinha passado em sua vida. Felizmente, Maya o tinha deixado sozinho na sala depois de lhe dar a tigela com comida para Preciosa. Assim, concentrou-se em alimentar seu animal de estimação para se distrair do desconforto.

Depois de um momento, seu estômago voltou a roncar alto e ele mordeu os lábios para aguentar a dor. Preciosa pareceu sentir seu sofrimento, pois ergueu a cabeça e olhou para ele com uma expressão preocupada.

"Não se preocupe comigo, estou bem. Vamos, coma!", comentou ele, acariciando carinhosamente a cabeça do animal.

Poucos minutos depois, ele sentiu um delicioso cheiro de comida vindo da cozinha, fazendo sua boca salivar. Ele estava com tanta fome que pensou que seu cérebro lhe estava pregando uma peça.

"Ei, fiz um pouco de macarrão. Achei que você também deveria estar com fome. Venha comer." Justo quando Yusuf estava quase conseguindo se convencer de que aquele cheiro não passava de uma ilusão, ouviu aquelas palavras proferidas por uma voz doce.

Ele se virou e encontrou um lindo e delicado rosto, com expressão amável, olhando para ele. Maya tinha tirado o longo casaco e ele podia agora ver que ela estava vestindo um suéter verde claro, calças pretas e um par de pantufas confortáveis.

Maya notou que ele a observava atentamente e não pôde deixar de sentir um pouco de vergonha. Mesmo assim, ela lhe deu um sorriso radiante.

Para sua própria surpresa, naquele instante, Yusuf pensou que aquele sorriso era mais lindo que a flor mais bonita que já tinha visto. Seus olhos e coração, antes frios, reagiram instantaneamente e de maneira espontânea.