Lorenzo Prado Bertoncello era um garoto simples, seu guarda-roupas continuava o mesmo pelo que a jovem pôde perceber: camisa de botões aberta, jeans justo e ela estava pronta para apostar que se ele não estivesse com os pés debaixo d'água, estariam calçados nas botinas de couro marrom escuro.
Os olhos dela brilhavam e lágrimas vieram a escorrer pelo seu rosto quando aquele homem puxou-lhe para um forte abraço.
– Quando você passou a ter músculos? - Divertiu-se Alice.
– A gente engorda estudando gastronomia e então tem que procurar a academia mais próxima... Além do mais, já estou nos trinta anos, um dia eles tinham de aparecer. - Sorriu ele.
– Não pensei que fossemos nos encontrar novamente, pelo menos não aqui em Amalfi. - Continuou ela.
– Voltei depois da faculdade, abri meu restaurante em Atrani para ficar mais perto da vinícola do meu pai e tocá-la para frente sem ele...
– Como assim? Aquela vinícola é a vida dele! - Alice disse, confusa.
– Ele faleceu, miele. - Lorenzo sorriu acolhedor, esclarecendo a amiga.
Ela se sentiu chateada, já não sabia mais nada sobre as pessoas que tanto amou. Se não sabia do novo título do pai como senador vitalício, quem diria saber que Luigi Bertoncello havia falecido.
Lembrava-se do pai do amigo vividamente. Era um homem que adorava vinhos, queijos e azeites. Fora a vinícola, ele mantinha a queijaria e fazia alguns azeites naquela mesma propriedade que era de alguns milhares de hectares.
Lembrava-se de comer pão com tomate e uma pitada de azeites de Luigi, que sempre enchia a fazenda de gente para degustar suas criações. Achou estranho que seus pais não tivessem comentado sua morte, pois eram muito amigos.
Lorenzo despertou Alice de seus pensamentos.
– Seus cabelos ficaram tão lindos, eu nunca pensei que você teria coragem de cortar! Eu não tenho, queria ser chamado pra fazer comercial da Garnier, mas eles não acham que eu valho muito.
– Você continua tão idiota! Como não rir? Acho que seus cabelos não são longos o suficiente para comercial de xampú! Obrigada pelo elogio... eu também nunca pensei que cortaria, mas aconteceram muitas coisas.
– Imagino, dizem que casamento muda uma mulher.
– Você não imagina o quanto muda.
O jovem loiro observou-a, mesmo sem vê-la durante anos, sabia que algo estava muito errado nela. Alice não conseguia enganá-lo desde sempre. Lorenzo conhecia seus gestos e seus olhares, sabia o quanto a mente dela ia para longe quando algo estava ruim.
– Você parece tão infeliz, Alice... - Disse ele sem perceber que ela o ouviu.
– Lollo, você ainda me conhece tão bem. - Sorriu, desanimada.
A bela começou a caminhar em direção a areia, sendo seguida por Lorenzo.
Sentou-se e observou a noite caindo, como o céu de Amalfi era lindo! O cheiro do mar era incrível ali.
– Quer ir para a vinícola, encher a cara um pouco? - Perguntou ele.
Um sorriso iluminou o rosto de Alice.
– Eu preciso tomar um banho e avisar meus pais, me espere ali no Pier! Se eu demorar muito, me chame!
Definitivamente, esta era a frase mágica de Lorenzo.
Alice entrou na casa dos pais, molhada e cheia de areia, sorridente e louca para ser rápida na arrumação.
Queria muito beber mais vinho do que pudesse aguentar.
Quando abriu a porta da sala, não pôde acreditar no que via ali.