img img img Capítulo 8 No camarote
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Capítulo 10 Acordando img
Capítulo 11 Eu que mando img
Capítulo 12 Salsicha img
Capítulo 13 Jantar na casa do Ed img
Capítulo 14 Medo img
Capítulo 15 Faxineira img
Capítulo 16 Revelação img
Capítulo 17 Pedido de desculpas img
Capítulo 18 Favela img
Capítulo 19 Chuva img
Capítulo 20 Gatilho (Drogas e violência) img
Capítulo 21 Desmoronamento img
Capítulo 22 Desastre img
Capítulo 23 Pressão img
Capítulo 24 Sem memórias img
Capítulo 25 Sem despedida img
Capítulo 26 Banho img
Capítulo 27 Injeção (Gatilhos Violência) img
Capítulo 28 Círculo vicioso img
Capítulo 29 Lembranças img
Capítulo 30 Luz no fim do túnel img
Capítulo 31 João Carlos Alves da Silva (Joca) img
Capítulo 32 Ligação img
Capítulo 33 Dinheiro envolvido img
Capítulo 34 Amiga img
Capítulo 35 Para a casa de Leonardo img
Capítulo 36 Novidades img
Capítulo 37 Patrícia quase recai img
Capítulo 38 A vida bate img
Capítulo 39 Audiência img
Capítulo 40 Prisão img
Capítulo 41 O tempo passa img
Capítulo 42 Pulseira img
Capítulo 43 Jantar img
Capítulo 44 De volta ao morro img
Capítulo 45 Chama Gêmea img
Capítulo 46 Compromisso img
Capítulo 47 Juntos enfrentam qualquer coisa img
Capítulo 48 Meses img
Capítulo 49 Tenho outra img
Capítulo 50 Identidade secreta img
Capítulo 51 Desculpa img
Capítulo 52 Recuperando img
Capítulo 53 Final img
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Capítulo 8 No camarote

Vitória

Eu sinto o meu corpo tremer inteiro, e não sei dizer se é de medo ou só o nervosismo normal de beijar um homem. Eu nunca havia beijado ninguém na minha vida. Não desse jeito. Uma vez eu e um amigo do lar nos beijamos, quando eu estava com 16 anos. Mas foi um beijinho rápido, tipo selinho, nada de língua, ou se tocar. E o Joca colocou a mão na minha bünda. Meu Deus! Que vergonha!

Subo naquela moto, já me arrependendo do que estou fazendo. Devia era ter dito que não ia em baile nenhum. Ele sobe o morro, comigo na garupa, e sendo bem sincera, eu sei que estou aqui há dois dias só, mas eu não estou gostando. Me dá receio de ver pessoas armadas, e as crianças sozinhas nas ruas. A maior parte das estradas são de terra de chão batido, ou paralelepípedo. Até o momento, não vi nenhuma asfaltada. O saneamento básico de água, não era dos melhores, com os canos aparecendo, e alguns vazamentos, e água da torneira não parecia a melhor para se beber. Os fios de luz, dos postes, estavam em um emaranhado de amarrações, e muitos que sei que são clandestinos, como chamam mesmo? Gatos?

Crescida em bairro de classe média e depois em um lar em uma região melhor de vida, e com costumes rígidos e religiosos, me sinto uma pecadora desenfreada. Ainda mais depois desse beijo que o Joca me deu. Preciso esclarecer as coisas com ele. Não tenho intenção de namorar, muito menos com um dono de morro, metido com tráfico e bandidagem. Credo! O seu Nelson e Cecília, me colocariam de castigo, e teria que rezar 25 pai nosso, ou mais!

- Chegamos! - Ouço a voz rouca de Joca falar e me arrepio. Ele me ajuda a descer, e olho em volta. É o próprio inferno! Deus que me perdoe! Arregalo os olhos e os meus olhos param nele.

- Legal. - Digo, vendo pessoas chegando, e já pegando bebidas, de um canto, onde homens distribuíam copos de plástico com bebidas dentro. Outras fumando, outras dançando, já era uma bagunça.

- Vem. - Ele me estende a mão e pego, sendo levada um pouco mais acima, onde entro em uma espécie de palco, mais alto, ao lado de um palco aberto, que tinha caixas de som, e luzes piscando. Coragem! - Aqui é o meu camarote. - Ele me diz e forço um sorriso engolindo seco. O dia fora quente, e não se podia dizer que agora estava frio, mas eu sentia frio. Mas era um frio interno. - Só os especiais, vem aqui. - Ele diz, colocando a mão na minha cintura, e me disfarço, saindo dos seus braços, indo na beirada, parando no para peito.

