Joca: O dono do Morro
img img Joca: O dono do Morro img Capítulo 5 Herói
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Capítulo 10 Acordando img
Capítulo 11 Eu que mando img
Capítulo 12 Salsicha img
Capítulo 13 Jantar na casa do Ed img
Capítulo 14 Medo img
Capítulo 15 Faxineira img
Capítulo 16 Revelação img
Capítulo 17 Pedido de desculpas img
Capítulo 18 Favela img
Capítulo 19 Chuva img
Capítulo 20 Gatilho (Drogas e violência) img
Capítulo 21 Desmoronamento img
Capítulo 22 Desastre img
Capítulo 23 Pressão img
Capítulo 24 Sem memórias img
Capítulo 25 Sem despedida img
Capítulo 26 Banho img
Capítulo 27 Injeção (Gatilhos Violência) img
Capítulo 28 Círculo vicioso img
Capítulo 29 Lembranças img
Capítulo 30 Luz no fim do túnel img
Capítulo 31 João Carlos Alves da Silva (Joca) img
Capítulo 32 Ligação img
Capítulo 33 Dinheiro envolvido img
Capítulo 34 Amiga img
Capítulo 35 Para a casa de Leonardo img
Capítulo 36 Novidades img
Capítulo 37 Patrícia quase recai img
Capítulo 38 A vida bate img
Capítulo 39 Audiência img
Capítulo 40 Prisão img
Capítulo 41 O tempo passa img
Capítulo 42 Pulseira img
Capítulo 43 Jantar img
Capítulo 44 De volta ao morro img
Capítulo 45 Chama Gêmea img
Capítulo 46 Compromisso img
Capítulo 47 Juntos enfrentam qualquer coisa img
Capítulo 48 Meses img
Capítulo 49 Tenho outra img
Capítulo 50 Identidade secreta img
Capítulo 51 Desculpa img
Capítulo 52 Recuperando img
Capítulo 53 Final img
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Capítulo 5 Herói

Joca

Deixo a gatinha lá e vou trabalhar. Já perdi bastante tempo enrolando a conversa. Mas antes preciso acertar com o V13 as peças. Nem falei com ele ainda e dei certeza que o cara aceitava. Balanço a cabeça rindo, o que um homem não faz por um rabo de saia, hein!?

- V13! - Grito do lado de fora da casa dele. V13 era um dos meus de confiança. Ele é um pouco mais velho do que eu, herdou do pai, as várias casinhas, e usava como fonte renda, além dos serviços que fazia pela favela.

- Qual foi? - Ele grita pela janela.

- Chega aí! - Vagner desse as escadinhas e batemos as mãos, em um cumprimento comum, mas que denotava nossa amizade. - Seguinte, chegou uma gata aí, e ela tá precisando de peça pra alugar.

- Fiquei sabendo... - Dou uma risada.

- Mas cara, que povo fofoqueiro daqui, hein?

- Mas também, disseram que é uma gatinha, novinha, vinda de um convento ainda. - V13 passa a mão nos lábios em sinal de delícia, e meu sangue ferve. É melhor deixar claro, que eu é que vou pegar ela, e ninguém mais.

- Primeiro, era um lar, tipo orfanato. Segundo, ela já tem dono. - Vagner cai na risada e rio junto.

- Então é beldade mesmo?

- Cara... - Passo as mãos no rosto lembrando o abraço que ela me deu. - Gostosa no máximo, sabe aquele corpinho todo no lugar, durinho. - Mordo o lábio só de imaginar. - Mas o que mais me fascinou nela, foram os olhos. Pensa, meu, é mel...

- Hihiiii... - Vagner debocha e acompanho a zoeira.

- Ela é a nova senhora desse morro, quem se aproximar, ó... - Faço uma arminha com a mão, e Vagner ergue as sobrancelhas.

- Tá, e porque já não leva pro teu barraco?

- Ah, não vamos com sede ao pote, meu amigo, eu gosto da conquista...

- Ah tá, entendi. Vou espalhar pro pessoal não se iludir, que tu quer pegar ela.

- Tá me arruma o melhor lugar que tu tiver aí, ela vai pedir fiado, mas vou deixar pago, daí depois ela acerta comigo. - Pisco pra ele e ele entende, como eu quero que ela me pague.

- Tá livre a ali de cima, três peças. Uma sala cozinha média conjugada, um quarto razoável e banheiro.

- Fechou! Mais tarde vou lá buscar ela e trago pra cá.

- Feito! Ah olha só, o baile ta certo amanhã com os pagodeiros né?

- Claro, até convidei a gatinha pro meu camarote. - Dou uma risada, e nos despedimos.

Passo nos barracos de embalos e distribuições, confiro algumas cargas, libero outras, acerto com o contador mais umas coisas, preencho umas planilhas, e quando me dou conta já são seis da tarde. Nem tomei um cafézinho. Saio de casa e passo no bar do tio juca.

