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O caminho todo foi em um silêncio estranho, com Felipe sempre sério e Amanda ainda sem reação. Talvez fosse melhor não dizer nada, deixar Felipe se tocar de que ela e ele não precisam ser amigos ou próximos. Amanda queria apenas ser uma boa funcionária, mas lá estava seu coração bombeando sentimentos que a todo custo ela tenta negar, que a enche e que lhe dói não permitir transbordar.
Ela ainda não conhecia muito sobre seu chefe, mas seu corpo estava atraído pelo dele e ela já perdeu as contas de quantas vezes ela acordou excitada por sonhar com ele, com aquela mão grande segurando seus seios e o abocanhando de forma bruta. Lembrar disse-lhe acendia e apenas uma faísca lhe faria pegar fogo.
Ela suspirou e decidiu que tinha que falar alguma coisa. Ela voltou seu olhar para ele, podendo o observar um pouco e contemplar aquela beleza que parecia surreal para si. Os cabelos loiros estavam sedosos e penteados para trás, a barba por fazer lhe deixava mais sexy do que ela poderia admitir, os olhos concentrados estavam em um verde muito claro e sua boca vermelhinha estava ainda mais chamativa.
Inconscientemente ela mordeu o lábio inferior e apertou as pernas, coisa que não passou despercebido pela visão periférica dele, que acabou deixando a raiva e o incômodo que aquele garoto lhe causou.
– Senhor Moretti? – ela lhe chamou e ele olhou para ela rapidamente, antes de se concentrar em estacionar o carro.
– Sim?
– Me desculpe por hoje de manhã, a Laura... ela é meio ranzinza.
– Você não precisa me pedir desculpa Amanda, você não fez nada, mas isso não significa que você deva aceitar tudo o que ela diz. Claramente ela está com inveja de você e eu tenho certeza que você não fez nada de ruim contra ela.
Ele disse-lhe encarando profundamente. Laura tinha sido uma cobra, isso ela não poderia deixar passar, mas era uma coisa para se resolver em outro momento, pois a intensidade do olhar de Felipe estava lhe deixando sufocada, por isso ela quebrou o contato e desceu apressadamente do carro ouvindo ele suspirar antes de fazer o mesmo.
O tempo passou rápido a partir do momento que ela e Rodrigo se encontraram e engataram nas fofocas matinais que is dois sempre trocavam aos cochichos na empresa. Ali não era diferente, mas logo o clima ficou estranho, pois Eric apareceu juntamente de Débora e por mais que Rodrigo não admitisse, Amanda sabia que Eric mexia com o amigo.
Quando embarcaram no jatinho particular da empresa, Eric fez questão de sentar ao lado do seu secretário para passar os ultimos detalhes das reuniões que ele assumiria, por isso sobrou para Amanda sentar de frente para seu chefe.
- Você está calada. - ele perguntou sentando-se de forma mais relaxada em sua poltrona.
- Eu não sou de falar muito, sempre cresci em meio ao silêncio, então aprendi a gostar e a apreciar.
- Entendi. A minha casa também era muito silenciosa, mas ao contrário de você eu nunca consegui me acostumar com isso, então digamos que eu dei muito trabalho aos meus pais.
Amanda sorriu imaginando um mini Felipe correndo por um jardim com seus cabelos ao vendo e gargalhando.
- Você é filha única? - ele perguntou ficando animado com a conversa.
- Sim, meus pais não quiseram outro bebê. Nós não tinhamos uma boa condição financeira.
- Entendo, mas isso foi uma constante na vida de vocês? Digo, a situação financeira.
- Por um tempo sim, eu tinha dez anos quando meu pai arrumou um novo emprego e começou a ganhar melhor. Ai compramos nossa casa, minha mãe também começou a trabalhar e tudo foi mudando aos poucos.
- Que legal. O seus pais parecem se amar muito. - Felipe disse melancólico e Amanda confirmou.
- O que foi? Seus pais não são assim também?
- Acho que meus pais nunca se amaram de verdade, eles se aturam e convivem bem, mas aquilo não é amor.
