Capítulo 7 Você me pertence!

Ambos caminhavam sobre o carpete do corredor. Gabriel diminuiu os passos para que Viviane o acompanhasse. Ela andava lentamente, não disse uma palavra.

Impaciente, ele enfiou as mãos nos bolsos de trás da calça de linho. Seu rosto continuava sombrio. Deram mais alguns passos, Viviane olhou para a mesinha no corredor e lembrou-se do seu quarto. Gabe parou de frente para uma porta no lado esquerdo.

- Esse é seu quarto, senhora Bernardi. Espero que a senhora não se perca novamente, - falou com veemência.

- Sim, senhor!

- Eu tomei a liberdade de enviar o cronograma com as atividades da minha filha, - mencionou para a mulher, que o escutava, parada na porta feito uma estátua. - Um dos motivos de tê-la contratado foi por a senhora ser pedagoga. Gostaria que a senhora se encarregasse de ensinar a língua portuguesa a minha filha.

Viviane esboçou um sorriso contido e concordou com a cabeça enquanto o homem alto falava sobre a importância da filha aprender outros idiomas.

- Ela vai à escola?

Se arrependeu da pergunta diante da feição impassível de Gabriel.

- Não! - falou com firmeza. - Leia a planilha com os horários que enviei. - Gabriel deu um passo, mas se virou - Tem mais uma coisa, não passe por cima das ordens de minha mãe, - admoestou - Elizabeth é malcriada e, às vezes, a minha mãe tem dificuldades de lidar com ela.

- E quanto a hora de brincar?

- Leia a planilha que te enviei, - disse ele, rudemente. - Cuidado com o excesso de zelo, não quero que a minha filha fique dependente da senhorita durante esse período de experiência. Eu demiti a última babá porque ela deixou a Liz brincar sozinha no balanço.

Aquela explicação pareceu tão absurda que Viviane sorriu.

- Sério?

- Elizabeth caiu do balanço e levou três pontos no supercílio, - disse em tom sério.

Viviane alisou o dorso da mão e fitou os pés, O olhar daquele homem era intimidante.

- Vá descansar! - ordenou a voz fria.

Sem olhar para ele, ela tocou a fechadura. Gabriel deu um passo, mas parou, fitou as costas da mulher franzina.

- Me desculpe pela atitude de minha mãe! Minha mãe está chateada comigo por deixar a senhorita presentear a Liz. Enfim, ela não devia descontar a raiva na senhorita.

- Não há problemas!

- Até amanhã, Vivian!

O som de seu apelido naquela voz penetrante fez seus batimentos alterarem de repente.

- Boa noite, senhor!

Viviane abriu a porta e entrou em seu quarto enquanto ele se afastava. Só queria tomar um banho e esquecer o fiasco durante o jantar.

Mesmo que Katherine estivesse zangada com o filho, estava nítido que ela queria magoá-la. Será que ela fazia o mesmo com a esposa de Gabriel? Pensou enquanto tirava o vestido. Olhou seu corpo esguio e engoliu em seco ao lembrar das alfinetadas de Kathy.

Mais tarde, Viviane já estava deitada na cama quando pegou o celular e acessou a caixa de e-mail. Ela abriu a planilha com as atividades de Elizabeth. A pobre menina teria de levantar às sete da manhã.

Por volta das onze da noite, Vivian saiu da cama quando ouviu o som do motor de um carro que parou em frente à casa. Abriu a cortina discretamente, ela espiava o homem alto. Fechou as cortinas assim que Gabriel levantou a cabeça.

Viviane correu para cama e se enfiou embaixo das cobertas, torcia para que seu chefe não tivesse visto nada.

Após apagar a luz do abajur, ela adormeceu rapidamente. Ansiava para que chegasse o dia em que Gabriel retornasse a Los Angeles. Precisava ir até à empresa para encontrar Pietro.

- Levante-se! - A voz imponente mandou.

