Capítulo 3 Zero Fodas

"... Tá, eu retiro o que eu disse!" Falei no momento que encontrei Jacob perdido nos corredores da faculdade, ele estava sentado enquanto mexia no celular e no instante em que ouviu minha voz, ele ergueu o olhar para me encarar. "Eles são horríveis, jogam todo o tipo de trabalho pesado sob minhas costas e eu até agora não sei porque gostam de me tratar com tanta maldade.

"Eu avisei." Respondeu simples e guardou o celular no bolso. "Agora vê se anda rápido, ou vamos nos atrasar para a próxima aula... tem prova da Lenora!"

"Quê?" Perguntei franzindo o cenho, não sabia que era dia de prova. "prova de que?"

Os meses se passaram tão rápido que eu nem pude acompanhar, havia definitivamente alcançado meu limite, trabalhava naquele lugar das oito até às cinco todos os dias da semana, e às vezes, eu era obrigada e me meter naquele ninho de cobra aos domingos. Me escravizavam das piores maneiras possíveis, e em certos momentos, acreditava que faziam de propósito, porque do meu ponto de vista, sentiam prazer em implicar com tudo o que eu fazia, as razões?

Executava minhas funções com tranquilidade - até o que não me era suposto fazer -, limpava o chão quando alguma criatura idiota passava com a bota suja, buscava comida para os funcionários, servia cafezinho... até banco cenográfico eu já fui, só para se ter uma ideia. Todos os dias, o meu ódio se tornava maior por aqueles artistas, afinal, eram todos iguais: arrogantes, só se importavam com o próprio umbigo, embora as coisas fosse completamente diferente quando as câmeras estavam ligadas, e ninguém economizava quando se tratava de fazer um teatro.

Eventualmente as coisas podiam se tornar piores, e eu observava todo tipo de sofrimento, daqueles que se mantinham escondidos debaixo dos holofotes, e se faziam presentes quando ninguém estava olhando. Assistir às pessoas obrigando-se a se submeter àquelas humilhações por dinheiro, fama ou sucesso, fazia com que eu pensasse no que era de fato importante e se alguém ali tinha noção da gravidade das coisas que estavam fazendo...

"O vestido está muito apertado!" a loira resmungou.

"Claro minha querida, você já se olhou no espelho? Viu o quão gorda você está?" a tia naja do Jacob falou acompanhada de uma risada diabólica.

Vi nos olhos da garota que aquilo a tinha magoado, no entanto, ela não deixaria transparecer. Jane apenas continuou a alfinetá-la por todo o dia, criticando a menina sempre que podia, e reclamando de seu peso, que aos meus olhos, estava deplorável, já que ela se encontrava em estado anoréxico, por assim dizer.

Uma semana depois, o mesmo Girl group da semana passada voltara, seria as últimas fotografias e quando meus olhos encontraram a loira moça - que eu desconhecia o nome - pude ver a mudança. Ela havia perdido peso, e agora Jane, não poupava os elogios. Fazendo a menina sorrir como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo.

Eu senti vontade de matá-la, mas infelizmente, aquela situação não acontecia somente ali. Existiam outras pessoas como ela, era algo que eu não poderia mudar, nem se eu quisesse. Era a realidade e eu tinha que aceitar, embora me deixasse frustrada."

Minha rotina era cansativa, e quando eu chegava no dormitório, não me sobrava forças para assistir às aulas. Perdi as contas de quantas vezes faltei, e quantas vezes fui chamada a atenção, devido meu comportamento preguiçoso, mas o que eu podia fazer, afinal?

Resmunguei baixinho e me joguei no banco alguns instantes antes de Jack levantar.

"Eu acho que vou faltar hoje, estou cansada... " Respondi sentindo o alívio me tomar, minhas pernas estavam tão doloridas que tinha dificuldades para andar. " Klaus me fez andar 8 quarteirões só porque Jane queria um Americano..."

"Como assim?" Ele franziu o cenho sem entender a situação. "Tem uma cafeteria na mesma avenida do estúdio!"

"É, eu também disse isso a ele." disse contorcendo o rosto em desgosto. "Mas somente aquela faz do modo que a Jane gosta!" fiz aspas com os dedos e imitando o modo do cretino falar.

Jacob riu nasalmente e abanou a cabeça, provavelmente, compartilhava o mesmo ódio que eu sentia por aqueles imbecis. Mas estava tudo bem, se continuassem me pagando eu não me importaria de reclamar em silêncio - e talvez pelo fato de me pagarem bem, eles se sentiam no direito de me enxergar como um faz tudo.

"De verdade, não sei como você suporta aquela gente..." Ele disse revirando os olhos.

"Não fico surpresa quando me mandam esfregar o chão da sala da Jane, ou quando a Lisa derruba algo no chão e me faz pegar... " ri nasalmente. "Tenho conhecimento de que eles só fazem isso por que querem estar por cima de todo mundo, mas estou no modo "zero fodas" e não vai demorar para que eu tenha o bastante para mandá-los a merda!"

"Você é engraçada" Ele sorriu "... Agora, preste atenção em mim..." Jacob pediu e assim eu fiz. "Amanhã você está de folga!"

"Quê?" Ri porque não tinha outra coisa para fazer, inicialmente eu não acreditei...

Esqueci de mencionar que Jacob tinha alguns amigos artistas e quando a agência deles marcavam algum ensaio naquele lugar, eles o avisavam, e nesses dias, eu podia tirar a tarde inteira de folga, porque ele assumia o meu lugar. Adorava quando isso acontecia, eu tinha algum tempo para estudar - eu passava o dia inteiro dormindo - e até conseguia descansar um pouco.

