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O detetive Santiago observava Jennie falar animadamente dentro do carro depois que conseguiram fugir do hospital pelos fundos. Na verdade, ela estava se gabando para todos os seus amigos de que iria passar férias em Malibu.
Ele estava ao seu lado, com os ouvidos já doloridos pela gritaria dela. De vez em quando, trocava olhares com o motorista do carro do senhor Joseph, que fora mandado para buscá-la.
- Não, amiga, se eu conhecer algum homem famoso, pode deixar que apresento a você depois. - Ria alto. - Isso, pode deixar que mostro aquela sua foto de biquíni no Instagram. Ele vai babar, tenho certeza. - Dava mais uma gargalhada. - Se me convidarem para alguma festa no iate, eu pergunto se você pode ir. Depois te conto as novidades. Beijos! - Desligava, suspirando de animação.
- Você não acha que deve tomar cuidado com quem avisa para onde vai? - perguntou Samuel.
- São só minhas amigas. - tranquilizou-o. - Lídia é desastrada demais para ser de alguma Máfia.
- Você ligou para umas oito amigas até agora. - Fez uma observação, descrente.
- Elas sempre se gabam quando vão ficar em algum lugar bonito. - Jennie parecia indignada. - Finalmente chegou a minha vez. A humilhada aqui... - Passou sua mão pelo pescoço. - Foi exaltada. - Levantou as duas sobrancelhas, com uma expressão de satisfação.
- Não esqueça que você agora é uma testemunha de uma investigação. - alertou.
- E sua mulher. - disse Jennie.
- O quê? - Seu olhar desviou novamente para ela, dessa vez, com agilidade e espanto.
- Sou sua mulher por enquanto, esqueceu? - Ela riu do seu pequeno susto. - Mas é só um disfarce, então basta me tratar bem. Pode me dar alguns mimos também, se quiser. Flores, por exemplo... Eu amo rosas vermelhas, são a minha cara. Bom, acho que você notou depois que viu minha calcinha.
O detetive ficou um pouco abalado com isso, especialmente com o olhar do motorista para ele. Samuel precisou pigarrear para se recompor.
- Foi sua lingerie, e você não estava vestida. - Essa frase bastou para ele imaginá-la vestida, mas tratou de reprimir esses pensamentos impróprios para o momento. - Vou lembrar de levar flores quando for visitar você.
- Eu só estava brincando, não precisa fazer isso. - avisou, encarando-o com surpresa.
- Tudo bem, eu gostava de levar presentes para a minha ex-noiva - revelou. - Ela era muito envergonhada e introvertida, mas sempre sorria quando eu lhe dava algum presente. Sinto falta disso.
- Não deu certo? - questionou Jennie.
- Ela foi embora - contou. - E sim, as coisas não estavam dando certo. Parecia infeliz por eu não conseguir ficar com ela todas as noites, graças ao meu trabalho.
- Só por causa disso? - indagou. - Eu não me importaria de dormir sozinha algumas noites, até prefiro. Dá para ver que você é muito comprometido com seu trabalho; ela deveria se orgulhar de você.
- Obrigado, eu amo meu trabalho. - Seus olhos voltaram a brilhar. - Não tenho medo de confessar isso. Era o meu sonho, e sonhos são importantes para quem gosta de sonhar e realizá-los.
- Concordo. - A mulher se identificou com essa última frase, o que a fez gostar um pouco mais dele, apesar de sua aparência séria com aquelas roupas escuras e poucas expressões.
Com a claridade que vinha da janela do carro, era possível ver que a pele dele era clara, com um leve bronzeado. Seus cabelos negros, embora volumosos, estavam bem arrumados e alinhados. Brilhavam e pareciam sedosos à distância.
A boca de Samuel era reta e sem muita cor, mas seu formato era bonito e delicado. Suas sobrancelhas, um pouco grossas, davam aos seus olhos verde-escuros um toque encantador.
Jennie sorriu ao pensar que ser detetive combina perfeitamente com ele.
- Vamos primeiro à delegacia, está bem? - perguntou. - Depois passamos na sua casa para pegar suas coisas. Não precisa de muito. Quando quiser algo, é só me pedir que eu levo até onde você estiver.
- Por que tanta gentileza? - Ela desconfiava.
- Você ajudou meu pai e ficou no meio de um tiroteio por ele - respondeu Samuel. - Sou grato e devo isso a você. - Ele a olhava com gratidão, e sua voz transmitia profundo respeito por ela.
- Já está fazendo muito por mim. - Jennie se sentia cada vez mais confortável perto dele.
Os dois começaram a conversar sobre como Christine poderia informar os detalhes, para que ela não ficasse muito nervosa ao dar o depoimento. Não demorou muito para que estivessem de volta à estrada; agora era hora de pegar suas coisas.
A mulher desceu do carro e correu até seu apartamento, que era simples, mas bem arrumado e decorado por ela. A porta estava destrancada e, quando a abriu, deparou-se com o caos. Tudo estava fora do lugar, suas coisas estavam jogadas por todo lado e muitas delas estavam quebradas.
Aquele atirador desconhecido esteve em seu apartamento? Teve certeza que sim quando viu sua TV ligada em um fundo branco. Lá havia uma ameaça escrita em letras maiúsculas: "VOCÊ VAI MORRER, VADIA!"
Como descobriram quem ela era tão rápido? Jennie deu alguns passos lentos para trás e, ao se virar para correr de volta para fora, gritou ao se deparar com Samuel, em um dos corredores, procurando por ela.
- Obrigada pelo susto, acabei de perder anos da minha vida. - Ela sentia que seu coração não iria aguentar muito mais tempo.
- O que aconteceu? - questionou. - Tive a sensação que havia alguma coisa errada.
- E tem mesmo. - confirmou. - É melhor você ver com seus próprios olhos.
Sem se preocupar com formalidades, Jennie agarrou a mão do detetive e o puxou para dentro com ela.
- Que bagunça... - Passeava pelo lugar, espantado.
- E não é minha. - Apontou para a TV manchada.
- É melhor você pegar apenas seus documentos. Vou precisar dar uma olhada aqui depois - disse Samuel, preocupado. - Você comprou coisas novas, pode usá-las por enquanto.
- Eu preciso de um banho primeiro - avisou. - O dia foi cansativo.
- Tenta ser rápida. - pediu. - Vou ficar vigiando.
Jennie assentiu e correu para o banheiro, tirando o vestido que já estava cheirando a suor. Ficou de frente para o espelho, apenas de calcinha, e começou a prender seus cabelos, recentemente cuidados, em um coque.
Mesmo que sua franja tenha ficado um pouco solta, não se importava, pois queria sair logo daquele apartamento depois do que viu.
A Christine entrou na banheira e, quando estava prestes a ligar o chuveiro, o detetive Samuel abriu a cortina.
- O que é isso? - perguntou, cobrindo os seios com os braços.
Samuel não respondeu, apenas entrou junto com ela, fechou a cortina escura e a pressionou contra a parede. O detetive colocou o dedo indicador sobre a boca de Jennie e sussurrou "silêncio" com a dele.
O desconhecido ainda estava no mesmo andar que eles e adentrou novamente o apartamento depois de ver a porta aberta.
O corpo dela estava ficando amolecido; não sabia se era por causa do medo ou do calor que fluía de Samuel. A respiração dele estava pesada, muito perto do seu rosto. Aquilo fazia com que ela quisesse simplesmente fechar os olhos e beijá-lo.
...