Capítulo 6 Angel

Ao chegar à oficina, encontrei meu pai em sua sala andando de um lado para o outro enquanto falava animadamente ao telefone. Sentei-me em sua cadeira, esperando ele desocupar. Meu celular vibrou em meu bolso, na calça, e quando o peguei, vi que havia acabado de receber uma mensagem do Anthony.

Espero que não tenha se esquecido de mim.

Onde mando meu motorista lhe buscar?

Anthony

09:58 a.m.

- Droga. Fala sério! - sussurrei comigo mesma. Não tive credibilidade de que ele viria mesmo.

- Algum problema? - perguntou meu pai ao desligar o telefone.

- Não. Precisa de ajuda com alguma coisa? - perguntei ficando de pé.

- Não. Vamos ao hospital?

- Vamos - concordei pegando minha bolsa sobre sua mesa.

No caminho para o hospital, seguimos nos distraindo com uma conversa boba sobre programas de TV. Meu celular vibrou outra vez em minha mão e, olhando para tela, vi que era mais uma mensagem do Anthony:

Já estou aqui.

Não me faça esperar.

Anthony

10:10 a.m.

Conheço um bom lugar para

jantarmos no lago Green Pine.

Angel

10:11 a.m.

Vou providenciar as reservas.

Espero que esteja fazendo algo

mais interessante para não

poder vir até mim agora.

Anthony

10:12 a.m.

Restaurante Lake Green.

413, logo Green Pine.

Angel

10:12 a.m.

Meu motorista irá buscá-la às 8h.

Sem atrasos!

Anthony

10:14 a.m.

Não será necessário, eu estarei lá.

Até mais tarde!

Angel

10:15 a.m.

- Algum amigo de Houston? - perguntou meu pai curioso.

- É - respondi sem jeito. No fim não estava mentindo. Estava? Acho que ele é um "tipo" de amigo que provavelmente o senhor não aprovaria!

Paramos no estacionamento e descemos do carro. Fui direto a loja de presentes no saguão do hospital e comprei um buquê de girassóis para minha mãe, seus preferidos. Quando as portas do elevador se abriram, saímos e encontramos um médico deixando o quarto da minha mãe.

- Doutor? O senhor aqui tão cedo. Algum problema com a Emma? - perguntou meu pai cheio de preocupação. O médico olhou para mim desconfiado, parecendo não saber se podia dizer algo na minha frente ou não. - Tudo bem, doutor. Esta é Angel, nossa filha. Pode dizer a verdade. - O médico sorriu simpático e estendeu-me sua mão.

- Sou o Dr. Larry Collins - apresentou-se estendendo-me sua mão.

- Prazer em conhecê-lo - respondi aceitando seu cumprimento.

- Este é o novo médico da sua mãe - informou meu pai. - Então, doutor? Temos algum problema?

- Emma passou muito mal esta manhã. Sentiu fortes dores abdominais. - Meu pai cobriu sua boca com a mão esquerda em punho cerrado e apoiou a outra em seu quadril, preparando-se para más notícias. - Já fizemos alguns exames e estamos no aguardo dos resultados. Agora ela está dormindo e não sente mais dores por causa da morfina. Portanto, nada de visitas longas hoje, cinco minutos para cada um. Deixem-na descansar.

- Claro - disse a ele. Meu pai estava estático e com os olhos marejados. - Os resultados demoram? - perguntei preocupada.

- Não muito, umas três ou quatro horas. Quando já os tiver em minhas mãos, dependendo dos resultados, teremos que fazer mais exames detalhados. Eu ligarei assim que tiver mais notícias.

- O plano de saúde irá cobrir estes exames, doutor? - perguntou meu pai com a voz embargada.

- Estes, sim. Mas se precisarmos fazer outros mais detalhados, teremos que pedir a autorização ao plano de saúde, Miguel. Talvez leve um tempo para aprovarem ou recusarem - informou o médico. Meu pai coçou sua cabeça e fechou seus olhos respirando fundo. - Vai ficar tudo bem - consolou convincente, apoiando sua mão sobre o ombro direito do meu pai e apertando-o de leve.

- Obrigada, doutor. Vamos aguardar por boas notícias - disse a ele.

