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1 semana depois.
Jia ainda não havia se acostumado com o vazio daquela casa, ainda não estava acostumada a chegar e encontrar o silêncio. Jacob nunca havia lhe feito tanta falta, como estava a fazer naquela noite escura de primavera. E assim como das outras vezes, após um dia cansativo de trabalho e estudos - sim, ela passou a frequentar mais a universidade - chegou em casa e jogou a mochila em seu sofá, jogou seu corpo cansado por cima do mesmo e pousou o braço sobre o rosto.
"Eu preciso comprar outro celular!" Ela exclamou um tanto exasperada.
Sim, o seu celular. Ela também não havia o encontrado, e após passar toda a semana passada questionando-se internamente sobre onde teria o deixado - já que segundo ela, o aparelho havia sido engolido por um buraco negro - acabou por desistir de sua busca. O que certamente resultou em horas a mais em seu notebook, e uma dor de cabeça demoníaca todos os dias. Levantou-se daquele sofá aconchegante e seguiu para o seu quarto.
Não era um quarto grande, e após mudar-se para a nova casa, a moça tentou organizá-lo de maneira que ficasse mais parecido consigo. As paredes eram creme e totalmente sem graça - nada que alguns adesivos bonitinhos não ajudassem, ela pensou - a cama se encontrava no centro, e havia uma luminária ao lado. Jia também fez questão de encher a prateleira da parede esquerda, mesmo que fosse com toda a coleção de livros de George R. R. Martin, seu escritor favorito.
Como habitual, ela trocou sua roupa por uma mais leve e calçou um par de pantufas - estas que foram presente de Jack - seguiu para a cozinha e abriu a geladeira, pegando uma garrafa de leite quase vazia. Despejou todo o conteúdo que restava dentro de um copo grande, enchendo até a borda e depois adicionou achocolatado. Levou ao micro-ondas e esperou míseros quarenta segundos até que o leite estivesse quente o bastante para que ela pudesse tomar e aquecer o seu corpo. Após isso, seguiu para a sacada, levando o notebook consigo.
Não era um lugar muito grande, havia apenas algumas cadeiras para descansar e uma mesa de centro desnecessária aos olhos de Jia. Aquela noite em particular, estava fria e enquanto ela tomava preguiçosamente seu leite, sentia a brisa bater contra sua pele. Nunca pensou que as terras da América fossem tão desprovidas de calor - ao menos ainda não havia chegado o verão - e mesmo naquela época, o frio ora era intenso, ora razoável a ponto dela não precisar sair de casa estupidamente agasalhada.
Podia-se ouvir barulhos de carros, mesclados com vozes e ao longe - bem ao longe - o soar das sirenes de uma ambulância, e Jia não acharia estranho se fosse por conta de algum acidente, já que aquelas pessoas andavam feito loucos nas ruas - OK, loucos não seria o termo politicamente correto, mas após quase ser atropelada três vezes numa faixa de pedestres, ela passou a não duvidar de mais nada - e mesmo sendo sinônimo de caos, aquilo lhe causava uma calmaria interna. Calmaria, pois sempre que se sentia sozinha, ela ficava sentada numa daquelas cadeiras, as vezes até com um cobertor, apenas para observar o movimento da rua e escutar o soar dos carros, pois aquilo denunciava que ali, fora de sua casa, havia um mundo vivendo e que mesmo querendo, ela não podia estar sozinha.
Não soube dizer quantas horas eram, pois estava imersa em seus pensamentos. Apenas o soar do toque de chamada do Skype fora capaz de tirá-la de seus devaneios, e se ela bem sabia, sua irmã tinha algo importante para falar por estar ligando naquele horário.
"Olá, minha garotinha crescida, que agora decidiu provar que é uma mulher adulta e para isso resolveu morar sozinha!" Diana exclamou. Jia sorriu, não pela piada sem cabimento, e sim porque estava a sentir falta daquelas piadas.
"Mas eu sou adulta, eu tenho vinte e dois anos... Não se ache apenas por ser dois anos mais velha que eu." Comentou. Tomou um gole do leite, e logo depois resmungou por estar muito quente. "Além do mais." continuou. "Eu sou cinco centímetros mais alta que você."