Um clarão forçou Viviane a abrir as pálpebras e sentar rapidamente. Se desesperou por pensar que estava atrasada. Assustada com a invasão de sua privacidade, ela pulou da cama.

Gabriel observou os detalhes de suas curvas no tecido fino da camisola branca. Sem dizer nada, ele segurou em seu braço com força.

O medo tomou conta de Viviane. Temeu que aquele homem fosse tão rude quanto o seu marido e exigisse serviços além de suas tarefas como babá.

- Está me fazendo de bobo, senhorita Bernardi?

O coração parecia querer sair da boca. Vivian não entendia o motivo da inquisição.

- Por que não disse que Pietro Müller é o seu ex-marido?

Por um momento, Viviane lembrou-se do carro que viu pouco antes de dormir. Provavelmente, Pietro descobriu e contou ao chefe.

- Não, não sabia, - sua voz saiu tremida.

- Ah! A senhorita esqueceu que foi casada com ele? - inquiriu num tom irônico. - Responda! - Aumentou a voz.

Viviane encolheu os ombros diante da truculência do homem.

- Eu disse no dia da entrevista.

- Então, eu tenho que demitir a gerente do RH.

- Isso não é culpa dela! - Viviane tomou coragem para retrucar.Se esforçou e puxou o braço.

- É culpa de quem? Da senhorita?

Ele avançou sobre a mulher que recuava. Os cabelos de Gabriel caiam ao lado da testa franzida. Seus olhos estavam cheios de ódio.

Viviane correu para o outro lado da cama e abriu a porta do seu guarda-roupa.

- Onde pensa que vai?

- Vou, vou embora! - Gaguejou.

- Ah, não! A senhorita ficará aqui!

- Mas o meu ex-marido já contou ao senhor...

- Contou o quê? - Ele a interrompeu bruscamente.

- Ele fez isso para que o senhor dispensasse os meus serviços.

A gargalhada rouca tomou conta do quarto. Viviane não sabia o que tinha dito de tão engraçado.

- Pietro mandou você roubar mais dinheiro.

Confusa, Viviane puxou a alça da mala.

- Onde ele está?

- Não vejo o meu ex-marido há anos.

- Espera que eu acredite nisso, senhorita Bernardi?

Gabriel tirou a mala da mão de Vivian e avançou. Examinou o rosto pálido da mulher que o fitava sem entender.

- O seu marido me roubou, tirou o bem mais precioso que eu tinha, - a voz falhou de repente. - Você ficará aqui! - Ele tomou o que era meu e agora, você me pertence!

Em um movimento repentino, ele chegou mais perto, tocando com suavidade em seus ombros até tocar em seu pescoço macio. Horrorizada, Viviane fechou os olhos, prevendo que o pior poderia acontecer. Gabriel deslizou os dedos por sua pele suave, sentindo um desejo incontrolável.

- Eu peço demissão! - Tentou se libertar dos braços dele.

Segurando firmemente em seus ombros, ele tentou apoderar-se dos lábios de Viviane, mas ela trancou a boca e virou o rosto.

- Não sairá desta casa até que eu permita!

Trouxe-a para mais perto, fazendo-a sentir o seu desejo duro. Abocanhou os lábios quentes enquanto Viviane se esforçava para se libertar do beijo voraz.

­- Por favor, não! - Implorou a voz chorosa.

Indignado com a resistência de Viviane, ele respirou fundo e a soltou. Embora quisesse se vingar de Pietro, não podia machucar uma mulher indefesa.

- Não pense em sair desta casa! Tem seguranças espalhados por toda a propriedade, A senhora sairá daqui quando o seu ex-marido aparecer com o meu dinheiro, - declarou com veemência. - Nem pense em ligar para a polícia. Caso contrário, informarei que a senhora é cúmplice de Pietro.

- Isso é mentira! - disse ela, nervosa.

- Pense bem antes de tomar qualquer atitude, Vivian! - Ele admoestou, pouco antes de se virar e sair.

