Capítulo 8 O desejo De Sentir O Gosto Dela

Já era noite e Jennie esperava pacientemente pelo detetive para o jantar prometido. Ela não lembrava que havia cancelado, então ele, de fato, não apareceria.

Sentada sozinha em uma das cadeiras da mesa, Jennie sorvia um copo de água. Estava impecavelmente vestida com um deslumbrante vestido de cetim dourado.

- Que grande desperdício de tempo - murmurou, irritada pela falta de consideração dele ao não avisá-la.

Após aceitar a proposta do doutor Bruce, ele lhe deu seu número de telefone para emergências ou caso quisesse sair daquela casa.

Jennie sabia que agora precisava ser paciente com Samuel, fazê-lo rir e ser carinhosa com ele. Depois de tantas decepções, essa não seria uma tarefa fácil.

Ela se levantou e caminhou até a janela mais próxima, na esperança de ver Zack fazendo sua ronda lá fora. No entanto, tudo estava vazio e silencioso.

- O policial deve comer na cozinha - disse Thalia, enquanto organizava a mesa de jantar. - Mas, se preferir, posso chamá-lo para jantar aqui com a senhorita.

- Você leu meus pensamentos. - murmurou a Christine. - Gosto da companhia dele.

- É perceptível. - Contraiu seus lábios para que não risse.

- E, por favor, me chamar de "senhorita" é muito estranho, já que temos quase a mesma idade - declarou Jennie.

- Não temos. - retrucou a outra mulher. - Tenho vinte e nove, sou mais velha do que você.

- Estamos na mesma dezena, pare com isso. - mandou. - Pode me chamar de você, Jennie, Christine, ou até me dar um apelido carinhoso.

- Gosto de Chris.

- E eu de Lia. - Foi ajudá-la a colocar os talheres no lugar.

- Combinado, me sinto mais próxima dessa forma. - Assim que terminou, se pôs ao seu lado. - Vou convidar o agente.

A mulher assentiu, um pouco nervosa. Voltou a se sentar e apressou-se para cruzar as pernas, deixando as coxas à mostra.

- O detetive deixou você na mão, por isso me chamou? - Zack entrou na sala de repente, lançando a pergunta. Ele se sentou a algumas cadeiras de distância de Jennie.

- Não, eu prefiro você aqui. - Comia uma das uvas.

- Parece que você está querendo levar esse relacionamento falso a sério - disse Zack. - Estava até planejando jantar com ele, e bem vestida.

- Estou começando a achar que isso te incomoda - rebateu ela. - Pode me contar se estiver com inveja - sussurrou para o agente.

- Você é adulta, deveria saber o que faz com a própria vida. - Saía da mesa. - Mas por favor, não atrapalhe ainda mais a minha.

- Zack, espere - pediu, indo atrás dele. - Não foi ideia minha que você viesse para cá, embora eu me sinta bem com você por perto - disse, falando para as costas dele. - Fique para o jantar, por favor. Quero agradecer por tudo o que fez e pedir que seja meu amigo.

- Está bem - cedia aos seus encantos de maneira inconsciente.

Ao voltarem, descobriram que o jantar seria torta. Jennie não ficou muito satisfeita, mas Zack adorou. A torta o lembrava de alguém especial, alguém importante e que ele deveria ter em mente sempre que conversasse com a Christine.

- Você não está se sentindo bem aqui? - perguntou ela, observando-o atentamente.

- Isso atrapalhou bastante minha vida pessoal - explicou. - Sou um policial e não um segurança.

- Samuel achou que você era o único confiável e capaz. - Jennie contou. - Pode ir embora amanhã se quiser.

- Obrigado - agradeceu, feliz por ela entender o que estava sentindo e por querer voltar ao seu emprego normal.

- Comemore um pouco antes de ir, beba pelo menos uma taça de vinho comigo. - pediu, despejando a bebida dentro de uma delas.

Zack aceitou e brindou com ela, percebendo que não era uma mulher tão louca como pensara que fosse e não era culpada por ele estar aqui ou dos problemas dele.

