Capítulo 5 Cinco

Enrico

Perdedor, isso é o que eu sou! Pensei, olhando pela janela do apartamento de Coraline, onde eu estava hospedado, mais uma vez, em minha visita a Los angeles.

Mas dessa vez era diferente.

Quando estive ali da última vez, era para que pudesse ficar mais alguns dias em Los Angeles, a fim de encontrar Emma e minha filha, e convencê-la a voltar para casa, comigo.

Agora, eu estava ali por um motivo diferente.

Emma estava se casando com outro.

Tudo, porque fui tolo o bastante para não procurar por ela o suficiente quando tive a chance.

Porque fui fraco demais e não me permiti reconhecer o que sentia por ela desde o início.

Era mais do que apenas desejo...

Era mais do que apenas atração...

Pela primeira vez em toda a minha vida, eu havia senti mais, por um uma mulher, além de desejo físico.

Emma tinha invadido a minha vida sem querer e com aquele seu jeitinho inocente ela conquistou o meu coração, como nenhuma outra mulher foi capaz de fazer.

E eu a deixei escapar por entre os meus dedos.

Saí de perto da janela, indo até a cozinha para deixar meu copo sobre a pia e voltei para a sala, me sentindo frustrado.

Peguei o meu telefone de cima da mesinha de centro e verifiquei os últimos e-mails, mas nem mesmo o trabalho foi capaz de me distrair dessa vez.

Suspirando profundamente, fechei a caixa de mensagens e apertei o botão de re-discagem para ligar para Helena, sem me preocupar em verificar a hora.

Ela ainda poderia estar com raiva pelo que eu tinha feito, mas não recusaria a minha ligação. Recusaria?

_Alô... _ Helena atendeu com uma voz rouca e sonolenta.

Olhei para o relógio de parede. Não era tão tarde assim para que ela estivesse dormindo.

_É sua primeira noite em Los Angeles e você já está dormindo? _ Eu a repreendi.

Helena e eu somos muito parecidos no que diz respeito ao trabalho.

Passamos mais tempo no escritório, analisando projetos e assinando contratos, do que aproveitando a vida como toda pessoa normal faria.

Agora, por exemplo, imaginava que ela estaria passeando e conhecendo a cidade, não dormindo.

Mas, depois, me lembrei que ela não tinha descansado durante todo o voo e me senti culpado por incomodá-la àquela hora.

_Você acabou de citar o motivo por eu não sair a essa hora da noite, chefe. _ ela respondeu, zombeteira, apesar de ainda sonolenta. _ É a minha primeira vez em Los Angeles, então eu me perderia na primeira esquina que eu virasse...

Ela tinha razão, eu pensei, suspirando mais um vez.

Estava sem sono, completamente entediado e sem nenhuma vontade de ficar pensando no dia que se seguiria.

Eu queria fazer qualquer coisa aquela noite, menos lembrar que, no dia seguinte, a mulher que eu queria para mim, se casaria com outro.

Dois meses não eram o suficiente para esquecer dos momentos em que a tive em meus braços.

Dois meses jamais seriam o suficiente para me fazer esquecer que, em algumas horas, seria outro homem que ficaria ao lado da Chloe; que acalentaria o seu choro e estaria o tempo todo ao seu lado, para protegê-la de tudo o que pudesse lhe fazer mal.

Seria o Vincent, e não eu.

Eu ainda seria o seu pai, mas seria ele quem faria parte de todos os momentos importantes de sua vida.

_Por que me ligou? _ Helena quis saber, me tirando dos meus devaneios.

Pigarreei, sem graça, sem saber o que dizer.

_Eu... Estava entediado. _ respondi a primeira coisa que me veio à cabeça, para não ter que dizer a verdade. _Está muito cansada?

Helena ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder:

_Acho que não muito. _ ela disse, suspirando.

_Quer sair e conhecer a cidade? _ eu perguntei sem pensar.

Pode ser egoísta da minha parte, mas eu faria qualquer coisa naquele momento para tirar aqueles pensamentos horríveis da minha cabeça.

Eu vacilei.

Eu era o único culpado por tudo o que tinha acontecido e o Vincent...

Ele seria um bom padrasto para a Chloe.

E eu sempre seria o seu pai e faria questão de que ela sempre soubesse disso.

