Joca: O dono do Morro
img img Joca: O dono do Morro img Capítulo 4 Regras
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Capítulo 10 Acordando img
Capítulo 11 Eu que mando img
Capítulo 12 Salsicha img
Capítulo 13 Jantar na casa do Ed img
Capítulo 14 Medo img
Capítulo 15 Faxineira img
Capítulo 16 Revelação img
Capítulo 17 Pedido de desculpas img
Capítulo 18 Favela img
Capítulo 19 Chuva img
Capítulo 20 Gatilho (Drogas e violência) img
Capítulo 21 Desmoronamento img
Capítulo 22 Desastre img
Capítulo 23 Pressão img
Capítulo 24 Sem memórias img
Capítulo 25 Sem despedida img
Capítulo 26 Banho img
Capítulo 27 Injeção (Gatilhos Violência) img
Capítulo 28 Círculo vicioso img
Capítulo 29 Lembranças img
Capítulo 30 Luz no fim do túnel img
Capítulo 31 João Carlos Alves da Silva (Joca) img
Capítulo 32 Ligação img
Capítulo 33 Dinheiro envolvido img
Capítulo 34 Amiga img
Capítulo 35 Para a casa de Leonardo img
Capítulo 36 Novidades img
Capítulo 37 Patrícia quase recai img
Capítulo 38 A vida bate img
Capítulo 39 Audiência img
Capítulo 40 Prisão img
Capítulo 41 O tempo passa img
Capítulo 42 Pulseira img
Capítulo 43 Jantar img
Capítulo 44 De volta ao morro img
Capítulo 45 Chama Gêmea img
Capítulo 46 Compromisso img
Capítulo 47 Juntos enfrentam qualquer coisa img
Capítulo 48 Meses img
Capítulo 49 Tenho outra img
Capítulo 50 Identidade secreta img
Capítulo 51 Desculpa img
Capítulo 52 Recuperando img
Capítulo 53 Final img
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Capítulo 4 Regras

Vitória

Ivone me chamou, me tirando do torpor de descanso em que me encontrava. Vou ao banheiro pensando no que ela me disse. Um homem viria falar comigo. O dono do morro. Engraçado pensar que um amontoado de terra, foi virando um bairro, e uma pessoa se denominou dono daquilo. Talvez não seja bem assim, mas eu sou leiga nesse assunto. Mas pelo pouco que sei, a vida nesses lugares não são das melhores, tem guerras entre gangues, ou sei lá o que. Já estudamos as favelas no Lar. Lavo o meu rosto e me encaro no espelho. Talvez eu precise ficar por aqui um tempo. Sem dinheiro, vai ser difícil achar um lugar para morar.

Saio do banheiro e um homem se vira em minha direção, sentado no sofá. Ele levanta-se rápido e me estende a mão.

- Joca. - Ele é o dono do morro então...

- Morro do Joca? - O morro tem o nome dele?

- O meu morro no caso.

Ele é moreno, tem os olhos escuros, e uma barba, também escura, cobrindo-lhe a face. Os cabelos pretos, ajeitados de maneira a ficarem levemente bagunçados. Vestia uma camiseta branca, e uma calça jeans. Deixando a mostra os braços, sendo um deles, totalmente coberto por tatuagens. E tinha uma pequena cicatriz na sobrancelha. Era um belo homem, mas ele ficava realmente lindo quando sorria. Os dentes tão brancos quanto flocos de neve, e retos como se fossem esculpidos.

Ele é forte, mas não como aqueles homens que fazem propagandas de academia, um forte natural. Boa, é isso. Ele é um bonito natural.

Nossa conversa é breve, ele é simpático e educado. E quando me diz que posso ficar em seu morro, e ainda me ajudará com moradia até achar um emprego, meu coração parece que vai sair pela boca. Abraço-lhe em forma de agradecimento e sinto suas mãos deslizarem em minhas costas, e o hálito quente esquentar o meu pescoço. Me afasto ainda feliz e animada.

Agradeço a Deus por essa oportunidade de vida. Nunca poderei expressar o suficiente a minha gratidão.

Dona Ivone nos chama para o almoço, e o Joca, vai com almoçar com a gente. Percebo que ele não tira os olhos de mim, e acho engraçado, afinal ele deve estar curioso sobre quem sou. No Lar todos se conheciam, e éramos como irmãos. E raramente saíamos, e quando o fazíamos, era em passeios, com os professores e cuidadores junto. Nunca me senti sozinha, ou desamparada, como nessa noite terrível. E agora com essas novas pessoas em minha vida, me ajudando, sem exigir nada em troca, me sinto feliz de novo.

