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O dia finalmente estava acabando e Amanda já estava organizando suas coisas quando Rodrigo passou pela porta da antessala. Ele estava sem o terno, com a blusa social branca um pouco aberta e as mangas dobradas, a calça preta estava alinhada em seu corpo e seus sapatos estavam bem lustrados. Seu semblante era leve assim como os movimentos de seu cabelo cacheado que caíam sobre seu rosto.
- Você está pronta? - ele lhe perguntou enquanto sentava em uma das poltronas que tinham ali.
- Claro, preciso apenas checar uma coisa com o senhor Marelli e já volto.
Ela se encaminhou para a sala do chefe respirando fundo antes de bater na porta. Sem demora ouvi a permissão que precisava e entrou. Ele estava sentado em sua cadeira e assinava alguns papéis.
- Senhor Marelli? - Amanda disse chamando atenção do homem para si. Seu olhar encontrou o dela e por um momento a mente da garota ficou em branco. Ele era lindo.
- Senhorita? - Sua voz rouca a fez acordar pra vida e perceber o grande papel de trouxa que estava fazendo.
- Ah, eu já organizei todo o material para a reunião de amanhã. Enviei tudo para seu email. Sua mãe ligou e pediu para almoçar com o senhor e eu marquei para meio dia, no restaurante favorito dela. Seu irmão também solicitou uma reunião com os produtores do próximo comercial de tv, então marquei para segunda, às nove da manhã e fiquei em dúvida em uma coisa, a reunião mensal com os acionistas pode ser marcada na semana que vem ou o senhor prefere no fim do mês?
Amanda disse tudo formalmente, sempre olhando em sua agenda para que nenhuma informação errada fosse dita. Ele a olhava e ao mesmo tempo acompanhava todas as informações em sua agenda.
- Pode ser semana que vem. Por favor adicione na agenda que nos dias terça-feira meu almoço é reservado para minha mãe.
A garota anotou calmamente seu pedido e achando fofo que ele tenha essa preocupação de ter um tempo com sua mãe.
- Outra coisa, no mês que vem terei um compromisso na Argentina e gostaria que você me acompanhasse - Amanda levantou seu olhar conectando ao dele. Era perceptível como ela havia ficado confusa, já que Débora havia deixado claro que ela não era responsável por tal responsabilidade. - Algum problema?
Ele perguntou em um tom calmo, encostando seu corpo na cadeira enquanto apertava uma caneta com seus dedos. Os cliques pareciam um temporizador e a sala se encheu de uma tensão estranha. Era como se ela estivesse sendo testada e por isso tinha que ser cautelosa em sua resposta.
- Não vejo problema, mas fiquei surpresa com essa informação. A Débora me disse que ela fazia as viagens com o senhor.
- E é função dela mesmo, mas ela estará em um compromisso pessoal e pelo que vi hoje, você me parece muito eficiente para substituí-la- sua fala a deixou desconcertada, seu rosto esquentou, causando um reboliço bom em sua barriga. - Além de que será uma viagem onde você poderá aprender bastante e usar esse conhecimento na sua pós graduação.
- Oh, que maravilha. Obrigado senhor Marelli - ela o agradeceu, se curvando um pouco. - O senhor ainda precisa de mim?
- Não, você pode ir- ele sorriu e ela quase se derreteu, mas não na sua frente. Se despediu e saiu da sala. Ela estava vermelha e isso não passou despercebido aos olhos de águia do seu amigo.
- Aconteceu algo aí dentro? - ele perguntou curioso, seus olhos afiados me avaliavam.
- Como? - ela perguntou confusa.
- Sabe, existe uma história que circula nos corredores dessa empresa. - Ele sussurrou a fazendo chegar mais perto e sentar na poltrona do lado da sua. - Dizem que os irmãos Marelli de santos não tem nada. Vivem ficando com mulheres diferentes, inclusive meu chefinho delícia anda pegando a tal Débora.
Amanda arregalou os olhos para tal informação. Quando ela viu o senhor Marelli pela primeira vez, deduziu que ele era alguém sério, reservado e um tanto frio. Porém nunca imaginou ele sendo um galinha.
- Você tem certeza disso? - ela perguntou ainda chocada.
- Claro que sim. - ele disse, exasperado enquanto olhava no relógio - E ainda posso te provar.
Rodrigo tinha um olhar venenoso. Amanda sentiu-se arrepiada, mas logo tratou de arrumar suas coisas para enfim sair dali.
