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"Então você tem uma boyband?" eu perguntei sem muito interesse após muito conversar com o cretino sentado ao meu lado.
Não havia muito o que se fazer naquele avião e após o estranho puxar assunto comigo, percebi que era uma ótima ideia jogar conversa fora, bem, me parecia melhor do que escutar repetidamente a minha playlist...
"Correto e... eu não consigo acreditar que você não me reconheceu, quer dizer... quem não conhece?" ele refletiu convencido e eu apenas revirei os olhos.
A bem da verdade era que eu não fazia a menor ideia de quem era aquele cara e partindo dai, nós podíamos concluir que ele não era tão famoso assim. Nunca ouvi uma música, tampouco assisti a alguma entrevista com qualquer celebridade com um nome tão ridículo.
"As pessoas estariam dispostas a pagar um valor altíssimo apenas para tirar uma foto comigo e você diz que não me conhece?" ele continuou tagarelando e eu já queria atirá-lo para fora do avião.
"Querido... preste atenção. " disse e ele me encarou curioso." Enquanto algumas pessoas aproveitam a vida de ídolo adolescente, sucesso, fãs enlouquecidos e todas essas merd*s algumas pessoas passam a madrugada em claro tentando estudar para conseguir uma vaga em uma boa faculdade, ocupadas talvez, com coisas mais importantes que essas baboseiras." sorri simpática. "música é arte, isso é tudo o que importa."
"Não vale usar você mesma como exemplo." ele resmungou.
"Como sabe que estou falando de mim?"
"Não ficou claro?" ele questionou e o fitei confusa."cabelos desarrumados, óculos, livro em mãos... com certeza você é aquela pessoa que põe estudo acima de qualquer coisa. Não deve ter muitos amigos e... " ele fez uma pausa para analisar minha aparência. "desconfio que sequer tenha um namorado."
Eu me segurei para não rir, então ele pensava ser bom em ler as pessoas? - Estava tão decepcionada que eu senti um pouco de vergonha por ele. Mas eu não diria nada em voz alta, não enquanto ele estivesse do meu lado...
Era verdade que eu colocava o estudos acima de tudo, mas por um tempo foi por pura pressão... antes que eu pudesse seguir meu sonho e na moral, numa família de profissionais renomados o mínimo que se pede é um pouco de dedicação... vamos e convenhamos!
"Você tem toda razão." disse atraindo a atenção dele para mim, queria me divertir um pouco. "E ninguém é bom o suficiente para conseguir ser meu namorado, não adianta tentar me abalar... você vai perder seu tempo."
"Quem lhe garante isso?" ele perguntou áspero.
"Meu filho, sua fama não vai durar para sempre." sorri nasalmente. "abaixa sua bola, tá achando que é quem, deus?"
Ele não respondeu e nem se atreveu a me dirigir a palavras outra vez, coloquei os fones de ouvido novamente, e dessa vez, no último volume para que aquele c*zão tivesse dificuldade para dormir, e eu optei por aquela música bem desgr*çada. Não adiantou, no entanto, já que pouco tempo depois eu o vi cair no sono e durante as próximas horas ele dormiu feito uma pedra, encostava sua cabeça em meu ombro vez ou outra, mas eu estava com tanto ódio que o afastava violentamente, acordando-o logo em seguida.
Se tinha tanto dinheiro devia ter comprado um travesseiro, não é?
Quando o avião pousou eu respirei aliviada, peguei minha mochila e saí o mais depressa que pude, não queria nem olhar de novo para aquele cara e após todo o processo para entrar no país eu até me perdi procurando a saída daquele aeroporto que parecia não ter fim. Eu tinha apenas uma mala e mesmo assim, aquela maldita bagagem estava dificultando minha vida. Quando finalmente consegui sair de lá eu fui até um táxi e pedi que o motorista me levasse até o dprmitório da faculdade. Caro como era, com certeza, seria a última vez que eu pegaria um em toda minha estádia ali...
"Olá?" chamei assim que abri a porta do quarto, provavelmente estava vazio.
