Capítulo 6 Seis

Helena

_Você já veio aqui, antes? _ Perguntei, olhando em volta para o bar lotado.

Ainda era sexta à noite em Los Angeles e várias pessoas estavam ali, bebendo e se divertindo em antecipação ao fim de semana.

Na pressa de sair do hotel e me encontrar no saguão com o Enrico, acabei me esquecendo de prender os cabelos, por isso tinha que afastá-los do meu rosto a todo momento.

Enquanto os cabelos da minha irmã, Eilidh, são cacheados, os meu são lisos e ondulados, quase uma bagunça completa, se não forem controlados.

E naquele momento, depois de ter sido tirada da cama de repente, controle era o que me faltava no que dizia respeito aos meus cabelos.

_Na verdade, só uma vez... _ Enrico respondeu, olhando em volta. _Mas não estava tão cheio como hoje...

Minha única alternativa foi beber a minha cerveja em silêncio, enquanto Enrico bebia o seu uísque puro.

Se eu me arriscasse a tomar um único gole daquela coisa, ficaria bêbada no segundo seguinte, pensei, olhando furtivamente para o seu copo.

_Tem certeza de que será capaz de dirigir depois de tomar isso? _ perguntei, por garantia, afinal, eu queria chegar ilesa ao hotel.

Enrico riu baixinho, como se estivesse zombando da minha pergunta.

_Não se preocupe, ruivinha... _ ele respondeu, ainda sorrindo. _ Se eu sentir que não serei capaz de dirigir, deixarei o carro aqui e chamaremos um táxi.

_Táxis são caros a essa hora, Enrico... _ falei, sem pensar, e Enrico apenas ergueu uma sobrancelha em resposta. _Tudo bem, eu me esqueci, por um momento, que você é o grande Enrico D'Angelo, o cara cheio da grana e... o meu chefe! _ eu resmunguei, me recostando contra o balcão do bar, onde estávamos sentados.

Todas as mesas estavam ocupadas e a pista de dança também, já que tocava uma música sensual e havia vários casais no lugar.

Foi então que me dei conta de que dia era...

Véspera do Dia dos Namorados! Lembrei.

Como eu poderia ter me esquecido disso? Pensei, olhando para uma decoração aqui e ali, de balões em forma de coração.

Esse era o motivo de o hotel estar lotado quando chegamos, porque, mesmo que Enrico tivesse alterado as reservas, ainda haveria quartos vazios se fosse em qualquer outra data.

_Obrigada, Helena, mas eu juro que... _ Enrico fez uma pausa, olhando em volta com um olhar perdido. _ Eu juro que, por um momento, eu queria ter me esquecido disso...

E eu juro que não entendi o seu motivo para fazer tal coisa, mas preferi ficar em silêncio ao perceber o seu olhar perdido. Por isso me concentrei apenas em tomar mais um gole da minha bebida.

Não posso dizer que "sabia" o que ele estava sentindo naquele momento, porque Enrico não era o tipo de homem que se decifrava facilmente.

Mas eu podia imaginar...

Ele tinha ido para Los Angeles assim que descobrira que era pai e tentara reconquistar a mãe do seu bebê. Ele queria construir uma família e eu sabia muito bem como era desejar algo e lutar por aquilo.

Alguns anos atrás, eu tinha feito exatamente a mesma coisa... Para, no fim, perceber que não valia a pena. E acabei machucando quem eu mais amava, no processo.

E, com Enrico, acontecera algo parecido.

No fim, ambos saímos machucados e acabamos machucando outras pessoas também.

Eu não desejo repetir a dose, por isso apenas desviei o olhar do rosto dele e sorvi mais um gole da minha bebida.

_Quer saber? _ eu perguntei de repente, me levantando do meu banquinho no balcão do bar. _Já que estou aqui, eu quero dançar...

_Helena... _ Ainda pude ouvir Enrico me chamando antes de me afastar, sem rumo, à espera de que qualquer homem solteiro me convidasse para dançar.

Bastou eu me afastar de Enrico para que um rapaz se aproximasse de mim, com um sorriso nos lábios e um olhar que dizia claramente o que ele queria aquela noite.

Mas... não comigo! Pensei, sorrindo em resposta.

Eu só precisava dançar e me esquecer por um momento dos meus dilemas e dos de Enrico.

Eu estava ali para beber e me distrair, conhecer um pouco de Los Angeles...

Não para servir de confidente de um babaca que havia pensado apenas com a cabeça de baixo e não com o coração!

Eu já tinha ouvido várias histórias a respeito de Enrico D'Angelo, antes mesmo de fundar a própria empresa, e sabia que tipo de homem ele era.

Aquela era a primeira vez que ele tinha o seu coração partido e foi... merecido.

Agora ele compreendia o que era gostar de alguém e não ser correspondido.

Talvez, assim, ele deixasse de ser o canalha que era antes de se transformasse em uma pessoa melhor... pensei.

No futuro, alguma sortuda agradeceria a Emma Davis por ter chutado a bunda de Enrico D'Angelo.

Assim como eu sempre seria grata ao idiota do Adrian, pelo que tinha feito comigo... Ou pelo que tinha me obrigado a fazer com a minha própria irmã...

Uma pena que, por suas ações egoístas, ele tivesse destruído uma família inteira. Porque eu não era apenas a irmã que tinha conquistado o namorado de sua própria irmã gêmea...

Eu era a ovelha negra da família, alguém que não merecia respirar o mesmo ar que os meus pais respiravam... ou a minha irmã...

Eu fui enganada, usada, e depois deixada de lado como um objeto qualquer, sem valor. E, frustrada, acabei contando tudo o que eu deveria ter guardado para mim mesma, e acabei destruindo a vida de todos que estavam a minha volta.

E, mesmo que eu tenha me sentido feliz, no início, por ter impedido a felicidade daquele que me fez infeliz...

Eu me senti um lixo por estragar a felicidades daqueles que mais importavam para mim.

Minha família...

Minha irmã, aquela com quem eu dividia tudo e contava todos os meus segredos...

Aquela que não falava comigo fazia cinco anos...

Eu não me apaixonaria novamente...

Ou permitiria que qualquer homem me enganasse a ponto de me deixar com o coração ferido e sangrando...

Mais cedo ou mais tarde, eu aprenderia a usar, antes de ser usada...

Aprenderia a abandonar, antes de ser abandonada...

Eu aprenderia a jogar, conforme o jogo.

E não seria Enrico D'Angelo quem me faria agir de maneira contrária.

Meu coração permaneceria sempre seguro, desde que eu mantivesse esses ideais em minha mente.

Jamais ser o peão daquele jogo de xadrez que era a vida... Eu seria a rainha! E meu coração estaria sempre seguro...