- Achou que eu seria uma bruxa e não o dispensaria desse trabalho aleatório que Samuel te deu? - indagou, após o brinde.

- Bruxa, não. - Tomou um gole de vinho. - Percebi seus olhares. - Acariciou a barba dele. - Imagino o quanto gostou da ideia de ficarmos sozinhos nesta casa...

Jennie estava pronta para virar esse jogo.

- Eu? - perguntou. - Você está jogando a culpa toda em mim, sendo que está claro que foi você quem gostou dessa ideia.

- Talvez eu seja um pouco culpado também. - admitiu.

- É disso que eu gosto, confissões. - Ela se levantou para pegar mais uma fruta. Quando Jennie fez isso, ficou claro que o policial também sentia atração por ela. Suas pupilas brilharam ao ver a morena deitar-se contra a mesa e empinar a bunda.

- Reconheço - corrigiu, bebendo outra vez e desviando o olhar. Precisava fazer isso porque ela era mesmo o seu tipo, mas não poderia trair a outra mulher que tanto lhe dava apoio.

Mas estava difícil controlar os próprios pensamentos. Jennie sempre dava um jeito de surgir neles e isso era errado.

Zack pretendia fugir, ir para bem longe, mas quando se levantou, Christine imitou o movimento, aproximando-se dele a passos lentos.

- É melhor se decidir logo, pretendo falar com Samuel amanhã - avisou ela, arrumando o colarinho da farda do loiro.

Os olhos dos dois encontravam um ao outro, e Zack segurou seu pulso segundos antes que ela soltasse sua roupa. Os lábios dele acharam a pele de Jennie, e no mesmo momento que tocaram-na, a mulher soltou um suspiro alto.

Isso foi o bastante para provocar o policial, que agarrou sua cintura, e fez o corpo dela ficar entre a mesa e o dele.

Percebendo o que fez, e que estava prestes a tocar o rosto delicado daquela mulher, afastou-se abruptamente.

- É assim? - Jennie sentou na mesa, cruzando as pernas. - Vai me provocar desse jeito e não vai terminar o serviço?

- Não posso. - retrucou o agente.

- Parece que algo impede você. - Colocou dois dedos no copo e mexeu. - Quando tiver certeza, me procure. - Ela enfiou os dedos na boca, sugando o vinho que havia ficado ali.

Zack por um segundo cogitou voltar e finalizar o que começou, mas não deixaria essa atração passar por cima dos seus princípios.

Tudo o que fez foi mandar um olhar seco para Jennie antes de ir embora da sala de jantar.

A Christine estava satisfeita, agora sabia que ele também a queria. Assim, subiu para colocar uma roupa íntima mais confortável.

Sabendo que não conseguiria dormir, voltou para pegar mais vinho na cozinha. Não viu Thalia em lugar algum, então supôs que ela já tivesse ido embora para casa.

Jennie ficou bebendo sozinha na cozinha, sentindo-se solitária. Odiava como o sobrenome Zachary não saía da sua cabeça.

Nessa mesma amargura, estava o agente. Dava voltas pelo quarteirão da casa e mesmo que não quisesse, a imagem daquela mulher chupando seus próprios dedos sempre se formava na sua cabeça.

A sua maior vontade era ter se rendido e voltado para tirar aquele vestido. Zack queria abrir as pernas de Jennie, afastar a calcinha dela para o lado e sentir seu gosto, fazê-la gemer a noite toda, murmurando coisas obscenas para ele.

Perguntava-se quando começou a sentir isso. Foi rápido demais, de repente já queria ter Jennie em seus braços. Mas continuaria firme, não terminaria um namoro de seis anos por causa dela.

O policial Zachary estava passando pela janela quando viu a Christine sentada na sacada com uma taça de vinho e uma expressão triste no rosto. Embora não quisesse conversar, sua preocupação falou mais alto.

- Por que toda essa tristeza?

- Onde posso encontrar um homem romântico? - Sua voz já estava embargada por causa do álcool.