Viviane jogou-se na cama, chorando de raiva. Enrolou-se nos planos que fez para encontrar sua filha.

Ela se arrastou para fora da cama e viu os tais seguranças que rondavam a propriedade.

E se Gabriel encontrasse Pietro, o que seria de sua filha? Seria melhor ficar para ter certeza que o senhor Welsch nunca colocaria as mãos na menina.

...

No dia seguinte, o despertador tocou. Faltavam quinze minutos para às 6 da manhã. Vencendo a preguiça, retirou o lençol e foi direto para o lavabo onde fez sua assepsia.

Pegou o cabide com uma blusa preta de mangas combinando com a calça e os sapatos. Provavelmente, aquele era o uniforme que deveria usar durante o horário de trabalho.

Ela prendeu os cabelos num coque e logo que saiu, encontrou Yolanda que saía do quarto ao lado.

- Bom dia, senhorita Bernardi!

- Pode me chamar de Vivian.

- Não sei se deveria...

- Somos colegas de trabalho, - disse Vivian com voz serena.

Elas caminharam até uma ampla cozinha gourmet onde uma moça jovem estava comendo o cereal sentada em uma das banquetas perto do balcão branco.

- Aqui é o coração da casa! - disse Yolanda com um sorriso.

Os olhos de Viviane passearam pelo ambiente com uma coifa instalada acima do cooktop, forno e uma geladeira inox.

Ela ergueu a cabeça e desviou o olhar imediatamente quando viu o casal através da porta de vidro que separava a cozinha do ambiente externo nos fundos da mansão.

Gabriel estava sentado à mesa com uma bela mulher de cabelos que mais parecia uma atriz famosa de Hollywood.

- Gosta de panquecas? - Yolanda perguntou gentilmente.

- Sim!

- Sente-se ali, vou preparar para você!

Meio sem jeito, Vivian cumprimentou a garota de pele dourada quando se sentou, mas a jovem não respondeu.

- Ela está de fones! - mencionou Yolanda. - Bárbara, não seja mal-educada.

- E aí?

- Oi!

A garota forçou o riso e voltou a assistir o vídeo no celular.

- Não esquenta, ela sempre acorda de mal com a vida, - disse Yolanda.

Olhando de soslaio para a porta, Vivian notou quando Gabriel deu um breve sorriso. Ele pareceu mais bonito quando revelou os dentes brancos e bem alinhados. Nem parecia o ogro que invadiu seu quarto no meio da madrugada. Talvez aquela fosse a namorada, pensou.

- Ela é prima do Senhor Welsch!

Bárbara parecia ter lido os seus pensamentos.

- É a advogada que descobriu as falcatruas do tal do Pietro.

Viviane se mexeu na cadeira quando a garota mencionou o nome de seu ex-marido.

- Ele vive berrando com o detetive no telefone. Todos na casa sabem do Pietro.

Yolanda serviu uma xícara de café bem quente e colocou o prato com as panquecas.

Enquanto comia, Viviane prestava atenção na hora. Já tinha tudo planejado para as aulas daquele dia.

Ela olhou de esguelha e viu Gabe abraçando a tal prima e beijando-a no rosto. Se concentrou em seu café da manhã quando Gabriel tocou na porta de correr enquanto falava no celular. O seu coração bateu mais forte quando ouviu a voz enrouquecida preenchendo o ambiente.

- Não me interessa os problemas dessa mulher, dispense os serviços da gerente do Departamento Pessoal. Isso é tudo!

Pobre mulher! Engoliu em seco quando pensou na gerente do RH.

- Troque essa roupa!

Bárbara olhou para o chefe sem compreender e levantou-se rapidamente.

- Viviane, troque essa roupa e vá até o meu escritório, - ordenou.

- E quanto às aulas da Liz?

- Te dou quinze minutos!

Em passos pesados, Gabriel se dirigiu a saída. Se Pietro não tinha coragem de aparecer, ele não mediria esforços para tomar tudo o que era dele.