"Aah, mas agora você pegou pesado hein mocinha!" Ela fez uma expressão feia fingindo estar com raiva e logo depois sorriu. "Eu vou a uma festa daqui a exatos... 10 minutos. Eu liguei para compartilhar um acontecimento peculiar que houve hoje, envolvendo seu celular".
"Pois diga!" Falou rapidamente ajeitando-se da melhor forma na cadeira.
"Eu meio que fiquei curiosa quando você disse que havia perdido seu celular, então eu disquei seu número apenas por curiosidade. Chamou cerca de quatro vezes, e então um cara atendeu." Ela confessou sorrindo de forma nervosa.
"Meu deus, o que ele disse a você?" Questionou afobada.
"Eu expliquei que era sua irmã, que você era muito desatenta e acabou perdendo o celular. Ele tinha uma voz bonita, agradável sabe... Não era grossa nem fina, um tanto angelical eu diria. Conversei com ele, e foi tudo normal. Havia outra voz no fundo, parecia estar ajudando ele quanto ao que dizer."
"Eu ainda tenho esperança de reencontrar meu fiel companheiro, ele falou algo sobre devolvê-lo a mim?"
"Sim. Pediu para você ligar, que ele iria devolver pessoalmente, pois estava procurando a dona desde que achou. "
"Eu devo ligar no número do meu celular, certo?" Questionou animada e Diane assentiu.
"OK, agora que eu dei o recado... Preciso ir!"
"Está bem, divirta-se... Eu amo você! "
"Eu amo mais!"
Jia não esperou que sua irmã desligasse a chamada, rapidamente se levantou e correu em direção ao telefone fixo que havia na cozinha. Seus dedos estavam trêmulos e seu coração batia descompassadamente por conta da pequena corrida, ela discou o seu número que a irmã enviou e esperou que chamasse. Uma, duas, três vezes e alguém atendeu.
"Olá?" Ela falou assim que a ligação fora atendida. Seus pés estavam inquietos, e diferentemente do que Diana havia dito, a voz do homem do outro lado na linha não era nenhum pouco angelical. E sim, grossa e se ele não tivesse atendido com tanta calma, ela diria rude.
"E aí, você é a moça do celular, certo?" O rapaz questionou..
"Sim, sou eu" Respondeu, não havia o que falar na verdade.
"Ótimo, meu amigo achou esse celular no Parque-"
Jia não escutou ele terminar, logo teve vontade de bater sua cabeça na parede por ser tão idiota ao ponto de esquecer-se de telefonar, ou até mesmo do Parque. Agora tudo fazia sentido, e tudo passou por sua cabeça feito um filme em câmera lenta. Tinha ainda mais raiva por tudo aquilo, e por ser culpa de Jane, mesmo que parcialmente.
"Meu deus, eu não fazia ideia que havia esquecido ele naquele parque..." Ela confessou mais para si, do que para o homem do outro lado da linha. Pôde-se ouvir uma risada, e ele suspirou.
"Acontece, quando estamos sobrecarregados... Eu entendo você, e tem muita sorte de ser meu amigo naquele dia, se fosse um alguém oportunista talvez houvesse possibilidade de você nunca mais ver seu celular!" Ele exclamou sereno.
"E onde está esse seu amigo?" Jia questionou curiosa.
"Ah, ele não está em casa no momento. Aqui nós somos sete, ele explicou a história para todos e pediu que atendêssemos caso o telefone toque."
"Sete?!" Ela questionou incrédula, o homem sorriu novamente. "Meu deus, essa casa deve ser uma bagunça."
"Talvez seja, bom, eu ainda não sei o seu nome..."
"Jia, e você quem é?"
"Você pode me chamar de KC... Assim que meu amigo chegar eu aviso sobre a sua ligação, pode deixar o seu endereço para que ele possa devolver o seu telefone?"
"Oh, sim, você tem uma caneta?" Ela questionou procurando alguma conta de luz para que pudesse recordar-se do próprio endereço. Após isso, Klaus agradeceu-lhe.
"Talvez ele não demore, se for o caso eu mesmo faço questão de lhe devolver!"
