Capítulo 6 Já chega!

Enfurecido, Gabriel fechou a porta sem soltar o braço de Viviane. Ambos se entreolharam quando ele se virou. Viviane vislumbrou a raiva contida em sua feição. Acuada, ela sentiu suas pernas ficarem mais fracas. A ideia de se aproximar do Senhor Welsch não pareceu tão boa naquele momento.

- A senhorita gosta de bisbilhotar? - Os dedos de Gabriel pressionaram em sua pele.

A atitude hostil de seu chefe a assustava. Por um momento, Viviane pensou em pegar a mala e sair daquela casa.

- O que a senhora escutou? - Ele soltou o seu braço.

- Nada! - Sua voz trêmula rompeu o silêncio. - Eu estava indo para a sala de jantar.

Recuou quando Gabriel se aproximou. Deu mais alguns passos atrás e se desequilibrou quando o seu quadril bateu na mesa de mogno. O porta-retratos e algumas folhas caíram no chão.

Instintivamente, Viviane se abaixou. Juntou os papéis e pegou a moldura dourada com a foto de Elizabeth. Ela precisou se esforçar para manter a postura e vencer o medo que se apoderou dela.

- Lembre-se de suas funções nessa casa e faça o seu serviço, - exigiu. - A minha mãe a supervisionará durante o período de experiência.

- Sim, senhor Welsch! - Colocou tudo sobre a mesa.

- Não quero vê-la perambulando pelos corredores próximo ao meu escritório. Espero que tenha entendido.

Gabriel a perscrutou e avaliou do alto da cabeça até os pés e negou com a cabeça ao tocar o próprio queixo. Viviane se preparou para o pior, sabia que logo o chefe falaria sobre a sua perna.

- Minha mãe providenciará o uniforme. Você precisa estar bem vestida e conforme a sua função

A mulher resignada concordou com a cabeça. Pela primeira vez, ele viu a bela translucidez dos olhos idênticos a uma pedra de jade. As maçãs do rosto de Vivian estavam coradas. O jeito como ele a examinava deixou Vivian mais nervosa.

- Já pode se retirar. - Pigarreando, ele virou-se e abriu a porta.

Dando um passo atrás, ele esperou que Viviane saísse do escritório. Embora ela estivesse vestida de um jeito formal, ele reparou em sua caminhada lenta.

- Senhorita Bernardi!

- Sim! - Ela parou e virou-se.

- É por aqui! - Apontou para o lado oposto do corredor.

Ele recuou um passo e deixou-a seguir na frente. Por um instante, Gabriel se concentrou no tecido que acentuava a cintura esguia. Ele sabia da necessidade de se manter distante de assédio com suas funcionárias. Por isso, ele exigiu que Viviane usasse durante o horário de trabalho.

Os lustres pendentes metálicos, com acabamento rose gold, pendia sobre a ampla mesa com dez lugares. Viviane olhou para o próprio reflexo no espelho grande fixado na parede da sala. Sentiu-se pequena diante do luxo e a sofisticação do espaço.

- Está cinco minutos atrasado! - Kathy estava parada do outro lado da sala. - O que ela faz aqui? - Fez um leve aceno de mão para Vivian. - Deveria estar jantando na cozinha.

- Eu a convidei, mamãe! - Puxou a cadeira.

Mesmo contrariada com a atitude do filho, Katherine se sentou e ordenou que a governanta servisse o jantar.

- Sente-se! - Ele se sentou e indicou-lhe uma cadeira

O silêncio dominou o lugar enquanto suas empregadas lhes serviam. Viviane mexeu-se na cadeira e deu um sorriso para empregada.

- Onde está a Liz? - Vivian se atreveu a perguntar.

- Mandei ela para cama mais cedo por ter feito pirraça.

- Pensei que ela jantaria conosco, - Vivian se arrependeu de contestar assim que Gabriel a fulminou com o olhar.

- Seu trabalho é me auxiliar com os cuidados da minha neta. Não quero que se intrometa na forma como eu a educo.

Gabriel bebericou um gole do vinho branco, não contestou a mãe.

Ao invés de comer, Vivian juntou as mãos sobre o colo e limitou-se a mirá-las ao pensar na filha. Achou que a esposa de Pietro poderia estar tratando a menina da mesma forma.

- Não gosta de comida sofisticada, senhorita Bernardi?

- Gosto, senhora! - respondeu.

- Ajeite sua postura, - ordenou Katherine.

Imediatamente, ela se endireitou as costas na cadeira e ergueu a cabeça sem notar que o homem na ponta da mesa, mantinha o olhar fixo nela. Viviane tinha um nariz arrebitado e maçãs do rosto saliente.

- Ela está muito magra, - Kathy teceu o comentário para chamar a atenção do filho e riu de seu julgamento fora de hora. - Você precisa engordar um pouco.

Viviane não respondeu. Ao invés de replicar a velha matriarca, ela se concentrou em seu prato com tartar de ostras com legumes e vegetais.

- Reparei que você tem problema em uma das pernas, - segurou a taça de cristal e sorveu um gole do vinho.

- A senhora devia para de beber, mamãe, - disse Gabe.

- Eu só quero saber se a Viviane vai poder lidar com a Liz quando eu não estiver em casa.

- Consigo, senhora! - Vivian falou.

- Você já nasceu com essa deficiência?

Gabriel limpou sua garganta e arregalou os olhos para a mãe.

- Foi um acidente!

Viviane mal conseguiu tocar na comida diante da inquisição da matriarca. Deixou o garfo ao lado do prato e suspirou.

- Estava dirigindo bêbada?

- Não, senhora! - Bebeu um gole da água.

Vivian meneou a cabeça negativamente. Ainda não estava pronta para falar sobre aquilo. Os pesadelos terríveis não deixavam esquecer aquele dia.

- Já chega! - Gabriel interrompeu a mãe, deixando transparecer certa irritação

Ele estava ciente de cada passo que a nova babá deu pouco antes de entrar em sua casa. Segundo o detetive que contratou, Viviane foi manchete de jornais quatro anos atrás. Ele tinha lindo a reportagem sobre o assalto seguido de tentativa de homicídio.

- Com licença! - Constrangida, ela se levantou.

Não esperou a autorização de Gabriel. Saiu e caminhou desesperada. Não lembrava onde era o seu quarto. Encostou-se na parede com a mão na boca.

- A senhorita está bem? - A mulher bondosa perguntou.

- Foi só uma forte dor de cabeça, - levantou-se.

- Quer um analgésico?

- Obrigada, vou ficar bem! - Enxugou as lágrimas com as costas das mãos. - Yolanda, como chego ao meu quarto?

A mulher de uniforme preto, e com avental branco, sorriu.

- Precisa de alguma coisa, senhor Welsch?

- Pode ser retirar, Yolanda! Eu acompanharei a senhorita Bernardi até o quarto.

Gabriel dobrou a manga da blusa no braço direito e fez o mesmo com o esquerdo enquanto encarava os olhos marejados da babá.