O médico assentiu e retirou-se em silêncio. Olhei para meu pai e vi que seu rosto estava molhado por lágrimas que escorriam dos cantos de seus olhos.

- Por que não vai ao banheiro, pai? Lave seu rosto e tente se acalmar. Eu vou entrar um pouquinho. Preciso vê-la antes de ir.

Ele concordou e seguiu até o fim do corredor que levava aos banheiros.

Ao entrar, minha mãe dormia profundamente. Também não era para menos, eles haviam dado morfina a ela. Em seu rosto, havia resquícios de uma feição de dor, o que fez meu coração doer. Queria poder livrá-la deste sofrimento.

Tirei as rosas secas que estavam no vaso de flores sobre a mesa aos pés da cama e as joguei no lixo ao lado da porta. Peguei o vaso e fui ao banheiro enchendo-o com água limpa. Ao voltar para o quarto, encontrei uma enfermeira que verificava a medicação que corria direto para as veias da minha mãe. Ela sorriu simpática e elogiou os girassóis que eu colocava na água.

Deixei o vaso sobre a mesinha com todos eles virados para ela, assim quando acordasse seria a primeira coisa que veria. A enfermeira saiu e eu me sentei na poltrona ao seu lado da cama velando seu sono. Logo meu pai entrou e ficou de pé ao lado de sua esposa segurando firme sua mão, chorando em absoluto silêncio.

- Vai ficar tudo bem, pai - disse levantando-me e indo até ele. - Nós vamos conseguir. Vamos ajudá-la.

Ele abraçou-me e não foi mais capaz de controlar seu choro, soluçando em meu ombro. Apertando-o mais em meus braços, chorei silenciosamente dando a vez do conforto a ele que tinha sido firme comigo e, principalmente, com minha mãe, desde o início. Nos deu seu apoio, seu ombro, seu amor e todo seu carinho e cuidados. Agora era minha vez de retribuir a ele e mostrá-lo o quanto o amava.

Após alguns minutos, saímos do quarto e resolvemos esperar por ela acordar, perambulando pelo hospital. Já era meio-dia e minha mãe ainda dormia. Até o momento, não havíamos tido nem sinal dos resultados dos exames. Resolvi ir até a lanchonete e pegar algo para comer. Pedi um café e um bolinho de frutas sentando-me em uma mesa do lado de fora da lanchonete.

Enquanto comia quase sem apetite, perguntas perturbadoras invadiram minha mente. E se o câncer estiver se espalhando? Essa pergunta me deixou angustiada e abalada, acabando com o pouco da fome que eu tinha.

- Oi. Seu pai disse que estava aqui - disse Lily despertando-me do meu transe emocional.

- Oi, Lily.

- O que houve? - perguntou ela sentando-se ao meu lado.

- Hoje minha mãe sentiu fortes dores abdominais - contei-lhe engolindo em seco o choro que se embolava em minha garganta.

- Angel... - chamou-me com pesar na voz, segurando minha mão que estava sobre a mesa. - Não passará de uma dor boba, você vai ver. Fique calma, estou aqui com você - consolou-me.

- Eu sei. E agradeço.

- Quer deixar nosso passeio para outro dia? - perguntou em um sorriso compassivo.

Eu apenas assenti em resposta.

- Tudo bem, mas eu vou te levar para um almoço decente - disse levantando-se da mesa.

Depois de almoçarmos em um lugar não muito longe do hospital, compramos sorvete e fomos para minha casa. Lily e eu ficamos largadas no sofá da sala, nos entupindo de açúcar.

Quando o sol começou a se pôr, ela foi embora remarcando nossa saída para outro dia. Agradeci internamente, tinha um encontro com Anthony e não queria contar isso a ela. Restou apenas eu, Bow e o silêncio de uma casa vazia. Estava lavando as tigelas que sujamos com o sorvete quando meu pai me ligou para contar que os resultados dos exames não foram os melhores. Com a autorização do plano de saúde, o médico a levou para mais exames e meu pai disse que passaria a noite com ela.

Sozinha e apreensiva, sentei-me à mesa da cozinha lembrando que eu devia duas ligações para o Texas. Peguei meu celular sobre o sofá da sala e subi para o meu quarto na companhia do Bow.

