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- Elisa – Ouço uma voz me chamando. - Querida, eu trouxe seu jantar.
Meus olhos estavam pesados, e demorei um momento para abrir
- Que horas são? – Perguntei sonolenta, esfregando os olhos.
- Dez da noite. – Minha mãe respondeu, colocando a bandeja de jantar na minha cama.
Sentei-me na cama, olhando para a comida. Eu não estava com fome.
- Mãe, eu tive um pesadelo – A olhei, meus olhos cheios de medo. - Sonhei que o Rafael tinha voltado.
- Elisa, querida, não foi um pesadelo. – Ela disse, sua voz suave. – Rafael realmente voltou.
Fiquei em silêncio, olhando para minha mãe.
- Eu já liguei para a Louise – Ela se afastou da cama. - Ela disse que você pode passar o tempo que precisar na casa dela.
- Quanto tempo ele vai ficar aqui? – Perguntei.
- Até ele se casar, depois eles vão se mudar para o apartamento que está sendo reformado. Presente de casamento do seu pai.
Começo a chorar.
- Por que está fazendo isso comigo, mãe?
Ela veio até mim, uma expressão de tristeza no rosto.
- Não chora, meu amor. – Ela me abraçou, seus braços me envolvendo em um abraço apertado. – Eu não posso simplesmente expulsar seu irmão de casa, ainda mais com a namorada dele
Eu me afastei dela e a olhei.
- Quero ficar sozinha – Digo. - Pode sair?
Minha mãe me olhou por um momento, seus olhos cheios de tristeza. Então, finalmente, ela assentiu.
- Eu saio. – Ela se levantou da cama, se afastando de mim. – Mas eu quero que você coma o seu jantar antes de sair.
Assenti, embora não tivesse certeza se conseguiria comer alguma coisa.
Quando mamãe saiu do quarto, comecei a arrumar uma mala com todas as minhas coisas. Comecei a chorar, deixando que minhas lagrimas escorressem livremente pelo meu rosto.
***
Mamãe segurou meu braço com força, arregaçando as mangas da minha blusa de frio.
- O que é isso no seu braço, Elisa? – Seus olhos olharam com espanto para o hematoma.
- Eu caí, cai na escola por cima do braço. – Tento puxar meu braço de suas mãos.
Ela me olhou. Não sei o que se passava na sua cabeça. Então, finalmente, ela soltou meu braço, me deixando livre para puxar a manga da blusa de volta.
- Vai trocar essa roupa e não deixe seu pai ver isso. – E saiu do quarto
***
Coloco minha mala no porta-malas e entro no carro.
- Qualquer coisa me liga – Disse minha mãe.- Tchau, mãe. – Dei partida.
Enquanto dirigia, minha mente voltou para Rafael. Aquele sorriso que ele tinha dado para mim, como se nada tivesse acontecido. Aquela mulher ao lado dele. Era quase demais para suportar. Depois de todo o mal que ele me fez, ele estava seguindo em frente com sua vida. Ele estava se casando, começando uma nova vida com outra pessoa. Eu senti uma onda de raiva e tristeza me inundar. Eu não podia acreditar que ele estava se saindo tão bem, enquanto eu estava aqui, sofrendo. Parei o carro de frente a um prédio e desci, pegando minha mala do porta-malas. Eu estava cansada, mas também aliviada. Eu estava finalmente longe de casa, longe de Rafael.
- Boa noite, estou subindo para o apartamento 301. – Digo ao porteiro, que estava parado na entrada do prédio.
- Boa noite! A srta. Louise avisou que a senhorita chegaria. – Ele disse, abrindo passagem para eu atravessar a portaria
. - Que ajuda? – Ele perguntou, se referindo à mala.
- Oh, não, obrigada. – Sorri gentilmente, agradecida pela oferta.
Entrei no elevador, apertando o botão para o terceiro andar. Eu estava ansiosa para ver Louise, ansiosa para estar em um lugar onde me sentia segura. O elevador subiu lentamente. Atrás de mim havia um espelho, me virei encarando a garota de cabelos castanho, olhos verdes grandes demais para o rosto pálido e inchado que me devolveu o olhar. Eu estava horrível. Podia ver as marcas do choro em meu rosto, os olhos inchados e vermelhos. Eu podia ver a tristeza em meus olhos. Era como se aquela eu do passado tivesse voltado. Quando as portas do elevador se abriram, eu saí e caminhei em direção ao apartamento da minha melhor amiga. Bati na porta. Depois de um momento, a porta se abriu e Louise apareceu.
- Elisa! – Ela exclamou, me puxando para um abraço apertado.
Eu sorri, me sentindo um pouco melhor.
- Vem, entra. – Disse abrindo passagem para eu entrar. - Sua mãe avisou que você viria, mas não disse o motivo.
Olhei para ela. Louise era loira, seus cabelos eram exageradamente cacheados volumosos, sua pele era branca e seus olhos eram claros. Louise me levou até o sofá e me sentei, colocando minha mala no chão ao lado. Ela se sentou ao meu lado.
- O que aconteceu? – Perguntou ela.- Rafael, ele voltou.
