Capítulo 7 Admitindo sentimentos

Four Seasons Hotel Buenos Aires, era um dos hotéis mais luxuosos da Argentina. Sua fachada antiga e bem conservada, dava um ar de realeza para o prédio em sua frente. O hall principal era um grande salão revestido de porcelanato claro, que contrastava perfeitamente com os móveis escuros. O lustre era enorme, com cristais brilhantes que iluminavam tudo.

As pessoas dali eram bem vestidas e andavam com uma elegância que deixou Amanda e Rodrigo desconfortáveis. Ali não era lugar para eles, mas já que os dois estavam ali, decidiram aproveitar o máximo possível.

Felipe fez o registro de entrada e os conduziu para a cobertura que tinha quatro quartos, suítes, uma pequena cozinha, sala de estar e jantar, e uma varanda que dava a vista para uma praça bonita que ficava por ali.

Em seu quarto, Amanda tomou um banho rápido e vestiu uma roupa mais casual, já que as reuniões começaram apenas na manhã seguinte, e se encaminhou para fora do quarto. Tudo estava silencioso, por isso ela aproveitou para ir até a varanda, aproveitando a vista bonita.

Depois de um tempo em um silêncio confortável, ela sentiu um cheiro diferente. Era cítrico e ao mesmo tempo doce, era gostoso e lhe deixava extasiada. Com os olhos fechados, ela sentiu ele se aproximar parando perto de si. Ela então abriu os olhos e o olhou de relance, percebendo que ele estava de banho tomado, seus cabelos estavam molhados e ele vestia um conjunto de moletom preto, que o deixava muito gostoso.

Ela sentiu sua boca salivar. Amanda levantou o olhar o encarando e naquele momento ela se sentiu uma safada por já está tão molhada e pronta para ele. Amanda sempre teve muitos namorados, sempre gostou de beijar, de se apaixonar e de fazer sexo. No último quesito ela se dizia profissional, mas ultimamente ela vinha se isolando, sempre negando conhecer novas pessoas. Sexo era algo que ela não fazia a algum tempo e talvez fosse isso que estivesse lhe deixando tão assanhada.

Felipe se aproximou um pouco mais, subindo suas mãos pelos braços dela, de forma delicada, eriçando seus pelos. A proximidade dos dois aconteceu de forma natural e ela já podia sentir ele perto demais, porém o toque estridente do celular dele a trouxe de volta para a realidade.

Nervosa, ela novamente o olhou antes de lhe dar as costas e sair, trancando-se em seu quarto. A preocupação era sem tamanho, afinal ela jamais poderia sentir tantas coisas por Felipe. Conhecê-lo melhor durante a viagem deixou ela molenga para tudo e agora seu corpo não lhe obedecia. Por mais que sua mente gritasse que ela ficasse longe, seu corpo era traído como um ímã para perto dele.

Ela deu um salto quando ouviu alguém bater na porta. Se olhou no espelho, arrumou os cabelos e abriu a porta se deparando com Rodrigo, que lhe sorria sapeca.

- Vem, precisamos conversar. - ele disse enquanto entrava e se jogava na cama fofinha que tinha ali. Ela suspirou, afinal seria uma longa conversar.

[...]

Rodrigo olhava o teto com atenção, ele estava deitado na cama da amiga enquanto ela lhe relatava tudo o que havia acontecido entre ela e Laura naquele dia.

- Eu estou realmente chocado com o que você está me contando. Aquela vaca parecia realmente gostar de você. - ele disse virando o rosto para olhar a amiga. A garota permanecia com o olhar no teto e parecia perdida nas lembranças daquele dia.

- Eu realmente fiquei triste com o que a Laura fez. Insinua coisas daquele jeito, poxa eu ajudei a arrumar um emprego para ela e ela faz isso? Eu realmente fiquei sem qualquer reação na hora porque eu não estava acreditando que ela estava fazendo aquilo.

Rodrigo segurou a mão da amiga levando até os lábios para deixar um selar carinhoso. Amanda o olhou e sorriu pequeno, afinal ela amava aquelas demonstrações de carinho que os dois haviam adquirido com o passar do tempo.

- Ela é uma infeliz, com inveja de você. - ele disse e os olhos da garota ficaram marejados. - Não chore por isso, ok? Ela vai se tocar que você é a melhor amiga desse mundo.

- Bobo, deixa disso.

- Não deixo não, Amanda. Você precisa se impor. Você não esponja para ficar absorvendo tudo o que jogam em cima de você.

Amanda assentiu sabendo que Rodrigo tinha razão. Laura sempre foi fria consigo, mas ultimamente elas vinham se dando bem, sendo compreensivas uma com a outra e até trocavam carinhos.