- Dá pra ver quase tudo daqui. - Digo olhando as luzes das casasinhas mais a baixo.

- É... mais pra cima só tem mais uns poucos barracos, e o meu. - Ele aponta mais pra cima e vejo, uma casa, bem mais bem feita que as outras da favela.

- Legal. - Digo olhando as pessoas mais a baixo dançando. As mulheres usam saias curtas, ou shorts, mini blusas, tomaras que caia, e salto. Como elas conseguiam ficar naquele chão com saltos? Tudo bem que ali era um chão cimentado, mas e até chegar ali?

Sinto as suas mãos grandes e o seu corpo grande, se colocar atrás de mim, me fazendo arrepiar inteira. Sinto a protuberância dele pressionar em mim, e me viro, erguendo a cabeça e o encarando. Ele está sério, mas os seus olhos escuros brilham, sob as luzes do local. Ele abaixa-se para me beijar e no susto viro o rosto, então sinto, uma de suas mãos fortes virar o meu rosto para ele.

- O que foi, Vitória? - A voz dele é rouca e sensual, e pelo amor de Deus, eu vou me mijar nas calças!

- Va-vamos com calma. - Gaguejo e vejo-o sorrir.

- Mais calma? - Ergue as sobrancelhas e me perco naquele olhar profundo. Seus olhos me hipnotizam e me fisgam para perto dele. Sinto sua respiração cada vez mais próxima e os olhos estreitando, até que sua boca toma a minha. A boca quente cola na minha, os meus lábios se abrem e a sua língua me invade, tento acompanhar, mas me perco e o meu ar começa a pesar, me fazendo afastar levemente. Ele se afasta e puxa minha cabeça, me dando um beijo na testa. Sinto minha cabeça contra o peito firme, e me afasto. Ele me encara firme. - O que foi, Vitória? Me diga! - Ele insiste, e penso que devo ensaiar melhor as minhas reações, pois devem estar dando muito na cara.

- Bem... - Olho para o lado e faço uma careta. Era difícil dizer aquilo, mas era importante ele saber, para me entender, e nem insistir em algo que eu não poderia dar. Volto a encará-lo. - É a primeira vez que eu beijo um homem. - Digo o encarando, e vejo-o fechar os olhos, erguer as sobrancelhas, e engolir seco. - Desculpe, se pareceu que eu estava muito interessada, você é um homem bonito, mas eu não sou a pessoa ideal. - Ele me encara com um olhar esquisito, e só consigo pensar que ele vai me jogar de cima do camarote. - O senhor deve ter muitas outras mulheres, que vão saber lhe beijar e... - Ele começa a rir, a rir não, gargalhar. - O que foi? - Pergunto, me desvencilhando de seus braços.

- Você não existe, Vitória! - Enrugo a testa. - Senhor? Não sou tão mais velho assim. - Ele baixa a cabeça para me olhar bem dentro dos olhos.

- Ah, me desculpa, é só por respeito...

- Não quero outras mulheres.

- Mas dono Joca...

- Primeiro Vitória, para de me chama de dono Joca, ou senhor, é estranho.

- Ah, tá... mas você é o dono, do Joca morro... - Franzo o cenho, acho que esse cheiro de fumaça e maconha por todos os lados da me deixando maluca da cabeça.

- Só Joca, tá bom. - Ele diz, segurando o riso.

- Tá. Joca.

- E deixa eu continuar. - Assinto. - Não quero outras mulheres. Quero você! E quero, não só porque é bonita, simpática e parece inteligente, mas também justamente pelo o que você acabou de me dizer.

- O quê? Que não sei beijar?

- É... - Ele ri de um jeito, que não encontro outra forma de dizer, se não, debochado.

- Não entendo. - Digo cética.

- Não precisa entender, basta aceitar. - Ergo as sobrancelhas. Aceitar? Eu por acaso não tenho escolha agora é?

Antes que meus pensamentos continuem, ouço a voz de Salsicha.

- E aí pessoal. - Ele cumprimenta Joca, e acena para mim. Sorrio gentil, e vejo que com ele chega mais dos homens. Não os conheço, mas Joca os cumprimenta.

