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Nos dias que se procederam, Sam obviamente, me tratou com total desprezo. Talvez achasse que isso me atingiria de alguma forma por tê-lo praticamente expulsado de casa, porém, após a aula numa sexta feira qualquer, ele veio até mim enquanto eu seguia ao estacionamento para esperar por Mandy.
― Têm planos para hoje à noite?
― Faz tempo desde a última vez que tive planos.
― Ótimo! Passo na sua casa às sete.
― Por que eu deveria confiar em você? ― perguntei com a intenção de provoca-lo.
― Bom, eu não acho que tenha outra saída. ― ele deu de ombros.
Sam seguiu, então, na direção contrária deixando um suspense no ar.
Será que ele de fato levava a sério aquela conversa de ir para o mau caminho? A ideia de não saber para onde iríamos me fazia pensar o quanto éramos parecidos e por isso era desesperador não conseguir entender seus pensamentos. Iniciou-se um conflito em minha mente que nem eu mesma compreendia. Uma fórmula física seria mais fácil de decifrar.
Mandy suspeitava que Sam estivesse planejando algo naquele suposto encontro por ela interpretado. Eu, obviamente, discordei. Quer dizer, uma parte discordava e a outra queria acreditar numa possível surpresa.
Eu o aguardava sentada no balcão da cozinha enquanto minha mãe me observava com um olhar insinuador.
― Pare de me olhar assim. ― disse a ela fazendo-a rir.
― Pode lutar contra isso o quanto quiser, mas você gosta desse rapaz.
― Não sei do que está falando. ― tentei despistá-la sem sucesso.
Naquela noite, mais uma vez fria, achei que pudesse estar elegante demais, mas esse é o lado bom do inverno. Sam me esperava no carro e assoprava as mãos a fim de aquecê-las e a fumaça branca contrastava com a noite.
O caminho desconhecido se seguia silencioso. Acredito que ambos procurávamos algo para dizer. A música que tocava na rádio tornava o clima ainda mais propicio para um encontro desastroso, mas ainda bem que não era um encontro.
Ambos olhávamos para a rua, agora iluminada decorrente do brilho vindo das luzes da roda gigante a alguns metros de distância. A montanha russa também se mostrava agitada o que estremecia minhas pernas. Fiquei apavorada.
― Nobodyland? Sam, eu morro de medo de altura. Não podemos ir a outro lugar?
― Quanta ironia. ― respondeu ele. ― Alguém que faz física não pode temer a gravidade.
― Falo sério.
― Gale, relaxa. Deixo você escolher o próximo lugar que iremos.
Era inútil continuar fazendo qualquer tipo drama quanto a isso até porque não era o meu modo de lidar com os problemas.
Pensei que talvez Natasha, Melody, Don e Erick estivessem nos aguardando em frente e bilheteria, porém este passeio havia sido planejado apenas por Sam.
Fiquei tensa quando ele mencionou entrarmos para a fila da roda gigante. Havia tantas crianças ansiosas que olhavam admiradas para tal imensidão. Não pareciam temê-la como eu.
Eu tentava atraí-lo para o simulador, o carrinho de bate-bate e até mesmo para o carrossel a fim de disfarçar meu temor, sem sucesso. Meu coração acelerava a cada passo adiante na fila.
― Está com medo? – perguntou-me ele enquanto saboreava a pipoca amanteigada.
Espero que não esteja debochando de mim. Apenas o encarei com o olhar tenso e fervoroso. Achei que poderia encarar, mas quando me deparei com o gigante de ferro quis ir embora dali. Meu coração deu pulos desesperados e não pude evitar o drama que se seguiria. Quando fomos liberados, puxei o braço de Sam para trás demonstrando pânico.
― Você não vai desistir agora. – ordenou ele segurando minha mão e puxando-me para frente.
Confesso que tive vontade de chorar, mas tal reação faria com que a imagem da garota durona e fora das regras amenizasse. Sabia que me arrependeria assim como Sam, quando teve a brilhante ideia de me trazer a Nobodyland.
Senti um pouco de inveja por vê-lo tão calmo sem um pingo de receio. Sentamos-nos então no cestinho duplo aberto e arejado o que me deixava em condições ainda mais constrangedora. Segurava a trava de segurança com ambas às mãos com força, pois não desejava soltá-las por nada nesse mundo.
O orgulho insolente novamente falava mais alto do que o medo. E para superar aquela aflição que me dominava imaginei uma analogia física a qual o centro da roda gigante se tratava do núcleo de um átomo. Nele consiste uma grande força. As cabines ao redor dela são elétrons atraídos pela carga positiva dos prótons concentrados no interior do núcleo.
A primeira rotação já havia começado e pensar naquilo me poupava um pouco do tempo que ainda nos restava.
Fechei os olhos, mas ainda assim podia sentir o quão distante estava do chão. Eu expirava e inspirava profundamente a fim de aliviar aquela tensão. Não acabava nunca.
― Gale, está perdendo a vista. Tão incrível quanto olhar através de seu telescópio.
A roda gigante já seguia a segunda e última rotação antes de sairmos. Sam tinha razão, a paisagem era esplendida, porém eu preferia não prestigiá-la tanto.
― Viu? Você encarou seu medo.
― O fato de ter sido forçada a isso foi só um detalhe. E não, não encarei. – respondi ironicamente.
Nosso cestinho havia parado no topo da roda gigante. Senti um frio na barriga e meu cérebro enviava novamente mensagens de medo para o meu coração que batia aceleradamente. Recolhi-me aflita para longe da beirada do cesto e para mais próximo dele.
Fechei meus olhos novamente, pois já havia tido a experiência de ter presenciado a tal vista. Perguntei-me quais seriam as outras formas de se distrair estando a "duzentos metros" do chão com um vento forte e gelado batendo no seu rosto.
Assim que abri os olhos, percebi que já estávamos descendo ainda que bem lentamente o que me deu um alívio enorme. E antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, Sam toca sutilmente em meus lábios frios, assim como os dele também estavam. Pude sentir a insegurança de Sam ao não ser tão atrevido no beijo. Estava nervoso, se tivesse pensado um pouco mais talvez não teria tomado àquela iniciativa, no entanto, não me agradara nem um pouco o que havia planejado para aquela noite.