Estou animada, porque daqui a duas semanas vou fazer a minha residência no posto da comunidade do Morro dos Prazeres junto com as minhas melhores amigas Pamela e Erica. Conheci elas na faculdade. Pamela é médica pediátrica, já Érica é ginecologista. Eu sou cirurgiã-geral, estou muito animada. Sou tirada dos meus pensamentos pelo meu pai.
António - Olha só, se não é a médica de merda.
Natália - Pelo menos tenho profissão e o senhor que é um alcoólatra - Antes de eu terminar, o meu pai acerta um tapa no meu rosto. Olho para ele com raiva. Como pode me bater assim?
António - Ah minha menina, me perdoa, eu não queria...
Saio correndo para o meu quarto. Como ele pode me bater? Jamais ele levantou a mão para mim, eu não o reconheço mais o meu próprio pai.
Deito-me na cama e choro por horas e acabo a pegar no sono.
Quando eu acordo, já passa da meia-noite. Levanto-me e vou até o banheiro. Tomo banho, troco-me e saio. Minha barriga ronca, estou com fome. Saio do quarto e vou para a cozinha preparar um lanche. Termino de comer e volto para o quarto. Escovo os meus dentes, deito-me e durmo.
Acordo pela manhã e me levanto. Faço a minha higiene, coloco uma calça de moletom e uma camisa e vou para cozinha fazer o café. Abro os armários e vejo que só tem açúcar, o pó de café acabou. Volto para o meu quarto, pego a minha carteira e vou até à padaria. Compro pão e café, volto para o apartamento, faço café forte, passo manteiga no pão e me sento no sofá, ligando a TV no jornal. Termino o meu café e vou arrumar a casa. Já são quase dez horas quando o meu celular toca. Paro de passar pano e vou até o meu quarto e vejo que é a Pamela.
Pamela - Oi, Lia! Tudo bem?
Natália- Oi Pam! Tô bem e você?
Pamela- Tô ótima. Você não parece bem. O que o seu pai fez dessa vez?
Natália- Nada, Pam, esquece.
Pamela- Tá bom, mas quando quiser falar, tô aqui para você.
Natália- Tá bom, Pam.
Pamela- Lia, vai estar ocupada à tarde? A moça do shopping ligou. Falou que o nosso jaleco ficou pronto, que era para nós buscar, porque ela vai fechar a loja por três semanas.
Natália- Sério? Que rápido, Pam. A Érica vai?
Pamela- Não. Aquela vaca viajou com a mãe para Minas Gerais. Só vai voltar três dias antes da nossa residência.
Natália- Nós vamos que horas buscaremos o jaleco? A Erica deve estar brava, ela não gosta de viajar.
Pamela- Deve não, ela está. Ligou-me brava. Nos encontramos no shopping às duas horas.
Natália- Combinado, Pam.
Nós encerramos a ligação. Termino de arrumar a casa, faço almoço e após almoçar, vou para o meu quarto me arrumar. Vejo que só falta meia-hora. Entro no banheiro, tomo um banho rápido e saio procurando uma roupa. Resolvo ir de calças jeans preta e uma camisa branca. Coloco os meus tênis e saio com a minha bolsa, pego o meu celular e chamo um táxi que não demora a chegar.
Como não moro muito longe do shopping, chego faltando cinco minutos. Achei a Pamela em frente ao shopping. Vou até ela, a abraço e entramos no shopping.
Pamela- O seu rosto está vermelho. O que aconteceu?
Natália- O meu pai chegou drogado, como sempre e acabou me batendo. - Só fui dizer isso e não me segurei. Comecei a chorar. Pamela me abraçou.
Pamela- Ah, Lia, não fica assim. Deixa o seu pai de mão, vem morar comigo. Lá no morro, meu irmão não vai achar ruim.
Natália- Não posso, Pam e também não quero incomodar vocês.
Pamela- Não vai incomodar nada.
Natália- Não, amiga, sério, eu tô bem.
Entramos na loja e pegamos o nosso jaleco. O meu tem detalhes azul e a de Pamela e Érica são com detalhes rosa. Pagamos a moça e ficamos a rodar o shopping, até que eu vi uma loja de roupa social.
Natália- Amiga, vamos naquela loja ali, quero comprar alguma roupa social para trabalhar lá no postinho.
Pamela- Postinho não, Lia, lá vai virar uma UPA e das grandes. O meu irmão pediu para reformar.