Logo após um bom banho de banheira, sentei-me na cama e liguei primeiro para Skyler. Desabafei minha angústia e contei a ela tudo o que me aconteceu desde o dia em que cheguei. As dívidas, Anthony, Dave e por último, o estado de saúde da minha mãe. Ela me disse que pegaria o primeiro voo para cá, mas eu a dispensei. Falei que não era necessário e que não queria incomodá-la. Skyler me deu palavras de calma e conforto. Até mesmo ofereceu ajuda financeira, que recusei, é claro.

- Não tenho muito, mas o que tenho é tão seu quanto meu - disse ela, deixando-me emocionada com sua amizade.

Depois de nos despedir, liguei para Dick. Ele estava entrando no trabalho e disse que já estava com saudades minhas. Deu-me um leve sermão por ter voltado para casa sem despedir-me dele, mas com tanta coisa em minha cabeça, acabei me esquecendo de fazer isto.

Quando desliguei o celular, já eram quase sete da noite. Pensei em desmarcar com Anthony e não ir ao jantar, mas eu não poderia fazer isso com ele sem lhe dar uma explicação decente, afinal, ele foi até Tulsa somente para me ver, e tinha certeza de que ele exigiria isso. Eu não havia pedido para ele vir, mas quando ele disse que viria, eu não o impedi ou lhe disse um simples "não".

Liguei para o meu pai e o avisei que sairia para jantar com um amigo. Ele não se importou e desejou-me um bom divertimento. Pedi a ele que qualquer notícia, fosse ela qual fosse, era para ele me ligar imediatamente.

- Eu prometo - disse ele.

- Boa noite, pai. Amo vocês - despedi-me antes de encerrar a chamada.

Chamei um táxi e corri ao banheiro fazendo uma leve e rápida maquiagem. Soltei os cabelos e escolhi um vestido de cor marfim com comprimento até o meio das coxas, justo ao corpo e com um belo e discreto decote nos seios de formato em "V".

O carro chegou e calcei apressada minhas sandálias preta predileta de tiras finas, peguei minha bolsa de mão, uma echarpe também preta e desci correndo fechando a porta da frente logo atrás de mim.

A caminho, recebi uma mensagem do Anthony com a foto da linda vista que se tinha do restaurante para o lago. A pouca luz elétrica do restaurante e as velas acesas sobre as mesas tornavam o ambiente romântico, aconchegante e encantador. Ao chegar, a recepcionista levou-me até à mesa onde ele estava. Ao me ver aproximar, Anthony se levantou e sorriu para mim com seu ar galanteador.

- Você está simplesmente linda - disse beijando-me no canto da minha boca.

- Obrigada. Você também está muito bonito. - Ele abriu mais seu sorriso ao ouvir o elogio.

Anthony puxou a cadeira à frente da sua, para que me sentasse.

- Bela escolha do lugar. É tranquilo.

- Exatamente por isso eu gosto tanto daqui. A tranquilidade me atrai.

- Espero que não se importe, mas tomei a liberdade de pedir um bom vinho chileno tinto e suave. Acertei? - perguntou servindo duas taças com o vinho posto sobre a mesa.

- Sim - respondi com um sorriso tímido.

- Ótimo! Um brinde a este jantar e a bela noite que nos acompanha - disse erguendo sua taça.

- Saúde - brindei nossas taças e tomamos um gole do vinho, que, por sinal, era doce e delicioso.

- Então, Angel. Quero conhecê-la melhor - disse recostando em sua cadeira e cruzando as pernas, dando-me toda sua atenção.

- Bom... - comecei fazendo uma pausa pensando no que lhe contar sobre mim e por onde começar. - Eu nasci e cresci aqui em Tulsa. Só morei em dois bairros na minha vida. Sou filha única e me mudei para Houston quando consegui uma bolsa na universidade para medicina.

- Medicina? - perguntou surpreso.

- Sim - respondi sorridente.

- Já decidiu sua especialidade?

- Cardiologia - respondi convicta.

- Uma boa área.

- E você, Anthony? O que faz da vida?

- Trabalho no ramo financeiro. Tenho meus próprios negócios como: casas, hotéis, restaurantes, lojas de roupas e uma linha aérea de voos particulares. Também trabalho com ações.

- Uau! Um homem ocupado, eu presumo.

- Às vezes - disse e deu um gole em seu vinho. - Estou curioso para saber o que tinha de tão interessante hoje, para não podermos nos encontrar durante o dia.

