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Amanda olhava para seu computador e já não conseguia mais processar qualquer informação. As letras já se embaralhavam, assim como as cores da agenda que ela havia organizado para seu chefe.
Azul para reuniões com acionistas, verde para reuniões com patrocinadores, amarelo para jantares e festas importantes, vermelho para viagens internacionais. Tudo parecia um verdadeiro arco-íris e ela se perguntava que tempo esse senhor tinha para ficar com sua família, isso se tivesse uma.
Era meio dia e meia e já tinha três dias que ela estava trabalhando ali, porém parecia uma eternidade. Todos os dias Amanda saia cedo de casa, pegava o ônibus lotado, sentava em sua cadeira e só se levantava para, raramente, ir ao banheiro e almoçar. Aparentemente a antiga secretária era uma desorganizada e ela perdeu um tempo precioso organizando planilhas, agenda, slides e documentos que precisavam ser assinados. Mesmo tomando as rédeas do trabalho, seu interior se revirava em nervosismo, afinal estar numa empresa séria lhe fazia pensar em como ela deveria se portar de forma correta para que não errasse em nada e trazer prejuízos para seu chefe. Amanda também vinha pensando muito em como seria seu chefe, não conhecê-lo era a pior das coisas,
No primeiro dia, depois que Débora saiu e a deixou sozinha, ela começou a organizar sua mesa já notando diversos documentos espalhados e colocados nas gavetas de qualquer jeito. E ela poderia ser tudo na vida, menos desorganizada.
Para falar a verdade, Amanda achava que precisava tratar isso, pois era alguém muito metódica. Seu quarto e guarda roupa eram a prova disso. Apesar de poucas, suas roupas eram separadas por cores, estilo e tecido, assim como os sapatos, meias, lingeries e calcinhas. Tudo precisava estar onde ela colocava, o que causa grande estranhamento entre Laura e ela.
Depois de algum tempo a mesa já estava organizada e as pilhas de documentos estavam ao seu lado onde ela passou a organizá-los por data e tipo. Quando o horário do almoço chegou, ela já tinha os papéis organizados e separados os recentes que faltavam ser terminados para serem assinados e entregues em outros setores. Assim, os três dias se passaram voando, sempre com muita coisa para fazer.
Novamente ela olhou no relógio e faltavam três minutos para uma da tarde. Amanda desligou o computador, trancou sua gaveta e armário, arrumou a bolsa e saiu da antessala para o departamento administrativo, que ficava antes do elevador. Enquanto ela andava, os burburinhos se faziam presentes e quando ela levantou o olhar tudo mudou. A porta do elevador abriu e um homem muito bonito saiu de lá.
Ele era alto e vestia um terno preto que caia perfeitamente em seu corpo torneado. Seu rosto era anguloso, com a barba rala e lábios finos, seus olhos eram verdes e seu cabelo loiro estava penteado de forma descontraída, distorcendo toda serenidade do restante de suas roupas.
Todos pareciam hipnotizados com seu andar manso, olhar sério, maxilar travado e postura altiva, como de um rei. Amanda sentiu o coração vacilar e a boca ficar seca quando ele parou diante de si e seus olhares se conectaram.
Felipe por um momento ficou sem fala, apreciando a beleza da mulher à sua frente. Os cabelos escuros dela, combinavam perfeitamente com a pele marrom brilhante aos seus olhos, o corpo pequeno era delineado de curvas que fizeram suas mãos coçarem para explorarem. Os olhos dela eram grandes e brilhantes enquanto seu rosto era pura harmonia.
Era uma conexão intensa, que deixava o corpo dela mole, com vontade de se aconchegar nos braços daquele homem e nunca mais sair. Seu peito queimou e ela puxou o ar que ela não lembrava que estava segurando. Ele pareceu notar algo e o momento passou quando Débora lhe empurrou para o lado e sem muita paciência o homem rolou os olhos e seguiu para dentro da antessala, pegando na maçaneta da porta que durante três dias ficou fechada.
Aquele homem bonito era Felipe Marelli e Amanda estava atrapalhando sua passagem. A ficha caiu e devagar ela voltou seu olhar para o departamento administrativo, onde todos lhe encaravam. Alguns com ar de riso, outros com olhar de pena.
Sentindo o rosto ficar vermelho, Amanda andou depressa para o elevador, apertando várias vezes o botão que lhe levaria ao refeitório.
დ
O refeitório daquele lugar ficava no último andar do prédio. Na primeira vez que esteve ali, Amanda ficou encantada com o tamanho daquele espaço. Débora lhe contou que era um local para os funcionários descansarem, principalmente quando estavam em época de lançamentos de novos produtos. O espaço era amplo com grandes paredes de vidro. De um lado ficava a área de alimentação e de outro ficava um espaço com poltronas, espreguiçadeiras, sinuca e coisas que ajudariam qualquer pessoa estressada a relaxar. Era um ambiente calmo, de pouco barulho e a vista era incrivelmente linda e podia-se ver grande parte da cidade.