Louise se levantou do sofá surpresa.- O quê? Aquele desgraçado, depois de tanto tempo. - Mas eu não entendi o porquê de você sair de casa assim.
- Você sabe como eu e o Rafael somos quando estamos um perto do outro.
- Seu irmão é um imbecil, isso sim – Ela revirou os olhos. - Mas me diz, como ele está, está mais gato que antes?
Eu balancei a cabeça, uma risada amarga escapando dos meus lábios.
- Me desculpe – Disse Louise, parecendo genuinamente arrependida. - Você sofrendo, e eu querendo saber do idiota do seu irmão.
Eu sorri para ela, apreciando sua honestidade e seu apoio.
- Está tudo bem, amiga. – Eu disse, minha voz suave. – Eu só preciso de um pouco de tempo para processar tudo isso.
- Eu já arrumei o quarto para você fica, se quiser pode ir descansar.- Eu agradeço. – Respondi, me levantando do sofá.
Peguei minha mala e caminhei em direção ao quarto. Era um quarto pequeno, mas aconchegante, com uma cama confortável e uma janela que dava para a rua. Eu coloquei minha mala no chão e me sentei na cama, olhando ao redor.
***
O sino da escola tocou. Era hora de ir embora. Me levantei da cadeira colocando minha mochila atrás das costas e caminhei para fora da sala de aula. O corredor estava lotado, todos os alunos estavam apressados para irem bora, enquanto eu caminhava sem pressa em direção à saída.
- Elisa! – Ouvir uma voz atrás de mim. - Elisa! – A voz insistiu, e eu reconheci imediatamente.
Era Guilherme
Eu senti meu coração acelerar, e comecei a caminhar mais rápido. Eu não queria falar com ele, não queria lidar com isso agora. Mas ele continuou me chamando, sua voz ficando cada vez mais próxima. Podia ouvir seus passos atrás de mim, podia sentir sua presença se aproximando. Eu apertei o passo, tentando me afastar dele. Sabia que não podia evitar Guilherme para sempre, mas por agora, tudo o que eu queria era escapar.
- Elisa. – Senti sua mão tocar meu braço, me obrigando a parar.
Eu me virei para encará-lo, meus olhos encontrando os dele.
- O que está acontecendo? – Perguntou Guilherme, sua voz cheia de confusão. – Por que está agindo como se não me conhecesse?
Eu olhei ao meu redor, meu coração parando quando vi a figura de Rafael se aproximando. Eu podia sentir o medo se instalando, podia sentir a ansiedade tomando conta de mim.
- Não podemos mais ser amigos. – E então, antes que Rafael pudesse chegar até nós, eu voltei a caminhar.
Guilherme começou a me seguir.
- Por favor, Guilherme, me deixe em paz. – Pedi.
Quando cheguei perto de Rafael, ele segurou meu braço, me puxando em direção ao seu carro. Eu olhei para trás, meus olhos encontrando os de Guilherme. Ele estava parado onde eu o tinha deixado, olhando para mim com uma expressão de confusão e preocupação. Eu queria dizer a ele para ir embora, queria dizer a ele para esquecer de mim. Mas eu não podia. Então, em vez disso, eu apenas olhei para ele, esperando que ele entendesse. Esperando que ele soubesse que eu estava fazendo isso por ele. Rafael me empurrou para dentro do carro, sua mão firme em meu braço. Eu tropecei no assento, mal tendo tempo de me equilibrar antes que ele batesse a porta com força. O som da porta se fechando parecia ecoar em meus ouvidos, um lembrete cruel de onde eu estava e com quem eu estava.
- Você fez bem em dispensar ele. – Disse Rafael. - Ficou com medo que eu quebrasse a cara dele? – Ele riu, um som cruel e desdenhoso.
Eu abaixei a cabeça, não ousando responder. Eu sabia que qualquer coisa que eu dissesse só pioraria as coisas.
- Ele é um idiota mesmo, nem conseguiu foder você. – Rafael continuou, suas palavras me fazendo estremecer.
Eu fechei os olhos, tentando bloquear suas palavras.
***
Acordei com os primeiros raios de sol entrando por uma fresta da cortina. Sentia-me menos cansada. Levantei-me da cama, meus movimentos lentos e cuidadosos, abrir as cortinas para que a luz do dia iluminasse o quarto. Fiz as minhas higienes matinais e sai do quarto.
- Bom dia! – Disse Louise.
- Bom dia! – Respondi, minha voz um pouco rouca de sono.
Me sentei na mesa.
- Parece que você está bem melhor. – Comentou Louise.- Um pouco. – Eu admiti, dando de ombros.
- Sua mãe ligou – Disse, tomando um gole de seu café.
Eu revirei os olhos. Não entendo porque ela não liga para mim.
- O que ela disse?- Que você esqueceu uns documentos da empresa do seu pai.
- Droga! – Eu exclamei.
- São importantes? – Perguntou ela.
Balancei a cabeça. - Droga! – Digo novamente. - Eu vou ter que voltar para casa. – Eu disse, minha voz baixa.
