Capítulo 8 A aliança com homem frio e vingativo

Intimamente, Viviane se sentiu aliviada e admitiu para si mesma que talvez fosse melhor aceitar a sua demissão e encontrar outra forma de encontrar a sua filha. Ela seguiu o caminho de volta para o quarto o mais rápido que podia. "Você tem quinze minutos", imitou a voz do chefe arrogante, - Que babaca! - murmurou para si mesma.

No quarto, ela tirou o uniforme e colocou o mesmo vestido preto que usou no jantar da noite anterior. Soltou os cabelos enquanto se olhava no espelho e ajeitou as mechas platinadas sobre os ombros.

Ajeitou o uniforme no cabide e o colocou no guarda-roupa pouco antes de retirar a sua mala. Após ajeitar tudo na bagagem, Vivian suspirou aliviada. Jurou para si mesma que nunca mais faria nada por impulso.

Ainda tinha mais cinco minutos para pensar no dizer para aquele homem frio e autoritário.

Por um instante, a pequena Elizabeth veio aos seus pensamentos. A pobre menina teria uma criação tão rígida e se tornaria tão fria quanto a avó e o pai.

- Isso não é problema meu! - Tentou se convencer.

Ela olhou para o relógio e se certificou da hora. Como era o seu último dia na casa, a ideia de afrontá-lo veio à mente.

Faltando dois minutos, Viviane passou um pouco do batom na maçã do rosto, esfregou para dar um aspecto mais saudável a sua pele e, em seguida, ela deslizou o batom nos lábios.

Respirando profundamente, ela saiu do quarto sem olhar para trás. Andava lentamente pelo carpete, não tinha pressa de ver aquele homem arrogante. Parou na porta do escritório e passou a mão no tecido do vestido antes de bater.

- Entre!

Arrastando a mala, ela cruzou a porta e fitou o homem que estava de costas. Gabe estava olhando para a vegetação nos fundos da casa através da vidraça. Vivian o observou com bastante atenção. Ele virou a cabeça e a olhou sobre os ombros antes de dizer:

- Está atrasada, Vivian!

Os cabelos escuros e lisos caíram sobre a testa quando Gabriel se virou, exibindo o maxilar evidenciado e o queixo anguloso que embelezava a sua pele bronzeada. O seu olhar se fixou na mulher que segurava a alça mala.

- Onde pensa que vai?

- Para a minha casa.

- Não me lembro de ter lhe dado permissão.

- Não sou mais sua funcionária.

- Está se demitindo?

- Não posso trabalhar numa casa onde o meu chefe quer me manter em cárcere privado.

Gabriel não se abalou com o atrevimento da mulher.- Se o senhor não me deixar sair, ligarei para polícia.

- Faça isso! Ligue para a polícia. - Ele tirou o telefone do gancho e chamou Viviane com a outra mão. - Eu tenho certeza que o meu estimado amigo, ou melhor, o delegado geral, vai adorar conhecer a ex-mulher e cúmplice do Pietro.

Ele olhou para os papéis sobre a mesa e colocou o telefone no gancho quando viu que a babá não insistiria.

- Só quero que o senhor aceite o meu pedido de demissão.

- Está tão desesperada para fugir de mim, Viviane? - Ele deu um sorriso sarcástico e esforçou-se para manter o tom controlado - Não aceito a sua demissão! Você só sairá desta casa quando Pietro aparecer, - esbravejou a voz petulante.O rosto de Vivian empalideceu no momento em que se deu conta que aquele homem arrogante não pretendia libertá-la. O senhor Welsch era um homem bastante poderoso e poderia torná-la cúmplice de seu ex-marido. Como ela poderia procurar a filha dentro de uma cadeia?

- Então, por que o senhor me mandou tirar o uniforme? - Ela questionou na tentativa de destruir o muro erguido pelo silêncio e de se livrar dos pensamentos que a frustravam mais. - Eu pensei que poderia ir embora.

- Você não tem outras roupas? - Mudou de assunto.

Ele ergueu o rosto, seus olhos inquisidores repararam no tecido de malha do vestido de Viviane enquanto esperava por uma resposta; entretanto, ela permaneceu quieta, pois sabia que o intuito daquele homem era humilhá-la.

- Sente-se!

- Prefiro ficar em pé, - retrucou Vivian.

- Mandei você sentar! - vociferou.

Viviane largou a alça da mala e mancou até a cadeira onde se acomodou.

- Você sabia que o Pietro era a amante da minha esposa?

- Não! - Sustentou o olhar de Gabriel. - Então, o senhor só quer me usar para se vingar do Pietro? - Viviane tentou demonstrar uma confiança que não tinha.

- Talvez! - Um sorriso ameaçou aparecer em seu rosto. - Já que a minha esposa me traiu com o seu ex, - jogou-se na cadeira, - acho justo eu tomar para mim o que era dele.

- Eu não sou um objeto e o senhor não pode me obrigar a nada, - Levantou o queixo, desafiando-o.