Deixei minha mala em um canto qualquer daquele quarto, juntamente com a minha mochila. Haviam duas camas e como não tinha ninguém, resolvi escolher uma. Aproveitei e coloquei algumas roupas sob o colchão para que facilitasse minha vida após o banho. Quando abri o registro, a água morna molhou todo o meu corpo e trouxe uma sensação inigualável, eu estava aliviada por ter finalmente chegado e nem conseguia acreditar que tudo estava acontecendo. Mais tarde eu tentaria sair para comprar alguma coisa e conhecer um pouco do bairro universitário. De banho tomado, me enrolei na toalha e voltei para o quarto, onde me assustei ao ver uma garota baixinha segurando as roupas que estava em cima da minha cama.
"O que está fazendo?" perguntei confusa.
"Ah, esta cama é minha." ela respondeu simpática e eu senti meu rosto ficar vermelho.
"Me desculpe por isso!" exclamei envergonhada. "É que não tinha ninguém, pensei que só eu estaria aqui por enquanto..."
"Ah, relaxa bobinha." ela disse sorrindo."Meu nome é Hyelim, serei sua colega de quarto agora. Mas não se preocupe, eu nem apareço muito por aqui."
"Sei como é, passa muito tempo estudando?"
"Quê?" ela perguntou sorrindo. "Não, antes fosse. Eu vivo no dormitório dos meninos, por conta do meu namorado, ele é jogador de basquete... um gato, se você quiser saber!"
Eu franzi o cenho, "que garota louca" pensei e analisei os acontecimentos:
1° eu fiz inimizade com um cara "famoso".
2° minha colega de quarto era totalmente desp*rocada.
E olha que eu tinha acabado de pisar naquele cidade...
"Ok, estou indo nessa." ela avisou enquanto tentava fechar a bolsa abarrotada de roupas."Vai rolar uma festa para os calouros e se você quiser eu estarei lá, se não, tem como abrir a porta mim por volta das 3h30?"
Ela falou, eu nem me liguei que aquela vaca estava sendo maliciosa, mais tarde eu ia entender...
"Ah... tem, tem sim!" disse me sentindo um pouco perdida, meu deus, que garota bizarra...
Terminei de vestir a roupa e fui procurar meu notebook dentro da mochila, precisava conversar com Diana - minha irmã mais velha - me distrair com qualquer coisa antes de começar a surtar.
"AAAAAAAh! VOCÊ ESTÁ AÍ MESMO!" ela gritou surpresa. "Como que foi a viagem? me conte tudo..."
"Destrutiva, caótica... e tem como piorar." comecei e ela já estava sorrindo como uma maluca. "Eu fui ao lado de um cara que é famoso aqui, de classe econômica porque os gênios estavam fazendo uma confusão no aeroporto e antes que você venha me perguntar se a criatura era bela, já vou adiantando que beleza não é tudo se o cara é arrogante e convencido!"
"Caras famosos que viajam de classe econômica? Estou chocada em cristo,olha quanta humildade!" ela exclamou. "Mas escute, talvez ele tenha tido um dia ruim, os famosos tem essas coisas e o aval para ficar de saco cheio." ela riu.
"Mesmo assim, não gostei do modo como ele falou comigo, primeiro ficou forçando barra e depois começou a se exibir..."
"Aí garota, às vezes ele queria te c*mer e não tava sabendo pedir." disse e meus olhos quase saltaram para fora de tão arregalados que ficaram. "Como no reino animal, os machos precisam impressionar as fêmeas..."
"Diana!" a repreendi, Deus tenha misericórdia dessa mulher.
"Para vai!" ela pediu. "Tenha fé que nem todos são assim, agora vamos mudar de assunto... como é aí?"
"É bem bonito, está nevando e as ruas estão abarrotadas de neve." falei e ela colocou as duas mãos no rosto. "eu já escorreguei!"
"Eu lembro quando vi neve pela primeira vez... fiquei me esfregando no chão frio por horas." ela inspirou profundamente sentindo a nostalgia.
"E depois ficou resfriada, me ligou espirrando catarro... francamente, Di."
"Nem me lembre, e como é o dormitório aí?" perguntou-me curiosa. "conheceu a colega de quarto?"
"Desp*rocada, meu Deus!" disse imediatamente.
"... ih, caramba!" Di exclamou com a mão na testa. "maninha, eu preciso vazar, aproveite bem porque a medicina não é fácil!"