Os dois desceram um andar pelas escadas e entraram no departamento jurídico e contábil. Andavam por um corredor longo e muito silencioso até chegarem no final onde uma porta de vidro estava fechada. Rodrigo sutilmente a abriu e então Amanda entendeu. Ali era onde ele trabalhava, pois o cômodo era muito parecido com o que ela passava seu dia. Também tinha uma porta, só que com uma plaquinha diferente.
Mas qualquer sinal de curiosidade acabou quando Amanda ouviu o primeiro gemido. Rodrigo sorriu e a puxou até a porta onde eles encostaram os ouvidos para poderem escutar melhor.
- Isso gostoso, mete mais. - A voz de Débora era exaltada e ofegante. Seus gemidos eram altos enquanto que os do homem eram contidos, roucos e muito sexy. Um calor subiu pelo corpo de Amanda e quando um tapa estalou ali dentro ela podia sentir a boca salivar. Rodrigo não estava diferente e por isso os dois saíram dali muito rapidamente, mas ainda a tempo de ouvir Débora e Eric chegarem ao seu prazer.
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- Eu não acredito que você me levou pra ouvir seu chefe trepando. Agora com que cara eu vou olhar para a Débora? - Amanda estava indignada com seu amigo. Rodrigo não dizia nada, mas seu semblante era divertido. Os dois estavam em um pequeno boteco onde esperavam por sua bebida e comida.
- Com a mesma cara bonita de sempre. Aquela mulher nunca me enganou. Sempre que pode está na sala dele, tocando nele e rodando ele.
- Você parece estar com ciúmes. - Amanda disse encarando-o e vendo o amigo ficar sem jeito. Porém antes que pudesse questionar mais, o garçom chegou com os pedidos. Rodrigo parecia pensativo e até amuado, então Amanda resolveu quebrar o gelo.
- Então, o senhor Marelli disse que vou acompanhá-lo em uma viagem para a Argentina.
Rodrigo levantou o olhar e quase engasgou com o bolinho de bacalhau que comia.
- Mas e a tal Débora? Pensei que ela iria com ele.
- Parece que ela vai estar em um compromisso pessoal.
Rodrigo ficou calado, mas logo soltou um riso sapeca.
- Eu também irei. Ao que parece eles vão fechar uma parceria importante com um grupo argentino.
- Então por isso o senhor Marelli disse que vou aprender bastante nessa viagem.
- Espero que ele tenha se referido a apenas coisas profissionais e não tenha dado em cima de você. - Ele disse me encarando sério. - Olha, eu não quero que você se machuque, os nossos patrões sabem enfeitiçar, mas amar, retribuir o que podemos vir a sentir não vai rolar.
- Esse conselho vale pra você também? - A garota perguntou vendo o olhar do outro desviar do seu. Rodrigo era como se fosse luz, que iluminava tudo o que tocava, mas no fundo ele vivia em uma escuridão densa, cheia de amarras.
- Vale principalmente pra mim.
- Você quer conversar sobre isso? - Amanda perguntou.
- Não acho que tenha alguma coisa para falar. Eu sou um subordinado e ele é um homem bonito, que dificilmente vemos no nosso dia a dia. - ele disse de forma mansa, como se precisasse ouvir aquilo. - Eu imagino que é normal que a gente se encante, só não podemos deixar os sentimentos nos sufocam.
Amanda concordou e eles ficaram em silêncio por um tempo, cada um perdido em pensamentos estranhos. Ela sabia que seu corpo ficava estranho perto do chefe, mas ela não poderia deixar de focar no que era mais importante.
Saíram daquela bolha quando o celular de Rodrigo tocou. Ele retirou o aparelho do bolso, olhando o visor e rolando os olhos. Sua feição era desgostosa, mas mesmo assim ele atendeu.
- Oi mamãe. - ele saudou e ficou quieto por um tempo enquanto brincava com o canudinho de sua bebida. - Já não estou mais no trabalho. Saí com uma amiga e agora vou deixá-la em casa. - Novamente ele ficou em silêncio, demonstrando não gostar do rumo que a conversa estava indo. - Não mãe, ela não é minha namorada. Daqui a pouco estarei aí, ok, tchau!