- Pra quem não conhece, essa é a Vitória. - Ele me puxa pela cintura, e meu corpo se cola ao dele, de lado. Os homens, dão um sorriso idiota, que me dá um pouco de irritação. - Vitória, esses são J1 e P9. - Franzo o cenho e aceno, com um sorriso forçado.

- E aí, Vitória. - O tal do P9 se aproxima e da um beijo no rosto, e o perfume dele se mistura ao cheiro de maconha, então vem o outro e faz o mesmo. Mas J1 não tem cheiro de maconha, só de um perfume fraco.

Logo aquele camarote começa a encher, um tal de D2 chega com mais duas moças, que ficam me encarando com cara feia. Tento sorrir, mas elas reviram os olhos e viram o rosto. Depois Vagner, que é V13, uma bosta esses codinomes, mas né... ele chega com uma moça. E assim mais uns 4 rapazes que não decorei os nomes, cada um com uma ou duas mulheres. Eles bebem, fumam e riem, enquanto cantam, e erguem os braços pra cima segurando aquelas armas.

Estou próxima de Salsicha e me aproximo um pouco mais e cochicho. - Eles não tem medo de disparar essas coisas sem querer? - Salsicha está muito bonito essa noite. E o perfume dele é bom também, me traz uma sensação boa. Seus olhos esverdeados sorriem para mim.

- Não, eles já são craques na coisa.

- Ah... - Digo ainda desconfiada.

Mais um pouco e chega o pessoal do pagode, que eles comentavam ansiosos. E, UAU! Pagode é muito bom. Eu até já ouvira algumas músicas, mas não tinha a emoção de estar ouvindo ao vivo, com todo mundo ao redor, cantando e sambando. Salsicha até tenta me ensinar uns passos, pra lá e pra cá, e a sambar, sozinha. Mas Joca o chama, e ele sai do camarote emburrado. De certo teve que fazer algum favor. Olho para baixo e vejo Patrícia, ela está vestida com um vestido vermelho curto, que ressalta suas curvas sensuais. Ela é realmente muito bonita. Fico olhando para ver se ela me olha, mas ela parece distraída, e tem um rapaz perto dela, dançando, e eles ficam se encarando. Tenho vontade de rir, desvio o olhar e vejo Joca me encarando. Dou um sorriso de leve e ele se aproxima, colando nossos corpos.

- Está gostando do baile?

- Aham, é interessante, a animação de todo mundo.

- Sim. - Ele sorri e olha para geral em baixo. Ele tem um sorriso bonito, que me dá um frio na barriga. Engulo seco, sentindo vontade de beijar ele de novo.Que engraçado, a pouco eu disse para ele que era melhor procurar outra mulher, e agora sinto vontade de beijá-lo.

Desvio o olhar um segundo dele e merda! Volto o olhar para ele assustada. Ele vem para me beijar, mas eu não deixo.

- Joca, a moça ali... - Olho discretamente e ele acompanha meu olhar. - Ela está... - Viro o rosto, sentindo arder.

- Ela só ta chupando ele.

- Que pouca da vergonha! - Digo sem pensar e ele gargalha. - Qual é? - O encaro séria. - Estamos em público! - Cochicho, e ele se aproxima do meu ouvido, e sua voz sai ainda mais rouca e baixa, ouriçando todos os pelos do meu corpo.

- Você ainda não viu nada! - Faço cara de nojo, e ele ri.

A festa continua, e já estou cansada. Tiro o celular que o Salsicha me deu, da pequena bolsinha que eu carregava e olho as horas. Nossa! Já são mais de meia noite.

- Acho que já vou embora. - Digo próximo ao ouvido de Joca que me olha de cenho franzido.

- Por quê? Não está gostando?

- Não, estou gostando, mas já está tarde.

- Meia-noite?

- É, costumo dormir no máximo as 10 horas da noite.

- Então vamos prolongar... - Ele me puxa e me cola contra ele novamente. E ah... o que há de mal em mais uns beijos, não é mesmo? Relaxo e deixo ele me guiar no beijo. Sigo seus lábios e sua língua, tendo sensações inexplicáveis. Eu já estava ofegante, e me sentia úmida entre as pernas, eu sabia o que era, já haviam nos explicado no Lar, mas era assustador também. Sinto suas mãos poderosas, descerem por minha cintura, pararem no quadril e seguirem em direção a minha bünda. A mureta atrás de mim, que servia de para peito para o camarote, era fechada, e quem estava em baixo, não veria, ele com as mãos na minha bünda. Quando me dou conta sinto suas mãos quentes contra minha pele, e o afasto.

