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Me levantei da mesa de jantar, e no mesmo momento senti uma onda de tontura me atingir. Por um momento, tudo pareceu girar ao meu redor, e eu tive que me apoiar na mesa para não cair.
- Elisa! - Mamãe gritou, se levantando e correndo até mim. Ela me segurou pelos ombros, me ajudando a me sentar novamente. - Você está bem?
Eu assenti, tentando recuperar o fôlego. Eu podia sentir o olhar preocupado da minha mãe em mim, mas eu não conseguia levantar a cabeça para olhar para ela.
- Nanda, por favor, traz um copo com água para ela. - Pediu minha mãe.
Era meu corpo reagindo a toda essa situação.
- Querida, você sentiu essa tontura outras vezes? - Mamãe me entregou o copo.
Eu balancei a cabeça, tentando me concentrar em sua voz.
- Não, é a primeira vez. - Eu disse, pegando o copo de suas mãos.
Eu bebi a água, sentindo o líquido frio descer pela minha garganta.
- Você tem que se alimentar direito, está mais magra que o normal. – Comentou Nanda.
- Eu estou comendo. - Eu disse, um pouco irritada. Eu sabia que ela estava apenas preocupada.
- Filha, acho melhor você não ir trabalhar hoje. - Minha mãe sugeriu, sua voz suave
- Eu tenho que ir, mãe.
- Não precisa ir, o seu irmão já começou a trabalhar com seu pai. - Minha mãe disse, tentando me convencer.
Senti meu estômago embrulhar só de ter que suportar em ver a cara do Rafael todos os dias na empresa. Eu respirei fundo, tentando controlar a náusea que ameaçava subir. Me levantei.
- Elisa, não seja teimosa, você não estar bem. - Diz minha mãe.
- Agora estar preocupada comigo? - Me levantei da cadeira e me virei para encará-la, sentindo uma onda de raiva e tristeza. - Não estava assim quando o Rafael me estuprou a uma semana atrás. E agora está reagindo como se nada tivesse acontecido.
Houve um silêncio na sala, as palavras pesadas pairando no ar. Eu podia ver a dor nos olhos da minha mãe, mas eu não me importava. Eu estava cansada de fingir que estava tudo bem, cansada de fingir que eu não estava machucada.
- Eu sei que não estou sendo a melhor mãe do mundo, mas você também precisa me entender. Rafael também é meu filho.
- E eu, não sou sua filha?
- Claro que você, Elisa, pelo amor de Deus! - Ela exclamou, parecendo horrorizada com a ideia de que eu pudesse pensar o contrário.
Eu respirei fundo, tentando controlar as emoções que ameaçavam me dominar.
- Se me dão licença, eu vou trabalhar - Eu disse, me virando para sair da sala.
Caminhei em direção ao meu quarto, mas antes que eu pudesse entrar, alguém se colocou no meu caminho. Fabiana estava parada na minha frente, um olhar de desdém em seu rosto.
Eu revirei os olhos.
- Acabou com o seu showzinho? - Perguntou ela, com um tom de desdém.
- Eu não estou afim de discutir - Digo.
Eu tentei passar por ela e seguir em direção ao meu quarto, mas Fabiana bloqueou meu caminho, cruzando os braços.
- Para de acusar o meu namorado, isso já está ficando ridículo. - Disse ela.
- Cuida da sua vida, ou está afim de levar outro tapa nessa sua cara de sínica? - Digo
- Experimenta me bater outra vez - Fabiana me encarou, desafiadora.
Eu respirei fundo, tentando controlar minha raiva. Eu não queria me envolver em mais brigas, especialmente com ela. Eu sabia que precisava manter a calma e me afastar da situação.
- Não vale a pena. - Eu disse, minha voz mais calma. - Eu tenho coisas mais importantes para me preocupar do que discutir com você.
Com isso, eu contornei Fabiana e segui para dentro do meu quarto, deixando-a para trás. Eu tinha que ser forte. Me arrumei em cinco minutos. Peguei minha bolsa e as chaves do carro e saí apressadamente de casa. Não importava que meu pai fosse o dono da empresa, eu não podia me dar o luxo de ficar em casa. Cumprimentei todos ao meu redor antes de chegar até a minha sala.
***
Coloquei um vestido de mangas cumpridas, para minha sorte era o único que eu tinha que pudesse cobrir meus hematomas. Estava sentava à mesa de jantar do elegante restaurante, rodeada por homens vestidos de terno, o som de suas vozes preenchia o ambiente. Eles discutiam negócios, compartilhavam ideias e estratégias, enquanto eu me mantinha em silêncio, absorvendo cada palavra. Minha atenção se dividia entre a conversa dos homens e minha mãe, que estava sentada ao meu lado, e do outro, Rafael. Era impossível esquecer da sua presença. Foi um jantar longo e desconfortável. Eu estava com fome, mas foi difícil para comer. Cada olhar na direção de Rafael trazia à tona as lembranças do que aconteceu, e era difícil não reviver. Estava sendo difícil até mesmo de sentar, porque eu estava dolorida.