Rodrigo ficou um tempo encarando o celular antes de finalmente falar:
- Eu não consigo dizer aos meus pais que sou gay. - Aquela frase me pegou de surpresa. Seu olhar era triste, mas ele tinha um sorriso desconcertado nos lábios. - Eles acham que eu vou casar com uma bela moça e ter muitos filhos, mas eu não consigo Amanda. Não consigo me atrair por ninguém do gênero femenino e eles são tão... tão tradicionais.
- Eles te amam Rodrigo, vão entender. - Amanda disse sonhadora.
- Você não compreende Amanda, meus pais são pessoas muito preocupadas com o que os outros pensam. Meu pai é pastor, minha mãe o segue de olhos fechados, eu cresci dentro de igrejas, sendo exemplo para os fiéis, principalmente para os jovens, mas na verdade eu nunca pude ser eu mesmo. Isso me machuca tanto, sabe? Apesar de tudo, eu amo tanto eles.
Os olhos do garoto estavam marejados. Amanda não entendia o que Rodrigo estava sentindo, já que seus pais sempre foram muito compreensivos. Ela abraçou o amigo e resolveu que era melhor que ele dormisse consigo naquela noite.
- Ligue para sua mãe e diga que vai dormir fora. - ela mandou e ele riu.
- Como? - ele perguntou ainda rindo. Era disso que Amanda gostava no amigo. Sua risada era gostosa e ele ria de tudo.
- Preciso te apresentar umas amigas que vão te aconselhar e podemos comer brigadeiro com pipoca.
- Eca, quem come brigadeiro com pipoca? - ele perguntou.
- Eu e quando você provar, vai me agradecer por ter te apresentado essa combinação maravilhosa.
Sem demorar mais, ela o segurou pela mão e andaram entre risos e conversas.
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Rodrigo mal havia chegado na empresa e já tinha mil e uma coisas pra fazer. Era sexta-feira e geralmente aquele era o dia mais corrido de toda semana, mas apesar de tanto trabalho ele estava se sentindo feliz. Colocou seu fone de ouvido e deu play em sua playlist para aquele dia da semana.
A noite com Amanda, Marina e Laura lhe ajudou a relaxar e pensar melhor sobre começar a viver para si. Desde então ele vem procurando um lugar para morar, assim como vem treinando no que falar para seus pais, afinal ele poderia mentir sobre isso para a vida toda.
Enquanto arrumava a estante que ficava atrás de si, Rodrigo sorriu quando o refrão de Love on top começou e ele não conseguiu não realizar a coreografia, soltando a voz com seu inglês perfeito. A empolgação tomou conta de si, o deixando aceso e envolvido com a melodia. Tão envolvido que não viu quando seu chefe chegou e se sentou em uma das poltronas para visitantes que tinham por ali. No último trecho da música, ele dá uma última rebolada, parando em uma posição bem extravagante.
Ao ouvir os aplausos, Rodrigo voltou a si, abrindo seus olhos e vendo Eric Marelli sorrindo preguiçosamente enquanto aplaudia de pé. Rapidamente ele mudou a postura, baixando a cabeça e se sentindo muito envergonhado.
- Senhor Marelli, me desculpe. - ele pediu. Não tinha uma explicação para dá, ele apenas estava feliz demais e se deixou levar, mas tal deslize poderia lhe complicar, até causar sua demissão. E se isso acontecesse como ele teria coragem de sair de casa, de viver pra si, de buscar sua identidade. O silêncio era assustador, mas a sua ansiedade gritava, por isso ele levantou o olhar, se assustando com a proximidade de seu chefe.
- Não se desculpe por sua essência, nem todas as pessoas são corajosas a ponto de cantar e dançar Beyoncé no ambiente de trabalho. - Rodrigo ficou surpreso com o que ouviu, principalmente por Eric saber que aquela música era da sua cantora favorita. - Vem, precisamos ver o que faremos hoje e o que ainda falta organizar para a reunião da semana que vem e para a viagem que faremos no início do mês. - Eric, bagunçou seu cabelo em um afago carinhoso deixando o secretário muito desconcertado.
- Senhor, você tem direito de me chamar atenção. - Rodrigo falou, novamente baixando o olhar e assumindo uma postura formal - eu não tenho uma explicação ou desculpa para o que eu fiz, eu só estava...
- Feliz? - ele completou e Rodrigo apenas assentiu medroso. - Então isso me deixa feliz também. Posso te contar um segredo?
