Capítulo 8 Oito

Helena

Enrico ficou em silêncio por um momento e eu aproveitei para falar um pouco mais, já que aquela era a primeira vez que conversávamos assim, fora do trabalho.

_Sabe que elas fazem isso apenas para chamar a sua atenção, não é mesmo? _ Eu perguntei e quando Enrico se virou para mim, eu tentei sustentar o seu olhar. _ Um cargo importante, um salário melhor... Nada disso importa para elas. Tudo o que elas querem é chamar a sua atenção, o grande Enrico D'Angelo, e em um momento ou outro, acabarem na sua cama!

Enrico parou de andar e, quando olhei para o lado, percebi que já tínhamos chegado ao carro.

_Primeiro... _ Enrico disse, enquanto abria a porta do carro para mim, mas eu não entrei de imediato, esperando que ele falasse o que queria. _ Não existe essa de sexismo em minha empresa.

_Ah, não? _ Eu dei um sorriso ladino, enquanto entrava no carro.

_Não! _ Enrico respondeu, antes de fechar a porta e dar a volta, indo sentar-se em seu lugar, atrás do volante.

Então perguntei, enquanto ele prendia o cinto de segurança:

_Quem são os seus gerentes de operações?

Enrico inseriu a chave na ignição, mas não ligou o carro de imediato, voltando-se para mim com o cenho franzido.

_Levi e Michel... _ respondi, quando consegui me lembrar dos nomes dos dois gerentes de operações da empresa.

_E seu gerente de orçamento? O responsável pelo RH da empresa? E pelos projetos?

Disparei as perguntas, contando nos dedos vários setores dentro da empresa onde o responsável era do sexo masculino.

_O responsável pelos projetos sou eu! _ Enrico retrucou, arqueando uma sobrancelha.

Fiz o mesmo para ele, enquanto respondia:

_Você apenas aprova os projetos, senhor D'Angelo!

Enrico abriu a boca para responder, mas desistiu, com um suspiro.

_Tudo bem, você está certa. _ ele respondeu, a contragosto. _Nunca parei para pensar nisso antes e, talvez, haja uma maneira de mudar isso.

_Claro que sim! _ respondi de imediato. _Pode começar por criar cursos profissionalizantes dentro da empresa, para dar uma oportunidade para quem já faz parte do grupo. Ou, pode simplesmente fazer parte das entrevistas de contratações, para elas sejam justas e não "sexistas", como você acabou de dizer.

Calei a boca, pois estava mais que satisfeita comigo mesma naquele momento.

Claro, em outro momento eu não teria desafiado o meu chefe, como tinha feito a pouco, mas... Talvez fosse a bebida forte que tomei ou o fato de não estarmos em nosso ambiente de trabalho que me deu coragem para fazê-lo.

Ou, fosse apenas a minha língua solta.

_Farei isso. _Enrico disse, para a minha surpresa.

_O quê?

Claro, ao dizer tudo aquilo, eu não esperava que ele fosse me dar ouvidos, por isso fiquei completamente surpresa ao ouvi-lo dizer que faria o que eu disse.

Enrico ligou o carro e se virou para mim novamente.

_Farei o que disse, Helena. E, talvez, eu devesse lhe dar um cargo importante também, porque você consegue me surpreender, cada vez mais. _ ele disse e eu tive que morder o lábio tamanho o meu constrangimento.

Não estava acostumada a receber elogios.

Apenas Julien havia feito isso, enquanto os outros apenas me olhavam feio.

Mas nenhum elogio do Julien tinha feito com que eu me sentisse como estava me sentindo naquele momento...

Constrangida... satisfeita.

_Mas eu não posso perder a minha assistente. _ ele afirmou, fazendo com que toda a minha alegria caísse por terra imediatamente.

_Isso não é justo! _ reclamei, cruzando os braços sobre o peito e olhando para a frente, irritada.

Enrico riu baixinho ao meu lado.

_ Não se preocupe, eu posso lhe dar um aumento de salário. _ ele ofereceu, para tentar me alegrar um pouco. Mas não era a mesma coisa.

Eu queria mostrar o meu valor, mostrar o que era capaz de fazer e me desafiar, sempre.

Permanecer no cargo de assistente pessoal de Enrico não me permitiria isso, pois no fim, eu sempre seria apenas a sua assistente!

_E, só para constar, eu nunca reparei no decote de ninguém, dentro da empresa. _ ele disse, franzindo o cenho por um momento como se estivesse pensando em algo, antes de se concentrar na direção e colocar o carro em movimento.

Ri para mim mesma, debochada, pois eu não acreditava nem um pouco no que ele disse.

O primeiro lugar para onde um homem costumava olhar quando se encontrava com o sexo oposto, era para os seios, depois para o rosto. E, quando lhe davam as costas, seu olhar caía automaticamente para o traseiro.

Era um hábito tipicamente masculino e, provavelmente, incontrolável, para eles.

Mas eu preferi ficar em silêncio, me contentando por ao menos fazer com que Enrico enxergasse a falha que havia na empresa. Pelo menos as outras mulheres teriam uma oportunidade melhor lá dentro, pensei, sentindo minhas pálpebras pesadas.

_Helena, acorda! _ ouvi alguém me chamando e resmunguei, incomodada.

Estava em um sono gostoso... Ou aquilo não era um sonho? Pensei, permitindo que meus olhos se abrissem.