O Juca quase fundou esse morro com o meu pai, mas ele não quis se envolver nos trabalhos mais pesados e sujos. Montou o seu barzinho, bem sortido, com comidas, bebidas e fazia uns lanches ainda. Era tipo o severino do morro. Abria as 6 horas da manhã, já entregando um café bem preto e forte pro pessoal da manhã pegar no trampo, meio dia entregava as marmita, e a noite só encomendas de lanches. Era um bom homem, mantinha um caderninho de fiado e mais da metade do morro devia pra ele.

- E aí Jucão?

- Oi Joca. - O senhor me cumprimenta simpático. - O que vai ser hoje?

- Bah, aquele energético, pra dar uma animada! Esse dia quente pede um gelo por dentro né?!

- Com certeza! - Pego meu energético Monster clássico, porque não gosto dessas variações que fazem, uma nojeira. Abro a lata e desço a pé até a casa da dona Ivone.

- Ôh Joca... - Ouço me chamarem, viro e vejo Salsicha vindo até mim.

- E aí salsa?! - Cumprimento-o e ele vem cochichar comigo e já sei que é sobre a mina nova, porque esse morro tá assim agora, movido a fofoca.

- Seguinte, tu soube da Vih, né?

- Vih? - Pergunto de sobrancelhas arqueadas. Mas que intimidade é essa que esse moleque já tem com a minha mina?

- A Vitória, ela chegou ontem, tu já falou com ela né?

- Sim, já falei, consegui descolar umas peças com o Vagner, adiantei lá até ela ter uma grana pra pagar.

- Ah, que bom... - Salsicha respira aliviado.

- Qual foi a tua com ela? Tá afim? - Vai saber, achava que ele era viado, mas vai que não, né?

- Não... é que, eu fiquei com muita dó da menina. - Ah, menos mal, não vou precisar dar uma dura nele.

- Pois é, falei com ela mais cedo e ela me contou meio por cima o terror que foi a noite passada pra ela.

- Cara, ela achou que ia ser sequestrada, estüprada, vendida, e que morreria com drogas na barriga na fronteira... - Vejo a cara de espanto de Salsicha, e começo a rir.

- Ela é bem doidinha...

- Não cara! - Salsicha fala sério. - Ela é inocente demais, e fala o que vem na cabeça. Isso é perigoso aqui.

- Ela vai aprender a se cuidar. - Digo sem dar importância.

- Joca, cuida dela, principalmente no baile amanhã.

- Mas tu também? A Juliana e tu me tirando pra babá agora?

- Os guris tão combinado de drogar ela, ela não vai saber se defender.

- Pode deixar, eu já convidei ela pra ir pro camarote comigo. - Salsicha ergue as sobrancelhas, e vejo um sorriso se insinuar em sua boca. - Dá o fora, salsa parrilha! - Dou um risada alta, e viro as costas, seguindo o meu caminho, e ele fica lá rindo feito um idiota.

Chego na casa da dona Ivone e bato palmas. Não sei porque essa mulher vive com a casa fechada, parece que tem medo de vento! Logo ela aparece e me manda entrar.

- Cadê a garota? - Pergunto assim que entro, tô ansioso para começar meu projeto conquista.

- Se eu te contar tu não acredita? - Sinto meu peito acelerar, será que a menina tinha ido embora? Era só o que me faltava!

- Diz logo mulher, que eu preciso resolver mais umas coisas hoje, ainda. - Ela torce o nariz, porque sabe dos meus trabalhos, e obviamente não gosta. Mas se não fosse o tráfico, girando o capital do morro, nós estaríamos passando fome, como já houve tempos.

- Ela está ali na Lídia! - Enrugo o nariz.

- Que ela já tá fazendo na casa da mãe da nojenta?

- Para de chamar a Patrícia assim, sabe que a mãe dela chora!

- A Lídia que não criou bem a filha, fica se esfregando em qualquer louco que para na frente, só por um pouco de pó.

- Ta Joca, cala boca e ouve. - Franzo o cenho, essa Ivone tá ficando caduca, só pode, esqueceu que eu sou o dono do morro? Só dou um desconto porque pode ser coisa da idade, e ela me conhece desde criança, se não já metia o cano nas fuça dela! - A Lídia passou aí, porque parece que o morro ta vindo a baixo por causa da nova moradora.

- Pois tá faltando BBB na vida dessa gente.

- Em fevereiro isso se resolve. - Ela ri e a acompanho.

- Tá e aí?

- Bom, ela veio ver a garota e ofereceu um dia de serviço como faxineira. - Cerro os punhos, meu sangue voando nas veias, perto de sair pelos olhos. Vitória era tão linda, que serviria para ser modelo, artista, psicóloga, professora... mas não faxineira.

- Não acredito que Lídia colocou a menina pra fazer faxina!

- A garota não tem nada Joca, o que ela vai comer? Ela precisa conseguir uma grana, até achar um emprego fixo.

- Psss... - Balanço a cabeça. - As coisas dela estão aí ainda?

- Sim.