Rodrigo estava realmente surpreso com aquela conversa. Em seus dois meses de trabalho, nunca viu Eric ser falante desse jeito, ou até conversar consigo de forma tão informal. Para falar a verdade, ele nunca notou seu secretário verdadeiramente e mesmo assim Rodrigo assentiu esperando o tal segredo. Calmamente Eric se aproximou dele, tocando sua cintura e inclinando seu corpo ficando muito próximo do outro. Seus lábios sopraram uma risada perto do ouvido de Rodrigo lhe deixando arrepiado.
- Eu também sou fã de Beyoncé. - Rodrigo fechou os olhos sentindo-se bobo. O aperto na sua cintura findou e Eric sorriu. - Agora vamos trabalhar.
Ele lhe deu a costa e entrou em sua sala, deixando seu secretário com uma única certeza: ELE ESTAVA FODIDO.
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Amanda fazia os últimos ajustes dos slides para a reunião que teriam naquela tarde quando seu chefe chegou. Ele estava estranho. Estava mais sério do que o normal, sua mandíbula estava trincada e sua postura era tensa. Ele desejou um breve bom dia e entrou em sua sala.
Respirando devagar, ela se levantou e foi até a pequena copa que tinha naquele andar. Preparou aquilo que seu chefe mais gostava e organizou tudo em uma bandeja.
O seu toque na porta foi sutil logo recebendo uma afirmação de que poderia entrar. Diferente de outros dias, Felipe Marelli estava sentado de qualquer jeito em seu sofá, com os braços sobre os olhos . Ele parecia cansado e pensativo.
- Senhor, trouxe um lanche. - ela anunciou colocando a bandeja em cima de uma mesa que ficava perto do sofá. Felipe tirou os braços do rosto e a encarou com semblante cansado. Era inegável a beleza de Amanda, seus olhos grandes e escuros pareciam cintilantes e inocentes, o cabelo preto tinha seus fios compridos e ondulados indo até sua cintura, seu corpo era curvilíneo e esguio completando sua beleza .
Já havia visto e até ficado com muitas mulheres bonitas, mas Amanda tinha algo diferente e ele não entendia bem o que era. Diferente das outras, ela não tentava se jogar para si, não lhe falava com segundas intenções e muito menos ficava tentando lhe agradar. Ela apenas agia com uma boa funcionária, sempre interessada nas suas falas, nos comandos que lhe eram dados, buscando inovar e organizar tudo.
E por mais que Felipe não suportasse as mulheres se oferecendo para si, ele se sentia incomodado por não receber esse tipo de atenção da sua secretária e esse incômodo era algo que ele não tinha controle.
- Obrigado Amanda. Sente-se um pouco- ele pediu, avaliando a reação surpresa da outra.
E mesmo nervosa, ela não deixou transparecer o misto de emoções que estava sentindo. Felipe Marelli era alguém que lhe atraia e ela tinha noção disso desde a primeira vez que o viu, mas ela não poderia se deixar levar. Ela precisava daquele emprego, precisava da experiência que aquela empresa poderia trazer para si. De forma alguma, ela poderia se levar por quaisquer sentimentos, principalmente os amorosos.
Rodrigo havia deixado bem claro como os dois irmãos Marelli podiam ser persuasivos, sexys e conquistadores. Era claro que eles gostavam da atenção que recebiam, gostavam de ter mulheres aos seus pés, mas ela não seria mais uma. Pelo menos era isso que ela repetia para si desde o dia em que seus olhares se encontraram.
Ela sentou, sempre atenta em sua postura. Deu a ele um sorriso sutil e colocou a agenda sobre as pernas e preparou a caneta.
- O que preciso saber para hoje senhor? - sua fala era mansa e baixa, mas muito profissional. Felipe continuava olhando, agora de uma forma diferente, como um predador.
- Por um momento, podemos conversar sobre outras coisas? - ele perguntou e ela concordou. - Você sempre morou em São Paulo?
Amanda fechou a agenda que segurava e relaxou a postura para responder melhor.
- Não senhor, mas já tem alguns anos que moro aqui.
- Pode me chamar de Felipe, não temos tanta diferença de idade.
Felipe continuava com sua postura relaxada, não lembrando em nada o chefe que ela havia conhecido no dia anterior.
- Não acho que isso seja apropriado senhor, você é meu chefe apesar de tudo, é uma forma de respeito. - ela disse se sentindo envergonhada.
