Tem horas que eu simplesmente odeio ter um útero, principalmente hoje que eu estou com uma cólica insuportável, e nem mesmo remédio resolve. Nesse momento eu estou deitada sem condições de viver, só quem passa por isso sabe o quanto é chato, se eu pudesse nunca mais sentiria cólica nenhuma. Pego meu celular e começo a olhar as mensagens, minha mãe tinha perguntado se eu estava bem, respondo que na medida que meu útero permite. O pior é que normalmente durava umas quatro horas essa cólica forte, depois ficava menos pior e dava para viver um pouco, porém eu andava com o remédio na bolsa.
Após ficar um bom tempo na cama esperando a dor passar, me levanto para me arrumar e ir trabalhar, aquele dia pedia uma roupa confortável então visto um moletom e calço tênis de corrida. Meu cabelo estava sujo então o prendo num coque alto, e coloco brincos pequenos e discretos. Eu sinceramente não estava afim de maquiagem, porém eu estava horrível então passo um corretivo, base e um batom rosado bem leve e natural. Pego minha mochila e coloco meus pertences, inclusive remédio e uma vasilha com torta de maçã, era uma torta sem açúcar porque açúcar fritura e açúcar só pioravam as cólicas. Coloco a mochila nas costas e pego o bilhete, o ônibus demora muito e eu estava sentindo a cólica voltar.
- O meu filho, alguém chama a polícia, eu preciso de ajuda - diz uma mulher desesperada.
- Calma....a senhora pode me dizer o que está acontecendo? Eu posso te ajudar se me explicar.
- Eu estou andando pelas ruas pedindo ajuda, o meu ex marido está com o meu filho, e ele pode matar ele - a mulher tremia enquanto falava em tom desesperador.
- Então me leva até o local aonde eles estão, eu vou te ajudar com isso.
- Eu não moro lá só que ele está vivendo por lá e levou meu filho - ela segue andando enquanto mostra o caminho.
Sinto um frio na espinha ao notar que o homem morava na comunidade, aquele lugar era totalmente comandado pelo tráfico, e eu como policial corria um grande risco porém não poderia deixar aquela mulher na mão. Era meu dever zelar pela população, e não era agora que eu iria da para trás, então sigo ela pelas ruas estreitas até chegar numa casa toda fechada. Ela diz que ali estavam seu ex marido e filho, o homem assim como muitos não aceitava o fim do relacionamento, além de ter sido um péssimo marido também estava sendo um péssimo pai expondo o filho. Tendo negociar com o homem que estava extremamente alterado, e não queria deixar o menino ir até a mulher dizer que ficaria com ele, e entrasse na casa provavelmente para ele fazer algo contra ela.
- Eu tenho muito medo do que ele vai fazer pro meu filho, quando éramos casados e ele abusava de eu, me agredia e deixava meu filho passar fome. Todo o dinheiro ia para a amante, e eu ficava lá com meu filho, com o bucho vazio e ele só voltava para fazer maldade com eu e meu filho.
Aquilo faz meu sangue ferver de uma forma, que eu bato na porta com força e o homem aparece na janela, ele não estava segurando o menino então penso em reagir, porém começo a escutar barulho de tiro. Logo agora uma troca de tiros tinha se iniciado, faço a mulher se abaixar e entro na casa, o homem corre desesperado com medo dos tiros. Então pego a criança nos braços e sigo com a mãe para longe da linha de fogo, coloco a criança nos braços dela e a ajudo a entrar numa rua aonde não tinha tiros, eu estava desarmada e não tinha como defender nem eles e nem a mim. A mulher corre desesperada me deixando para trás, então tendo encontrar abrigo para não levar um tiro, olho para os lados e não vejo nenhuma saída.
Me abaixo tentando não levar um tiro, até sentir alguém tapar minha boca e me puxar, me debato porém sinto que seja quem fosse tinha uma arma na cintura. Sou levada até uma casa e empurrada para dentro, quase perco o equilíbrio porém não chego a cair, olho em direção a porta e vejo que ela tinha sido trancada, eu estava sozinha naquela casa vazia que mais parecia um cativeiro. Olho em volta e noto que as janelas estavam com tábuas, tinham apenas uma lâmpada fraca no centro daquele cômodo, naquele momento meu coração bate forte e eu sinto que posso ter sido raptada por ser policial, e que acabaria torturada e morta.
