Capítulo 9 Telefonema

Yusuf olhou para Maya e ela ficou paralisada, com uma expressão evidentemente confusa. Ele a olhava intensamente, deixando-a desconfortável. No entanto, essa não era a sua intenção, Yusuf não queria dizer nada de ruim com seu olhar. Muito pelo contrário, sua expressão era bastante parecida com a de Preciosa, os dois tinham um olhar inocente e fofo.

"Como já passou da hora da janta, fiz apenas um macarrão. Peço desculpas pela minha falta de hospitalidade." Vendo o quanto a cadela de Yusuf estava faminta, Maya podia fazer ideia de quanto tempo os dois tinham ficado trancados do lado de fora.

'Ele é realmente uma pessoa estranha', pensou ela. Ele preferiu ficar esperando do lado de fora a tocar a campainha. Ficou esperando lá por horas, até que ela saísse. Se ela não tivesse que jogar o lixo, ele teria ficado lá, passando fome e frio durante toda a noite.

Yusuf permaneceu calado, não falou nada por um tempo. Ele franziu os lábios e se apresentou: "Meu nome é Yusuf Song."

Agora foi a vez de Maya não saber o que responder! 'Hã?!', pensou consigo mesmo, hesitante e sem entender muito bem a situação. Surpresa com a inesperada apresentação, Maya colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, ainda sem saber como responder. Ela ficou olhando para ele por um bom tempo antes de conseguir se recompor novamente. "Maya Mo", respondeu ela finalmente. "Esse é meu nome. Prazer em te conhecer, meu novo vizinho."

Normalmente, ela não tomava a iniciativa de falar com desconhecidos. No entanto, quando se via em situações em que era forçada a se socializar, Maya tentava dar às pessoas a impressão de ser extrovertida.

Os dois eram vizinhos, mas também eram duas pessoas caseiras que viviam sozinhos e tinham muitas coisas em comum, a ponto de fazer Maya pensar que poderiam ser amigos. Além do mais, ela não achava que era uma boa coisa manter-se indiferente o tempo todo.

Com esses pensamentos em mente, ela decidiu ser uma boa vizinha.

Por outro lado, Yusuf nunca gostou de ficar na companhia de outras pessoas. Ele era um garoto frio e estranho. Em sua época de escola, seus colegas o achavam distante e frio demais, assim que ninguém nunca tentou ser seu amigo. Com o passar do tempo, ele acabou se acostumando com a solidão. Quando ele morou nos Estados Unidos, foi frequentemente assediado por mulheres estrangeiras mais ousadas. Algumas delas inclusive foram atrevidas o suficiente para ir até onde ele morava para tentar seduzi-lo. Ele rejeitou a todas elas, sem nenhuma hesitação, deixando-as tão envergonhadas que pararam de flertar com ele.

No entanto, essa garota parada à sua frente era diferente. Era óbvio que ela tinha se impressionado com a aparência dele e eles já tinham se visto várias vezes. Como se isso não fosse suficiente, eles agora eram vizinhos. Mesmo assim, ela não parecia estar interessada nele. Naquele ponto, Yusuf tinha motivos suficientes para acreditar que ela não o desejava. Maya era apenas uma garota que curtia ficar no conforto de sua casa.

"Prazer em te conhecer", ele respondeu, com um aceno de cabeça.

Maya, com um movimento dos olhos, disse: "Senhor Song, acho que você deveria comer o seu macarrão. Enquanto isso, vou ver se consigo encontrar alguém para abrir a porta para você."

"Ahh! Não há necessidade para isso. Você poderia me emprestar o celular para eu ligar para meu amigo?" Apesar de agora saber o nome dela e de saber que ela não tinha nenhuma outra intenção, Yusuf ainda se sentia desconfortável em conversar com ela. No entanto, ele não tinha outra escolha naquele momento.

Maya apontou para o celular descansando sobre a mesa. "Coma algo primeiro. Quando terminar, você pode fazer a chamada. Agora eu preciso ir lá fora para jogar o lixo."

Ela ia deixar um homem praticamente desconhecido sozinho em sua casa, como se pudesse confiar plenamente nele. Ela voltou a vestir o casaco, as luvas e o cachecol para se proteger do frio lá fora, embora só precisasse sair por um breve momento.

"Bem, e se eu jogasse o lixo fora para você quando for embora?", perguntou Yusuf um pouco sem graça, olhando para ela com espanto. 'Como você pode deixar um desconhecido como eu ficar sozinho em sua casa?', pensou ele. Normalmente ele não costumava demonstrar ansiedade ou vergonha, mas desta vez, ambas as emoções eram evidentes em seu rosto.