Sorri fraco, ela não sabia do detalhe e não seria eu a portadora de más notícias. Dante e Diana se davam muito melhor com medicina do que eu, estava mais para as artes do que catéter, jalecos e corredores. Não, eu iria segurar minha mentira até que não houvesse mais formas de esconder...
Quando a noite caiu eu resolvi ir na festa dos calouros que Hyelim havia mencionado, coloquei três camadas de blusa e duas de calça - ao contrário do que dizem por aí, o frio não nos deixa mais bonitos, a verdade é que não dá para ser estiloso se está todo empacotado e cá entre nós, eu odiava, de verdade...
Quando deixei o prédio onde ficavam os dormitórios eu saí andando como uma barata tonta, nem sabia para onde estava indo e por coincidência do destino, eu esbarrei com Hyelim no campus.
"Amiga!" ela gritou, estava do outro lado, próxima a um grupo de garotos que julguei serem jogadores de basquete. "Aqui!"
"Garota, pra que essa gritaria?" perguntei e ela logo veio me abraçar.
"Eu achei que você não tinha me escutado." falou e eu relevei. "Vem, eu vou te apresentar a galera."
Ela pegou minha mão e me levou até os rapazes, tinham apenas mais uma garota além de nós, mas eu não achei ela tão amigável...
"Esse aqui é o Joe, meu namorado... ele joga no time da faculdade." é claro que ela iria apresentar primeiro o namorado dela, ela nítidamente era obcecada por ele... "E aqueles são Marshall, Barbara e o Michael" ela me segredou... "todo mundo chama ele de cheira sal, então, se você quiser umas coisas pesadas é só falar com ele.
"Garota?" eu a repreendi e ela apenas sorriu, meu deus!
Ela se afastou com um sorriso diabólico, eu me esforcei, de verdade, para não demonstrar o que estava sentindo, já que era uma possível amizade e eu não poderia desperdiçar, mas se eu pudesse...
"E aí!" ouvi alguém dizer atrás de mim e quando me virei, dei de cara com um monstro.
Era exagero, quer dizer, você não recebe muito bem um desconhecido na posse de um machado, e pior ainda com uma máscara do Jason - aquele maluco da cerra elétrica - tão repentinamente. Confesso que senti meu coração disparar, a pressão abaixou e alguns jogadores até fizeram menção de me pegar caso eu ameaçasse atingir o chão... eu estava bem, só não esperava tomar aquele susto.
"Caramba!" o máscarado sorriu, eu não sabia se de felicidade ou culpa, mas todos nós esperavámos que fosse a segunda opção... "eu não imaginei que você poderia se assustar."
Simpático, mas eu não consigo acreditar, pensei antes de espremer os olhos e responder aquele abusado:
"Cara, eu acabei de chegar aqui." disse tentando segurar o riso. "Eu quase pensei 'pronto, vou ser mais um caso de true crime para uma blogueira comentar em vídeo!"
Ele não conseguiu segurar o riso, me contive até onde pude, mas não demorou até eu estar rindo ao lado dele, e de repente, uma crise de riso nos atacou, parecia tão engraçado que eu não consegui me controlar até sentir minha barriga doer e em um momento quase sufocar.
"Mas falando sério." ele começou, tinha a voz ofegante e as duas mãos apoiadas no joelho. "Eu me aproximei porque eu vi uma garota colocando isso aqui..."
Ele se aproximou e puxou um rolo enorme de papel higienico que estava pendurado em minha roupa, alguém queria me ver passando vergonha no primeiro dia... mas que beleza!
"Você viu alguma coisa?" perguntei furiosa, ainda que no fundo eu já soubesse.
Ele apenas indicou minha colega de quarto com o queixo e eu nem me dei ao trabalho de me virar para vê-la quando escutei as risadinhas forçadas. Abanei a cabeça com ódio, era tanto que eu simplesmente sai andando sem rumo, com o máscarado atrás de mim...
"Imagine só, sofrer bullying à essa altura do campeonato!" murmurei para mim mesma. " V*dia do car*lho, ela vai ver só."
"Garota!" ele gritou enquanto corria.