Amanda o encarou por um tempo, decidindo que agora faria o certo.
- Talvez essa seja a forma de amar deles. Eu penso que nem todas as pessoas vão conseguir receber o amor que merecem, mas ainda vão ser amadas e isso é algo bom também.
Felipe ficou pensativo, mas satisfeito com a resposta da outra. Sua curiosidade a cerca de Amanda só crescia, assim como as sensações a cada sorriso que ela dava.
- Acho que você tem razão.
O silêncio que se seguiu foi confortável, mas não duradouro.
- Vamos fazer uma brincadeira. - ele propôs e ela revirou os olhos. - Qual é? Deixa de ser careta, você é muito nova pra isso, senhorita.
- Ok, qual vai ser? - Ela perguntou curiosa.
- Apenas perguntas e respostas, sempre escolhendo entre uma alternativa ou outra.
- Tipo, vermelho ou preto? - Amanda falou arrancando um sorriso orgulhoso de Felipe.
- Isso mesmo bonequinha. - Amanda corou ao ouvir Felipe lhe chamar daquela forma, mas também adorou por isso não o corrigiu.
- Então eu começo. Gato ou cachorro?
- Gato. Rosa ou preto? - ele perguntou.
- Rosa. Rock ou sertanejo? - ela perguntou vendo ele vacilar. Era nítido que ele tentava decidir e ela gargalhou quando ele enfim deu a resposta.
- Pagode? - seu sorriso sacana, deixou ela ainda mais risonha.
- Fala sério, eu nunca imaginei que você gostava de pagode. Isso não é clichê.
- Deixa eu adivinhar, você gosta de sertanejo?
Amanda abriu a boca em descrença, afinal ela nunca havia sido tão humilhada na vida.
- Como você ousa? - Ela perguntou brava, enquanto Felipe ria mais da situação. Eu posso listar as cem melhores bandas de rock, dos clássicos até atuais. Meu pai me criou pra ser uma grande requeira, ele não aceitava nada menos que isso.
Felipe tinha um sorriso morno no rosto e por um momento aquilo a desmontou. Ele era lindo e ela estava começando a babar quando se tocou que estava admirando-o por muito tempo.
- Naruto ou One Pince? - sua pergunta o pegou de surpreso, mas foi por uns milésimos de segundos, pois logo ele ditou firme:
- Naruto, é claro.
- Toca aqui então. - ela estendeu a mão recebendo.um toque sutil da mão dele na sua.
- Agora a pergunta que não quer calar, Grifinória ou Sonserina?
Seu olhar era sério, provocador e ela decidiu entrar em seu jogo se aproximando mais até estar com o rosto próximo ao dele. Felipe a encarava com desejo e ela não estava diferente, mas o clima foi com Deus quando ela disse:
- Lufa-lufa.
[...]
Rodrigo observa de longe o sorriso de Amanda e não poderia deixar de sorrir também. Era um fato que desde que se conheceram, os dois criaram uma ligação muito forte. Sempre estavam juntos, conversando, se abraçando, sorrindo e isso era muito novo para si.
Ele nunca havia tido amigos com quem compartilhar suas coisas, sempre era alvo de chacota na escola e dentro da igreja deveria sempre ser um garoto exemplar e de bons costumes. Seus pais o criaram dentro de um limite entre o corinho e a obrigação, então o tempo para ter novos amigos era zero.
Desse jeito ele cresceu escondendo que ele amava Beyoncé, que sua cor favorita era rosa e que seu crush por Kim Namjoon do BTS era muito intenso. Ele teve que buscar e aprender sozinho sobre sua sexualidade e quando finalmente, em frente ao seu reflexo no espelho de seu banheiro, ele finalmente admitiu ser gay todos os sentimentos que o sufocavam vieram à tona e ele chorou durante toda a noite. No dia seguinte, sua mãe se assustou com o inchaço de seu rosto e ele lhe disse que era alergia. Naquele dia ela cuidou de si com muito carinho e sempre que ele ficava sozinho o choro se tornava presente até que ele não tivesse mais lágrima. Então como uma fênix, ele renasceu.