Encarei minha taça sobre a mesa, pensando o que lhe dizer.

- Alguns problemas familiares - respondi por fim.

- Posso perdoá-la desta vez - disse humorado, levando a taça até seus lábios.

- Vocês já querem pedir? - perguntou o garçom.

- Se importa se eu fizer o pedido para você? - perguntou Anthony olhando o cardápio.

- Não.

Ele fez nossos pedidos e logo o garçom se afastou. Anthony nos serviu mais do vinho, e continuamos a conversar e nos conhecer melhor. Aos poucos, os assuntos foram surgindo e nos deixando mais à vontade. Contei a ele algumas coisas de família, deixando o caso da minha mãe de lado, era algo que não queria compartilhar com ele naquela noite.

Anthony me contou que era divorciado há seis anos e que tinha um filho adolescente, fruto deste casamento. Ao meu entender, seu relacionamento com o filho era um pouco complicado devido ao divórcio. Seus pais eram falecidos e ele tinha apenas uma irmã mais nova que morava na China. Formado em Finanças pela Universidade Columbia, ele comandava a própria empresa financeira de domínio mundial.

Rimos com algumas de suas histórias da sua época de faculdade e assim, o jantar seguiu com muita tranquilidade e naturalidade. Mesmo sempre com minha cabeça no hospital e atenta ao celular sobre a mesa, diverti-me.

Enquanto esperávamos a sobremesa, Anthony tirou do bolso interno do seu paletó uma pequena caixa quadrada e fina de couro preto e a colocou à minha frente onde estava o meu prato anteriormente.

- Vamos. Abra! - mandou com sutileza.

Peguei a caixinha imaginando o que teria dentro dela e a abri lentamente. Dentro, brilhou um lindo par de brincos compridos de diamantes. Eles eram exuberantes e tão lindos quanto os brincos da Skyler. Fiquei admirada com eles, mas ao mesmo tempo sem entender o motivo do presente tão caro.

- Anthony... eu não posso...

- Sim! Você pode e vai aceitar! - disse interrompendo-me em tom autoritário. - São seus, Angel. Não aceito devolução.

- Mas o que fiz para merecer um presente como este?

- Está jantando comigo - respondeu e deu mais um gole em seu vinho. - Assim terá seus próprios diamantes e não precisará mais usar os da Lola.

Sorri um pouco envergonhada. Era um presente luxuoso e caro demais. Não estava acostumada a isso.

- Obrigada. São lindos. Tão lindos quanto os da Lola.

Ele deu-me um largo sorriso e estendeu sua mão para que eu colocasse a minha sobre a sua.

- Angel. Posso lhe oferecer isso e muito mais - garantiu com firmeza.

Sua segurança e todo seu poder na forma que pronunciava cada palavra, impressionou-me. A intensidade com que me olhava nos olhos era imensa e parecia capturar meu fôlego fazendo minha boca clamar pela sua.

Ele acariciava o dorso da minha mão com delicadeza fazendo-me arrepiar de leve no braço. Seu sorriso era marcante e sedutor. Anthony me encarava com uma feição firme, como se tivesse a certeza do que iria acontecer nos minutos seguintes. Mas ele era o tipo de homem que acordava certo de que conseguiria tudo o que desejava no final do dia. Então, claro que ele era firme em suas buscas.

Nosso flerte silencioso foi interrompido, quando meu celular vibrou sobre a mesa trazendo-me de volta à realidade. Mais do que depressa soltei sua mão e peguei meu celular devolvendo a caixinha com os brincos sobre a mesa.

Preciso de você no hospital.

Venha logo!

Papai

10:01 p.m.

Ao ler a mensagem, meu coração disparou, deixando meu corpo tenso. Minha preocupação misturou-se com meu medo de algo terrível ter acontecido, enquanto eu estava ali me divertindo e sendo presenteada com diamantes.

- Desculpe-me, Anthony. Eu tenho que ir - disse saltando da cadeira e indo em direção a saída.

- Espere! - Escutei-o pedir enquanto saía correndo do restaurante.

- Um táxi, por favor - pedi ao manobrista que parou um carro que passava pela rua.