Ao ouvir sua sugestão, Maya se virou para ele com o olhar confuso, mas logo em seguida entendeu o que ele quis dizer. Com isso, ela teve mais certeza ainda de que Yusuf era um homem realmente solitário e que não sabia se expressar muito bem. "Não se preocupe, não tenho nada de valor aqui", respondeu ela, tentando dar um sorriso agradável. 'Vendo suas roupas e seu animal de estimação, é fácil perceber que ele é rico', pensou ela em seguida. 'Sendo que como você tem dinheiro, por que se incomodaria de levar alguma coisa de minha casa?', concluiu.

Antes que Yusuf tivesse tempo de responder, Maya pegou os sacos de lixo e saiu apressada.

Ele estava boquiaberto. 'Ela não tem medo da possibilidade de eu me apossar de sua casa e deixá-la trancada do lado de fora?', perguntou-se ele.

Yusuf se divertiu com seus próprios pensamentos e balançou a cabeça, com um sorriso nos lábios, sem acreditar no comportamento de sua anfitriã.

Em seguida, ele se dirigiu para a sala de jantar, sem nem mesmo olhar para a decoração e os móveis, apesar de sua curiosidade. Sua atenção se focou completamente na tigela com o macarrão que estava com um aroma delicioso à sua frente.

Havia um ovo e cebolinhas verdes picadas em cima do macarrão. O cheiro era tão bom que Yusuf esfregou a barriga dolorida de fome, apertou os lábios e se sentou para comer. Ele pegou os hashis e começou a comer devagar.

Claro que estava simplesmente delicioso.

Maya considerou o fato de que os homens comiam mais do que as mulheres, então ela cozinhou uma grande porção de macarrão para ele. Na verdade, Yusuf normalmente não comia tanto assim, mas desta vez, ele comeu tudo que tinha na tigela.

Seus lábios pálidos se umedeceram com a sopa, ganhando uma cor mais atraente e nova vida.

Quando Maya voltou e abriu a porta, Yusuf estava falando ao celular, de costas viradas para ela.

"Bem, ela saiu...", comentou ele friamente.

"Senhor Song."

Antes que Yusuf pudesse terminar o que estava falando, ele ouviu aquela voz doce atrás de si. Parecia que a pessoa do outro lado da linha também a tinha ouvido, pois Maya ouviu Yusuf dizer: "Sim, ela acabou de voltar."

Por um segundo, Maya franziu a testa, mas se controlou rapidamente, fazendo seu rosto voltar ao normal. 'Ele já falou de mim para seu amigo?', pensou ela.

Então, Yusuf virou-se para ela e lhe entregou o celular de volta com certa hesitação. "Senhorita Mo, meu amigo Andy gostaria de falar com você."

Essa informação a surpreendeu bastante. 'Por que isso?!', era a pergunta que se formou em sua cabeça.

De qualquer forma, ela pegou o celular. "Olá.", cumprimentou.

De repente, ela notou algo familiar. "Andy Xu?!"

Yusuf levantou as sobrancelhas, surpreso. Ele sabia que Andy conhecia Maya, mas não tinha parado para pensar na possibilidade de que ela o conhecesse também.

"Oi, Maya! Eu sabia que era você! Como você tem estado? Tem sentido saudades de mim?", perguntou Andy com uma voz brincalhona.

"O que você quer?", perguntou Maya, com a voz séria, já sabendo a resposta da sua pergunta. "Espere, lembro que você planejava comprar a casa ao lado da casa de Crosby, mas agora..."

"Correto! Como Crosby foi para o exterior, não faz mais sentido eu morar lá, e como meu amigo acabou de voltar dos Estados Unidos, emprestei o lugar para ele."

Maya não sabia o que dizer. 'Era como eu tinha pensado', conclui ela somente em sua cabeça.

Na verdade, ela e Andy não eram amigos muito próximos, mas ele era filho de um bom amigo do pai de Crosby. Ele era um homem rico e, nas palavras da própria Crosby, arrogante e infantil também, embora realmente se importasse com a amiga de Maya e a assediasse constantemente.

As duas garotas eram inseparáveis. Então, Maya sabia que Andy era tão louco por sua amiga que estava disposto a fazer qualquer loucura por ela.

Qualquer pessoa que o conhecesse, daria o diagnóstico de fase terminal do câncer de amor por Crosby.

Maya ficou perplexa de como o mundo podia ser pequeno. Seu novo vizinho era o melhor amigo do pretendente de sua melhor amiga. O que ela ainda não conseguia entender era como Andy tinha feito amizade com uma pessoa como Yusuf, que parecia tão elegante e nobre.

"Ela não foi para fora do país para se esconder de você?" Andy tinha chorado no aeroporto ao se despedir de Crosby. Ele chorou tanto que conseguiu arrancar a promessa de que a garota o veria duas vezes por ano.

No entanto, o motivo principal para Crosby não querer voltar era justamente Andy.