Natália- Que legal, amiga! Será o máximo!
Entramos na loja e começamos a escolher a roupa. Eu comprei dois conjuntos. Pamela pegou três e comprou dois conjuntos para Érica. Saímos do shopping já eram quase cinco horas da tarde. Quando eu cheguei no apartamento, destranco a porta e entro. Acabo vendo três caras. Um estava apontando a arma para a cabeça do meu pai. Eu me desesperei e corri até o meu pai, mas os dois caras me seguraram pelo braço.
Natália- Por favor, não machuquem o meu pai.
? - Cala a porra da boca, garota.
António- Por favor, a minha filha não tem nada a ver. Solta ela.
?- Agora ele fala que vai me pagar hoje os meus oitenta mil ou o senhor morre hoje.
Como assim oitenta mil? Como o meu pai tem uma dívida tão alta assim com merda de droga? Vamos ter que vender a nossa casa.
António- Vamos fazer um acordo então - Ele me olha.– Me perdoa, filha.
?- Fala, velho. Que acordo?
António- Em troca da minha dívida, eu dou a minha filha. Ela é minha joia rara.
Como ele pode fazer isso comigo? Ele não tem direito de me trocar, de uma dívida de droga, eu não sou um objeto. Reparo que o rapaz está me olhando de cima a baixo.
?- Eu aceito, velho, mas o senhor não põe os pés no meu morro mais, porque se eu lhe pegar lá, eu mesmo mato você.
Vejo o homem andando até mim. Fico com medo.
?- Como é seu nome?
Eu fico com medo. Demoro um pouco para responder.
?- Responde, porra! - Ele grita comigo.
Natália- Chamo-me Natália.
?- Então, Natália, vai arrumar as suas coisas e vamos logo, porra. Não estou com paciência hoje.
Natália- Eu não vou para lugar nenhum com você.
Vejo ele ficar com os olhos vermelhos e chega mais perto de mim. Ele acerta uma tapa no meu rosto.
António- Não encosta a mão na minha filha, desgraçado.
O meu pai vai para cima do cara armado, mas o cara é mais rápido e acerta o murro no meu pai que cai. O cara fica por cima do meu pai e dá vários murros nele.
Natália- Eu vou com você, mas para de bater no meu pai. Eu faço tudo que você quiser, mas para, por favor.
Um dos caras que estava me segurando me solta e tira o seu amigo de cima do meu pai. Ele vem até mim e segura o meu maxilar com força.
?- Se não quer que eu mate ele, vai arrumar as suas coisas agora.
Só concordo com a cabeça. O rapaz que me segurava me soltou. Subo correndo para o meu quarto, pego as minhas malas e arrumo as minhas roupas, sapatos, livros e bolsas. Três malas grandes já estão fechadas, estou arrumando a quarta mala pequena com os meus produtos de higiene pessoal, fecho a mala já com a mochila quase cheia. Não tive tempo de assimilar tudo ainda. Saio dos meus pensamentos com o cara que ficou na porta me olhando.
?- Já arrumou tudo?
Natália- Já sim! Só vou pegar os meus documentos, mas as malas já estão prontas. Posso saber como é seu nome?
Ele saiu do quarto e gritou:
?- Grego e VK, subam aqui!
Os outros dois caras subiram e olham para as minhas malas no quarto.
Grego- Caralho, ela está levando o AP todo, é?
Natália- Não, só são minhas roupas e os meus produtos higiênicos, sapatos e outras coisas.
Grego- Eu sei mina. Me chamo Grego. Este aqui é o VK é este aqui é o senhor mau humor e o Terror.
Natália- Me chamo Natália.
Terror- Vamos logo, caralho.
O tal Terror pega a mala grande e a pequena, já o Grego pegou umas grande e o VK também e eu peguei a minha mochila. Saímos do prédio e entramos em uma BMW preta. Eu vou atrás, junto do Terror. Grego vai dirigir e o VK fica do seu lado.
Chegamos no pé do morro e vejo vários homens fortemente armados. Eles abrem a passagem pro carro entrar.
Grego- Vai deixar ela no sua goma ou vai deixar em algum barraco seu na favela?
Terror- Ela vai ficar na minha casa.
Grego sobe o morro com o carro e quase no final ele para a frente de uma casa linda. A garagem da casa é aberta por uns caras armados. Grego entra na garagem da casa e desliga o carro.
Terror- Desce, porra.