- Para com esse drama caricato e vai dormir. - ordenou.

- Vem aqui me colocar na cama. - Insinuou, dando muitas gargalhadas em seguida. Isso não era flerte, e sim como uma piada para ela agora.

- E ainda está bêbada...

- Encontrei conforto no álcool. - Balançou a taça, quase deixando-a cair na piscina junto com Jennie. - Opa! - Gargalhou novamente. - Que danadinha.

- Não brinca dessa forma - pediu o agente.

- Você se preocupa comigo? - Indagou ela.

- Estou sendo pago para isso - respondeu.

- Acho que gosta de mim - Piscou para o loiro.

- Nem ao menos conheço você direito - retrucou, sentando-se em uma das cadeiras de lazer. Zack estava cansado devido à quantidade de sangue que perdera pelo ferimento no braço.

Por um momento, fechou os olhos, ouvindo os sons ao redor. Sentiu apenas o vento até escutar o barulho da água, bem próximo. Ao abrir os olhos, viu Jennie observando-o do canto da piscina, com o queixo apoiado nos antebraços cruzados. Ela parecia uma linda sereia.

- Você estava tão gostoso. - murmurou, pensando na maneira como estava debruçado na cadeira com as pernas entreabertas em sua direção e tudo o que ela queria fazer era sentar em seu colo.

- O que está fazendo aí? - questionou, irritado. - Não deve sair da casa.

- O detetive disse que eu não posso, mas ele não está aqui. - disse Jennie. - Só você e eu. - Ela estava nadando para o meio da piscina.

Zack começou a achar que estava sonhando porque a camisola dela estava completamente transparente. Mostrava perfeitamente o formato dos seus seios e os bicos empinados.

- Volta para dentro, Jennie. - mandou.

- Disse o meu nome, finalmente - brincou. - Fica de olho em mim - pediu, nadando de costas para molhar o cabelo, flutuando no mesmo lugar. - Sinto que posso desmaiar a qualquer momento por causa da bebida. Misturei algumas coisinhas - riu, fechando os olhos ao sentir paz naquele momento.

- Por que você é assim? - Desviou os olhos para as estátuas, assim não ficaria a admirando.

- Assim como? gostosa? - gargalhou.

- Exagerada. - corrigiu, falando isso baixo.

Sem resposta por um bom tempo, Zack voltou seu olhar azul escuro para a piscina. Jennie estava submersa, imóvel, o que o deixou preocupado.

O agente Zachary levantou da cadeira e foi até a beira da piscina, agachando-se para enxergar melhor. Seu coração disparou ao considerar a possibilidade de que ela realmente tivesse desmaiado.

Seguindo seu instinto, ele entrou na água para salvá-la. Mergulhou os braços, agarrou o corpo de Christine e a puxou para cima.

Meio zonza, Jennie abriu os olhos lentamente e segurou os ombros do agente para manter-se firme.

- É exagero. - Ela enfatizou. - Estava dando um mergulho.

- E não conseguia voltar. - Passava o braço por sua cintura, sabendo o que aconteceu.

- Meu corpo estava pesado, eu só queria dormir. - A voz dela ficava cada vez mais embargada.

- Imagine se eu não estivesse aqui. - murmurou o policial.

- Eu só desci por sua causa. - A mulher mantinha uma entonação sonolenta ao falar. - Obrigada por cuidar de mim. Pode continuar cuidando? Eu estou um pouco fraca...

- Posso, se você se comportar. - impôs.

- Antes de prometer, preciso fazer uma coisa. - disse Jennie.

- E o que é?

A Christine avançou seus lábios em direção aos de Zack, surpreendendo-o ao senti-los. Ele não sabia se seu coração estava acelerado por tê-la puxado da água e toda a preocupação envolvida, ou pelo beijo repentino.

Pela primeira vez, ele não sabia o que fazer. Ela conseguia tirar toda a sua calma e concentração, características que ele tinha desde criança.

Foi tão intenso para Jennie que, no mesmo instante que se separaram, ela desmaiou nos braços do agente.

...

                         

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