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Ambos nos afastamos quando sentimos um tranco, havia chegado a hora de descermos. Eu só conseguia pensar em Mandy e sua teoria amorosa a respeito de Sam, mas suas intenções, quais sejam elas, realmente não me importavam. A experiência não passou de uma distração.
Apoiei-me na cerca de madeira para observar o lago iluminado enquanto Sam comprava algo para beber na lanchonete. Algum tempo depois, juntou-se a mim e passou a admirar a vista, agora de outra perspectiva.
― Está calada.
― O que quer que eu diga? ― dei de ombros.
―Apenas pare de fingir que nada aconteceu.
― E o que aconteceu? Você me beijou, mas não serei a garota que tirará sua virgindade, Sam.
Ele suspirou por alguns segundos e abriu um sorriso, mas que obviamente não era sinônimo de alegria. Estava mais para um desapontamento.
― Eu estava certo sobre você, Gale, você não vale mesmo a pena. ― retrucou.
Fui rude mais uma vez e por isso compreendia sua frustração, mas eu apenas queria que ele entendesse o quão suas ideias estavam erradas ao meu respeito.
Sam me deixara na porta de casa, no entanto o silêncio havia preenchido totalmente o espaço durante todo o caminho mais uma vez. Inclinei meu rosto para que ele me desse um beijo de despedida, mas ele apenas bufou um "até logo."
Gostaria que a noite terminasse da mesma maneira como havia começado: aflita, porém cheia de expectativas.
Enquanto eu espetava a salada com o garfo sem demonstrar nenhuma vontade de comê-la, contei a Mandy como fora minha noite fracassada. Esforçava-me para não revelar meu semblante pensativo e arrependido.
― Não entendo essa sua revolta, Gale. Você se fechou desde o último relacionamento.
― É o que acontece quando você cria expectativas sobre alguém. Fiz um favor a Sam.
― Está exagerando. Ele é um bom rapaz, não merece sofrer as consequências do seu rancor pelo passado. Prometa-me que vai se acertar com ele?
― Eu não sei...
Foi então que larguei o objeto sobre a mesa no mesmo instante. Minha mãe estranhou meu olhar suspeito e esperava que eu dissesse o que tinha em mente. Eu sabia exatamente o que fazer para me acertar com Sam. Segui então em direção à porta.
― Ei! – chamou-me – Aonde vai? Faz ideia de que horas são?
― Vou acertar as coisas.
Eu agia por impulso, às vezes. Porém, ao abrir a porta da frente, me dei conta de que não poderia ir caminhando até a casa de Sam mesmo porque nem sabia onde morava.
― Ahn, talvez eu precise do seu carro. ― abri um leve sorriso.
Mandy sabia que discutir seria inútil e graças a ela meu tempo se tornava cada vez mais valioso.
― Espero que ambas não nos arrependamos disso. ― disse ela enquanto me entregava às chaves.
"Eu também espero." ― pensei.
Pedi o endereço de Sam a Natasha e cheguei a sua casa em poucos minutos. Aproximei-me do jardim e peguei o celular. As luzes estavam apagadas, porém eu não desistiria tão facilmente e é claro que não foi na primeira tentativa que ele me atendeu.
― Alô? – atendeu fazendo um esforço.
― Alô, Sam? É a Gale! – respondi animada.
― Ah, jura? Acho que vi seu nome nas outras dez chamadas.
― Será que pode abrir a porta? Está muito frio aqui fora.
― Muito engraçado. - Ele bufou ― O que quer?
― Lembra quando você me disse que não se importaria se eu o levasse para o mau caminho? Tem uma coisa que quero fazer. Venha comigo.
― Se redimir não faz o seu estilo, sabia?
― E drama não faz o seu. Você vem ou não?
― Apenas para me certificar de que não fará nenhuma besteira.
Sam tinha razão quanto a minha atitude sentimental, mas acho que sua companhia havia se tornado mais importante do que meu ego egoísta.
― Pegar o carro escondido faz parte das regras? ― disse ele ao se sentar no banco do passageiro.
― Com certeza. Você nunca deve contar nada a seus pais.
Obviamente que ele não precisava saber que Mandy estava por trás de tudo aquilo, mas eu não poderia perder a oportunidade de mostrar que tinha tudo sobre controle.
― Sei... Vamos logo com isso.
Estacionei em frente a uma construção inacabada protegida por cercas. O espaço era verde e arejado. O campo era extenso e havia obstáculos em seu interior. O som do tiro superficial ainda era único e a dor mais ainda. Nossa diversão estava apenas começando.
― Paintball? É isso que queria fazer? – perguntou Sam um tanto surpreso.
― Ora, vai ser como estar em um daqueles jogos de guerra.
― Gale, porque não me disse? Eu vim despreparado, sem dinheiro algum.
―Apenas aproveite. É uma das regras. – sorri a fim de não preocupá-lo.
Ele deu um suspiro como se não estivesse se sentindo a vontade com a minha proposta. Uma turma de mais ou menos oito pessoas aparentemente mais velha do que nós ainda discutia na fila. Olhei para Sam e depois para o grupo novamente. Era o momento de arranjarmos uma equipe para jogar.
― Oi pessoal, tudo bem?
Todos se viraram para mim.
― O que está fazendo? ― sussurrou Sam.
― Você não pretende jogar sozinho, não é?!
― Meu nome é Gale e este é meu amigo Sam. É a nossa primeira vez no Paintball e seria muito legal se pudéssemos nos juntar a vocês, parecem ser bem experientes.
Todos continuavam me encarando.
― Vi que estão precisando de mais um jogador em cada time.
Os jogadores se olharam por um momento e conversaram a respeito da proposta.
