Capítulo 3 O ENCONTRO

Saio do escritório. Estava determinada a sair daquela casa, mas antes que pudesse alcançar a porta, Rafael surgiu acompanhado de sua namorada. Ele me lançou um olhar um sorriso cruel se formando em seus lábios.

- Ontem vocês não tiveram a oportunidade de se conhecerem. – Rafael tomou a frente. - Fabiana, essa é minha irmã, Elisa. Elisa, essa é minha namorada, Fabiana.

Estendi a mão para cumprimentá-la, forçando um sorriso.

- É um prazer conhecê-la. - Declarei.

- O prazer é todo meu. - Fabiana respondeu, seu tom de voz soando estranhamente forçado.

- Agora, se me dão licença, preciso trabalhar. - Afastei-me deles.

- Até mais tarde, maninha. - Rafael provocou.

Revirei os olhos.

Entrei no meu carro e segui em direção à empresa do meu pai. Ele deve estar furioso comigo. Enquanto dirigia, meus pensamentos estavam em um redemoinho. Não conseguia parar de pensar em como fui ingênua, em como fui fraca por não ter enfrentado Rafael. Apertei o volante, a frustração fervilhando dentro de mim. Parei o carro em frente ao prédio imponente da empresa do meu pai. O edifício de vidro e aço se erguia contra o céu azul. Respirei fundo, tentando acalmar os nervos.

***

- Porra, Julie! – Papai gritou. - Você estava em casa o tempo todo e não viu essa merda acontecendo.

- Eu não sou duas para fazer tudo ao mesmo tempo. – Mamãe disse aos prantos.

- O que caralho você tanto faz que não presta atenção nos nossos filhos?

- Eu cuido da nossa casa, cuido para que todos os dias quando você chegar a comida esteja posta na mesa – Disse em sua defesa.

Meu pai passou as mãos pelos cabelos, claramente irritado. Ele estava frustrado, eu podia ver isso em seu rosto.

- Rafael não fica mais um minuto nessa casa. - Ele declarou, determinado.

Mamãe se levantou.

- O que você vai fazer com nosso filho, Bernardo? - Ela perguntou, sua voz carregada de preocupação.

Meu pai não disse nada, apenas saiu do escritório, deixando minha mãe e eu sozinhas. Ela se virou para mim, seus olhos cheios de lágrimas.

- Tudo isso é culpa sua. - Ela acusou.

Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago.

- Me desculpe. - Solucei, as lágrimas caindo sem parar.

***

- Srta. Elisa - A assistente pessoal do meu pai me cumprimentou. - Seu pai está em reunião no momento.

Eu assenti.

- Por favor, entregue isso a ele e peça para que ele vá até a minha sala quando puder - solicitei, entregando os papéis a ela.

- Avisarei. - Ela respondeu, pegando os papéis com um aceno de cabeça.

- Obrigada. – Agradeci.

Ajustei minha bolsa no ombro e segui para a minha sala.

- Elisa!

Estava quase entrando na minha sala quando ouvi uma voz atrás de mim. Parei, me virando para ver quem era.

- Théo - Sorri para o homem à minha frente, que mais parecia um adolescente de dezessete anos. - Como vai?

Ele ajustou seus óculos, retribuindo o sorriso. Parecia que o tempo não havia passado para ele, estava exatamente como eu me lembrava, apenas um pouco mais alto.

- Estou muito bem, obrigado! E...

- Théo disse que quer te convidar para sair - Louise apareceu de repente.

Ela deu um tapa nas costas de Théo. Ele corou, claramente surpreso pela interrupção de Louise. Eu ri, apreciando a cena.

- Louise respondeu por mim, um sorriso travesso em seu rosto. - Não é, Elisa?

Eu abri a boca para responder, mas as palavras pareciam ter fugido. De repente, me senti tímida, uma sensação estranha considerando que eu conhecia Théo e Louise há anos. Théo estava olhando para mim, uma expressão de expectativa em seu rosto.

- Claro, eu aceito. Hoje à noite - Eu disse, forçando um sorriso.

Théo sorriu de volta, claramente aliviado. Louise deu um tapinha em suas costas, um sorriso satisfeito em seu rosto.

- Agora pode voltar para sua sala - Disse Louise, um sorriso divertido em seu rosto.

Théo assentiu, ainda sorrindo.

- Com licença. - Ele se despediu, antes de se virar e caminhar de volta para sua sala.

Eu observei enquanto ele se afastava, um sorriso suave em meu rosto.

- Caramba, Louise! - Exclamei. - Você precisa parar de fazer isso.

- Desculpe, só queria que você relaxasse um pouco - Ela se defendeu. Estendeu uma pasta em suas mãos. - Aqui estão os documentos para você assinar sobre a venda do apartamento daquele casal adorável de idosos.

