Capítulo 2 Sam

Acordara mais cedo para tomar banho e preparar o café de minha mãe, algo que eu costumava fazer quando morava com Jim, porém agora era mais do que uma simples rotina.

O percurso até a Universidade durou alguns minutos a mais que o esperado devido ao trânsito. Mandy estacionou o carro dentro do campus e me acompanhou até a entrada onde me ajudou a localizar minha sala.

― Quando sair me espere no estacionamento. ― disse ela. ― E boa sorte.

Apenas consenti deixando evidente minha tensão interior.

Enquanto andava pelo corredor cada detalhe me cativava. A Universidade de Cambridge é uma das mais antigas do mundo e estrutura clássica nos levava para a Idade Média. Fascinante!

Na sala já se se encontravam um bom número de alunos. Todos em silêncio e em estado de observação. Sentei-me ao lado da janela e enquanto esperava, fingia ler um livro qualquer. Parecia-me a melhor opção no momento.

Alguns minutos depois, uma mulher bem vestida entrou na sala cumprimentando-nos. Era jovem e de boa aparência.

― Meu nome é Elizabeth Harder e serei a professora de Química de vocês durante este ano. Sejam todos bem vindos a Cambridge!

A seguir, Elizabeth contou sobre sua formação acadêmica fazendo com que todos ali presentes ganhassem seu respeito e admiração.

O restante das aulas se seguiu neste mesmo padrão. Enquanto isso, eu olhava para janela, entediada, procurando por algo que me distraísse. Paciência, Gale, pois isso apenas se trata do protocolo para o primeiro dia de aula.

Guardei, então, meu livro sem mesmo ter lido sequer uma linha e notei que havia uma garota ao meu lado de cabelos bem ruivos e piercing no septo. Vestia luvas de material fino preto que iam até a altura do antebraço. O lápis preto realçava os olhos verdes que me intimidavam passando-me uma sensação tenebrosa. Senti-me tola por pensar na absurda possibilidade da mesma estar escondendo um canivete na bolsa e assim o usaria para me matar quando tivesse a chance. Que imaginação fértil, Gale!

Eu a observava pensando em diferentes maneiras parar começar um assunto, porém não obtive sucesso. Eu me insultava mentalmente quando a ruiva tomou a iniciativa. Talvez fosse tão observadora quanto eu.

― Você virá hoje à noite para ver o cometa?

―-Cometa Dallas? É hoje?

― É. Ouvi dizer que as turmas de Física costumam se reunir no pátio para observar.

― Nossa! Vou vir, com certeza, e você?

― Tenho alguns amigos do terceiro ano que virão, quer se juntar a nós?

― Claro! Sou Gale, a propósito.

― Natasha. - sorriu ela.

Eu e Natasha nos juntamos a Dominic, ou melhor, Dominic se juntara a mim e a Natasha nas aulas que se seguiram. Combinamos de nos encontrar as nove no pátio para observarmos a passagem do cometa. Aguardei minha mãe no estacionamento ao lado do carro e após alguns minutos, enquanto me distraia com um jogo tosco no celular, eu a vi vindo em minha direção procurando por algo na bolsa o que julguei serem as chaves do carro.

Foi fácil encontrar Natasha no pátio iluminado. As lamparinas da Idade Média eram sonolentas e em breve seriam apagadas para que a noite de fato começasse. Observei Don a alguns metros de distância conversando com um veterano e ele acenou quando me viu se aproximando.

E Natasha não parecia gostar de variar a cor preta. Ela usava o mesmo All Star vermelho de cano alto que combinava com a camiseta preta do Rolling Stones. A mesma conversava com uma garota sentada na grama.

― Gale, está é Melody, minha amiga do terceiro ano. Melody, está é Gale. - disse Natasha.

― Olá, como vai? - cumprimentou-me a simpática Melody de cabelos longos e encaracolados.

― Bem, obrigada.

― Ainda estou tentando entender como conseguiu fazer amizade com uma garota normal. - disse Melody dirigindo-se a Natasha fazendo-a rir.

― Ignore ela. – aconselhou-me Natasha.

― Aí, merda! - gritou um garoto ao lado de Melody.

― Sam! Largue isso! - retrucou ela. - Temos uma novata, amiga de Natasha, vai querer conhecê-la.

Não havia reparado na presença dele, pois a sombra de Melody refletida funcionou como uma perfeita camuflagem. Estava concentrado movimentando de forma rápida e repetitiva os polegares opositores sobre a tela do celular. O jogo o intrigava deixando seu olhar atento para seja lá qual fosse o objetivo.

― Estou quase lá... - disse ele.

― Faça algo de útil e vá chamar o Erick! Nós já vamos começar aqui. - respondeu Melody tentando tirar o celular das mãos dele.

― Ei, para! Espera... - e ela conseguiu. - Puxa, muito obrigado, Mel! - respondeu ele ironicamente.

Logo em seguida, levantou-se, irritado.

― Gale, este é Sam. Sam, esta é Gale. - disse Natasha após vê-lo saindo fazendo-me rir.

― Nos desculpe por isso, Gale. - disse Melody. - Mas ele está viciado nesse jogo inútil!

― Está tudo bem. – disse.

Don se sentou ao meu lado na grama. Sam e Erick vieram em seguida, mas não havia tempo para cumprimentos. As luzes sonolentas finalmente se apagaram alertando aos mais desatentos que a hora havia chegado. O céu brilhava intensamente e poderia observá-lo melhor através do meu telescópio, porém não seria necessário. O cometa Dallas passou lentamente sobre nós e todos olhavam admirados, alguns cochichavam e outros se mantinham calados. Eu já havia observado diversos cometas antes, a diferença é que agora estava sentada na grama de Cambridge. Ok, agora estou me gabando.

Olhei rapidamente para Sam que mais uma vez apertava com insistência a tela sensível do celular com o olhar fissurado. Ele havia perdido a passagem do cometa, porém aquilo não o incomodava afinal se tratava apenas de uma luz idiota que atravessa o céu a cada setenta e seis anos.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022