Coroa e Sangue: Um romance Real
img img Coroa e Sangue: Um romance Real img Capítulo 4 capitulo 04
4
Capítulo 10 Não consigo entender img
Capítulo 11 Quero me aproximar. img
Capítulo 12 Ferida img
Capítulo 13 Por favor, acorde. img
Capítulo 14 Eu sei que é você. img
Capítulo 15 Ciúmes img
Capítulo 16 Mal entendido img
Capítulo 17 Fuga rápida img
Capítulo 18 Admitir img
Capítulo 19 Momento de se próximas img
Capítulo 20 Provocação img
Capítulo 21 Amor img
Capítulo 22 Protegendo img
Capítulo 23 Rei...demônio img
Capítulo 24 Casamento img
img
  /  1
img

Capítulo 4 capitulo 04

Os dias após o ataque foram envoltos em uma dor esmagadora e um silêncio que parecia crescer a cada momento. O castelo de Mytra, antes vibrante com o som de risadas, passos apressados e conversas animadas nos corredores, havia se tornado um lugar sombrio, um monumento de cinzas e perdas.

Os corpos dos mortos foram recolhidos do pátio e dos salões, suas armaduras e roupas ainda manchadas de sangue. Entre eles estavam o rei Alden e a rainha Isolde, figuras que haviam sido não apenas líderes, mas pilares de segurança e amor para Theron. Mais devastador ainda, os pais de Ajax, que por anos haviam servido lealmente à coroa, também estavam entre os caídos.

O funeral foi realizado sob o céu cinzento, com o vento frio passando pelas ruínas. Alden Akoni, que até então era apenas Theron, ficou em pé ao lado do melhor amigo, Ajax, ambos vestidos de preto, com os rostos marcados pelo luto. Ajax, que sempre carregava um sorriso fácil e um brilho de humor nos olhos, parecia irreconhecível. Seus ombros estavam curvados sob o peso de uma dor que nenhum garoto de 10 anos deveria carregar, e seus olhos, fixos no chão, pareciam vazios.

Theron, que lutava contra suas próprias lágrimas, olhou para o amigo. Ele não sabia o que dizer. Que palavras poderiam confortar quando o mundo parecia desmoronar? Em silêncio, ele colocou a mão no ombro de Ajax, apertando-o com firmeza.

- Você ainda tem a mim, Ajax - disse Theron, a voz grave apesar da pouca idade. - E sempre terá.

Ajax ergueu o olhar lentamente, seus olhos cheios de lágrimas que ele se recusava a deixar cair. Ele tentou responder, mas nenhuma palavra saiu. No final, ele apenas assentiu, uma confirmação silenciosa de que havia compreendido.

Os dois ficaram assim, lado a lado, enquanto as orações dos sacerdotes preenchiam o ar pesado. Cada palavra parecia uma faca, um lembrete do que haviam perdido.

Quando os corpos foram finalmente colocados na terra, Theron fez uma promessa em silêncio, uma que ele sabia que carregaria pelo resto de sua vida: ele protegeria aqueles que restavam, custasse o que custasse.

Depois do funeral, o castelo ficou ainda mais vazio. As servas andavam em silêncio pelos corredores, e os conselheiros falavam em sussurros, discutindo o futuro do reino. Theron passava horas encarando as muralhas do castelo, como se a resposta para sua dor estivesse além delas.

Ajax, por outro lado, parecia uma sombra do que fora. Ele evitava falar, preferindo ficar sozinho no canto de um dos pátios, com os olhos perdidos no horizonte. Theron tentava alcançar o amigo, mas sabia que não podia apressar o luto.

Uma noite, enquanto a lua iluminava fracamente os corredores de pedra, Theron encontrou Ajax na sala de armas, segurando a espada do pai.

- Eu não consigo parar de pensar neles - Ajax disse finalmente, sua voz baixa e hesitante. - Em como eu não estava lá. Como eu não pude fazer nada.

Theron se aproximou, sentando-se ao lado dele.

- Eu também penso nisso - admitiu Theron. - Mas isso... isso não é culpa sua. Eles eram guerreiros, Ajax. E lutaram para que estivéssemos aqui agora.

Ajax apertou a espada com mais força, mas não respondeu. Theron continuou:

- Não podemos mudar o que aconteceu. Mas podemos garantir que não seja em vão. Vamos ficar mais fortes. Vamos proteger o que resta.

Por um momento, Ajax apenas encarou a lâmina da espada. Então, ele assentiu lentamente.

- Juntos?

Theron olhou para o amigo, seus olhos firmes.

- Sempre.

E, naquela noite, enquanto o castelo ainda chorava suas perdas, Theron e Ajax começaram a trilhar o caminho que os moldaria para o futuro.

Theron foi chamado ao conselho no amanhecer seguinte. A grande sala de pedra, iluminada por tochas nas paredes, estava repleta de nobres com expressões que variavam entre dúvida e respeito. Alguns olhavam para ele com desconfiança, desconcertados pela juventude do herdeiro; outros viam ali a chama da promessa de um líder forte, talvez mais preparado do que sua idade indicava. No canto do salão, Ares, ainda visivelmente ferido, apoiava-se em um cajado, mas sua postura era de apoio inabalável ao sobrinho, mesmo que sua dor fosse evidente em cada movimento.

O silêncio era denso quando o ancião que presidia o conselho, um homem de cabelos brancos e voz grave, ergueu as mãos, sinalizando para que todos se calassem. Seus olhos, cansados pela idade, fixaram-se em Theron, agora em pé diante da mesa de pedra que simbolizava o poder do reino de Mytra.