Saio do carro com medo. Ele abre a porta da casa, e me empurra para dentro. A casa é grande e muito linda. Sinto ele pegar no meu braço e me puxar para as escadas. Quando nós subimos, tem alguém descendo. Não acredito ser a Pam.
Pamela- Lia tá fazendo o quê aqui?
Ela me abraça e olha para o Terror, reparando que ele está segurando meu braço.
Natália- O meu pai me trocou por uma dívida dele com este cara - Aponto para o Terror.
Pamela- Pode soltar o braço da minha amiga, Nathan, agora. Como pode aceitar uma coisa dessa?
Terror- Não se envolve com os meus negócios. Sobe, Natália, agora.
Ele pega no meu braço e me puxa para cima, abre uma porta que fica do final do corredor, colocou-me dentro do um quarto e pelo cheiro, é dele.
Terror- Este aqui é seu quarto a partir de hoje, vou pedir para dona Maria separar uma parte do closet para você. O banheiro é ali.
Natália- Este quarto é seu?
Ele me olha com a maior cara fechada que me deu medo na hora.
Terror- Este aqui é o nosso quarto. A sua mala vai está na porta. Vou sair.
Ele sair do quarto, deito-me na cama e choro até que a porta é aberta. Pensei ser ele, mas é a Pamela. Ela me abraça e eu choro mais ainda.
Pamela- Amiga, eu sinto muito.
Natália- Ah, Pam, eu só queria saber o que eu fiz para o meu pai me odiar tanto assim para me trocar. Pam, ele é o que o seu?
Pamela- Lia, o Terror é meu irmão. Não sei se vou conseguir livrar você dele, Lia, mas eu vou tentar.
Natália- Ele falou que este quarto é o meu. Agora tô com medo, Pam. Sabe que nunca fiz sexo e não quero ser forçada. - Choro mais ainda com medo.
Pamela- O meu irmão pode ser tudo, Lia, mas ele jamais vai te obrigar a nada. Eu vou conversar com ele.
Pamela sai do quarto, levanto-me, vou até a porta do quarto e abro. Pego as minhas malas e coloco para dentro do quarto. Pego um short e uma camiseta regata e um conjunto de lingerie preta e vou para o banheiro tomar um banho. Saio do banheiro, deitei-me e acabei dormindo.
Sou acordada com alguém me sacudindo. Me viro e dou de cara com Terror. Ele me olha de cima a baixo.
Terror- Vamos jantar. Minha irmã falou que você não comeu nada, desde a hora que chegou aqui. Se levanta e desce agora, tio.
Natália- Obrigada – Falo com deboche. – Mas estou sem fome.
Terror- Não te perguntei nada, fi, tô mandando você descer para comer agora.
Me levanto, pego meu celular, vejo que já são dez e meia. Coloco meu chinelo. Quando eu ia saindo do quarto, Terror pega no meu braço.
Terror- Desce, ruiva, vou tomar banho, vai tirar a janta para nós lá.
Saio do quarto, desço as escadas e vejo a Pamela sentada no sofá mexendo no celular.
Natália- Oi, Pam.
Pamela- Lia, está se sentindo melhor? Eu falei com meu irmão. Ele me prometeu que não vai tentar nada com você sem sua permissão.
Natália- Obrigada, Pam. Seu irmão me mandou tirar a comida dele.
Pamela- Vem, a cozinha fica no fundo.
Sigo a Pamela para o fundo da casa, onde fica a cozinha que é grande demais e linda. Tem um lindo armário de parede branco com preto que vai a parede a parede, tem uma mesa grande no meio que cabe doze pessoas. A cozinha é linda.
Eu esquento a comida, faço o meu prato e o do Terror. Como não sei se ele gosta de salada, coloquei. Assim que termino, ele aparece de short jeans branca e uma camiseta preta. Ele se senta na mesa. Eu coloco o prato na sua frente e ele começa a comer. Coloco um copo de suco do seu lado e volto a me sentar na ilha que tem na cozinha. Pamela saiu. Só está o Terror e eu na cozinha. Isso me assusta. Termino de jantar e começo a arrumar tudo na pia para lavar. Estou lavando a louça quando o Terror coloca seu prato e o copo na pia e sai. Fiquei sozinha na cozinha. Olho pela janela e vejo que tem alguns homens armados. Termino de arrumar a cozinha e vou para sala e coloco um filme. O sono chega e eu acabei dormindo no sofá.