As vozes na sala de descanso chamaram minha atenção. Eu me senti tentado a ficar ali no canto, ouvindo o resto da conversa, só para saber o que eles tinham a dizer. Mas foi o último comentário que me fez entrar na sala. O que acontecera cinco anos atrás? Claro, não era segredo que o acordo tinha fracassado. Todos da indústria sabiam disso. Uma potencial aliança entre a empresa de Vince Harper e a minha mudaria o mundo dos jogos e levaria ambas as companhias a níveis inimagináveis de desempenho e sucesso. Mesmo que os detalhes não estivessem disponíveis para os concorrentes, todos tinham prendido a respiração, esperando para ver o que iria acontecer.
Então, não aconteceu. De uma só vez, tudo desmoronou, e ninguém mais precisou se preocupar com a possibilidade de nossas empresas destruírem completamente seus negócios. De repente, tudo ficou em silêncio. Era assim que eu pretendia que as coisas permanecessem. Ninguém precisava saber o que acontecera naquela manhã na sala de reuniões, nem o que fizera Chloe fugir de mim. Não forneci esses detalhes nem mesmo a Kent, embora ele estivesse certo de que sabia de tudo. No início da nossa conversa, eu planejava contar, porém, antes que a verdade saísse da minha boca, eu me contive. Não queria tocar no assunto ou falar sobre ele com ninguém. Nem mesmo com meu melhor amigo. Algumas coisas simplesmente pertenciam ao passado, e o colapso do acordo com a empresa de Harper, assim como o potencial relacionamento que eu pensava ter, era uma delas.
"O que aconteceu cinco anos atrás?", perguntei.
Eu sabia muito bem que, se estivessem falando do que havia acontecido naquela noite depois de sairmos para dançar, eles não confessariam. Arranjariam uma desculpa e tentariam esconder o fato de que estavam espalhando fofocas sobre mim pelas minhas costas. Mas eu precisava perguntar mesmo assim.
"Estávamos falando da Chloe Harper.", Harold, um membro da minha equipe de marketing, gaguejou.
Os outros dois o encararam com raiva, mas Tiffany, uma mulher do mesmo departamento, apenas suspirou e olhou para mim.
"Só estávamos falando sobre a chegada dela a Chicago e sobre tudo o que ela está fazendo. Desculpe."
"Não.", disse eu. "Está tudo bem. Acreditem em mim, vocês não são as primeiras pessoas que ouço falando sobre isso."
"A gente só estava comentando que o acordo entre as duas empresas fracassou e, talvez,ela nunca tenha superado isso. Agora, voltou para se vingar.", admitiu Harold.
Fiz um aceno positivo com a cabeça. Então, eles não estavam falando de nada além do acordo. Pelo menos, eu ainda podia contar com algum nível de discrição. O que não tornava menos difícil ouvir todas aquelas conversas sobre Chloe. Já tinham se passado semanas. Semanas desde o dia em que eu descobrira que ela estava em Chicago. Semanas desde que Kent entrara no meu escritório para falar sobre ela. Semanas ouvindo o nome dela em todos os meus círculos sociais do ramo. Semanas ouvindo as fofocas dos meus colegas de trabalho e semanas pensando na expansão da empresa do pai dela.
A notícia da morte de Vince chocara a todos. Ela nos pegara desprevenidos e fora um golpe na indústria. Mas Chloe assumiu o lugar do pai e estava liderando a empresa com força e habilidade formidáveis. Não que ela tivesse me dado notícias suas desde aquele dia. Mas, agora que ela morava em Chicago, eu estava à espera. Não sabia exatamente o que esperava, mas uma sensação de expectativa me acompanhava desde que tinha ficado sabendo que ela estava na cidade. Parte de mim realmente achava que ela iria entrar em contato. Mais de três semanas após sua chegada, ela ainda não o fizera. Eu esperava ser contatado bem antes disso, mas, pelo que andavam dizendo, ela estava focada, trabalhando muito.
Assim como meus funcionários fofoqueiros haviam dito, ela estava causando furor e fazendo progresso na cidade. Chloe já fechara três acordos nas últimas três semanas, e várias pessoas estavam implorando por uma reunião com ela. Mas não eram esses acordos que me incomodavam. Era a feira de jogos que aconteceria no final do mês. Geralmente, as empresas precisavam se inscrever com até um ano de antecedência para participar como expositoras ou fornecedoras. Mas, de alguma forma, Chloe conseguira uma vaga de última hora. Isso significava que, independentemente do que acontecesse, eu a encontraria lá.
Toda essa situação me deixava tenso. Kent parecia estar se divertindo bastante. Não que ele gostasse de me ver chateado ou quisesse que eu passasse por momentos difíceis novamente. A verdade é que eu costumava estar sempre no controle e raramente deixava que as coisas me afetassem, mas aquilo estava claramente me afetando. Ele achava hilário eu não conseguir superar minha interação com Chloe. Eu não era o tipo de cara que deixava uma mulher atrapalhar minha vida, muito menos minha carreira. Saía com mulheres de vez em quando, mas nenhuma delas tinha cativado meu interesse o suficiente para que o caso durasse muito tempo. Eu estava concentrado demais na minha carreira e no futuro do meu império para dedicar muito esforço à construção de um relacionamento.