Passou a se aceitar e a se respeitar, estudou sobre o assunto e quando entrou na faculdade, permitiu-se ser mais livre. Namorou alguns colegas, se apaixonou por outros, mas nunca se sentiu realmente amado ou se sentiu amando outra pessoa.
Então ele ficou muito assustado com todos os sentimentos que explodiram em si quando conheceu Amanda. Não eram sentimentos amorosos, mas de um reconhecimento indescritível. Era como se eles já fossem íntimos, não existia timidez ou vergonha, assuntos que não poderiam ser discutidos ou segredos que pudessem ser escondidos. O olhar deles se conectam e mostram muito mais do que palavras poderiam dizer.
- Você e a senhorita Amanda são namorados? - a pergunta de Eric despertou do transe em que ele se encontrava. Amanda ainda sorria e estava muito perto de Felipe, a tensão entre eles era pesada, mas os sentimentos pareciam ser mais intensos do que qualquer coisa.
- Não, eu e ela somos amigos, tipo melhores amigos. Ela me completa de uma forma estranha, mas não de forma amorosa. Eu não sei explicar direito.
- Entendi. Acho que nunca senti isso por algum amigo. - Eric falou enquanto voltava seu olhar para os papéis.
- Acho que esses sentimentos não são pra todos. Devo me sentir privilegiado? - Rodrigo perguntou bem humorado arrancando um sorriso de seu chefe.
- Penso que sim. Mas, você tem namorada?
- Meu filho, depois de eu ter dançado Beyoncé na sua frente, você realmente acha que eu me interessaria por uma mulher? - Rodrigo disse mostrando indignação diante de tamanha pergunta. Eric gargalhou, se divertindo com a fala de seu secretário, afinal era uma pergunta para testar a sinceridade do outro, ele só não esperava que fosse dar certo.
- Ok, devo admitir que me equivoquei. Você tem namorado? - o mais velho falou ainda com um sorriso bobo.
- Não, ainda não consegui abrir meu coração e estou muito bem solteiro.
- Entendo. Ser solteiro realmente é bom.
- Mas você namora, então sua opinião não é válida para o clube dos solteiros.
Rodrigo virou o rosto para a janelinha, enquanto ouvia o riso baixo de seu chefe. Ao contrário do que ele sentia por Amanda, os sentimentos por Eric eram estranhos, desconfortáveis até. Era muito carnal, cheio de um desejo incontrolável que deixava Rodrigo nervoso, amedrontado, e ele realmente não entendia o que isso queria dizer.
- Eu não tenho namorado- foi o que Eric lhe respondeu logo atraindo o olhar de Rodrigo para si. O garoto riu, pois sabia que o outro estava brincando consigo.
- Então, eu tenho chances? - ele soltou vendo Eric sorri safado, mas corar com o seu flerte. Rodrigo gargalhou, aumentando ainda mais o sorriso de Eric. - Você é engraçado, mas agora é sério, e a Débora?
- A Débora é algo sem qualquer compromisso... nós nos damos bem e transamos sempre, mas não há sentimentos românticos.
Rodrigo queria completar com "há sentimentos da parte dela", mas preferiu não se meter nisso. A postura de Eric mudou quando o nome da secretária foi citado e ele não queria estragar aquele clima de harmonia. Foi muito difícil ter certa liberdade com seu chefe, mas Eric era jovem e não era tão formal consigo, por isso ele aos poucos foi ganhando confiança e mostrando mais do que deveria e era saudável.
- Isso quer dizer que ainda tenho chance? - Eric gargalhou, mas não negou. Depois disso o silêncio confortável pairou e logo eles se preparavam para pousar. Amanda já não sorria mais e Felipe parecia hipnotizado por sua amiga. E mesmo tendo muito tempo sem fazer isso, pediu a Deus que seu coração continuasse fechado para novos amores e que Amanda fosse mais sortuda que ele. Ele olhou pela janela e viu Buenos Aires abaixo de si, em uma magnitude e beleza fora do comum. Ele respirou fundo, finalmente eles haviam chegado.