- Então Joca, já passou as regras a ela? - Dona Ivone se dirige a Joca.

- Ainda não. Apenas deu tempo dela resumir sua história, e eu disse que ela poderá ficar.

- Viu só, menina. Falei para você ficar tranquila. Aqui é um bom lugar.

- Nunca serei capaz de agradecer o suficiente. - Digo me emocionando. Sinto os olhos do homem sobre mim, e fungo, segurando as lágrimas que estão querendo sair.

- O Vagner tá com peças pra alugar. - Joca fala para dona Ivone, que assente.

- São peças razoáveis, o preço é bom, e vem semi mobiliado.

- Ah, que ótimo! Se ele aceitar, que eu o pague quando arranjar um emprego, lhe serei muito grata.

- Ele já aceitou. - Joca me sorri, e me surpreendo, afinal nem o vi enviar mensagem, ou ligar para alguém. Apenas assinto e termino minha comida. Me levanto, colocando o prato na pia, e pegando a esponja e sabão para lavar a louça.

- Deixa isso, Vitória. Vá ouvir as regras. Joca não tem muito tempo. - Dona Ivone me diz baixinho, e sinto um tom de aviso em sua voz. Concordo e volto para a mesa, onde Joca ainda está sentado.

- Se quiser pode anotar. - Ele me diz e pisco algumas vezes. Seriam tantas regras assim? Dona Ivone aparece com uma folha e uma caneta.

- Obrigada. - Digo a ela, me concentro no que ele vai dizer.

1. Toque de recolher de segunda a quinta, as 22 horas. - Certo, 22 horas já estou no décimo sono.

2. Nada de som alto durante a semana. - Ok, não sou de ouvir música alta.

3. Não pode trazer desconhecidos sem avisar os soldados, ou mandam bala. - Meu Deus, me proteja.

4. Nada de comentar o que acontece no morro. O que acontece no morro, fica no morro. - Fecho minha boca, e jogo a chave fora.

5. Proibido roubar aqui dentro. - De boa...

6,7,8,9,10...

- Fechou! - Ele diz, e eu franzo o cenho.

- Se a namorada de um traficante trai ele, vocês raspam a cabeça dela? - Questiono incrédula.

- São as regras.

- E se ele que trai? - Pergunto curiosa, e ele sorri, mas já nem acho mais tão bonito, que regras mais descabidas!

- Temos passe livre gatinha. - Faço uma cara feia, sem notar, até perceber ele sério me encarando.

- O-obrigada. - Consigo dizer, agora um pouco mais ciente do lugar em que estou.

- Não há de que, e não esqueça que amanhã tem baile. - Ele pisca para mim, mas me mantenho séria, ainda pensando em como vou sobreviver por aqui.

- Tá, mas quando eu posso me mudar? - Digo confusa. Afinal só um monte de regras, não me ajuda.

- Vou acertar as coisa com o V13 e depois te busco.

- V13? - Pensei ter ouvido Vagner, mais cedo.

- É! V13. - Ele me repete com as sobrancelhas erguidas, e estremeço.

- Ok. Obrigada. - Agradeço novamente e sorrio forçadamente. Ele se aproxima, enquanto eu fico colada no chão. Me da um beijo na bochecha, e foca os olhos escuros nos meus.

- Até mais tarde, Vitória.

- Até... - Consigo responder, sentindo um frio estranho subir e descer na minha barriga. Assim que ele sai consigo respirar aliviada.

- Não precisa ter medo. Ele é intimidador, mas é gente boa. - Ouço dona Ivone dizer e vou até ela.

- A senhora disse que aqui é bom... não é muito perigoso? - Ela maneia a cabeça.

- Olha, desde que Joca assumiu está tranquilo. Ele não procura guerra com outras facções, ou morros. Administra aqui, mantém seu território, e é isso. Mas já foi diferente. Teve épocas que era dia e noite tiroteio.

- Meu Deus! Que horror. - Que medo! Onde vim me enfiar?!

- É, era horrível mesmo. Agora os problemas que temos, é educar as crianças para não quererem seguir esse caminho de tráfico. Às vezes falta de água, e de luz.

- Menos mal... - Digo, pensando que tenho que buscar um emprego, para conseguir sobreviver por aqui... ou em qualquer lugar...

            
            

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