- Theron Akoni, herdeiro legítimo de Mytra - começou o ancião, sua voz ecoando nas paredes da sala. - O trono é seu por direito, mas o peso que ele carrega será maior do que nunca. O que pretende fazer com esse peso, jovem príncipe?

Theron, que ainda parecia carregar o peso da tragédia recente sobre seus ombros, olhou para os rostos dos nobres. Seus olhos, profundos e sombrios, estavam fixos no horizonte além da janela, como se vislumbrasse algo distante e incerto. A dor da perda de seu pai ainda o consumia, mas havia algo mais ali: uma força nascida do luto, uma determinação que não podia ser ignorada.

Ele respirou fundo, os ombros erguendo-se com a força de quem não mais se curvaria aos fardos do passado. Com a voz firme, que ressoou no salão, ele se declarou:

- Meu nome não é mais Theron - disse, as palavras carregadas de um peso que parecia transcender sua juventude. - A partir de hoje, carrego o nome do meu pai, aquele que deu sua vida por este reino, por esta terra. Serei chamado de Alden Akoni, em honra ao homem que construiu este legado, e que agora deve ser defendido a todo custo.

O salão caiu em silêncio absoluto. Não havia o som de um suspiro sequer. Os nobres trocavam olhares surpresos, alguns perplexos, outros admirados pela gravidade do gesto. O nome de Theron Akoni agora se dissipava nas sombras do passado, substituído pela força do nome do pai que ele decidira carregar. Não havia dúvida de que aquela mudança simbolizava mais do que apenas uma troca de nome - era a marca de um novo rei, determinado, talvez mais do que qualquer um poderia imaginar.

Ares, embora ferido, olhou com orgulho para seu sobrinho. Seus olhos, cansados pela dor e pela perda, brilharam com uma luz que se espalhou por todo o salão. E, por mais que alguns ainda hesitassem, ninguém ousou contradizer o que estava sendo proclamado. Alden Akoni não era mais apenas o príncipe jovem de Mytra; ele era agora um rei, e sua determinação parecia maior do que qualquer outro rei antes dele.

O reino estava em ruínas, ainda se recuperando das feridas infligidas pela guerra, e a vulnerabilidade se estendia por cada canto de Mytra. As tensões não eram apenas políticas, mas também pessoais, com Ares e os conselheiros compreendendo que a única forma de proteger Lancelot, o jovem príncipe, era enviá-lo para um mosteiro distante. Lá, ele teria segurança e a chance de crescer longe das ameaças que ainda rondavam o castelo.

No entanto, a decisão não veio sem dor. Lancelot, com seus olhos cheios de lágrimas, olhou para Alden, o irmão mais velho e agora rei, com a inocência de quem ainda não compreendia os fardos que ele mesmo carregava.

- Por que eu tenho que ir? - a voz de Lancelot tremia, e seus olhos se enchiam de desesperança. - Não posso ficar com você, Theron?

Alden, agora conhecido como Alden Akoni, sentiu o peso daquelas palavras, o peso de ser o único membro sobrevivente da família real. O amor que sentia por Lancelot era imenso, mas a decisão era inescapável. O reino precisava de sua liderança, e seu irmão precisava ser protegido, longe da violência e da dor que ameaçavam consumi-los. Com um suspiro profundo, ele se ajoelhou diante de Lancelot, os olhos cheios de uma ternura que só um irmão mais velho poderia oferecer. Segurando-o pelos ombros, ele falou com a calma de quem sabia que aquela era a única escolha possível, embora fosse dolorosa para ambos.

- Lancelot, você é minha única família agora. - Sua voz era firme, mas cheia de emoção, como se cada palavra carregasse o peso de um juramento. - Quero que esteja seguro, para que possa viver uma vida longa e feliz. Os monges cuidarão de você e ensinarão coisas que eu nunca poderei. Eles lhe darão o que eu não sou capaz de oferecer.

Lancelot soluçou, as lágrimas caindo como pequenas gotas de chuva. Ele olhou para o irmão, sentindo uma dor profunda no peito, como se estivesse perdendo uma parte de si mesmo. Mas, apesar da tristeza que o consumia, ele sabia que não havia outra opção. Ele assentiu lentamente, embora a saudade já o tomasse por completo.

- Você promete me visitar? - perguntou ele, com a voz frágil, quase inaudível.

Alden, com um sorriso triste, tocou suavemente o rosto de Lancelot, como se quisesse gravar naquele momento a lembrança de seu irmão mais novo. Seus olhos estavam marejados, e a dor da separação era evidente, mas ele sabia que precisava ser forte, não apenas para si, mas para o irmão que amava tanto.

- Sempre que puder - respondeu Alden, com a voz firme, mas cheia de afeto. Ele se levantou lentamente, ainda segurando os ombros de Lancelot. - Estarei sempre com você, mesmo de longe. Você nunca estará sozinho.

Aquelas palavras ficaram gravadas no coração de Lancelot, enquanto o irmão o abraçava pela última vez, sentindo o aperto da despedida que, embora temporária, carregava a incerteza do futuro. O mosteiro seria o seu novo lar, um lugar de paz e estudo, mas a saudade de Mytra, de Alden, e da vida que ele conhecera, seria algo com que teria que aprender a viver.

Quando Lancelot foi levado para o mosteiro, o coração de Alden permaneceu pesado, mas ele sabia que aquela era a única maneira de garantir o futuro de seu irmão, longe dos perigos que ainda assombravam o reino. Mas no fundo de sua alma, uma promessa foi feita - ele retornaria sempre que fosse possível, e jamais deixaria de ser o irmão que Lancelot precisava.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022