Enrico estava a minha frente, inclinando-se sobre mim para liberar o meu cinto de segurança, já do lado de fora do carro.

_O que está fazendo? _ Perguntei, meio balbuciante, enquanto ele passava um braço em volta do meu corpo para me ajudar a sair do carro.

_Não acredito que seja tão fraca para bebidas... _ Enrico resmungou.

Me apoiei em seu corpo, para me equilibrar, enquanto ele fechava a porta do carro e o trancava em seguida.

_Eu não estou... bêbada... _ resmunguei, sentindo que as minhas pernas não estavam tão firmes como e costume.

Bem, talvez eu estivesse só um pouco bêbada, mas ainda assim, conseguiria me virar sozinha. Por isso tentei me afastar dele, o que foi em vão, pois Enrico apenas apertou o braço ao meu redor, me mantendo por perto.

_Fique quieta, ou fará com que a gente caia! _ ele ordenou.

_Eu posso ir sozinha! _ retruquei, mas ele não me deu ouvidos.

Entramos no hotel e pude sentir que Enrico tinha ficado um pouco mais tenso ao meu lado.

Com certeza, o fato de entrar no hotel carregando uma mulher bêbada o incomodava bastante.

Se isso fosse parar nos jornais... Pensei, rindo baixinho para mim mesma, enquanto entrávamos no elevador.

_Do que está rindo? _ Enrico quis saber, ainda me segurando.

_Acho que nunca entrou em um hotel carregando uma mulher bêbada... _ me peguei contando e quis morder a minha própria língua naquele momento.

_Então admite que está bêbada... _ Enrico comentou, sorrindo de lado. _ Da próxima vez vai tomar refrigerante.

A porta do elevador se abriu quando alcançou o andar onde ficava o meu quarto e Enrico saiu, me levando com ele.

_Não haverá uma "próxima" vez, senhor Enrico D'Angelo. _ resmunguei, tropeçando no sapato dele e sendo amparada no mesmo instante.

Uma mecha do meu cabelo veio parar na frente do meu rosto e tentei soprá-la para longe, sem sucesso.

Enrico parou e me virou para ele, afastando o cabelo do meu rosto e me observando por um momento, com o cenho franzido.

_Não pretende sair para beber comigo novamente? _ ele quis saber e meneei a cabeça, negando.

_Claro que não! _ respondi. _Só aceitei dessa vez porque não tinha nada melhor para fazer e estamos longe de casa. Quando voltarmos para a Itália, voltaremos a ser apenas funcionária e patrão.

_Não podemos sair para beber, como amigos? _ Enrico sugeriu e estava obvio que ele estava apenas me provocando.

Neguei mais uma vez.

_Não existe essa de amizade entre um homem e uma mulher. _ respondi, sentindo que minhas palavras estavam saindo mais emboladas do que o normal.

Enrico pigarreou baixinho, antes de perguntar:

_Então, de acordo com o que está falando, você não consegue me ver como um amigo e sim como um homem...

_Você já se olhou no espelho? _ me peguei dizendo, enquanto revirava os olhos. _ Não há nenhuma mulher na face da terra que não olhe para você sem fantasiar um pouco!

Voltamos a caminhar e paramos novamente diante da porta do meu quarto.

Enrico tirou o cartão-chave e abriu a porta, mas não me soltou de imediato.

_E você, Helena? _ ele indagou, arqueando uma sobrancelha. _ Já olhou para mim antes e "fantasiou" alguma coisa?

Enrico me soltou, por fim, e me apoiei na porta para manter o equilíbrio, enquanto ria baixinho e o encarava.

_Fantasiar com você? _ respondi, levando o meu indicador até a minha boca e fingindo roer a unha enquanto pensava. _Não, não tive fantasias a seu respeito. Mas não vou negar que dei uma olhadinha ou outra no seu bumbum, que é bonitinho, por sinal.

Não sei o que eu estava esperando dele depois de perder o controle da minha língua e contar algo assim, mas... Eu poderia esperar qualquer coisa, mas não risos.

E foi justamente o que ele fez.

Enrico riu, divertido, antes de pigarrear para se recompor.

_Obrigado, eu acho. _ ele respondeu, antes de olhar para dentro do quarto. _Quer que eu entre e ajude em alguma coisa?

_Não é necessário, chefe! _ respondi. _ Eu consigo caminhar até a cama e me despir sozinha.

Merda, por que eu disse isso? Pensei, desesperada, para sair logo dali.

Enrico apenas sorriu para mim, assentindo.

_Temos que sair para beber mais vezes, Helena. _ ele sugeriu, dando uma piscadela antes de se virar e caminhar até o elevador novamente. _Acho que eu gostei muito mais da sua versão "Helena bêbada" do que a versão "Helena assistente".

Ora, que atrevido! Pensei, fechando a porta rapidamente e me recostando nela por um segundo antes de tentar caminhar sozinha até a cama.

"Eu consigo caminhar até a cama e me despir sozinha"!

Porra, Helena! Recriminei a mim mesma, em pensamento, enquanto me deitava na cama ainda vestida e sentia tudo rodar a minha volta.

Isso tinha soado mais como uma provocação...

_Nunca mais beberei na presença de Enrico D'Angelo! _ prometi a mim mesma, virando de lado e permitindo que o sono me envolvesse novamente.