- Preste bastante atenção, Viviane! - Gabriel sentiu que aquele era o momento de deixar a situação bem clara para ela compreender a sua imposição. - Seu marido fugiu quando o carro bateu e escapou ileso com o meu dinheiro. Rachel abandonou a própria filha para fugir com um homem que a deixou morrer naquele carro em chamas.

Viviane sabia que Pietro tinha uma amante com quem se encontrava constantemente, mas nunca passou por sua mente que esposa de Gabriel era a mulher com quem Pietro falava ao telefone. Embora tudo isso fosse um tanto impactante, ela ainda se recusava a casar com o homem sentado do outro lado da mesa.

- O que o senhor vai querer com uma mulher que mal consegue andar? - Tentou usar a sua deficiência como argumento. - Não ando com elegância e não sou herdeira. Meu pai era taxista e a minha mãe é uma bancária aposentada. Eu sou apenas uma pedagoga que passou dez anos trabalhando como professora.

- A Lady Di era professora de balé!

- Ela tinha descendência de dois reis da dinastia Stuart, - Viviane o contestou.

- E daí se você não pertence a uma família aristocrata?

A sede de vingança o cegava para a diferença social. Gabriel estava obcecado.

- Você não tem recursos para se tratar com bons médicos e eu posso providenciar isso. - Acenou para a perna de Vivian. - Eu vi o seu prontuário médico, - empurrou a pasta com a cópia de todos os exames. - Já enviei para um especialista! Se você continuar com as consultas e a fisioterapia, pode melhorar.

Viviane olhava aturdida para os papéis após abrir a pasta. Não imaginava como Gabriel tinha acesso ao seu prontuário médico.

- Eu a vi naquele restaurante poucos meses antes de você levar um tiro e ficar em coma. - Em certo momento, ele a perscrutou com um olhar de pena. - Onde está o bebê que você estava esperando?

- Ela não estava lá quando acordei.

As lágrimas ardiam nos olhos de Viviane. Nunca havia falado sobre sua filha abertamente. Cabisbaixa, ela via o ultrassom da bebê. Uma gota rolou pelo seu rosto até o nariz e caiu enquanto alisava a fotografia da filha ainda em seu útero.

- Estou te dando uma chance de se vingar daquele desgraçado. Eu posso descobrir onde ele está e encontrar a sua filha.

A proposta pareceu interessante, mas o que ela poderia oferecer a um homem que tinha de tudo, principalmente mulheres belas que fariam qualquer coisa para casar com ele e cuidar de Elizabeth?

- Não acho que serei uma boa esposa! - Fechou a pasta e então, ela tocou no rosto enxugando as lágrimas. - Pietro me largou porque dizia que eu era frígida.

Gabriel cerrou os punhos sobre a mesa e engoliu em seco.

- Eu só quero que seja uma boa mãe para Elizabeth e testemunhe contra o seu ex-marido.

Viviane fungou e concordou com a cabeça.

- Tenho certeza que você não é frígida, - ele teceu o comentário.

- Eu posso cuidar da Liz e testemunhar, mas não há necessidade de ter relações sexuais.

- O que você acha que Pietro fazia com a minha esposa? - A voz máscula estava carregada de raiva. - Você será a minha esposa e mãe da minha filha. Espero que cumpra os seus deveres entre quatro paredes. Se por acaso você insistir nessa tolice de desobedecer às minhas ordens, já sabe o que vai acontecer.

Viviane já tinha lido sobre mulheres que se casam sem amor em alguns países. Ela assistiu inúmeros vídeos de garotas jovens que choravam porque não aceitavam o casamento, mas tinham que aceitar as ordens dos pais para seguir os costumes da família. Era tão estranho aceitar uma situação como aquela, ainda mais em pleno século XXI.

Por mais que admitisse que Gabriel era um belo homem, ela ainda não queria se casar com ele. Não suportava o seu jeito rude e autoritário.

As suaves batidas na porta interromperam o silêncio. Gabriel saiu da cadeira e deu poucos passos até girar a maçaneta prateada.

- O senhor Jenkins está aqui! - Yolanda avisou.

- Leve-o até a sala de estar e sirva uma bebida. Já vou recebê-lo!

Vivian virou tronco levemente e olhou de soslaio para o homem parado na porta.

- Senhor Welsch, a Elizabeth acordou e sua mãe saiu bem cedo, - A governanta informou.

- Viviane, - ele olhou sobre o ombro direito. - Coloque um vestido na Liz e leve-a até a sala de estar.

- Sim, senhor! - Ela levantou-se e pegou a mala.

- Deixe isso aí, - Gabriel ordenou, - eu levarei para o quarto!

Viviane levantou-se e passou pela porta quando Gabriel deu um passo para o lado. Será que ele realmente conseguiria cumprir aquelas ameaças? Pensou enquanto dava passos lentos pelo carpete bege que cobria o chão do corredor.

Ela ainda tinha dúvidas se ele realmente a ajudaria. Agora que sabia que Pietro era um fugitivo, e que estava em algum lugar do mundo com a sua filha, Viviane decidiu aceitar a aliança com o homem frio e vingativo. A babá do CEO era capaz de qualquer coisa para encontrar a filha perdida.