Ele sabia o que eu passava naquela merda, por isso, virou meu ouvinte fiel quando o assunto era falar mal da Jane, me ajudava com xingamentos, era o mestre dos piores adjetivos que alguém poderia imaginar, e acima de tudo, aquele cara havia se tornado meu melhor amigo. Em certos momentos eu nem sabia como agradecer todo aquele apoio, tínhamos tão pouco tempo juntos e naqueles momentos, ele fazia o possível para me ver sorrir.

"Na verdade" Jack começou. "Vou te substituir pela tarde, a megera me mandou mensagem avisando que um amigo estará lá amanhã, mas eles só começam lá pelas duas da tarde, portanto, você ainda vai trabalhar colega..."

Sorri do modo que ele havia dito as palavras, mas ficar de folga pela tarde era melhor que nada...

"Até iria no período da manhã" ele continuou. "Mas como não há nada interessante, prefiro ficar aqui."

"Menos mal." Respondi satisfeita. "Não aguento mais aqueles exibidos... Minhas pernas doem, eu poderia matar o Klaus!"

"Se isso for sério me chame, porque eu quero gravar para guardar esse momento na minha memória!"

"Besta!" disse e me apressei para levantar.

Estava cansada, pensei seriamente em faltar naquele dia, perder a prova e deixar a minha nota na merda porque eu mal podia esperar para encontrar a minha cama. Sem sombra de dúvidas, tentaria expulsar Hyelim do quarto, ela é chata e ficava o tempo inteiro com a tela do telefone acessa dentro do quarto, passava a madrugada inteira conversando com seu novo namorado sem saber que sua risada alta às vezes atrapalhava meu sono.

"Você não vai?" Jacob perguntou com um olhar confuso.

Eu estive pensando, mas no final, decidi fazer a pior escolha e marchei na direção do meu quarto, minhas pernas estavam morrendo e sabia que não conseguiria focar naquela prova - que eu nem sabia da existência, tampouco havia estudado. Já estava me perdendo nos conteúdos e não ia demorar para ter uma reprovação, embora a única coisa que perturbava minha cabeça fosse o fato que eu só queria deitar um pouquinho.

"Você é uma cobra!" ouvi assim que abri a porta, Hyelim estava sentada na frente do notebook e quando entrei, ela se levantou parecendo bastante chateada. "É isso o que você fala de mim quando eu não estou presente para me defender?"

Céus!

"Falou a garota que prendeu um rolo de papel higiênico na minha roupa... "resmunguei e caminhei na direção da minha cama, quando olhei para o lado vi que tinham alguns chats abertos, aquilo me deixou furiosa. "Por que você tem que ser tão doente?"

"Não, Jia!" ela gritou e imediatamente eu ergui meus olhos para encará-la, não era possível que aquela garota queria armar um escândalo aquela hora... "Você é uma escrota, como pode ser tão falsa?"

"Ai, garota, me poupe, estou cansada, pode alimentar sua necessidade doentia de stalkear os outros, mas me deixe dormir!" respondi usando o mesmo tom de voz.

"Olha como você é agressiva!" exclamou parecendo surpresa, eu apenas abanei a cabeça.

Se eu tinha pregado chiclete na cruz? Não faço a menor ideia, o fato é que uma louca invadiu meu notebook pessoal, leu as minhas mensagens, gritou comigo e eu ainda sou agressiva... e isso nem era o pior de tudo!

Peguei minha bolsa novamente - sinceramente, eu não ficaria naquele quarto escutando as reclamações daquela doida - e sai de lá crente que conseguiria chegar a tempo na aula. Até cheguei, só que aí me lembrei da prova, e durante todo aquele tempo eu encarava os alunos, perdida, porque eu não fazia ideia do que aquela professora estava falando.

"Jack!" o chamei num sussurro, ele estava um pouco mais a frente. "De quando é esse conteúdo?"

"Desse semestre, pelo amor de Deus!" Jacob respondeu. "Você saberia se tivesse assistido às aulas."

"Ai, me morde!"

Ele arregalou os olhos e no mesmo instante me afundei na cadeira, me sentindo a pessoa mais burra do mundo. Quando entrei naquele avião eu nunca imaginei que passaria tantas coisas, e acima de tudo, eu nunca imaginei que seria capaz de tirar notas tão baixas..., mas é, eu estava naquela situação, e por mais que eu tentasse me consolar, dizer que seria passageiro e que o sol iria brilhar, a única coisa que eu desejava, no fundo do coração, era encontrar um buraco para enfiar a minha cabeça.

No fim da aula eu sentei na escada, estava desolada, sem esperança, expectativas de vida e tudo de ruim que alguém pode imaginar. Na minha vida, eu fui acostumada a ser uma aluna exemplar, se eu consegui entrar naquela universidade tão prestigiada, foi pelas minhas notas. Só que agora estava tudo uma merda, e eu não sabia sobre absolutamente nada.

"Você quer conversar?" Jacob perguntou e eu apenas abanei a cabeça enquanto segurava a vontade de chorar. "Olha, eu sei que está difícil, mas nós podemos estudar todos os dias após a aula."

"Estou tão cansada." foi o que respondi antes de encostar a cabeça em seu ombro." completamente desiludida, só quero morrer!"

"Quanto drama!" ele disse estressado. "Vamos tomar uma para esquecer os problemas, sim?"

"Não!" ok, meu tom foi um pouco absurdo, mas depois continuei: "amanhã eu acordo cedo, bem que eu gostaria de continuar aqui..."

Certo, eu queria muito tomar qualquer coisa com muito álcool e ficar louca, mas eu ainda precisava daquele emprego. Então, voltei para o quarto na força do ódio, no entanto, estive sonhando com o dia em que eu finalmente pedisse demissão e nunca mais precisasse encontrar aqueles infelizes outra vez.

            
            

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