Eu olhei para Louise, que rapidamente entendeu meu olhar.
- Sinto muito, mas eu tenho horários a cumprir. – Disse ela.
Fiz uma cara de cachorro abandonado.
- Elisa, seu pai já me deu inúmeras broncas por conta do meu atraso.
- Entendo como meu pai pode ser bem insuportável às vezes. – Bebi um gole rápido do meu café.
- A gente se encontra na empresa então.
Com um aceno de cabeça final para Louise, eu me levantei da mesa e fui para o meu quarto. Peguei minha bolsa e chequei meu celular, certificando-me de que estava carregado.
- Qualquer coisa, me ligue. – Disse antes de eu sair do apartamento.
Entro no meu carro e dirijo em direção a minha casa. Quando finalmente cheguei em casa, fui recebida por Nanda.
- Bom dia, Nanda – Digo entrando em casa.
- Bom dia, Elisa. Esqueceu alguma coisa?
- Documentos da empresa.
- Estou servindo o café da manhã, aceita alguma coisa?
- Não, obrigada, eu já comi. Se me der licença eu tenho que ir até o escritório.
Com um aceno de cabeça para Nanda, caminhei em direção ao escritório do meu pai. Eu estava nervosa, com medo de me encontrar com Rafael. Quando finalmente cheguei ao escritório, fui direto para a gaveta onde eu sabia que os documentos estariam. Olhei em volta checando se não estava esquecendo de nada. Então, eu ouvi um som. O som da porta se abrindo. Olhei para saber quem era, e no mesmo instante eu congelei, meu coração batendo forte no peito.
- Elisa – Seus lábios se curvaram em um sorriso. - Ouvi quando você chegou. – Ele fechou a porta atrás de si, me deixando presa no escritório com ele.
Eu engoli em seco. Ele deu um passo à frente, parecendo ainda mais alto e ameaçador do que eu me lembrava. Eu estava paralisada, incapaz de me mover. Rafael me encarou por um longo momento.
- Você não mudou quase nada, só estar mais bonita.
Segurei os documentos em minhas mãos como se fosse um escudo.
- Está com medo de mim? – Ele perguntou, se aproximando. Sua voz estava cheia de desdém, como se ele achasse divertido o meu medo.
A distância entre nós não existíamos mais. Eu podia sentir o calor do seu corpo, o cheiro do seu perfume. Nada tinha mudado. Era o mesmo Rafael de sempre, o mesmo homem que eu temia. Ele aproximou seus lábios no meu ouvido.
- Minha mãe tentou separar você de mim, mas agora eu voltei. – Sussurrou.
Eu senti um arrepio percorrer minha espinha. As lagrimas começaram a escorrer dos meus olhos silenciosamente, mas eu não fiz nenhum movimento para enxugá-las. Senti seu dedo erguer minha cabeça pelo queixo, obrigando-me a olhá-lo. Nossos rostos estavam quase se tocando, e eu podia ver a crueldade em seus olhos, a satisfação que ele parecia tirar do meu medo. Ele aproximou seus lábios dos meus, depositando um beijo casto.
- Quero que você volte para casa – Disse se afastando de mim.
- Eu não vou voltar. – Respondi, olhando para ele com desdém. Eu não iria voltar para ele, não iria voltar para a vida que eu tinha antes.
Eu limpei meus lábios com o dorso da mão, como se aquilo fosse tirar o gosto do seu beijo.
- Acha mesmo que vai se livrar fácil assim de mim outra vez? – Ele riu irônico. - Você é minha, porra!
As palavras dele me atingiram como um soco no estômago, mas eu me recusei a deixar que ele visse o quanto me afetaram.
- Então, – Ele me puxou pela cintura, fazendo-me deixar os papeis em minhas mãos caírem. - é melhor você trazer todas as suas coisas de volta para casa, ou você não vai querer ver do que eu sou capaz de fazer.
Ouvimos passos vindo em direção ao escritório, logo em seguida alguém bateu na porta. Rafael se afastou de mim rapidamente.
- Elisa? – Minha mãe entrou.
Eu me abaixei para pegar os papéis do chão, limpando resquícios das minhas lágrimas com a manga da minha blusa.
- Rafael, o que está fazendo aqui?
- Entrei para cumprimentar a minha irmã. – Rafael disse, sua voz calma e controlada.
- Saía, por favor, sua namorada está te chamando. – Disse minha mãe.
Eu me levantei, organizando os papéis em minhas mãos. Rafael saiu do escritório, mas antes de sair, ele olhou para mim. Eu entendi imediatamente o que aquele olhar significava.
- Estar tudo bem? – Mamãe perguntou.
Eu balancei a cabeça. - Está sim. – Eu disse, forçando um sorriso que não alcançou meus olhos. - Decidi voltar para casa.
- Serio? – Minha mãe sorriu, claramente aliviada. – Você entendeu como o seu irmão mudou? – Mamãe me abraçou. - Obrigada por me compreender.
- Agora eu preciso ir, mãe, meu pai estar esperando.
- Tá bom, tá bom. Até mais tarde – Se despediu.