Eu não parei, queria que ele fosse se danar, sumisse da minha vista ou algo assim. Já estava com o rosto corado e senti que a qualquer momento eu poderia explodir, tentava manter a calma, respirar fundo para conseguir raciocinar com clareza, mas acontece que eu estava put* e aquele cara me seguindo me deu nos nervos!
Não consegui me livrar, num determinado momento eu precisei pausar os passos para saber onde estava, e foi exatamente nesse momento que ele me alcançou. Era ótimo que a gente já acabava com aquela palhaçada, mas eu quase me esqueci do ódio quando ele tirou a máscara.
"Que cara bonito", pensei comigo mesma e já estava embasbacada, o cabelo castanho caiu no rosto e quando ele sorriu foi meu fim, eu quase decretei minha morte ali mesmo. Puta merda, eu tinha acabado de chegar e já estava apaixonada... Pronto, aquela visão foi o que eu precisava para me acalmar - desconfio que ele tenha entendido, porque o choque foi tão grande que eu nem pude disfarçar - e após isso, eu o ouvi e rapidamente ele me convenceu a ir pegar um ar.
É claro que eu não ia perder a oportunidade, e analisando a situação, acho que eu estava pagando com a minha língua por agir como a Hyelim, que fod*-se, não dou a mínima.
"Você não pode ser tão inocente..." ele falou após algum tempo de caminhada. "Algumas garotas são malvadas, precisa ficar mais atenta!"
Ele é tão querido...
"Olha eu ainda estava desnorteada." expliquei tentando não entrar em outra crise de riso. 'Você não sabe o sufoco que eu passei para chegar até aqui!"
Ele riu e abaixou a cabeça acompanhado de um gesto negativo, ora, a situação era engraçada, eu só não entendia porque ele estava com vergonha de rir...
"Eu não posso..." ele disse rapidamente e comprimiu os lábios.
Sim! Nós entramos em uma crise de riso outra vez e só conseguimos parar quando notamos uma movimentação estranha de alunos, não muito distante dali. Seu olhos cresceram na hora, não consegui me recompor, ele agarrou meu braço e começamos a correr feito loucos, no instante seguinte, eu vi outras pessoas fazerem o mesmo. Eu não entendi nada, estava viajando na maionese, mas finalmente, entre risos eu perguntei:
"Do que nós estamos correndo?"
"Você não vai querer saber..." ele respondeu sinceramente.
"Qual é, o que pode ser tão ruim?"
Tudo, pensei alguns instantes mais tarde, depois de ouvir um calouro gritar um pouco mais a frente. Como se não bastasse tudo o que eu tinha passado aquele dia, o universo me colocava em mais situações ainda cada vez mais humilhantes... eu ia aprender o que com isso? ter mais motivos para me matar?
"Ah você está de sacanagem, é America Pie, p*rra?" gritei enquanto corria com aquele estranho bonito. "Como assim chuva de leite... eles podem fazer isso?"
"Não é no sentido literal da coisa!" o ouvi sorrir discretamente e acabei percebendo que talvez ele tivesse razão sobre a minha ingenuidade. "...é só leite morno misturado com gema crua, fica tranquila!"
"Meu deus..."
"Mesmo assim, se pegar em você é chacota o ano todo."
Eu estava pasma - para não dizer outra coisa - e após alguns minutos de uma intensa corrida, finalmente encontramos um abrigo seguro até que aquela brincadeira de mau gosto acabasse. Mas eu ja estava na merd*, se não tivesse encontrado aquele cara eu teria assinado minha sentença e condenado meu ano no primeiro dia... eu só não sabia se era sorte ou azar!
"À propósito, meu nome é Jacob."
Eu ri nasalmente evitando pensar em crepúsculo - ainda que a semelhança fosse zero - Infelizmente, meu julgamento estava preciptado.
"ChungJian, mas ninguém me chama assim... é só Jia."
"Muito bom porque eu não sei se consigo pronunciar." ele riu novamente, mas dessa vez, eu estava preparada e simplemente desviei o olhar.
O cara era um deus, mas eu não estava disposta a sofrer pelo seu sorriso, palhaçada tinha hora!
"Então, como você veio parar aqui?" ele perguntou, todavia, não tinha certeza se Jacob estava realmente interessado naquela história.