Entrei às pressas no táxi, mas antes que o motorista rompesse para o hospital, pude ouvir Anthony me chamar de longe. Assim que o carro parou à frente da emergência, eu paguei pela corrida e saí deixando o troco para trás. Entrei às pressas no hospital tomando o elevador para o quarto andar.

Quando as portas de abriram, saí para o corredor avistando meu pai de longe andando desorientado de um lado para o outro na porta do quarto. O médico e tia Natalie tentavam conversar e acalmá-lo, mas era em vão.

- Pai! - chamei-o ao me aproximar e ele jogou-se em meus braços abraçando-me forte. - O que houve? - perguntei com desespero segurando meu choro.

- Angel, querida... - disse tia Natalie vindo até mim.

- Onde está minha mãe? - perguntei a ela, sentindo uma lágrima escapar.

- Na UTI. Ela passou mal outra vez e os resultados dos últimos exames saíram.

- O câncer está se espalhando, filha - disse meu pai soltando-me do seu abraço.

- O quê? Como assim se espalhando? - perguntei nervosa ao médico.

- Ela precisa de uma cirurgia, mas infelizmente está muito fraca para arriscarmos - explicou o médico. - Para podermos operá-la é preciso interrompermos a quimioterapia e entrar com um novo tratamento alternativo que será menos invasivo e dará a ela condições melhores de saúde para que ela possa se submeter a um procedimento cirúrgico, onde vamos tentar ressecar a maior quantidade possível do tumor. O problema é que esse tratamento custa treze mil dólares a semana, o seguro não cobre e ele ainda está em fase de testes. Não posso dar uma garantia de que irá funcionar cem por cento.

- E como é este tratamento? - perguntei.

- É um tratamento feito com o vírus da AIDS, onde ele passa por uma mutação genética antes de ser aplicado no corpo. Basicamente o que ele irá fazer é, ao invés de atacarem as células boas do organismo, ele irá se instalar nas células cancerígenas impedindo que elas evoluam, enquanto sua mãe ganha peso e melhores condições de saúde para passar por uma cirurgia. Existem casos onde o tratamento foi iniciado em pacientes que se encontravam no início do câncer e o vírus transmutado conseguiu matar as células ao invés de apenas retardar seu desenvolvimento. É claro que isso é casos e casos e o câncer da Emma é mais complicado - explicou o médico.

- E até onde o câncer já alcançou? - perguntei.

- Começou como um câncer hepático, mas já está tomando o pâncreas e os rins. Ele está se tornando um câncer metastático e isso é muito perigoso. Se não formos rápidos, tomará o estômago e logo mais os pulmões. Infelizmente, a doença está sendo mais rápida do que os agentes da quimioterapia que tentam combatê-lo.

Enquanto ouvia o médico falar, o desespero foi apoderando-se de mim mais e mais. Senti a vida da minha mãe escapar entre meus dedos como os grãos finos de areia. Eu tentava pensar em algo para fazer e tentar impedir, mas não conseguia pensar em nada.

- Não sei mais o que fazer. Não sei mais de onde posso tentar tirar dinheiro - disse meu pai com seu rosto vermelho e lavado de lágrimas.

- Eu posso tentar um empréstimo universitário - disse a eles já sabendo que isso tinha noventa por cento de chances de não dar certo, mas eu só queria tentar confortar meu pai naquele momento.

- Você pode tentar, querida. Mas não vai conseguir muito sem um bom fiador - disse tia Natalie.

Pensei na ajuda financeira que Skyler havia me oferecido mais cedo e que eu tinha recusado. Não sei se ela teria toda essa quantia que precisávamos. Tia Natalie tinha razão. Sem um bom fiador, não conseguiria muita coisa no banco. Mesmo que eu arrumasse um emprego ainda hoje, não seria possível ganhar treze mil dólares em uma semana.

- Angel? - O chamado do meu pai tirou-me dos pensamentos que buscavam urgente por uma solução.

- Sim - respondi.

- Vá para casa, querida. Está tarde e não tem nada que possa fazer aqui - disse ele sentando-se em uma cadeira no corredor.

- Eu vou dar um jeito nisso, pai. Vou conseguir esse dinheiro, nem que eu tenha que assaltar um banco.

- Não diga besteira, menina - disse ele de cabeça baixa com seu rosto escondido entre suas mãos.

            
            

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