Mas, eu precisava me preparar melhor para o dia seguinte, para ser capaz de me manter em meu lugar o tempo todo e não levantar a mão quando perguntassem se alguém era contra aquele casamento.

Mas não queria sair sozinho...

_A essa hora? _ Helena perguntou, um minuto depois.

Imaginei que ela estaria rolando na cama, naquele momento, para verificar as horas no relógio sobre a cabeceira ao lado da cama.

Dava para ouvir o farfalhar dos lençóis a cada movimento seu e uma imagem de Helena deitada na cama, com aquela camisola que eu tinha visto da última vez que nos falamos tarde assim, por telefone, e com os cabelos ruivos caindo livremente sobre os seus ombros, tomaram conta da minha mente.

Pensamentos que tratei de afastar rapidamente, porque Helena era proibida para mim.

Durante todo aquele tempo, desde que fundei a minha própria empresa para sair dos domínios do meu pai, eu nunca havia encontrado uma pessoa tão competente como a Helena, para trabalhar ao meu lado.

Era como se ela fosse capaz de ler os meus pensamentos ou, que ao menos, nossos pensamentos estivessem sempre em sintonia.

Quando dava por mim, ela já tinha feito o que era necessário, e tomava sempre as decisões certas.

Por esse motivo eu havia mantido Julien longe do escritório.

Marquei nossos encontros fora da empresa, sempre que possível, para mantê-lo longe a Helena, a fim de que ele não a convencesse a me deixar.

Julien não era o único que via o potencial dela.

Ele não era o único que sabia o quanto ela podia ser "indispensável".

Talvez, se eu dissesse a ela o quanto era boa, e o quanto ela era importante para mim e para a minha empresa, isso fosse o suficiente para mantê-la sempre por perto.

Mulheres gostam de ser elogiadas e isso não seria diferente com ela, seria?

Pensando bem, Helena não se parecia em nada com as mulheres com quem eu estava acostumado a lidar.

Era impetuosa, ardilosa, às vezes.

Muito inteligente e perspicaz.

Ela provara isso mais cedo, quando percebera o que eu estava fazendo, apenas para ter certeza de que ela sabia qual seria o seu papel no dia seguinte.

Não era a minha intenção ofendê-la de qualquer forma, mas eu precisava me certificar de que nada mudaria entre a gente depois daquele fim de semana.

_Podemos sair para beber alguma coisa... _ sugeri, sentindo, pela segunda vez em minha vida, que eu estava pisando em ovos.

A primeira havia sido com Emma, pois estava tentando reconquistá-la e, por isso, estava controlando cada ação minha para não estragar tudo novamente.

A segunda era com Helena, pois eu queria muito a sua companhia aquela noite.

Estava sem sono e não queria ficar ali, sozinho, pensando no que aconteceria no dia seguinte.

Estava sendo egoísta? Sim! Eu sei! Disse a mim mesmo.

Mas esse era o meu verdadeiro eu, egoísta, frio e calculista.

Não é algo que se muda da noite para o dia...

Nem em dois meses...

_Você vai pagar a conta? _ Helena perguntou, mais uma vez me pegando de surpresa.

Na verdade, eu sabia o que ela estava fazendo.

Ela tinha acompanhado tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos meses...

Ela sabia mais do que qualquer outra pessoa, até mesmo Julien.

E, naquele momento, me senti muito grato por ela ter aceitado vir comigo.

_Se quiser beber até cair, pode ficar tranquila que eu pago a conta. _ prometi. _ E ainda a deixo em segurança no hotel.

Helena suspirou profundamente e mais uma vez eu ouvi o farfalhar dos lençóis.

_Você conseguiu me convencer, chefe. _ ela respondeu. _ Mas, só porque estou a fim de tomar uma bebida e me preparar para o dia de amanhã. Eu odeio casamentos e só estou fazendo isso porque você vai ficar me devendo uma...

Não consegui conter uma risada divertida pela sua piada, mas não consegui deixar de pensar no motivo para Helena odiar casamentos.

Isso seria algo que eu descobriria depois, com o tempo.

Talvez eu nem descobrisse, pois nossa relação voltaria a ser a de chefe e funcionária tão logo voltássemos para Florença. Então, não haveria nenhum motivo para desejar saber mais sobre a minha assistente.

Só que eu não podia imaginar o quanto estava enganado...