Capítulo 3 Angel

Angel

- O que eu faço? - perguntei a Skyler.

- Espera ele se virar para o outro lado e... corra! - Skyler se lBradtou arrastando-me pelo braço até ao banheiro feminino e trancou a porta depois de entramos.

- Não posso passar o resto da minha noite de trabalho trancada em um banheiro por causa de um louco! - disse nervosa.

- Talvez, quando ele não achar você, vá embora. - Forçou um sorriso e uma calma inexistente.

- Que droga! - exclamei dando um forte tapa em uma das portas dos sanitários. - Roger já não está muito satisfeito comigo, desde a última confusão do Finn. Se ele me pegar aqui no banheiro, eu... - Uma forte batida na porta interrompeu-me, nos assustando.

- Quem é? - perguntou Skyler.

- Angel! - gritou Roger lá de fora.

Skyler abriu a porta vagarosamente e Roger estava parado depois dela, de braços cruzados e com uma feição nítida de descontentamento.

- Oi - disse Skyler para ele.

- Dê um jeito naquilo. - Roger apontou para o final do corredor. - Que não aconteça mais uma briga neste bar por sua causa! - disse alto.

Apenas assenti e saí do banheiro passando por ele. Skyler veio logo atrás de mim e segurou minha mão. Quando voltei ao bar, Dave estava sentado em uma mesa com seus amigos ao lado da mesa do Finn. Respirei fundo, peguei minha bandeja com cervejas sobre o balcão e as levei até à mesa do Sr. Babaca.

- Oi, Angel - cumprimentou Kevin, um dos meus colegas do curso.

- Oi, Kevin. Aqui estão as cervejas que pediram. Mais alguma coisa? - perguntei ao terminar de servi-los.

- Que você beba com a gente - respondeu ele, rindo.

- Eu bem que gostaria, mas não posso - disse sentindo o olhar de Finn queimar sobre mim.

- Angel? - Uma voz grossa chamou-me por trás. Virei tensa e vi o Dave. - Já fazem três meses.

- Oi, Dave. É... três meses - disse desconcertada e com um pouco de medo.

- A gente... pode conversar? - pediu ele.

- Eu não posso agora - respondi antes de afastar-me.

- Por favor, Angel - insistiu segurando meu antebraço.

- Larga ela! - mandou Finn se lBradtando da cadeira.

- Tudo bem - concordei rápido com o Dave, a fim de evitar uma briga. - Venha. Vamos lá para fora. - Segui para a porta e ele veio logo atrás.

- Angel... quero lhe pedir desculpas - disse ao sairmos do bar.

- Está tudo bem, Dave. Já faz tempo, então... está tudo bem - tentei afirmar uma mentira, mantendo uma distância segura entre nós.

- Eu não voltei antes, porque não sabia se você estaria pronta para me desculpar - disse aproximando-se a passos lentos. - Estava muito bêbado naquela noite. Você me magoou e isso me deixou com raiva. Agi por puro impulso.

- Olha, Dave. Eu sei que te magoei, mas fui apenas honesta com você. Desde a terceira noite em que dormimos juntos, combinamos que tudo não seria nada além de sexo e...

- E eu confundi as coisas, já entendi - interrompeu-me. Talvez eu tenha contribuído para isso. - Mas eu ainda gosto de você, Angel.

Fiquei um tanto surpresa em ouvir isso e sem nenhuma reação para respondê-lo. Ele fechou o pouco espaço entre nós e imprensou-me contra a parede do bar. Em seu olhar sedutor, não havia nenhum sinal do homem louco de três meses atrás que me deixou com medo.

Dave aproximou sua boca da minha e beijou meus lábios delicadamente, iniciando um beijo lento. Suas mãos foram para minha cintura, trazendo meu corpo para mais junto ao seu. Nossa... tinha me esquecido de como seu cheiro era bom e sua boca gostosa.

Fiquei nas pontas dos pés e entreguei-me ao seu arrocho. Passei meus braços por seu pescoço entranhando minhas mãos em seus cabelos macios na nuca. Ele desceu uma de suas mãos até a base da minha coluna, deixando-me sentir seus dedos em minha bunda.

Dave apertou-me ainda mais contra seu corpo, fazendo com que eu sentisse sua ereção se comprimir contra a minha barriga. Isso claramente me deixou excitada. Involuntariamente soltei um gemido baixo em seus lábios quentes. Ele quebrou nosso beijo mordendo meu lábio inferior e abaixou sua cabeça deixando um beijo leve em meu pescoço, fazendo-me arrepiar.

- Nada mal para um beijo de adeus - sussurrou em meu ouvido e soltou meu corpo. - Se um dia me quiser, Angel... sabe exatamente onde me encontrar. - Deu-me um beijo na testa e afastou-se entrando novamente no bar.