- Se continuar me olhando desse jeito vou pensar que está querendo ser fodida de novo. - Ele se aproximou sussurrando no meu ouvido.
Enquanto ele se aproximava, sussurrando aquelas palavras ofensivas em meu ouvido, um sentimento de repulsa tomou conta de mim. Mas me mantive em silêncio.
- Hum, aliás, eu quero ser o único a partir de hoje. Não quero dividir você com o idiota do seu namoradinho. - Disse ele.
Eu o olhei, mesmo não querendo.
- Não me olha assim - Ele sorriu para disfarçar. - Se não quiser que eu dê uma surra nele, é melhor me obedecer.
Eu sabia que ele estava apenas tentando me assustar. Ele não iria realmente machucar meu namorado. Era apenas uma tática para me controlar, para me fazer sentir pequena e indefesa. Mas eu não iria cair nessa. Rafael não era louco a esse ponto.
***
Eu revirei os olhos pela quinta vez com os sorrisos eufóricos de Louise. Queria entender o que ela tinha visto em Rafael, devia ser algo bem escondido que só ela consegue ver.
- Você sabe que ele vai casar, não é? - Eu perguntei, tentando trazer um pouco de realidade para a situação.
Louise murchou no mesmo instante, como se eu tivesse estourado sua bolha de felicidade.
- Nem fodendo, Elisa. Seu irmão tem que casar é comigo - Disse ela. - Quem é a piranha? Vou dá na cara dela.
- Ela está morando com ele na minha casa, só até o casamento.
Ela se levantou abruptamente.
- Eu sabia, sabia que tinha que ter transado com ele quando eu tive a oportunidade. - Ela começou a andar pela sala, como se estivesse tentando queimar a frustração com cada passo.
Revirei os olhos pela sexta vez.
- Acha que ele trairia essa broaca comigo? - Ela me olhou. - Com certeza eu sou mais bonita que ela.
- Ela esteva aqui na quarta-feira, não lembra? - Perguntei, tentando lembrá-la.
- Aquela que ficou horas aqui na empresa? - Perguntou ela, uma expressão de surpresa em seu rosto.
Balancei a cabeça, confirmando suas suspeitas.
Fomos interrompidas com batidas na porta, e logo quem quer que fosse entrou sem esperar por uma resposta. Eu me levantei surpresa e medo tomando conta de mim no mesmo instante que o vi.
- Rafael - Louise o cumprimentou. - Soube que você vai casar, meus parabéns. Se quiser fazer uma despedida de solteiro na minha casa está convidadíssimo.
Ele sorriu para ela, um sorriso que não alcançou seus olhos.
Louise parecia não perceber a tensão no ar, continuando a falar animadamente sobre a "festa" de despedida de solteiro, que supostamente ele não iria. Mas eu não conseguia tirar os olhos de Rafael, sentindo um aperto no peito.
- Obrigado pelo convite, Louise. Vou pensar sobre isso - respondeu Rafael, sua voz suave e cativante.
Um silencio pairou no ar por um momento.
- Poderia me deixar a sós com a minha querida irmãzinha? - Perguntou ele.
- Não, e-eu e a Louise temos muitas coisas para fazer. - Tomei a frente, antes que Louise se retirasse.
E ela te fato ia se virando para sair do escritório.
- Pensei que já tivéssemos acabado, amiga - Disse ela.
- Não, não mesmo, temos que dar uma olhada nas fotos do apartamento do... Seu, Rafael.... É, o seu apartamento. - Engoli em seco.
- Elisa, mas nós não olhamos fotos de apartamentos, não é nosso trabalho. - Louise me olhou confusa.
Meu coração quase pulou para fora do peito.
- É verdade, eu tinha.... Esquecido disso... Puff.... Muitas coisas na cabeça.
Enquanto tentava disfarçar minha ansiedade, percebi que Rafael estava observando cada movimento nosso. Seu olhar era penetrante e eu sentia um arrepio percorrer minha espinha.
- Eu vou me retirar - Disse ela. - Talvez seja importante o que o Rafael tem para falar com você.
- Tenho certeza que não é nada importan...
- É importante, muito importante. Muito obrigado, Louise - Disse ele tomando a frente.
Louise sorriu para ele.
- Com licença. Se você mudar de ideia sobre a despedida, é só me ligar - Ela piscou para ele.
Rafael sorriu.
Louise saiu do escritório nos deixando a sós. Rafael se aproximou lentamente, seus olhos fixos em mim.