"Tudo bem, eu nem sei como agradecer vocês..."
"Nós não estamos fazendo mais do que nosso dever como pessoas honestas."
Após a ligação ser encerrada, ela sorriu genuinamente, estava feliz, pois algo de bom havia acontecido em seu dia e não havia como agradecer pessoas tão generosas como aquelas.
"Como foi?" Damon questionou ao O'Connell assim que a ligação fora encerrada.
"Eu não acredito que você não quis atender de novo... Desde quando você tem medo de mulher, Damon?" Klaus questionou franzindo o cenho jogando-lhe um pedaço de papel "... Agora você tem o nome dela, o endereço, basta resolver isso de uma vez por todas. "
O moreno arregalou os olhos, não podia encontrá-la agora, não estava preparado. O que ele diria? Damon estava tão perdido quanto qualquer pessoa estaria em uma situação como aquela, fez um gesto negativo com a cabeça e fitou o amigo novamente.
"Não! Eu não posso fazer isso!" Exclamou coçando os olhos "E-Eu não estou preparado, você precisa ir lá entregar esse celular a ela."
"Mas que porra, cara, o que está havendo contigo?" Klaus questionou incrédulo, não conhecia aquele lado do amigo. "Nem o ovo mole do Henkel age dessa maneira, e olha que ele é meio boiola."
Droga, Klaus precisava manter sua boca fechada. Não viu quando o castanho adentrou a cozinha, apenas para ter o desprazer de escutar algo íntimo de seu companheiro de grupo. Damon viu, e a cena de Jin saindo daquela cozinha com seus olhos marejados não fora de fato muito agradável. O maior sempre protegia a todos, mas ninguém poderia protegê-lo da crueldade do mundo, inclusive das palavras de Klaus.
"Você às vezes é muito babaca!" Ele exclamou balançando a cabeça em negação. "Ele escutou, Klaus, e eu acho bom você entregar isso a dona se quiser que eu resolva sua situação." Esbravejou apontando o indicador para o celular.
Klaus bufou e abanou a cabeça, não faria aquele favor a Damon nem que ele lhe pagasse, se estava com medo, precisava superar e seguir em frente, afinal, ele não era uma babá. Gritou mais algumas palavras estúpidas e apanhou a chave do carro, não ficaria ali até ser convencido.
Damon se levantou, precisava resolver o problema de seu amigo antes que aquilo desse uma merda grande. Caminhou até o corredor e parou na porta do quarto que Jin dividia com John, girou a maçaneta e como esperado, encontrava-se trancada.
"Cara, é o Damon... Abre para mim, sim?" Ele pediu cautelosamente.
Não demorou para que escutasse a estrutura de madeira ser destrancada, logo adentrando o aposento de seu amigo, este encontrava-se choroso. O rosto de Jin estava vermelho, as lágrimas molhavam seu rosto e ele tinha suas mãos trêmulas. Por alguns instantes, Damon concluiu que não precisava falar absolutamente nada, apenas um abraço o acalmaria. Como das outras vezes, que o maior sentiu-se perturbado por algo que todos consideravam sujo e nojento.
"O KC não tem culpa de ser um ogro insensível!" Damon explicou afagando o castanho.
"Será que vai ser sempre assim?" Ele questionou baixinho. "Eu não tenho culpa disso, mas porque as pessoas insistem em me tratar como se houvesse algo de errado comigo?"
"Ei, não há nada de errado com você!" Damon o repreendeu. "Você é perfeito da forma que é, o KC só age desta forma porque ele sabe que se der o braço a torcer, ele vai se envolver... até parece que nós não sabemos o que essa implicância significa."
"Ele nunca gostou de mim, parece que ele muda completamente quando fica na frente das câmeras... Ele segura minha mão, conversa comigo normalmente ma-mas quando isso acaba, ele me trata como se eu tivesse uma doença contagiosa!" Explicou ainda com a voz embargada.
"Jin, por que você se importa?" O moreno questionou.
Parecia um tanto óbvio, mas ele queria ouvir da boca do castanho. Contudo, não houve resposta. Jin apenas balançou a cabeça negativamente e deitou sua cabeça no ombro de Damon, dando-se por vencido.