Dei de ombros, até os retardados acabarem a baderna ficariamos escondidos durante algum tempo, se aquela era uma maneira de se livrar do tédio, eu pensei, por que não? - e então contei toda a minha história merda de vida, fazendo aquele drama que todo mundo conhece quando ouve alguém reclamar por estar insatisfeito - óbvio que eu estava ignorando as partes importantes que me causavam gatilho - e expondo apenas as coisas das quais eu não me importaria que um estranho soubesse.
"... e seus pais biológicos?" ele perguntou, sem pudor nenhum.
Quase atirei meu celular no rosto dele, mas estava tudo bem, ele era gente boa, estava me ajudando e eu não ia ser mau educada - apesar da vontade, considerando que da última vez, Hyelim merecia e eu fiquei com dó da pele dela.
"Eu sei que minha mãe era doente e morreu pouco depois do meu nascimento, foi a história que me contaram e eu não tenho a menor paciência para ficar correndo atrás disso."
'Você é engraçada." Jacob sussurrou encarando a minha alma.
"Para com essa merd*!" avisei sentindo meu coração acelerar.
Depois que a palhaçada acabou, conseguimos nos esgueirar entre as lixeiras e deixar o nosso esconderijo, Jacob me apresentou um pouco do campus - uma pequena parcela daquele território já que estava frio e eu não via a hora de voltar parra minha cama quentinha -, antes de me acompanhar até o quarto, ele me deu ideias sobre o que eu deveria fazer para me vingar da Hyelim, mas como eu sou sistemática, concordei com a primeira opção que me foi dada, já que no final eu iria ignorar e fazer tudo do meu jeito!
"Se cuida!" ouvi ele dizer antes de colocar a máscara no rosto e sair caminhando pelo campus.
Cheguei no quarto, corri para janela e fiquei observando Jacob até que ele sumisse da minha vista. Quando isso aconteceu, eu corri para o banheiro e liguei a torneira da pia, havia um porta escova de dentes, eu esvaziei o recipiente e enchi com água até a borda. Voltei para o quarto, me certifiquei que a porta estava trancada e parti para a ação.
Molhei o colchão daquela vagabunda porque eu sabia que estava frio e que aquela noite ela dormiria ali, queria que ela chegasse cansada, morrendo de frio, tirasse a roupa e encontrasse o colchão ensopado.
"Eu não sou ruim..." murmurei na intensão de aliviar minha barra. "Estou dando o que ela merece, é isso!"
Me deitei sentindo-me tão leve que estava confortável até para respirar, não demorei para cair em um sono profundo e só acordei quando ouvi Hyelim chegar. Levantei-me com dificuldade e segui para a porta, destranquei a mesma e corri para cama com o desejo de fugir do frio, ela estava um pouco tonta, demorou para entrar mas logo gritou:
"Bom dia amiga!" ela exclamou com a voz embargada e altamente álcoolizada.
Eu não respondi - sabia que pelo modo de falar estava bêbada - então eu não iria perder meu tempo, a última coisa que eu precisava era de uma pessoa para cuidar. Fechei meus olhos e comecei a imitar uma respiração pesada, fingindo que estava dormindo, assim eu poderia evitar que ela me incomodasse.
Eu ouvi ela caminhando a passos lentos na direção do banheiro, no instante seguinte, o barulho da água caindo do chuveiro e a reclamação da tempertura - eu me apressei e mudei para a fria. Porém, não foi nem de longe um escandâlo, perto da reação que ela teve quando deitou na cama molhada, correu para acender a luz, certificou-se de que não era outra coisa, bateu o pé e foi embora.
Passei alguns instantes rindo e imitando o chilique que ela fez, mas não demorou para que a criatura voltasse, cerca de 15 minutos, dessa vez, quase afogada pelas lágrimas. Eu não quis saber, a bem da verdade era que pouco importava, e machucava ela, me fazia sorrir então estava tudo bem.
Quando o céu começou a clarear eu me levantei e dei de cara com a cena lamentável da minha colega de quarto dormindo sob o chão, mas não me comoveu, coloquei minhas camadas de roupa, peguei minha carteira e sai com o pensamento de encontrar uma lanchonete para comer, pois estava há muito tempo sem me alimentar.