- Está tentando me evitar, Elisa? - Ele perguntou, com um sorriso malicioso nos lábios.
Um nó se formando no meio da minha garganta.
- Não estar satisfeito? - Perguntei, tentando manter a compostura.
Ele se aproximou ainda mais, seu corpo quase tocando o meu. Senti seu calor e respirei fundo, tentando controlar minhas emoções.
- Você sempre me satisfaz, por isso eu voltei. - Ele sussurrou, seus lábios roçando levemente em meu ouvido.
Senti nojo em suas palavras e o empurrei para longe de mim.
- Sai, sai daqui! - Sussurrei, minha voz cheia de desdém.
As lágrimas brotaram dos meus olhos, misturando-se com a raiva.
- Eu não vou sair. - Num movimento rápido, ele se aproximou novamente, me empurrando contra a parede. Me senti encurralada, sem saída. - Elisa, se você me aceitar de volta, eu não me caso com a Fabiana, eu não a amo, eu amo você.
Rafael segurou meu rosto entre suas mãos e começou a me beijar. Eu tentei desviar dos seus beijos.
- Rafael, pare! - Eu gritei, minha voz cheia de desespero - Eu tenho nojo de você, acha mesmo que eu te quero? Eu nunca te quis. - Minhas palavras saíram carregadas de repulsa e desgosto.
Rafael pareceu atordoado com a minha rejeição. Ele solta meu rosto e dá alguns passos para trás, olhando para mim com incredulidade.
- Não pode estar falando sério, você não sentiu nada por mim durante esses quatros anos que ficamos juntos?
- Tudo que eu sentia por você era medo, raiva por ter acabado com a minha vida. Eu odeio você! - Limpei minhas lagrimas. - Sai daqui! - Pedi.
Ele tentou se aproximar novamente, mas eu me afastei, mantendo uma distância segura entre nós.
- Por favor, Elisa, me dê uma chance de consertar as coisas. Eu posso mudar, eu juro. - Ele implorou, seus olhos suplicantes.
Eu já tinha ouvido aquilo antes.
Balancei a cabeça, negando suas palavras.
- Você me prometeu isso quando eu disse que ia te denunciar, lembra? Mas você não mudou, você nunca vai mudar, e eu sinto muito pela Fabiana que vai viver com um monstro como você. - Solucei.
- Não sou um monstro, eu só queria ter você.
- Você foi um ridículo se pensou que ia me ter forçando a transar com você. Agora por favor, saí da minha sala. Ou eu vou gritar - Ameacei.
- Isso não acabou, Elisa - ele disse, com um tom ameaçador. - Eu vou ter você para mim de volta.
- Saia da minha sala agora, ou eu vou chamar a segurança. - Não iria deixar que o medo me dominasse.
Ele se virou e saiu do escritório. Senti-me aliviada quando ele finalmente saiu da minha sala. Respirei fundo para acalmar meus nervos e me sentei na cadeira, permitindo que as lágrimas escorressem livremente dos meus olhos.
***
Caminhava de mãos dadas com Guilherme pelo corredor da escola em direção a saída. Era uma sexta-feira, nosso dia que ficávamos juntos inseparáveis. Naquele mesmo dia, eu também sentir uma coisa muito ruim me incomodando, mas nunca disse isso a ele, nem quando estava numa cama de hospital quase morrendo.
Foi rápido, questão de minutos quando saímos para fora da escola. Eram três homens, vinham na nossa direção.
- Você que é o Guilherme? - Um deles perguntou.
- Sim, por que? - Perguntou Gui, com uma expressão confusa.
Os homens trocaram olhares entre si antes de desferir o primeiro soco no rosto de Guilherme, que caiu no chão. Eu tentei me aproximar, mas um deles me segurou. Meu coração disparou de medo e desespero ao presenciar aquela cena terrível. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu lutava contra o homem que me segurava, tentando me soltar para ajudar Guilherme.
- Por favor, solte-me! - Gritei, minha voz embargada pela angústia.
Mas meus esforços foram em vão. O homem me segurava com força, impedindo-me de chegar perto de Guilherme. Enquanto isso, os outros homens continuavam a agredir Guilherme impiedosamente. Cada soco e chute parecia ecoar em meu peito, causando uma dor insuportável. Eu gritava seu nome, implorando para que parassem, mas eles pareciam indiferentes ao meu apelo desesperado. Finalmente, os agressores se afastaram, deixando Guilherme caído no chão, machucado e ensanguentado. Meu coração se partiu ao vê-lo naquela condição, e eu me soltei do homem que me segurava, correndo para o lado de Guilherme. Ajoelhei-me ao seu lado, segurando suas mãos trêmulas. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava acalmá-lo.
- Alguém me ajuda! – Eu gritei.