- Você tem razão. Vou conversar com ela quando chegar.

- Ei, me conta o que você e o seu chefe tanto falavam e fofocavam dentro daquele jatinho?

O sorriso de Amanda foi se fechando e no final sua feição era preocupada. Ela voltou a lembrar do que tinha acontecido minutos antes de Rodrigo chegar e novamente seu interior se encheu de sentimentos que ela não desejava sentir.

- Eu e ele apenas estamos conversando e... Rodrigo, ele mexe muito comigo e eu estou com medo. - ela admitiu conectando seu olhar ao do amigo. Não tinha repreensão ali ou qualquer sinal de decepção e isso deixou ela mais tranquila.

- Não fique tão preocupada, meu anjo, mas se você acha que tem que viver esses sentimentos, apenas vá. Mas vai sabendo que você pode ser feliz, mas também pode se magoar. O amor é muito bonito, mas não garante final feliz para ninguém.

- Eu sei, isso me preocupa, me deixa insegura, sabe? Felipe parece ser alguém muito reservado, muito misterioso, mas toda vez que paramos para conversar, mesmo sendo o assunto mais profissional do mundo, ele sempre revela alguma coisa pessoal. E eu finjo não ligar, eu realmente tento não ligar, mas guardo cada informação e me sinto nas nuvens por saber que ele quer que eu lhe conheça melhor. Eu... eu queria me jogar de cabeça e realmente viver esses sentimentos, mas e se não der certo? Se for só por uma noite, eu vou estar preparada para lidar com isso no outro dia, quando ele apenas me tratar como sua secretária?

Amanda suspirou impaciente com tamanha confusão. Ela sempre havia sido uma menina decidida e centrada. Mas agora parecia que muitas barreiras se erguiam à sua volta e a única saída era se entregar para seu chefe.

- Posso ser muito sincero agora? - Rodrigo perguntou enquanto Amanda se sentava na cama. O encarando com seriedade, ela afirmou com um gesto - A gente vive apenas uma vez e às vezes precisamos arriscar. Se ficar com ele é o que você quer, então vá lá e faça. O futuro é algo para ser vivido depois e mesmo que tudo dê errado, você vai conseguir superar. Eu estarei com você, ok?

Amanda se jogou em cima do amigo, lhe arrancando uma gargalhada gostosa. Ficaram abraçados por um tempinho até ela voltar a falar:

- Obrigado amigo, você sempre tem os melhores conselhos desse mundo. - ela disse enquanto apertava a bochecha do outro que voltava a gargalhar, mas inquieta ela voltou a perguntar: - O que aconteceu com aquela fala de que não poderíamos nos envolver demais?

Rodrigo deixou seu sorriso morrer lentamente e aquilo preocupou um pouco Amanda, que voltou a lhe abraçar.

- Quando eu disse isso, acho que estava me aconselhando a não me envolver demais- ele respondeu suspirando de forma cansada e pesada- Sinceramente? Eu sinto uma puta atração pelo Eric, sinto também sentimentos românticos que não deveriam existir, mas a aproximação que todos os dias se estreita mais um pouquinho só faz tudo ficar mais bagunçado dentro de mim. Então eu sempre repito que eu não posso, não devo deixar esses sentimentos fluírem, ganharem forma dentro de mim. Você tem chance, Amanda, o Felipe, ele te olha com certa admiração. Com desejo, mas eu não sou sortudo assim, entende? Ele não vai olhar para mim e nem retribuir meus sentimentos.

Amanda ouvia tudo em silêncio, abraçando mais forte o amigo. Realmente eram situações complicadas, mas que poderiam ser resolvidas depois. Por isso ela levantou-se e olhou para o outro que continuava pensativo.

- Nós estaremos juntos para sempre Rodrigo. E se um dia não der certo, nós vamos casar e viajar pelo mundo, até ficarmos velhinhos e morreremos felizes. Eu gosto do Felipe e você do Eric, e se tudo der errado nós estaremos juntos e isso é o que me conforta. Me promete Rodrigo? Nunca vamos sumir da vida um do outro, ok?

- Prometo Amanda, seremos nós contra o mundo- Rodrigo sorriu e a abraçou sentindo uma segurança inexplicável.

- E não se preocupe, um dia você viverá o amor que deseja, só não garanto que o caminho até ele seja fácil.

Ele assentiu, voltando a abraçar a amiga. E pela primeira vez Rodrigo admitiu para si mesmo que amava Amanda. Ela era sua alma-gêmea.

            
            

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