A parte de alimentação era por conta da empresa, o cardápio era sempre diferenciado e muito saudável, coisa que a garota agradecia pois lhe ajudava a comer melhor e ter uma disposição perfeita para horas de trabalho sentada.
― Olha, você finalmente chegou!
Rodrigo disse alto já chamando a atenção da garota que ainda parecia perdida. Amanda conseguia lembrar com perfeição do dia em que se viram pela primeira vez. Estava indo almoçar junto com Débora quando esbarraram com ele. E aproveitando essa deixa, Débora o encarregou de me mostrar onde ficava o refeitório e almoçar comigo enquanto ela ia sabe- se Deus lá pra onde.
Inicialmente eles ficaram calados, estranhando a situação. Mas quando percebeu o vislumbre de Amanda ao adentrar aquele espaço, Rodrigo não conseguiu segurar o sorriso e a língua.
― Aqui é lindo mesmo. ― ele disse, despertando a garota do transe. ― Deixe eu me apresentar direito, me chamo Rodrigo e sou secretário adjunto do vice-presidente dessa empresa.
Amanda sorriu da forma fofa em que o garoto se apresentou.
― Eu sou Amanda e também sou secretária, só que do presidente dessa empresa. ― sua fala fez o outro rir.
― Tudo farinha do mesmo saco. ― ele disse arrancando a primeira gargalhada da garota naquele dia. Desde então, os dois nunca paravam de conversar. Foi assim que em três dias eles já sabiam tudo um da vida do outro. A facilidade que Amanda tinha para conversar com Rodrigo impressionou até Marina, que apostava que aquilo ainda iria virar namoro, coisa que arrancava risos e mais risos de Amanda.
― Pensei que me deixaria sozinho. ― ele reclamou fazendo bico enquanto agarrava a garota em um abraço de urso.
― Desculpe, anjo da minha vida. ― Ela disse de forma exagerada colocando a mão no peito e arrancando uma gargalhada gostosa dele.
― Se perdeu no caminho? Fiquei sabendo que você esbarrou em um certo alguém. ― Sua fala a fez ficar envergonhada novamente.
― Não fale desse mico. Eu estou super envergonhada, não ficaria surpresa se ele me demitisse ainda hoje.
Amanda reclamou ainda se sentindo derrotada com tamanha falta de jeito. Ela ficou durante três dias nervosa, querendo causar uma boa impressão para no final empacar feito uma mula na frente daquele homem.
― Relaxa bem, todos já empacaram na frente do senhor Marelli. A beleza ali é de família, viu? Lembro que fiquei com a boca seca quando vi o meu chefe.
Rodrigo se encaminhou para buscar seu almoço. Naquele dia o cardápio estava divino com variedades de saladas, proteínas e sobremesas. Ele pegou sua bandeja e se serviu assim como eu e depois fomos sentar. O silêncio persistiu por um tempo até que ele o quebrasse.
― Precisamos sair um dia desses. Cinema, jantar, balada.
Ela o encarou admirando seu rosto. Sua boca estava cheia e as bochechas estufadas, parecia fofo demais apenas para olhar, por isso Amanda se inclinou sobre a mesa e apertou sua bochecha esquerda.
― Quer um encontro comigo, docinho? ― Ela o questionou.
― Minha deusa Beyoncé que me livre. Você sabe que a fruta que você gosta eu como até o caroço. ― Sua indignação a fez sorrir. Rodrigo lhe deixava leve e a vontade para ser ela mesma. ― Precisamos estreitar nossa amizade, quero saber mais sobre você, cansei de ser sozinho.
Sua fala pegou Amanda de surpresa, afinal o garoto parecia ser alguém que tinha uma boa relação com todo mundo. Rodrigo também era novato na empresa, estava trabalhando há apenas dois meses. No dia em que se conheceram ele mostrou tudo para Amanda, inclusive também falou das pessoas e suas funções, os horários de almoço e quem geralmente ficava na empresa depois do expediente. Apesar de não ter amigos na empresa, ele era alguém muito observador e dedicado e isso o fazia crescer ali.
Terminaram o almoço e marcaram para sair depois do trabalho. Ainda envergonhada, ela voltou para sua mesa cinco minutos antes do horário e quando estava ligando o computador, Débora saiu da sala da presidência, parando em sua frente.