- Me dá que vou passar na Lídia pegar ela então. - Dona Ivone me entrega a mochila da garota e sigo para uns seis barracos acima, onde Lídia mora com a filha. Ela foi abandonada pelo marido, quando a filha estava com uns 11 anos, desde então fez o que pode. Mas Patrícia se tornara uma insuportável. Era óbvio que eles tinham várias garotas no pé, que davam o rabo em troca de grana, ou pó, ou até de graça mesmo, só por uma bebida no dia do baile. Mas Patrícia, se esfregava, tirava a roupa e dava pra cinco ao mesmo tempo. Era uma depravada, só de olhar para ela, já me anojava.

- Lídia! - Assobio, e logo aparece a Patrícia na janela. Argh! - Chama a Vitória! - Grito ela acena e concorda, logo voltando para dentro, até estranho, sempre que me vê joga beijo, e pisca, passa a língua nos lábios, ou chupa os dedos. Não gosto dela, bruuuf!

Lídia desce as escadas do barraquinho, com Vitória e uma sacola de coisas. Vitória está vermelha e parece ter chorado. Mas pelo que os guris falaram ela já chegou chorando... Muito sensível, ia me incomodar com ela ainda. mas fazer o que? Depois dos bololô, eu vejo o que faço com ela.

- Vamos Vitória? Consegui o barraco que te falei. Peguei sua mochila já.

- Vamos, Joca. - Ela me sorri, e eu só falto suspirar. Que merda hein! - Muito obrigada. - Pego a sacola da mão dela e está pesada.

- O que tem aqui, Lídia? - Pergunto antes de sair. Tava bem pesada a sacola.

- Comida, pra ela passar uns dias, até conseguir mais algum serviço.

- Não esquece, se puder me indicar, eu faço todo tipo de limpeza. - Vitória diz, e vejo Lídia concordar. Logo ela se põe a meu lado e começamos a andar.

- Fez faxina lá na Lídia hoje? - Puxo assunto e a bonitinha do meu lado, sorri e assente.

- Na verdade eu ajudei elas na faxina. Nós conversamos um pouco, a Pati me disse que ia ver se tinha vaga no super mercado que ela trabalha, e daí dividimos os serviços. - Vitória parecia feliz com as novas amizades, mas Pati?

- Pati? Já tá íntima? - Dou uma risada de lado e ela ri, deixando os olhos pequenos e com pequenas ruguinhas nos cantos.

- Ela que pediu para eu chamar ela assim, ela é muito querida. - Franzo o cenho, o que será que deu na Patrícia? Tratava todas as mulheres como concorrentes!

- Que bom que ela foi legal com você. Chegamos! - Aponto para o amontoado de casinhas a frente e Vitória se vira para mim.

- Você pode entrar comigo? Tenho vergonha de pedir fiado. - Não consigo não sorrir para aquela carinha de anjinho.

- Eu paguei três meses para você.

- O quê? Por que fez isso?

- Porque eu quis, outra hora, quando você puder, me paga! - Digo com um sorriso safado no rosto, mas ele nem parece perceber, pois seus olhos marejam. Êh laiá, lá vai a garota chorar de novo.

- Muito obrigado, vocês estão sendo uns anjos na minha vida.

- Deixa disso! - Fico até sem jeito, posso ser tudo, menos um anjo, e nem quero que ela pense assim. - V13! - Chamo e logo ele põe a cara na janela, e vejo seus olhos verdes escurecerem. Cachorro! Botou o olho na minha gata! Ele vai ver só!

- E aí Joca, olá, senhorita? - Fingidoooo! Quase grito, mas deixo Vitória responder.

- Eu sou a Vitória. - Ela sorri, aquele sorriso grande, em que as covinhas aparecem, e pelo amor de Deus, alguém tira ela da minha frente antes que eu comece a latir e uivar por ela, por favor?!

- Seja bem vinda, ao morro do Joca, Vih. - Meus olhos encontram os brilhantes e debochados do V13. Vou matar ele!

- Obrigada e o seu nome como é?

- Vagner, mas pode me chamar de V13, como todo mundo me chama.

- Ah... - Vitória me olha. - Tá bom, V13.

V13 nos leva até o barraquinho que reservou pra ela. É razoável, já vem mobiliado, e que eu saiba não chove dentro.

- Essas telhas tão boa? - Pergunto olhando para cima, vendo os fios, passando por entre as vigas e as telhas.

- Tudo top, topíssimo. Troquei esse inverno.

- Ah, beleza, sabe como são as chuvas de verão!

- Sim, tá tudo nos trinque. - Dou uma risada, V13 e essas gírias do tempo do guaraná de rolha.

- Certo então Vitória. Bem vinda ao seu novo lar. - Ela assente ainda parecendo deslocada e envergonhada. - Amanhã passo as 20 horas, para te pegar pro baile, pode ser? - Vejo-a engolir seco, e seu lábio inferior treme ligeiramente, e por momento acho que ela vai negar, mas por fim ela abre um sorriso tímido, sem mostrar os dentes.

- Claro, pode ser. - Pisco pra ela, e aceno pro V13 descer comigo. Vou relembrar ele de quem que ela é, e dizer para não ficar em cima. Que eu vou ser o herói dela!

            
            

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