Capítulo 9 A BOATE

Estava sendo uma tortura ir para a escola, ver Guilherme todos os dias e fingir que nada aconteceu entre a gente. Eu sabia que ele estava me odiando e sofrendo por isso. Andei pelos corredores da escola em direção a saída, e assim que saio a primeira coisa que vejo é o carro de Rafael parado com o mesmo encostado na porta, os braços cruzados sobre o peito, olhando diretamente para mim. Seu olhar era duro, quase desafiador, e eu senti um arrepio de medo percorrer minha espinha.

- O que você está fazendo aqui, Rafael? - perguntei, tentando manter a voz firme.

Ele deu de ombros, um sorriso arrogante brincando em seus lábios.

- Vim te buscar. Achei que você gostaria de uma carona.

Eu olhei para ele, incrédula. Como ele podia agir como se nada tivesse acontecido? Como ele podia ser tão insensível?

- Eu não preciso da sua carona. - respondi, dando um passo para trás.

- Não começa, porra! – Ele revira os olhos. - Para de fazer eu perder a paciência, você viu o que eu fiz com seu namoradinho.

Eu fiquei em silêncio.

- Quero te levar para um lugar. – Ele sorriu malicioso.

- Eu não vou a lugar nenhum com você. - Respondi, minha voz firme apesar do medo que sentia.

Ele deu um passo em minha direção, seu sorriso se transformando em uma expressão de raiva.

- Você não tem escolha, Elisa. - ele disse, sua voz baixa e ameaçadora. - Agora entra na porra do carro!

***

TRÊS SEMANAS DEPOIS

O som da música alta impedia que eu entendesse o que Louise estava tentando dizer, então eu balancei a cabeça, tentando disfarçar minha falta de compreensão. Fingi ter entendido o que ela disse. Completamente perdida no meio da multidão que dançava, observei Louise se afastando de mim e saindo completamente do meu ponto de vista. Me senti desorientada e tonta com a luzes do ambiente, então apenas caminhei sem rumo, até encontrar o bar.

Não sei como puder aceitar esse convite.

Sentei-me na cadeira e fiquei apenas observando o ambiente.

Que tipo de amiga era Louise, me deixando sozinha.

- A moça aceita algo para beber? - Uma voz perguntou.

Olhei para o homem ao meu lado. Cabelos loiros olhos castanhos, pele branca e se vestia em um belo terno cinza, que parece se encaixar perfeitamente em sua figura elegante.

Eu balancei a cabeça.

- Não bebo, obrigada. - Respondi educada.

- Hum! Uma pena. Como eu faço agora para te paquerar? – Ele riu.

Seu comentário inesperado me pegou de surpresa, fazendo-me sorrir envergonhada. Seu tom descontraído e o riso que o acompanhou indicavam que ele estava apenas brincando, mas ainda assim, senti meu rosto corar levemente.

- Me chamo, Nate! – Estendeu sua mão para me cumprimentar.

- Muito prazer! Me chamo, Elisa. – Correspondo seu aperto de mão.

- Acho que tive a sorte grande te conhecer você. - Diz ele.

- Elisa! – Ouvi a voz animada de Louise no meio da música, chamando minha atenção. - Até que enfim eu encontrei você. Eu te procurei feio uma doida.

Desviei minha atenção de Nate, e olhei para minha amiga.

- Você que simplesmente me largou na pista de dança e sumiu. – Eu disse.

Louise se aproximou.

- Você não escutou eu dizer que iria ao banheiro? – Perguntou ela.

Eu balancei a cabeça, negando.

- Mas você balançou a cabeça.

- Tá, mas eu não entendi nada. – Dei de ombros.

Louise riu, compreendendo a situação.

- Esquece! Eu vim avisar que você não vai acreditar quem está aqui na boate. – Falou empolgada.

A olhei esperando sua resposta.

- Olha lá – Se virou na direção apontando com a cabeça.

Curiosa segui seu olhar na direção que ela apontava. Meus olhos se fixaram na figura familiar de Rafael que se destacava na multidão da boate.

Nossos olhares se cruzaram.

- Eu vou lá falar com ele, chamar para se juntar a nós – Disse começando a ir em direção dele.