- Para... - Digo baixando meu vestido. - Todo mundo vai ver minha bundä assim. - Olho para os lados, e ele me prensa contra a mureta, me fazendo sentir seu membro duro feito rocha. Droga! Engulo seco.

- Isso eu não quero. Só eu vou vê-la. - Sinto uma vertigem.

- Joca... eu... - Sua boca cala a minha, os beijos se intensificam, ele desce para meu pescoço, me fazendo arfar e quase perder o juízo. Mas alguém me salva dessa loucura.

- Joca! - Um dos rapazes ali o chamam. - Tem um cara ali em baixo te chamando. - Vejo os olhos de Joca flamejarem de raiva, ele me olha e sorri.

- Já já eu volto, para a gente continuar! - Apenas engulo seco. Ao ver que ele sai do camarote respiro fundo. Meu Deus! O que eu to fazendo da minha vida? Uma garota vem em minha direção sorrindo.

- Oi...

- Oi... - Digo simpática.

- Você é garota nova, né?

- Sim, cheguei antes de ontem de madrugada.

- Fiquei sabendo. - Ela diz e olha para a outra de canto de olho. - Quer um energético?

- Ah, não, obrigada, eu não bebo.

- Mas não tem álcool. - Ela diz com um olhar ofendido, e que merda, eu devia ser mais firme em minhas decisões, mas não quero fazer desfeita.

- Ah, tá bom. - Pego o copo que ela me estende. - Obrigada. - Ela sorri amplamente.

- De nada, se precisar de algo, só chamar.

- Tá bom. - Ela sai e eu dou um gole naquela coisa. Eca! Ruim pra dedéu! Tento mais uns dois goles, mas argh! Não dá. Fico apenas segurando o copo, vou dar para Joca tomar, quando ele voltar.

Ele está demorando um pouco, a múscia parece ter ficado mais baixa. Me viro de costas para os outros e olho para o palco, mas os cantores pareciam borrados, que estranho. Pisco algumas vezes e abro bem os olhos, e eu juro que eles estão flutuando. Viro-me de volta e vejo Joca voltando. Nossa... ele é tão bonito e musculoso, as sobrancelhas escuras e grossas, aquela boca. Ele chega e lhe dou o meu melhor sorriso.

- Joca! - Grito e o abraço, derrubando quase todo o líquido do copo. Ele franze o cenho e pega o copo.

- Quem te deu isso? - Me pergunta sério, parecendo bravo.

- Desculpa, te molhei todo! - Digo limpando sua camiseta.

- Vitória? - Ele me segura pelos braços e me olha sério, mas a vontade que tenho é de rir. Acho que ele ficou bravo porque derrubei a bebida nele. Não aguento, não aguento... desato a rir.

- Merda! - Ele diz, e tento ficar séria, mas ele é tão bonito, abraço-o pela cintura e encosto o meu queixo no peito dele.

- Você é lindo sabia? - Digo e volto a rir. Estou muito abobada da cabeça! Não é possível! Mas só se vive uma vez, não?

- Quem deu esse copo pra ela? - Não sei se alguém responde ele, mas eu quero ver ele pelado.

- Eu quero te ver pelado. - Digo rindo, e ele continua sério. O que será que houve com ele?

- Vitória, olha pra mim... - Encaro-o com os olhos bem abertos. - Quem te deu esse copo? Ergo as sobrancelhas, e estreito os olhos. Ele parecia tremer o rosto. Arregalo os olhos e me foco nele, mas eu já não consigo entender o que ele diz. AAAAh que sede. Olho para os lados, a procura de algo para beber, mas Joca me segura pelos ombros. Ai que coisa chata! Não deixa eu me divertir! Uuhhhh essa música que começou a tocar é boa... que vontade de pular... Fiquei tonta, droga, acho que não comi mais cedo, deve ser a glicose... uhhhh ... vontade de vomitar... - Vitória! - Joca grita comigo e a minha visão está estranha, não consigo enxergar ele direito. Tento falar, mas minha boca está mole... o que foi... apago.

            
            

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