- Apenas por um momento então. Eu só preciso distrair minha cabeça por um momento.
Seu pedido veio cansado, suplicante e por mais que não gostasse de misturar as coisas, Amanda assentiu.
- Como é a Itália? - ela perguntou, tirando de si o foco da conversa. Ela não queria ter que falar de seus pais e de sua vida para um estranho.
- Ah, é linda. O Brasil também é lindo, mas as pessoas que vivem aqui não dão valor e nem cuidam de seu país.
- Isso é verdade, a insegurança é terrível. Acredita que outro dia um cara passou a mão na minha bunda no ônibus? - quando Amanda percebeu o olhar indignado de Felipe, quis se estapear por falar demais. Ela era assim, perdia a postura que construiu em segundos. Ela simplesmente desata a falar e quando vê já disse muito sobre si.
- Como? - ele perguntou sentando-se direito e inclinando o corpo para frente para apoiar os braços no joelho e segurar a mão direita na frente da boca em uma postura de raiva e indignação.
- Sim, mas... bem, eu dei um tapa nele e fiz um escândalo que não deu em nada, mas eu precisava chegar a tempo no trabalho e ...
- Amanda, calma. - ele pediu e eu me calei percebendo que eu estava fazendo de novo. Falando muito. - Você está me dizendo que sofreu assédio no ônibus e ninguém fez nada para te defender?
- Eu não preciso que me defendam. - ela disse chateada. - Eu fiz isso sozinha como meu pai ensinou e você só está indignado porque não vivencia isso em seu cotidiano.
- Você tem razão, me desculpe sobre isso. Diferente do seu pai, a minha avó me ensinou que nós homens defendemos as mulheres. É algo que aprendi e levo pra vida.
Amanda o olhava desconfiada, já não gostando dessa característica de Felipe. Ficaram um minuto inteiro em silêncio até ele voltar a falar.
- Me conte um pouco sobre as coisas que você gosta. - Ele pediu e Amanda suspirou, desfazendo a cara emburrada.
- Gosto de ler, de ouvir música, gosto de dormir, gosto de muitas coisas Felipe. E você?
- Eu gosto de gatos. - Felipe disse simples, sem qualquer sinal de que estava brincando. Amanda quis rir, porque ficou imaginando aquele homem sério brincando com gatinhos fofos. - Que foi?
- Nada, mas... é engraçado pensar em você com algum gatinho fofo.
- Há muitas coisas sobre mim que as pessoas desconhecem.
- Por isso você está chateado hoje? - Calmamente ela perguntou, já esperando ouvir alguma bronca por tamanha ousadia. Felipe ficou em silêncio analisando se deveria falar ou sobre esse assunto. Durante toda sua vida ele foi muito fechado com todo mundo, nem sua família sabia muito sobre si.
- Quase isso. Talvez eu deseje ser eu mesmo pelo menos uma vez na semana, mas meu pai... é complicado.
Amanda ficou surpresa com o desabafo, mas conseguiu manter a pose descontraída. Era incrível como eles conseguiam conversar de forma fluída, sem quaisquer amarras. O coração dela batia rápido e quando percebeu isso resolveu agir da forma mais racional e fria possível. O silêncio confortável foi quebrado quando ela pegou a agenda, abriu e ficou encarando algo enquanto apertava a caneta em incontáveis clicks.
- Você gosta de sexta-feira? - ela perguntou e ele sem entender muito assentiu. - Toda sexta-feira o seu expediente termina às três da tarde, assim você poderá ter um tempo para atividades pessoais e na segunda seu expediente começa ao meio dia. Essa parte vai ter a cor roxa. - Ela levantou enquanto ele a olhava sem entender nada. - O que? Você quer ter um tempo pra si, eu arrumei um tempo, agora estou indo avisar o Rh.
Ela lhe deu a costa caminhando elegantemente até a porta, mas parou quando ouviu ele falar:
- Você sabe que eu sou o chefe aqui né? - ele estava sério demais, mas Amanda já não ligava.
- Então passe a agir como um. Se quer um tempo para você, arrume. Você manda nisso tudo aqui, é um adulto. Então pare de lamentar e faça as coisas acontecer. Espero que você tenha um bom dia senhor Marelli.
Amanda saiu da sala deixando o outro embriagado. Seu corpo tremia, o medo queria lhe sufocar enquanto Felipe apenas conseguia pensar que queria aquela mulher para si.