Peguei a pasta de suas mãos.

- Obrigada! - Agradeci, abrindo a pasta para dar uma olhada nos documentos.

- Mas me conta, como estão as coisas entre você e o seu irmão gato? - Louise perguntou, um sorriso malicioso em seu rosto.

Eu revirei os olhos.

- Você poderia parar de se referir a ele dessa maneira?

- Mas o que eu posso fazer se você teve a grande sorte de ser adotada por uma família rica e ainda ganhou um irmão gostoso de brinde.

- Sorte – Eu ri, um riso amargo. A ideia de que eu tinha sorte por ser adotada por uma família rica e ter um irmão "gostoso" era ridícula.

Louise me olhou, uma expressão de preocupação em seu rosto.

- Você riu de um jeito estranho. - Ela disse, claramente preocupada.

- Está tudo bem, tão bem que vou voltar para casa. - Eu disse, tentando parecer convincente.

- Ótimo, então eu vou lá com o pretexto de te visitar, e ver seu irmão. - Ela disse, tentando aliviar a tensão.

- Eu vou assinar e depois você volta na minha sala para pegar os documentos e entregar para o meu pai. - Mudei de assunto.

- Sim senhora! - Ela riu, claramente divertida com a minha tentativa de mudar de assunto.

Eu revirei os olhos.

- Palhaça! – Eu disse, rindo junto com ela.

***

Parei em frente à casa de Guilherme, respirei fundo antes de tocar a campainha.

- Sra. Helena, boa tarde! - Eu disse, assim que a porta se abriu.

- Elisa - Ela me abraçou, um sorriso caloroso em seu rosto. - Entre, o Gui está no quarto. - Ela se afastou, abrindo espaço para que eu pudesse entrar.

- Eu vou falar com ele, com licença. - Eu disse, dando um passo em direção ao corredor que levava aos quartos. Bati na porta, mesmo estando aberta.

Guilherme estava sentado em sua cama, um livro aberto em seu colo. Ele me olhou, um pouco surpreso.

- O que está fazendo aqui? - Perguntou ele. - Você disse que era para eu te deixar em paz.

Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas.

- Eu sei o que eu disse, Gui. - Eu comecei, minha voz tremendo um pouco. - Mas eu preciso falar com você. Eu preciso te explicar o que aconteceu.

Guilherme me olhou por um momento. Então, ele fechou o livro e colocou-o de lado, indicando que eu deveria entrar.

- Tudo bem, Elisa. - Ele disse, sua voz suave. - Vamos conversar.

Eu entrei no quarto.

***

Olhei-me no espelho, retocando meu batom pela última vez antes de sair de casa. O reflexo que me encarava de volta parecia confiante, mas por dentro, eu estava tudo menos isso. Eu não estava muito empolgada para esse encontro. Esse era o meu problema, eu não sabia dizer 'não'. Eu estava vestida para impressionar, com um vestido preto elegante e saltos altos, quando tudo o que eu realmente queria era ficar em casa, enfiada em minhas roupas confortáveis. Mas eu que tinha que ir. Eu tinha prometido a Théo que iria, e eu não era do tipo que quebrava promessas. Mesmo que isso significasse passar uma noite fora quando tudo o que eu queria era ficar em casa. Pego minha bolsa e saio do quarto.

- Assim você vai deixar ele 'apaixonadinho' por você. – Louise riu, um brilho travesso em seus olhos.

- Vai ser tudo culpa sua se isso acontecer. – Eu respondi, tentando não rir.

- Mas vamos concordar que o Théo é uma graça. – Louise continuou, um sorriso malicioso em seu rosto. – Como será ele na cama?

Eu corei, surpresa com a pergunta de Louise. Eu sabia que ela gostava de provocar, mas isso era um pouco demais.

- Louise! – Eu exclamei, rindo apesar de mim mesma. - Você não tem jeito!

Louise apenas riu, claramente divertida com minha reação.

Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa, o som alto e insistente cortando nossa conversa. Eu peguei o telefone, vendo o nome de Théo na tela.

- Já estou descendo. – Eu disse, desligando o telefone antes de colocá-lo de volta na bolsa.

- Vá lá, Elisa. – Ela disse. – E lembre-se de se divertir!

Eu assenti me dirigindo para a porta.

***

Guilherme riu, claramente irritado.

- Eu achei que você estivesse aqui porque queria voltar comigo. – Guilherme se levantou da cama, afastando-se de mim. - Você diz que vai me explicar tudo, mas no fim você não explicou nada.

- Eu expliquei, disse que não podemos ficar juntos porque somos de classes sociais diferentes. – Eu respondi, minha voz tremendo um pouco.