Esbarrei com Jacob no caminho - se isso começar a acontecer com frequência eu facilmente vou acreditar no pensamento de que talvez ele seja um stalker - e seguimos juntos para uma lanchonete que ele alegou ser bastante popular entre os estudantes. Conversamos muito, a comida era boa, jogamos sinuca também e eu aceitei a ideia de tomar uma cerveja às quase 9 da manhã.
"Não sei como você está de grana, mas se quiser eu posso ver com a minha tia se ela está precisando de alguém para trabalhar no estúdio dela." ele comentou simpático e seguiu a bolinha roxa até que ela entrasse no buraco.
Eu sou ótima jogando essa merd*.
"Seria uma boa, preciso começar a juntar dinheiro já que eu vou ser deserdada até a formatura." eu resmunguei amargamente enquanto passava o giz na ponta do meu taco.
"Eu não sei se eu deveria perguntar..." ele brincou e ergueu os olhos para me encarar.
Não estava esperando vitória de virada, mas foi o que aconteceu alguns instantes depois. Me restaram 3 bolas e quando eu vi a principal atingir o buraco, me segurei para não me acabar em lágrimas.
"Você trapaceou!" disse e bati o taco no chão, por algum motivo, acreditei que daria um bom efeito, sem saber que estava errada.
"Aceite sua derrota..." Jacob fez uma expressão estranha, como se tivesse acendido uma lâmpada dentro de sua cabeça. "Eu acabei me esquecendo de te contar a fofoca!"
"Qual fofoca?"
Me desesperei, era meu segundo dia e já tinha saído fofoca, eu fiquei curiosa tentando pensar a respeito.
"Hyelim foi até o dormitório do namorado, o jogador, e encontrou ele em uma situação bem daquelas..."
E ai fazia sentido ela ter voltado pior, mas eu não senti pena daquela cobra, ela bem que mereceu a chifrada. A lei do universo era ótima e acontecia no tempo certo, a partir dali, foi só alegria, chamei Jacob para sair a noite, conhecer lugares diferente e como ele topou, eu pedi um tempo para me arrumar já que passamos metade do dia jogando sinuca e falando mal da Hyelim.
"Aquela parada do emprego." me lembrei antes de voltar para o meu quarto. "Você consegue pra mim?"
"Claro, se você esperar eu posso tentar falar com a minha tia agora."
Estava tão interessada no emprego que sequer me dei o trabalho de perguntar qualquer outra coisa, preciso juntar dinheiro, porque o futuro era incerto e eu desconfiava que minha família fosse me dar alguma ajuda depois de descobrir que eu fui uma traidora e na verdade, tinha enganado todos que me apoiavam para seguir meu sonho.
"Dê o telefone para a Jane." Jacob pediu assim que a ligação foi atendida. "Mas que dr*ga, só passe a ligação para ela!"
Observei atentamente enquanto ele conversava com uma pessoa do outro lado da linha, ele se afastou, volta e meia se aproximava e com um aceno, Jacob me pedia para esperar mais um pouco. A ansiedade quase me engoliu durante aquela ligação que pareceu durar uma eternidade, enquanto um milhão de paranóias eram criadas dentro da minha cabeça.
"A boa notícia é que ela está precisando de alguém, mas o serviço é chato... organizar as coisas no estúdio, dar assistência aos fotógrafos, buscar um cafezinho." ele terminou a última frase e coçou a cabeça sem jeito. "O plus é ter que puxar o saco de todo mundo, aguentar os queridinhos da TV, que sempre aparecem por lá, e a merd* do Rio, que é um cara insuportável... ela paga bem, mas eu não acho que vale a pena."
"Eu topo." dei de ombros, do meu ponto de vista, não parecia ser tão ruim.
"Você só pode estar brincando!" Jacob riu nasalmente. "Tem tendências masoquistas, por um acaso?"
"Jack, eu preciso de dinheiro, depois eu arrumo alguma coisa melhor!"
Pelo menos ele sabia do que estava falando, eu por outro lado, fui na cara e na coragem e se arrependimento matasse, eu não tinha dúvidas de que estaria mortinha da silva!