- O que foi isso? - sussurrei para mim mesma, surpresa com o calor que aquele beijo me causou.

Recuperei meu fôlego rapidamente e entrei logo depois dele, ainda meio tensa com o beijo, quando ouvi Skyler gritar:

- Cuidado! Finn, não!

Olhei para o lado e Finn havia acertado um soco no rosto do Dave, que revidou de imediato lBraddo os dois para o chão. Eles rolavam no piso sujo aos murros. Eu me apavorei e comecei a gritar pedindo para que os dois parassem com aquilo. Logo os amigos de Finn apareceram para tentar separar a briga que ele estava perdendo feio.

- Parem! - berrou Roger com um taco de beisebol nas mãos. - Todos vocês... - apontou o taco de madeira lustrada para o tumulto da confusão - fora do meu bar. Agora! - berrou novamente.

Ligeiramente, Finn saiu com sua turma e as periguetes com quem estava. Dave foi logo em seguida com seu moto clube.

- Angel, você está bem? - perguntou Dick.

- Espero que esteja, porque está demitida! - respondeu Roger, antes de dar-me as costas.

Envergonhada, mais uma vez, desci até o depósito de bebidas e peguei minha bolsa para ir embora. Desempregada e com uma mãe cada vez mais doente. Ótimo! Será que minha vida pode ficar pior? Não sei o que fazer agora! Voltar para casa e contar ao meu pai que havia perdido o emprego que me mantinha na faculdade, não era uma opção. Não queria preocupá-lo ainda mais.

- Angel! - Ouvi o som irritante da voz do Finn gritar por mim, enquanto eu caminhava pela calçada de volta para a fraternidade.

- O que você quer? - perguntei alto e rude. - Já não conseguiu o que tanto queria? Eu não tenho mais o emprego!

- Desculpe-me, por favor! - implorou acompanhando-me lentamente com o carro, próximo ao meio-fio.

- Desaparece, Finn! - mandei rude.

- Deixa eu levar você para o campus. Já está bem tarde e é perigoso.

- Vai à merda! - gritei parando na calçada e o encarando. - Deixe-me em paz! Segue a sua vida e deixa eu seguir a minha! - Finn parou o carro e desceu batendo a porta com força.

- Perdoa-me. Eu imploro! Por que você é tão dura comigo? Será que dá para você me desculpar?

- Não! Não dá, Finn. Você é um cretino egoísta. Eu precisava daquele emprego e você melhor do que ninguém sabe disso. Você tem conhecimento do que está acontecendo na minha vida. Por que insiste em me causar problemas? Eu avisei e pedi inúmeras vezes para ficar longe de mim, para me deixar em paz e me esquecer! Você só me causou dores de cabeça!

- Angel... - disse baixo estendendo suas mãos para tocar meu rosto.

- Não me toca! - mandei alto e dei um passo para trás.

- Eu vi vocês se beijando e fiquei louco de raiva. Senti ciúmes!

- Não sou mais sua namorada, Finn. Faço o que eu quiser da minha vida, assim como você faz da sua. Para! Já chega! Sai de perto de mim e me esqueça de uma vez por todas! Suas desculpas não vão devolver o meu emprego - disse cheia de ódio.

- Então para a gente acabou? É isso?

- Sim! Você acabou com a gente quando não soube deixar o seu pau dentro da calça.

Finn encarou-me em silêncio e com seus olhos cheios de lágrimas.

- Ah, não! Você ainda tinha esperanças? Depois de tudo o que me fez?

- Você nunca disse que era o fim - disse encarando as grades que cercavam uma casa atrás de mim.

- Eu disse muitas e muitas vezes, Finn. Foi você quem não quis ouvir. - Calei-me por alguns segundos e olhando para o céu escuro, respirei fundo. - Não acredito que você achou mesmo, que aparecendo cada dia com uma garota diferente, batendo no cara que beijei e nos clientes do bar, eu iria voltar para você.

Ele apenas encarou-me em silêncio.

- Jura que foi assim que você acreditou que eu o perdoaria por ter traído minha confiança e quebrado meu amor por você?

- Então vai ser assim? Você vai jogar dois anos fora das nossas vidas, por uma tentação? Um deslize meu? - perguntou com a voz carregada de amargura.

Eu gargalhei com ironia.

- Uma tentação? Deslize? Essas são suas melhores desculpas para o que fez? Foi você quem jogou fora nosso relacionamento por uma garota que não se dá o respeito. E sim, vai ser assim! Vida que segue. - Dei-lhe as costas e segui meu caminho pela calçada.