Guilherme me olhou, uma expressão de incredulidade em seu rosto.

- Isso não faz sentido, Elisa, que porra de mundo você vive? – Ele perguntou, claramente frustrado.

- Meus pais nunca iriam aceitar você.

Houve um silêncio pesado no quarto depois que minhas palavras saíram. Guilherme me olhou, seus olhos cheios de uma mistura de surpresa e dor.

- Então é isso? – Ele perguntou, sua voz baixa. - Você está me rejeitando por causa dos seus pais?

Engoli em seco e assenti, as lágrimas começando a se formar em meus olhos. Eu sabia que estava machucando Guilherme, mas eu também não tinha outra escolha.

- Eu sinto muito, Gui. – Eu disse, minha voz quase um sussurro. - Eu realmente sinto.

Ele assentiu, um olhar de tristeza em seus olhos.

- Vai embora, por favor – pediu.

- Me desculpa...

- Vai embora – Gritou, me assustando

Sem dizer mais nada, eu me virei e saí do quarto. Eu podia ouvir o som de sua respiração pesada atrás de mim, mas eu não ousei olhar para trás.

***

- Então quer dizer que você sempre quis me convidar para sair, mas não tinha coragem? - Eu perguntei, um sorriso divertido em meu rosto.

Théo balançou a cabeça, claramente envergonhado.

- Você é a filha do chefe. – Ele riu, um sorriso tímido em seu rosto.

Eu ri, apreciando a honestidade de Théo.

- Mas também somos amigos, você trabalha há tantos anos para o meu pai, ainda quando era um adolescente.

- Sim, somos amigos. E eu sempre vou valorizar isso. - Ele engoliu em seco. - Mas, Elisa, eu praticamente cresci com você, presenciei tudo que você passou.

- Théo, não vamos entrar nesse assunto. - Eu disse, tentando desviar a conversa.

- Não, não é sobre isso que eu quero falar. O que eu quero dizer é que eu gosto de você, gostei desde a primeira vez que te vi.

- Théo... - Eu comecei, sem saber o que dizer.

Ele apenas sorriu para mim, um sorriso triste.

- Porém eu cheguei tarde, você estava se relacionando com aquele garoto da sua escola, e quando você terminou com ele, eu achei que tivesse chances, mas apareceu o Rafael fazendo toda aquela merda.

- Por favor... – Eu murmurei, sentindo uma dor aguda no peito.

- A questão é que você mudou, você se distanciou de mim, a gente age como se a nossa amizade de antes nunca existiu. - Théo continuou, suas palavras me atingindo como uma faca.

Fiquei em silêncio.

- Eu só queria uma chance com você.

- Não posso, o Rafael... - Me calei. - Melhor irmos embora. - Me levantei.

Théo assentiu, e se levantou seguindo-me para fora do restaurante.

- Peço desculpas se arruinei nosso encontro. - Ele falou. - Eu só queria que você entendesse o que sinto por você.

Eu parei, olhando para ele. Apesar de tudo, eu não podia deixar de sentir uma pontada de simpatia por Théo. Ele estava sendo honesto comigo.

- Você não precisa se desculpar, sou eu quem deve pedir desculpas a você.

- Está tudo bem, Elisa. - Théo se aproximou de mim, sua mão acariciando meus cabelos.

Fechei os olhos, apreciando seu toque. Havia muito tempo que não sentia o toque de um homem. Senti sua mão me puxar pela cintura, aproximando nossos corpos. Sua outra mão, que antes estava em meus cabelos, agora acariciava meu rosto. Abri os olhos, encontrando os dele. Havia uma intensidade em seu olhar que me fez prender a respiração. Ele estava tão perto que eu podia sentir seu hálito contra minha pele. Não queria me afastar, não queria sair do seu toque. Então permiti que seus lábios se aproximassem dos meus, que sua língua explorasse minha boca. Foi um beijo delicado. Envolvi meus braços ao redor do pescoço de Théo, intensificando o beijo. Ele correspondeu, suas mãos segurando minha cintura com firmeza. Nossos corpos estavam tão próximos que eu podia sentir o calor dele contra o meu.

Só paramos quando o ar nos faltou. Nos afastamos lentamente, nossas respirações ofegantes. Quando finalmente abri os olhos, encontrei Théo me olhando com um sorriso suave no rosto.

- Desculpa! - Dissemos juntos.

Rimos, o som preenchendo o espaço entre nós.

- Acho que o estacionamento não é o lugar mais adequado para isso.

- Você está certa. - Ele disse, sua voz suave.

Olhamos um para o outro como se tivéssemos compreendido o olhar um do outro.

- Vamos? – Théo perguntou, estendendo a mão para mim.

            
            

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