...
- Tu deu muita sorte que o Mistério foi com a tua cara - um rapaz surge com saco bege e um copo na mão.
- Vocês vão me matar? - indago um tanto nervosa com a situação nada agradável.
- Se você vai ficar vai ter que se acalmar, olha, eu sou o Toco e trouxe umas parada aqui para a madame - ele entrega o pacote e o copo.
- O que é isso... Toco, né? Por qual motivo me trouxeram até esse quarto?
- Eu te trouxe esse pão com manteiga no capricho, um copo de guaraná geladinho, e você vem com essa? Só relaxa e come, mais tarde o Mistério vem tirar uma ideia contigo, morena.
- Obrigada então, vou comer já que você trouxe com tanta boa vontade.
- Tá me tirando não, né? Eu sei que tu é toda princesinha, deve morar nessas casonas chiques, e veio aqui com essa roupa que vocês usam para ir fazer aquelas caminhadas lá que os ricos fazem nas novelas, mas eu vejo que você tem cara de quem tem isso aqui - ele faz sinal de dinheiro com a mão.
- Eu? Se vocês estão me mantendo aqui por dinheiro, saibam que eu sou assalariada e não estou rolando no dinheiro.
- Isso quem vai decidir é o Mistério - ele me olha de cima a baixo e da um sorriso de canto antes de sair e trancar a porta.
Estava trancada ali já fazia um bom tempo, e ele tinha levado a minha bolsa com o celular, um alívio me bateu ao lembrar que não estava com meu distintivo, havia o deixado na delagacia e pela primeira vez fiquei feliz por ser esquecida, e também por não está de uniforme. Abro o pacote e começo a comer o pão que estava realmente bom, e tomo o guaraná apesar de que nem deveria está tomando refrigerante especialmente nesse período horrível, mas um copo apenas não faria tanto estrago assim. Após terminar de comer amasso o pacote e deixo num canto com o copo, agora era esperar o tal de Mistério chegar, enquanto isso ficava pensando que tipo de pessoa tinha um nome assim.
Acabo pegando no sono sentada no chão e encostada numa parede, não sei quanto tempo se passou porém quando acordei, encontrei uma marmita e uma garrafa de suco na minha frente. Eu ficava pensando que tipo de pessoa prendia alguém naquele lugar, e simplesmente não dava nem as caras para dizer o que queria, se o intuito era me matar porque tanta enrolação assim, talvez aquilo fosse uma espécie de tortura. Abro a marmita e era feijão com arroz, batata assada e filé de frango frito, acho que essa pessoa queria me engordar antes de acabar comigo. Começo a comer porque eu estava com muita fome, e aquela comida parecia realmente muito boa e eu não sou o tipo de pessoa que diz não a comida.
Deixo a marmita vazia com a garrafa num canto, meu medo era algum rato entrar ali e me atacar, tenho pavor de rato tenho vontade de sumir quando vejo um. Minha bexiga estava pedindo socorro e eu iria acabar fazendo nas calças, precisava ir ao banheiro e não tinha barulho lá fora, pego a garrafa e encosto na porta para o caso de alguém chegar, eu não queria ser pega com a calcinha arriada ainda mais por algum traficante. Desço a calça e a calcinha, posiciono bem a garrafa para o xixi não escorrer pelas pernas, após alguns segundos finalmente começo a me aliviar, me visto novamente e fecho a garrafa a deixando novamente com a marmita vazia.
- Hum... Então a patricinha comeu até o último grão de arroz - Ele ri e pega a marmita - O que é isso aqui?
- Como aqui não tem banheiro tive que me aliviar de alguma forma - dou de ombros.
- Tu tá me tirando? Não acredito que tu fez xixi nesse bagulho - ele me encara indignado.
- Você queria que eu ficasse toda mijada? Teu chefe não tem amor a bixiga alheia não?
- Da próxima vez tu bate aí na porta que um dos homens me chama, mas não faz essas paradas não que isso não fica bem pra uma moça da tua classe.
- Eu já disse que não sou rica - Eu bufo - E quando o tal Mistério vem decidir o que vai acontecer comigo?
- Você tem sorte porque ele te achou gostosinha... Mas ele ainda quer saber o que tu veio fazer aqui e nada de mentir.
- Agora virei um pedaço de bife - digo indignada quando ele fecha a porta.