― Vem, vou lhe apresentar oficialmente ao senhor Marelli. Traga a agenda dele e os documentos que precisam de assinatura. ― Ela falou enquanto ia até sua mesa e buscava uma pasta preta. ― Ah, sugiro que você ande sempre com um bloco de notas e caneta.
As pernas da garota tremiam, mas ela ficou de pé, organizando tudo o que a outra pediu e se colocou perto da porta. Débora passou por ela deixando seu perfume doce no ar. Ela respirou fundo e entrou na sala já notando a decoração em tons escuros, com móveis elegantes e até pinturas que ela tinha certeza que valiam milhões. No fundo da sala a janela de vidro trazia toda a luminosidade para o ambiente e em suas laterais grandes plantas davam um ar mais alegre e vivo.
O senhor Marelli estava sentado em sua mesa, com a cabeça baixa enquanto analisava algo em seu notebook. Ela ficou de pé em sua frente ao lado de Débora que também abria um documento em seu tablet.
― Muito bem. ― A voz grave me assustou e arrepiou cada pelinho do meu corpo. ― Você deve ser a senhorita Amanda.
Ela assentiu de forma vaga, esperando que ele continuasse, mas ele ficou me encarando como se tivesse algo de errado comigo. Contudo o momento passou e logo ele voltou a falar:
― Apresente-se por favor. ― Ele pediu e ela ficou sem reação. Então Débora lhe cutucou e Amanda entendeu que deveria falar.
― Sou Amanda Jatobá, tenho vinte anos. Sou formada em administração pela Universidade de São Paulo, finalizando pós-graduação em gestão estratégica e de negócio.
― Você me parece muito nova para assumir um cargo de tamanha responsabilidade, assim como sua formação não se encaixa no que uma secretária faz. ― Ele falou calmamente, analisando o que parecia ser seu currículo.
― Perdão senhor, mas eu sou capacitada para assumir essa função. Se você analisar, eu tenho um curso de capacitação e formação complementa para o que eu preciso fazer aqui. Além de que trabalhar no grupo Marelli pode me abrir caminho para iniciar minha carreira.
― Muito bem. ― Ele sorriu. ― Percebi que você modificou minha agenda, quem lhe autorizou?
Sua fala deixou Amanda surpresa, mas ela não se deixou abalar, afinal não iria trabalhar em meio a tanta desorganização.
― Ninguém senhor, porém sua agenda estava uma bagunça e eu resolvi organizá-la com cores para diferentes compromissos. ― Débora então lhe entregou seu tablet já com a nova agenda dele aberta. Então Amanda andou até ele lentamente e me começou a explicar: ― Como o senhor pode ver, cada compromisso tem uma cor distinta, azul para reuniões com acionistas, verde para reuniões com patrocinadores, amarelo para jantares e festas importantes, vermelho para viagens internacionais. o cinza são para compromissos especiais e o rosa para compromissos de última hora. Usei todas as cores em tons pastéis para que ficasse mais sutil. Os compromissos também estão separados em turnos, para que o senhor não fique confuso com tantos afazeres. Também tomei a liberdade de organizar tudo em horários estipulados, assim o senhor teria mais tempo com sua família ou para fazer algo que goste. No seu email, eu também organizei os contatos e mensagens por cores que estão bem aqui ao lado.
Ela virou o tablet pra ele, mostrando todas as mudanças que havia feito para uma melhor organização. Ele via tudo com atenção e Débora parecia realmente orgulhosa.
― E sobre as apresentações das reuniões, também percebi mudanças.
― Oh sim, eu realmente troquei o modelo por um mais moderno e interativo. ― ela falou animada em ter que explicar tudo para ele ― Aqui você pode ver que as tabelas são totalmente interativas, assim como os gráficos, vamos utilizar imagens reais dos nossos produtos ao invés de ilustrações.
― E você dará conta de tudo?
― Estou confiante que sim, senhor.
― Muito bem senhorita, seja bem vinda ao grupo Marelli.
Ele se levantou e novamente os olhares se conectaram. Ele estendeu sua mão e quando Amanda a tocou uma carga elétrica passou por todo seu corpo, causando arrepios até onde não devia. Amanda não sabia se demoraria muito na saudação, mas logo o contato foi quebrado quando Débora pigarrou ao lado.
― Muito bem, você já pode voltar ao trabalho Amanda.
Seu tom era sério e ela tinha os olhos colados em alguns documentos que eu havia deixado em cima da mesa. Amanda rapidamente pediu licença e saiu daquela sala se sentindo estranha. O perfume dele ainda a rondava, mas ela não podia dar atenção aos sentimentos que queriam aparecer naquele momento. Ela precisava pensar no seu futuro e no que os seus pais fizeram por si, então abanando qualquer pensamento bobo voltando ao trabalho.