― Você e seu amigo podem ficar conosco, mas eu receio que tenham que jogar em equipes diferentes. – disse Richard, o "líder" do grupo.
Isso certamente não será um problema. Vou adorar derrotar Sam.
― Cada um pode comprar mais um cartucho para que fique equilibrado. ― disse Liam, um dos membros do grupo.
― Perfeito! Que vença o melhor. ― disse com um olhar provocativo para Sam.
Richard, em seguida, fez uma rápida apresentação de seus colegas, mas eu me esqueceria do nome de todos eles alguns segundos depois.
Entramos numa outra sala que parecia um vestiário para assim vestirmos o uniforme camuflado equipamentos e acessórios de segurança. Logo depois nos instruíram quanto às regras. Eram muitas. Eu estava no time azul e Sam no vermelho.
― Por um momento pensei que sairíamos sem pagar ou algo assim. ― revelou Sam fazendo-me rir.
― Eu nunca fiz isso, na verdade tudo se trata de apenas aproveitar o momento como se fosse único sem precisar dar satisfação a ninguém, sem cobranças e preocupações. Gosto de viver uma aventura a cada dia. Nosso tempo é curto demais para ser desvalorizado.
― Admiro essa sua filosofia, mas sabe que não é a minha primeira vez no Paintball, não é?
― Claro que sei, mas é a primeira vez comigo. ― sorri confiante enquanto vestia o capacete.
― Eu só espero que nossa amizade não acabe depois que eu vencer. ― disse convencido.
Será que já podemos chamar isso de amizade? Pensei. Bom, ele me beijou então acho que podemos ser qualquer coisa.
E engano meu pensar na ideia de ser a mais insensata que qualquer um ali. A possibilidade de um lado ousado de Sam me intrigava. Algo me dizia que ele começaria com vantagem principalmente se tratando de alguém que conhece estratégias de jogos de guerra.
Nós entramos no campo sendo que "Richard" era o único nome de que me lembrava.
Foi uma partida e tanto, porém tive de aceitar a vitória do time vermelho. Depois disso, acredito que Sam tenha compreendido meus limites. Mas peço que me perdoe porque não posso amar já que até o amor pode ser teorizado pela física. Descobri isso num filme sobre física quântica (do qual não entendi nada), mas descobri que o amor é pura física. Segundo a teoria quântica, estamos todos entrelaçados (os átomos), num emaranhado de conexões, infinitas.
Então resolvi teorizar também. Se eu estou entrelaçado com alguém e vibro numa mesma energia que esse alguém, é possível que possamos nos comunicar, mesmo à distância. O que eu fizer ou pensar movimentará átomos e partículas infinitamente pequenas e será reproduzida a outra pessoa da mesma maneira. Afinidades? Talvez, afinal são das afinidades que surgem as atrações, mas isso nunca aconteceu comigo. Nem mesmo com Sam. Se estivermos entrelaçados, portanto estamos atraídos energeticamente.
Da atração, vinda da afinidade, vinda do entrelaçamento, surge à união das energias atômicas, mesmos distantes. Então do entrelaçamento, surge à afinidade, que traduz em atração, que já havia antes, por causa do entrelaçamento, resultando na união dos átomos entrelaçados, nesse caso nós. Estou quase chegando lá. "Na teoria quântica do amor".
Da união nasce o sentimento, que na verdade nada mais é que a concordância de ideias e de pensamentos. A admiração pelos átomos do outro. Pela energia alheia. Que na verdade já existia. Só não era consciente. Visto que estamos todos emaranhados numa teia cósmica energética, que resulta em afinidades, que resulta em atração, que resulta em união, que faz nascerem sentimentos, que nada mais são que vibrações energéticas em uma mesma frequência, pois passamos a admirar o outro, suas ideias e pensamentos, que são energia entrelaçada com a nossa. Entendeu? Não? Não precisa. A não ser que você seja físico.
Mandy estava acordada quando cheguei. Pelo menos não sai às escondidas e isso tornaria minha situação menor pior? Estava na cozinha tomando algo na caneca. Não sei por que pensei que já estaria dormindo, da mesma forma como pensei que me livraria de um sermão já que nossa definição para "diversão" é um tanto quanto divergente.
― Não esperava vê-la tão cedo.
― Fomos ao Paintball. ― disse receosa da resposta que viria em seguida.
― Ao Paintball?! Pensei que fossem conversar e não se matar. ― brincou ela.
― Nós nos entendemos, está tudo bem agora.
― Que ótimo, fico feliz por vocês! ― respondeu Mandy, ao mesmo tempo séria e satisfeita com a notícia.
― Pera, não está brava? ― perguntei franzindo a testa com a surpresa.
― Por sair com meu carro no meio da noite para jogar Paintball? Eu deveria tirar seu telescópio por alguns dias... – disse pensativa.
"E aí está a Mandy que eu conheço." ― pensei, porém arregalei os olhos ao ouvir as palavras "tirar" e "telescópio" na mesma frase. O frio na barriga que senti foi algo semelhante ao da roda gigante.
― Bom, devo assumir que tenho uma parcela de culpa nessa história porque fui eu quem pediu para que vocês se entendessem, então sem castigo, desta vez.
―Jura? Não sabe como estou aliviada! Você é incrível, eu te amo! ― dei-lhe um beijo antes de subir para o meu quarto.
1. Não conte nada a seus pais e a pessoas que não estejam envolvidas;
2. Faça algo inesperado;
3. Aproveite o momento;
Lembre-se: O castigo é só uma consequência da diversão que você já aproveitou. E a regra número 2 não inclui sair sem pagar.
Aquelas três regras por mim criadas passariam a ter um significado interessante. Enviei-as para Sam antes de me deitar.