Mas eu segurei seu braço.

- Não, Louise. Com certeza ele veio com ela.

Louise revirou os olhos.

- Não importa, quero que ela veja que sou mais bonita - Puxou seu braço da minha mão indo

até Rafael.

Me virei de costas para aquela cena. Não queria ver.

- Está tudo bem? – Nate perguntou. - Você mudou completamente sua postura quando viu aquele homem. Era seu namorado?

Respirei fundo antes de responder, tentando encontrar as palavras certas.

- Não, ele não era meu namorado. – Sorri desconfortável. - Meu irmão – Odiava me referir ao Rafael assim.

Ele não era meu irmão, irmãos não fazem o que ele faz comigo.

- Vamos dançar? – Perguntei, me animando de repente.

***

- Para onde está me levando? – Perguntei, sentindo um misto de curiosidade e medo.

Olhei para a estrutura à minha frente e rapidamente li o nome "Motel". Meu coração acelerou e uma sensação de desconforto tomou conta de mim.

- Não vamos ter privacidade suficiente em casa. – Ele disse, justificando sua escolha.

Eu me senti desconfortável com a ideia de ir para um motel. Aquilo não parecia certo para mim, especialmente considerando o nosso relacionamento.

- Quero que me leve para casa. – Choraminguei.

- Quando terminamos aqui, a gente vai para casa.

*

**

Nate segurou minha cintura fazendo-me dançar junto com ele ao ritmo da música Ele me puxou para mais perto, e começamos a dançar juntos, deixando-nos levar pelo ritmo contagiante. Nossos movimentos se sincronizaram perfeitamente. Enquanto dançávamos, eu não pude deixar de notar Rafael de longe. Seu rosto estava contorcido em uma expressão de raiva, mas ele parecia estar se controlando ao lado de Fabiana.

Eu com certeza me arrependeria depois.

Nate me girou habilmente, e eu ri, me sentindo leve e feliz. Eu ocasionalmente lançava olhares furtivos na direção de Rafael e Fabiana, tentando entender o que estava acontecendo. Virei-me para o homem jogando meus braços em seus ombros. Nossos olhares se encontravam, e antes que eu pudesse agir, Nate me beijou. Me afastei bruscamente do seu toque.

Antes que eu pudesse processar o que tinha acontecido, senti um empurrão forte e, de repente, Nate caiu no chão. Fiquei chocada e atordoada com a cena diante de mim. Olhei ao redor, tentando entender o que havia acontecido. Vi Rafael parado ao lado de Nate, com uma expressão de raiva no rosto. A música parou e todos ao redor pararam para olhar a cena. Meu coração acelerou e um sentimento de pânico tomou conta de mim. Rafael se abaixou e começou a socar o rosto de Nate.

- Rafael, para com isso! – Eu gritei. - Para!

Ele parecia estar cego pela raiva. Rafael continuou socando o rosto de Nate, ignorando completamente os meus apelos desesperados.

- Isso é tudo culpa sua! – Fabiana gritou Para mim.

Ela veio para cima de mim, mas Louise entrou no meio.

- Na minha amiga você não toca! – Disse Louise.

Fabiana se afastou.

Enquanto a confusão continuava ao meu redor, senti uma mistura de emoções dentro de mim. Medo, tristeza e raiva. Finalmente, algumas pessoas ao redor se aproximaram e conseguiram separar os dois. Nate estava caído no chão, com o rosto ensanguentado e visivelmente machucado. Rafael conseguiu se soltar do homem que o segurava e saiu da boate, seguido por Fabiana, que parecia determinada a alcançá-lo.

- Elisa, vamos embora, vem! – Louise me puxou.

- Louise, não podemos deixar ele lá, tudo isso foi culpa minha – Eu disse, com a voz trêmula.

- Não foi culpa sua, seu irmão que é sem escrúpulos. Por que ele bateu no cara daquele jeito?

Não respondi, apenas continuei andando o mais rápido de pressa para fora da boate.

- Você é um estúpido, Rafael. – Ouvi os gritos de Fabiana. - Como pode fazer isso comigo?

- Fica quieta na sua! - Rafael a empurrou.