Não ajudava que a maioria das mulheres que eu encontrava estivesse muito mais interessada no meu dinheiro e poder do que em mim. Tudo o que a maior parte delas via era a oportunidade de se tornar uma esposa paparicada e de aproveitar os benefícios do que eu construíra. Eu, definitivamente, não queria ter nada a ver com isso. Nunca era difícil superar uma mulher com quem eu estava saindo, e Kent, frequentemente, comentava que eu era frio e distante demais. Descobrir que havia uma mulher que conseguia me atingir, nem que fosse pela forma como ela havia impactado meu negócio negativamente, era algo que o divertia.
Com minha quarta xícara de café do dia nas mãos, saí da sala de descanso e voltei para meu escritório. Ao me ver, Brienna olhou para mim com um sorriso afetado.
"Sr. Campbell, o que foi que eu disse?", falou, sacudindo o dedo para mim. "O senhor sabe que não deve buscar seu próprio café. É para isso que estou aqui. O senhor me diz do que precisa, e eu resolvo com prazer."
"Obrigado, Brienna, mas consigo pegar meu próprio café.", eu disse a ela.
"O senhor tem coisas muito mais importantes para fazer do que se preocupar em buscar café. É um homem de negócios bemsucedido e poderoso. Deveria se concentrar em fazer todo esse trabalho. Me deixe cuidar do senhor.", retrucou ela.
"Andar, de vez em quando, é bom para mim.", respondi.
Ela riu e jogou os cabelos por cima dos ombros. Estava flertando mais do que o normal. Tinha atingido um nível épico, quase caricatural. Não fazia muito sentido para mim. Depois que ela começara a me dar uma atenção excessiva e a demonstrar que se sentia atraída por mim, eu tinha deixado claro que nada aconteceria entre nós. Eu nunca mais misturaria negócios com prazer e não tinha interesse em aceitar o que ela oferecia de forma bastante explícita. Mas era óbvio que as fofocas do escritório haviam chegado até ela. Mesmo que as pessoas não estivessem falando sobre nenhum tipo de relação pessoal entre mim e Chloe, ouvir o nome de outra mulher que tivesse qualquer coisa a ver comigo pareceu estimular os esforços de Brienna. Havia uma certa possessividade na sua atitude, como se ela simplesmente conseguisse sentir que existiam mais acontecimentos por trás daquela história do que ela sabia.
A verdade era que a história completa nunca fora revelada, e ela não tinha nenhuma fonte de informação, além das pessoas que estavam falando sobre Chloe e se perguntando como eu estaria reagindo ao seu retorno à cidade. Mas eu nem me atrevia a fingir que compreendia como funcionava a mente de uma mulher.
Entrei no meu escritório e encontrei Kent sentado sobre a mesa. Não era uma ocorrência incomum antes das últimas três semanas, mas se tornara ainda mais frequente. Era como se ele quisesse estar sempre por perto para acompanhar o próximo desenvolvimento da saga. Ao entrar no escritório, eu, geralmente, conseguia saber o que ele estava pensando, e, naquela manhã, não foi diferente. Soltei um suspiro e me joguei na cadeira atrás da minha mesa.
"Certo. Diga logo. O que é desta vez?", perguntei.
"É só que tenho ouvido muita gente comentar que a Chloe vai estar na feira. Parece que todo mundo está ansioso para ver o que ela vai apresentar.", disse Kent.
"E aí?", perguntei. "O que é que ela vai apresentar?"
"Aí é que está. Ninguém sabe. Ela está guardando a sete chaves esse segredo. Criando muito mistério e intriga. É uma abordagem impactante, se quer saber." "Não quero.", salientei.
Essa nova informação produziu o mesmo efeito que todas as outras notícias sobre Chloe haviam produzido desde sua chegada. Gerou uma vontade de trabalhar mais, de me enterrar profundamente nos meus projetos e de perseguir intensamente minha próxima conquista. Era o que eu fazia havia mais de três semanas. Quando soube que ela estava conquistando minha cidade, não deixei que isso me desacelerasse ou desencorajasse. Simplesmente passei a trabalhar mais. Fui a cada um dos meus fliperamas e salões de jogos e me certifiquei de que todos estavam se saindo bem, descobrindo oportunidades para aperfeiçoamento. Ao notar problemas ou perceber que algo poderia ser aprimorado, eu implementava a mudança imediatamente.
Além disso, comecei a acelerar meus planos de expansão para fora do estado. Era algo que eu estava considerando havia algum tempo. Ideias de lugares para onde eu gostaria de levar meu negócio, bem como de novos tipos de jogos e de entretenimento que eu poderia desenvolver em outras localidades, sempre passaram pela minha cabeça. Mas, agora, eu as levava mais a sério, pesquisando e me organizando para, algum dia, transformar esses pensamentos em realidade. Eu gostava muito da ideia de ter um império multiestadual e de expandir o alcance do meu sucesso.
Por mais que eu tentasse evitar, parecia estar constantemente lembrando a mim mesmo que eu era bem-sucedido, que estava no topo da cadeia alimentar quando se tratava do mundo dos games em Chicago. E, em breve, em muitos outros lugares também. Não queria pensar em como isso revelava que uma competição se acirrava entre nós.