Capítulo 6 Verdadeiro Paraíso

Jennie precisou contrair os lábios e focar-se no perigo que corria. As coisas tornavam-se cada vez piores para ela desde que entrou naquele apartamento.

O possível atirador de mais cedo agora estava em seu banheiro, e ela agradecia a Samuel em pensamento por ter pego seus sapatos do chão e o vestido de cima da cadeira e trazido junto com ele.

Se o detetive não tivesse sido esperto o suficiente para avisá-la, provavelmente ela já teria sido descoberta e morta. Ele estava esperando o momento certo para tentar pegá-lo, por isso acompanhava a sombra do homem pelo canto do olho.

Assim que o desconhecido saiu do banheiro, pensando que não havia ninguém, Samuel foi atrás, tentando não fazer nenhum tipo de ruído que chamasse a atenção.

O Santiago viu a oportunidade perfeita quando notou a pessoa entrando na cozinha, de costas para ele. O criminoso estava à sua frente, segurando uma faca nas mãos, usando luvas e uma máscara preta.

Não poderia ser o mesmo. O policial Zachary havia informado que conseguiu acertar o atirador no ombro, e este não parecia ferido.

Aproveitando a distração do malfeitor, ele o agarrou pelo pescoço e levantou sua mão, apertando-a com tanta força que a faca caiu no chão instantaneamente.

- Esta é a hora em que você me diz quem te mandou. Pode pegar alguns anos de prisão ou eu continuo apertando seu pescoço até desmaiar e faço dizer a força na delegacia. - propôs, com raiva estampada na voz.

O criminoso, no entanto, optou por uma terceira alternativa: se livrar de Samuel e lutar até conseguir escapar. E foi o que fez. Assim que encontrou uma brecha, fugiu correndo. Santiago tentou persegui-lo, mas o perdeu de vista ao chegar à rua.

- Maldito... - murmurou, indignado. O que devia fazer agora era voltar para ajudar Jennie a sair daquele prédio o mais rápido possível.

Samuel correu de volta até seu apartamento e procurou um roupão para dar a ela. Entrou no banheiro e, dessa vez, não abriu a cortina.

- Jennie, sou eu. Ele escapou - avisou. - Vista isso agora, precisamos ir imediatamente. - Colocou apenas a mão com a roupa dentro do banheiro. - E me perdoe por invadir sua privacidade, foi a única solução que consegui pensar. Em nenhum momento eu olhei...

- Olhou para onde? - Ela estava na porta do banheiro, vestida em um longo vestido rosa-fúcsia, com um tecido que brilhava ao sol, próprio para a praia.

- O seu corpo... - murmurou, analisando-a de cima a baixo. Aquela cor lhe caía bem, realçando sua pele bronzeada e reluzente.

- Você salvou minha vida - disse Jennie. - E ainda teve a sorte de ver minha calcinha pela segunda vez hoje. Acho que é uma forma interessante de agradecimento.

- Definitivamente não - negou, mesmo se segurando para dizer que queria uma terceira vez. - As coisas não são assim pra mim.

- Pode me dizer como prefere? - Jennie ficava curiosa.

- O romantismo me agrada em um nível maior. - contou para ela.

- Você é antiquado, certo? - disse ela, com uma expressão de desgosto. - Tudo que é antigo precisa evoluir; estamos em 2024. - Estalou os dedos, soltando os cabelos do coque enquanto se olhava em um pequeno espelho.

- Está pronta? Temos que ir! - exclamou ele, percebendo que, se não chamasse, ela provavelmente ficaria lá o dia todo.

- Estou, consegui tomar banho em paz depois que você saiu correndo atrás da pessoa que queria me matar a facadas. - Jennie falava isso como se não fosse nada.

- Imaginei que a encontraria chorando.

- Não é novidade alguém me perseguir para tentar me derrubar - disse ela, amassando as pontas do próprio cabelo. - Mas eu sempre dou um jeito de me proteger e levanto, seguindo firme e plena. - Aplicava gloss enquanto falava.

- Vamos! - disse ele, pegando seu braço, interrompendo suas poses e sorrisos para o espelho. - Antes que aquele desconhecido volte e consiga fazer o trabalho. - E a arrastou consigo.