- Eu te amo, Angel! - gritou ele.

- Pega esse seu amor e vai para o inferno! - gritei de volta, sem nem mesmo me dar o trabalho de olhar para trás.

Chegando no campus, Skyler me esperava sentada no sofá da sala. Sentei ao seu lado e recostei-me para trás deitando minha cabeça em seu ombro e deixando algumas lágrimas escorrerem. Ficamos assim por meia hora, ou talvez mais, em silêncio com todas as luzes apagadas, exceto a da luminária ao nosso lado.

- Não se preocupe. O que eu puder fazer para ajudá-la, eu farei! - disse ela quebrando nosso silêncio. - Tenho certeza de que, quando voltar das férias, você arrumará um emprego melhor.

***

Na manhã seguinte, acordei com meus olhos inchados e uma leve dorzinha chata de cabeça. LBradtei e depois de procurar por analgésicos, passei direto para o banho. Desci para o café da manhã e Skyler já havia saído. Comi tranquilamente minha primeira refeição do dia sentada sozinha na cozinha.

Um pouco mais tarde fui até o Roger's para receber meu mês trabalhado e despedir-me dos meus colegas. Ao sair de lá, Skyler mandou-me uma mensagem dizendo para nos encontrarmos na cafeteria perto do campus.

- Oi - disse puxando a cadeira à sua frente.

- Oi. Você está melhor? - perguntou preocupada.

- Sim. Não adianta me desesperar e nem chorar mais. Tenho que me preocupar em procurar outro emprego, mas agora vou para casa ver meus pais e descansar. Depois cuido disso.

- É, você está mesmo precisando de férias. Eu pedi para você, já devem trazer.

- Obrigada. Quer sair hoje? Tomar umas cervejas e conhecer alguém, talvez?

- Não dá. Eu tenho uma festa para ir - disse dando-me uma piscada.

- Okay!

- Mas se quiser ir... seria legal se você estivesse comigo. É um evento social e geralmente nessas festas, sempre fico de lado.

- Melhor não. Por que não fica e sai comigo?

- Não posso - disse fazendo biquinho. - Eu bem que gostaria, mas a grana é boa.

- Tudo bem - disse dando um gole no cappuccino servido.

- Tenho que comprar um vestido para hoje à noite, você vem comigo? Eu pago o almoço.

- Claro. No Garden?

- Você está querendo demais, não acha? - perguntou sorrindo.

- Ué?! Você quem me convidou e lembre-se. A grana de hoje é boa - disse fazendo-a rir negando com a cabeça.

Depois do café fomos até o shopping e entramos em uma loja muito sofisticada de roupas belíssimas. As vendedoras já conheciam Skyler e a trataram como uma socialite. Uma delas nos levou para o segundo piso e Skyler começou sua busca incansável pelo vestido perfeito. Ficamos assim por horas. Ela experimentou, no mínimo, umas dez peças. Todas maravilhosas e elegantes, até que por fim, ficou em dúvida entre dois vestidos. Um azul e um vermelho.

- Então, Angel. Qual deles? Estou em dúvida.

- Acho que o vermelho, ele ficou mais bonito em você - opinei.

- Por que você não experimenta o azul? - perguntou ela.

- E para quê? Eu não vou comprar.

Skyler bufou revirando os olhos.

- Assim eu posso ver os dois no espelho, um ao lado do outro. Temos quase o mesmo corpo e altura. Por favor! - pediu juntando as duas mãos à frente do peito.

- Está bem! - cedi pela sua insistência, sem a menor vontade de fazer.

Fui para o provador e quase caí para trás ao ver o preço na etiqueta. Não acreditei que Skyler pagaria em um vestido o que eu tinha que suar um mês inteirinho para ganhar.

Vesti e observei-o em meu corpo pelo reflexo no espelho. Por um segundo, pensei que talvez ele pudesse valer mil e quatrocentos dólares. Ele me deixou surpresa e boquiaberta. Era lindo e perfeito! Nunca havia vestido algo tão belo e luxuoso antes. Calcei o par de sandálias que estavam no provador, e quando Skyler me chamou impaciente pela segunda vez, saí a vendo sorrir admirada.

- Uau! - expressou ela boquiaberta. - Você está...

- Linda! - Uma voz grossa a interrompeu terminando sua frase.

- Anthony! Oi, como vai? - cumprimentou Skyler.

Olhei para o lado um tanto surpresa em vê-lo ali. Ele encarava-me com um olhar faminto e um pequeno sorrisinho enigmático no rosto.

- Senhor White - disse ao cumprimentá-lo.

- Olá, Valentina - disse com seu sorriso largo. - Vocês estão maravilhosas. Vão à festa esta noite?