Louise me olhou.

- Desgraçado! – Exclamou Fabiana, desferindo um tapa no rosto de Rafael. - Você ainda gosta dela, ainda está apaixonado.

Eu segurei a mão de Louise, sentindo a urgência de nos afastarmos dali.

- Vamos sair daqui! – Eu a puxei em direção ao meu carro.

- Elisa, do que a Fabiana está falando? - Louise perguntou.

- Sobre o que? – Fingi desentendimento, tentando evitar entrar em detalhes naquele momento.

- Sobre o Rafael está apaixonado. É por você?

Engoli em seco, sentindo um nó se formar na minha garganta.

- Não, é claro que não! – Exclamei, tentando parecer convincente. - De onde tirou essa loucura?

Louise me olhou com um olhar perspicaz, percebendo que eu estava escondendo algo.

Entramos no carro.

- Eu sempre percebi uma coisa estranha na relação de vocês – Começou ela. - Rafael não se

comportava com você como um irmão.

Respirei fundo. Não queria falar sobre aquilo.

- Ele me estuprou. – Falei sem encará-la, minha voz trêmula e carregada de dor.

O silêncio se instalou no carro, pesado e opressor. Eu não conseguia olhar nos olhos de Louise, sentindo vergonha.

Ela riu chocada.

- Porra! – Exclamou. - Seu irmão é um desgraçado. É sério isso, Elisa?

Balancei a cabeça, incapaz de dizer qualquer palavra.

- Eu vou cortar o pau dele, aquele filho da puta! – Ela ameaçou sair do carro, mas eu a segurei pelo braço, impedindo-a.

- Está tudo bem! - A olhei nos olhos, tentando transmitir calma. - Eu tô bem.

Louise me puxou para um abraço apertado.

- Eu sinto muito. – Murmurou.

Respirei fundo, sentindo um nó se formar em minha garganta.

***

- Você foi uma boa garota – Ele murmurou, me puxando para perto e beijando o topo da minha cabeça.

Tento me afastar do seu toque, mas Rafael, me segura com força.

- Para de tentar fugir de mim, Elisa.

- Só quero me vestir – Eu disse, minha voz quase um sussurro.

Rafael soltou um suspiro, soltando seu aperto sobre mim. Ele assentiu.

- Estar com fome? – Perguntou ele.

Eu não respondi, apenas continuei a vestir minhas roupas. Eu podia sentir o olhar de Rafael em mim, mas eu evitei encontrá-lo.

- Quero ir embora. – Eu disse finalmente, minha voz firme.

Ele bufou.

- Ainda estou de pau duro.

- Isso é problema seu. – Respondo. - Quero que me leve embora. Agora!

Ele olhou para mim, eu conhecia aquele olhar. Ele levantou da cama e veio até mim.

- Me desculpa! – Não ousei me mover, enquanto ele se aproximava de mim.

Sem tempo de me afastar, Rafael agarrou meu cabelo me puxando para a cama.

***

Entrei em casa passando pela sala de estar o mais rápido que podia quando vi o casal sentado no sofá.

- Elisa! – Rafael chamou meu nome. - Precisamos conversar!

- Rafael, deixa essa insuportável em paz! - Fabiana gritou.

Ouvi seus passos atrás de mim. Corri para dentro do meu quarto e tranquei a porta.

- Elisa? – Ele bateu na porta.

Minhas emoções estavam à flor da pele, e a presença de Rafael só aumentava minha angústia.

- Saí daqui! – Eu gritei.

- Abre a droga dessa porta, sua vadia. – Ele gritou. - Isso é tudo culpa sua por agir igual uma puta!

- Vai se fuder! – Respondi.

Ele deu um chute na porta.

- Que gritaria toda é essa? – A voz da minha mãe ecoava pelo corredor.

Ouvia passos do lado de fora, depois murmúrios e logo em seguida um silêncio absoluto. Soltei minha respiração. Joguei minha bolsa em cima da poltrona e deitei na cama. Já eram quase duas da manhã e eu estava cansada de toda aquela confusão. Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos tumultuados, até pegar no sono.

                         

COPYRIGHT(©) 2022