- Seja mais paciente, por favor! - pediu. - Eu tenho verbomania, sabe? Falo demais às vezes. Fui diagnosticada na adolescência porque não parava de conversar na sala de aula. Não foi fácil, os professores queriam me exorcizar!

- Pode conversar à vontade, desde que faça o que eu digo para sair ilesa dessa situação. - Ele passava pela abertura da porta de vidro do apartamento, antes dando uma olhada em volta para averiguar se não havia mais ninguém suspeito.

- Então, podemos conversar pra valer? - perguntou, correndo atrás dele de chinelos. Precisou levantar um pouco o vestido com uma das mãos para conseguir correr mais depressa.

- Podemos, sobre o que quiser. - afirmou. - Mas entra no carro primeiro. - Colocava a mão nas costas dela, ajudando Jennie a entrar antes dele. - Você pegou seus documentos?

- Estão todos aqui na minha bolsa. - Levantou o que na verdade era uma carteira que se camuflava como tal.

- Passaporte?

- Eu vou precisar de passaporte? - perguntou ela, enquanto ele levantava a sobrancelha. - Brincadeira, está aqui! - Tirou o documento com capa azul da carteira. - Queria ver a sua reação.

- Não é hora para brincadeiras, senhorita Jennie Christine. - Sentava-se ao seu lado novamente.

- Pode me chamar de Jennie, igual você fez lá em cima - apontou para seu apartamento com o dedo indicador. - Soou como se já nos conhecêssemos há anos.

- É melhor se despedir do seu apartamento, Jennie. - Realmente parou de chamá-la formalmente.

- Adeus! Iria sentir sua falta se eu não estivesse indo para Malibu. - Deu um pequeno aceno.

Samuel não resistiu às loucuras dela e acabou soltando uma risada baixa.

- Você é sincera de um jeito terrível. - disse ele. - Conseguiria ser mais discreta?

- Não, eu tenho essa dificuldade. - respondeu. - Gosto de brilhar como uma árvore de Natal toda enfeitada.

- Temos mais um problema. - destacou. - Vão achar você mais rápido.

- Vou estar longe - retrucou. - E se isso não for suficiente, tenho certeza de que você pode me ensinar a ser um pouquinho mais discreta. Só, por favor... não tão exagerado como você.

- Eu sou exageradamente discreto? - perguntou.

- É pior que o Batman. - respondeu Jennie. - Nem com um rastreador potente conseguiriam te achar.

- Fez uma avaliação sobre mim durante esse pouco tempo que interagimos? - indagou.

- interagi praticamente sozinha, vamos combinar. - disse ela. - Você só abriu a boca para me dizer o que fazer em relação ao depoimento.

- Devemos nos conhecer melhor - declarou Samuel, sentindo a vontade de convidá-la para sair, achando sua personalidade encantadora. - Que tal um jantar hoje à noite?

- O quê? - Isso pegou Jennie de surpresa.

- Foi o que ouviu. - confirmou. - Pode ser até mesmo em Malibu, eu cozinho para você e ofereço um bom vinho.

Não era o que Jennie esperava; normalmente, ela se sentiria feliz com um convite para um encontro. Mas, no momento, não era Samuel que a interessava. Seu coração estava voltado para Zack, o agente.

- Samuel, nós vamos fingir ter uma relação. - retrucou ela. - Não leve tão a sério.

- Eu que peço para não levar muito a sério. - murmurou. - Não vai acontecer nada além de uma boa conversa, eu garanto.

- Está querendo me provar que não é tão discreto e que sabe conversar, é isso? - refletiu.

- Aposto como eu arranco boas gargalhadas de você. - Levantava as sobrancelhas grossas e bem desenhadas.

- Fechado. - Ela se sentiu mais aliviada; era melhor que Samuel fosse apenas seu amigo.

Os dois conversaram tanto que os trinta minutos de onde Jennie morava até Malibu pareceram apenas cinco.

Assim que viu as imensas casas bonitas, a Christine ficou deslumbrada e ansiosa para conhecer tudo. O detetive Santiago apenas observava suas expressões, achando divertido.

Samuel desceu do carro primeiro e a ajudou a sair, segurando sua mão, enquanto o motorista pegava as compras do porta-malas.

Jennie sentiu-se em um verdadeiro paraíso assim que firmou os pés no chão.

...

            
            

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