Capítulo 2 Cap 2

{Alice Spinoza}

Reprimo um bocejo, ouvindo dona Mirna falar sobre como o dia dela ontem foi cansativo, curso de costura, chá com as primas que vieram de Norchester, e ainda assim teve que ficar até mais tarde preparando os bolos que ela acabara de nos trazer.

-Obrigada Dona Mirna, já anotei aqui tudo que ficaremos, e aqui está o valor certinho. Tenha um ótimo dia!

Entro no café segurando as três caixas de bolos, empurrando a porta com minhas costas. Essa sou eu, fazendo tudo junto e ao mesmo tempo para dar conta da vida, e ainda assim não tenho dado ultimamente...

Coloco os bolos na vitrine do café, e volto ao balcão para seguir com os atendimentos, essa manhã está bem movimentada por aqui. Meu chefe Demian mau me deixa respirar e já me direciona para a cozinha com meia dúzia de novos pedidos.

Por um lado, eu adoro o movimento do café durante as manhãs, me fazem esquecer o caos que anda minha vida. Aluguel atrasado, meu cachorro companheiro de anos, tinha acabado de me deixar, sem comida na minha dispensa... Minha sorte foi que Demian tem um conhecido, que o comentou de uma vaga em um Pub na cidade, nem pensei duas vezes antes de aceitar, mesmo que isso me faça trabalhar 24 horas por dia, é necessário, começo hoje, saio do café as quatro da tarde, vou em casa, tomo um banho e pego o metrô das cinco, preciso mentalizar isso, e não me atrasar no primeiro dia.

As coisas andam difíceis aqui em Londres, cada dia o custo de vida está maior, e a falta de emprego também, e é por isso que eu tranquei minha faculdade para arrumar um segundo emprego e poder juntar um pouco de grana, para então voltar a estudar mais à frente.

Uma bela merda. Detesto quando tenho que quebrar minhas expectativas. Trabalho na frente dos estudos, meu querido pai, que Deus o tenha, teria muito orgulho meu neste momento, só que não... Lamentável Alice...

Olho rapidamente meu celular e vejo mensagem de Diana, minha melhor amiga aqui em Londres, a conheci na universidade e desde então não nos largamos mais, ela está fora de si desde que falei que havia trancado minha faculdade. Inconformada é a palavra eu diria, ou talvez emputecida mesmo, seja lá qual for o nome dado, ela tem grana, não precisa trabalhar, pode apenas estudar, e isso é de longe algo próximo da minha realidade.

"Você vai mesmo cometer essa insanidade Alice?"

"Já parou para pensar, que você começa no café as sete da manhã, e que sairá do PUB sabe-se lá Deus que horas da madrugada?"

"Você vai dormir quantas horas por noite Alice?"

Senti muito por ter largado a faculdade, com toda certeza meu pai estaria muito triste, mas a vida é assim, muitas vezes precisamos dar um passo atrás, para então poder dar dois à frente. E eu tenho certeza que um dia ainda irei me formar e ser uma baita advogada do caralho, que todos irão ouvir meu nome nesta cidade, quiçá no mundo. Por hora, apenas ignoro as mensagens de Diana, e volto meu foco ao trabalho, tenho muitos pedidos para entregar e a vida não para.

Ouço o relógio da Cateral badalar quatro vezes, meu turno no café acaba de terminar, retiro meu avental, me despeço de Demian e sigo a caminho do meu apartamento voando como uma flecha.

Minha sorte é que o café é bem próximo da minha casa, três quarteirões caminhando apenas, e isso me facilita muito tenho que confessar, que mesmo o meu apê sendo um cubículo no centro de Londres, neste momento eu não o trocaria por nada, por isso, foco Alice, bora trabalhar, por o aluguel em dia e correr atrás da máquina.