- Sim, eu vou - respondeu Skyler.

- E você? - perguntou ele voltando sua atenção para mim.

- Não - respondi sentindo-me desconcertada.

- É uma pena. - Ele aproximou-se. - Ficaria contente em ter sua companhia.

- Eu lamento - disse.

- Tudo bem. Haverá outras oportunidades. - Pegou minha mão depositando um beijo no dorso.

- Já me decidi. Vou levar o vermelho - disse Skyler indo para o provador. - Até mais, Anthony.

- Tchau - despedi-me dele e puxei minha mão da sua.

- Até mais, querida. Foi um prazer revê-la - disse encarando-me nos olhos. Seu olhar infiltrava no meu deixando meus ombros tensos.

Curvei meus lábios em um sorriso tímido e entrei para o provador. Nossa! Esse homem me comeu com os olhos! Isso me deixou tensa, mas convenhamos, ele estava lindo naquele terno de três peças azul-marinho e gravata preta. Combinou bem com seus olhos verdes-acinzentados.

Vestidas com nossas roupas, descemos para o andar de baixo. Skyler pagou o vestido e pegou a sacola.

- Obrigada - agradeceu ela antes de deixarmos a loja.

Atravessamos a rua e fomos para o Garden. Depois do nosso almoço, resolvemos voltar para casa e não fazer nada o resto da tarde, além de curtir preguiça.

Na saída do restaurante, fomos abordadas por um motorista particular que chamou Skyler por seu... pseudônimo. Ele aparentava ter uns quarenta anos, vestido em um terno preto, calçando luvas brancas nas mãos e segurando um quepe debaixo do braço.

- Olá, Noberto - cumprimentou Skyler com um sorriso simpático. - Como vai?

- Muito bem, senhorita. O Sr. White mandou que eu as levasse para casa em segurança - disse ele abrindo a porta traseira do carro preto, estacionado próximo ao meio-fio. - Você é a Valentina. Estou certo? - perguntou ele para mim.

- Sim - respondi forçando um sorriso.

- Entrem, por favor - pediu ele gentilmente.

Skyler entrou primeiro puxando-me pela mão. Ele fechou a porta e assumiu a direção do carro, pondo-o em movimento. Seguimos para a fraternidade e, quando chegamos, ele desceu e abriu a porta para nós. O agradecemos e caminhamos em direção à entrada da casa quando fui chamada por ele.

- Espere, Srta. Valentina! - gritou.

Parei e olhei para trás vendo-o abrir o porta-malas do carro e retirar de lá uma caixa branca e uma sacola. Ele caminhou até nós e as estendeu para mim.

- Pegue, por favor - insistiu ao notar que eu não as pegaria.

- O que é tudo isso? - perguntou Skyler tão confusa quanto eu.

- São presentes do Sr. White para a Srta. Valentina.

- Okay! Ela agradece - disse Skyler entusiasmada, pegando a caixa de suas mãos. - Uau! - exclamou ao abri-la.

- O que tem aí? - perguntei curiosa, puxando a tampa da caixa que estava à frente da minha visão. Era o vestido azul que eu havia experimentado na loja.

- O Sr. White pediu para avisar que venho apanhá-las, às nove da noite.

- Tudo bem - concordou Skyler sorridente, apanhando a sacola de sua mão.

- Até mais tarde, senhoritas - despediu-se e saiu em direção ao carro.

- Skyler... Eu não vou a esta festa! - disse baixo.

- Agora vai ter que ir. Você já tem até o vestido. E que vestido! - elogiou.

Entramos em casa e subimos para o nosso quarto. Abri a sacola e peguei uma caixa retangular puxando-a para fora. Dentro havia um belíssimo par de sandálias prata com saltos finos e altos. Tudo era lindo, mas eu não podia aceitar. Primeiro, não havia motivos para receber presentes de um estranho. Segundo, não iria a esta festa e ponto.

Eu e Skyler tivemos uma breve discussão sobre devolver os presentes, até que ela concordou. Depois de dormir um pouco à tarde, acordei com os seus cutucões.

- Me deixa! - murmurei cobrindo a cabeça com o travesseiro.

- Não acredito que está conseguindo dormir com todos esses gemidos - disse rindo.

Tirei o travesseiro da cabeça e de olhos ainda fechados, concentrei-me em escutar o som que vinha de fora do quarto. Era alguma das nossas colegas vadias transando escandalosamente.

- Mas que merda é essa? - perguntei sentando-me na cama.

- Vem do quarto da Elena. Já faz uns trinta minutos.

- Que ridícula!

- Nem me fale. Parece até que estamos nos bastidores de um filme pornô - gargalhou.

            
            

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