O salário era tão bom, e eu inha gostado tanto do lugar, de Eric, de tudo de forma geral, aquele empego ia me tirar da forca que me encontro, por o aluguel em dia, e me fazer respirar novamente.
Não gosto nem de pensar, em ter que deixar meu apê no centro e ter que voltar pra lá...
Demian me disperta de meus pensamentos:
-Vamos Alice, hoje você está andando de ré menina, bora, leve estes dois pedidos, mesa sete e mesa treze.
-Sim Demian, pra já!
Preciso focar nisto aqui, se eu perder este emprego também, nem quero pensar o que será de mim. Bora Alice, foco.
Servi todas as mesas, conseguindo por fim, atender a todos e manter minha cabeça no lugar, longe do PUB, de Augusto Cipriatti, do fiasco que eu dei, do olhar dele, e principalmente do choque que consigo sentir até agora, que ele me deu ao encostar no meu braço. Coloque minha mão no exato lugar que ele me segurou, ao me sentar na cadeira em frente a Diana.
-Alice, eu sei que você não está bem, e já falei várias vezes que irei te ajudar no que eu puder, agora minha amiga, termine seu turno aqui, vá para sua casa descansar porque você está um caco. Eu falei que isso não daria certo, quantas horas você dormiu?
-Talvez umas quatro? – Menti, pois não consegui pregar o olho, especialmente depois do que aconteceu quando eu saí do PUB.
-Faltam trinta minutos para o seu expediente terminar, vou te esperar aqui e vamos juntas para sua casa ok? De lá eu vou para a faculdade, lugar este no qual você não deveria ter saído.
Diana, não faz ideia da minha real situação financeira, não gosto de favores, e eu jamais aceitaria dinheiro de alguém. Isso me fez lembar aquele homem escroto novamente...
Sr. Luis me chamou em sua sala, me pagou pelo dia de ontem, ele foi muito cordial inclusive, eu no lugar dele talvez não tivesse tanta paciência como ele teve comigo.
Já devia ser umas duas da manhã, segui caminhando para meu apartamento que ficava há algumas quadras do PUB.eu jamais gastaria dinheiro chamando um taxi, não posso me ar esse luxo.
Inclusive eu ter aceitado o emprego, já era considerando a distância e que eu poderia fazer tudo caminhando na maior parte das vezes. Pegaria o metrô apenas se tivesse chovendo ou muito atrasada.
Mas como não deu certo, eu teria que procurar outra coisa de toda forma.
Estava perdida em pensamentos, quando um carro preto, muito requintado veio encostando ao meu lado na calçada. O vidro do motorista baixou e atrás dele estava aquele homem asqueroso, com aquele mesmo sorriso estampado no rosto.
-Meninas como você, não deveriam andar sozinhas pelas ruas de Londres a essas horas, pode ser perigoso.
Fiquei uns instantes sem reagir, eu queria gritar, correr, mas meu corpo ficou sem reação. Parei igual uma estátua. Uma estátua idiota inclusive.
O carro parou alguns passos à frente e ele saiu de traz do volante para a rua, se colocando bem na minha frente. Eu não tinha reparado dentro do PUB como ele era um homem alto, e assustador.
Minhas pernas falharam por alguns segundos, e eu consegui apenas dizer.
-Com licença, preciso ir.
-Eu levo você, venha. – Ele me estendeu a mão, e aquele sorriso não saia do canto da sua boca.
Meu estomago embrulhou, eu senti minhas mãos geladas. E internamente pedi para Deus me ajudar.
-Agradeço, mas não preciso. Boa noite.
Quando virei, senti ele segurando meu braço de uma forma que eu não gostei nem um pouco.
-Me solta, ou eu vou gritar... – Ameacei falar, quando ouvi um outro carro em velocidade se aproximar.
-É dinheiro que você quer? Eu poss...
-Reno - Uma voz grave o impediu de continuar a falar - Achamos que você já tinha ido embora como nos comentou. – Dominic, falou logo após baixar o vidro. Consegui ver Marco ao seu lado pela janela, e por um segundo eu respirei novamente.
-Dominic, meu caro, sim estava indo a caminho do hotel, mas avistei essa mocinha caminhando sozinha, e nós sabemos que isso não é uma coisa boa, quando estamos de madrugada, numa rua deserta, estava me oferecendo a levá-la em casa. – Ele me fitou, me pedindo uma confirmação, mas antes mesmo de eu poder responder, os dois já estavam fora do carro ao meu lado.
-Não mude seu caminho por isso Reno, ela é nossa funcionária, levaremos ela. Agora por favor – Dominic, apontou para o homem identificado como Reno voltar para seu carro.
Ele assentiu com a cabeça, sem tirar aqueles olhos e cima de mim, e voltou para seu carro, que partiu rua acima em alta velocidade.
-O-obrigada. Consegui dizer.
-Não agradeça, vamos levar você para casa. Venha!
-Não precisa, moro perto e vou caminhando mesmo, mas obrigada mais uma vez.
-Não vamos machucar você, tudo bem? Eu sei que o Reno deve ter assustado você, ele é um imbecil de marca maior, mas não podemos deixar você sozinha, afinal de contas você é nossa funcionária, certo?
-Bom, eu era, fui demitida hoje, mas isso não importa mais.
-Demitida? Luis, te demitiu? – O outro homem de óculos chamado Marco, enfim falou em tom surpreso.
-Sim, mas está tudo certo mesmo. Obrigada mais uma vez, agora eu realmente preciso ir.
-Vamos menina, entre, a deixaremos em casa em segurança. – Dominic, com seu sorriso largo, abriu a porte de traz do seu carro monumental, e então eu entrei.
Se eu deveria entrar? Não sei. Mas de alguma forma, eu gostei deles, antes mesmo de os conhecer, ou melhor, antes mesmo de saber quem eles realmente eram.
Como prometido eles me deixaram em casa, alguns minutos depois. Marco seguiu sentado no banco do carona em completo silêncio. O carro parou diante do meu prédio, Dominc, saiu e abriu porta para mim como um verdadeiro cavalheiro.
-Não liga pra ele, ele é assim mesmo tá, nada com você.
-Certo, tudo bem, e mais uma vez obrigada.
-Me chamo Dominic, mas pode me chamar de Dom. E você, qual seu nome?
-Alice.
-Certo Alice, foi um prazer.
Assenti, e entrei porta a dentro subindo as escadas o mais rápido que consegui. Quando eu já estava no segundo lance ouvi o ronco do motor do carro deles se afastar e consegui então respirar aliviada.
Por que essas coisas acontecem só comigo Deus?
Me joguei na cama vestida como estava, deixando meu corpo então relaxar, mas o sono não veio, minha carne tremia, minha cabeça repensou naquela noite durante as poucas horas que me restaram, e quando o despertador tocou as seis da manhã, me obriguei a me enfiar debaixo do chuveiro e me recompor.