Coroa e Sangue: Um romance Real
img img Coroa e Sangue: Um romance Real img Capítulo 9 Ele é tão ruim assim
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Capítulo 10 Não consigo entender img
Capítulo 11 Quero me aproximar. img
Capítulo 12 Ferida img
Capítulo 13 Por favor, acorde. img
Capítulo 14 Eu sei que é você. img
Capítulo 15 Ciúmes img
Capítulo 16 Mal entendido img
Capítulo 17 Fuga rápida img
Capítulo 18 Admitir img
Capítulo 19 Momento de se próximas img
Capítulo 20 Provocação img
Capítulo 21 Amor img
Capítulo 22 Protegendo img
Capítulo 23 Rei...demônio img
Capítulo 24 Casamento img
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Capítulo 9 Ele é tão ruim assim

Depois que Elore se apressou em se arrumar, tomando um banho rápido e escolhendo um vestido adequado para a ocasião, Junne a acompanhou enquanto desciam as escadas. A pressa era evidente nos passos apressados de ambas, e o leve som dos saltos de Elore ecoava pelo corredor vazio. Elas estavam atrasadas, e isso fazia o coração de Elore bater um pouco mais rápido do que o normal.

"Sua Majestade, por favor, nos perdoe, perdemos a noção do tempo", disse Junne com a voz trêmula, enquanto se curvava ligeiramente. Era impossível esconder a tensão em suas palavras; o receio de um desagrado do rei pairava no ar como uma nuvem densa.

Elore permaneceu em silêncio, apenas observando o rosto do rei, que parecia intrigado. Havia algo em seus olhos, um brilho de curiosidade que contrastava com a dureza de sua expressão habitual.

"Você estava lendo?", ele perguntou, rompendo o silêncio com um tom que surpreendeu as duas. Não havia frieza, nem censura; apenas uma curiosidade genuína que deixou Elore desconcertada.

"Sim, desculpe", ela respondeu, a voz baixa, quase hesitante, sem saber ao certo como reagir àquele tom inesperadamente gentil.

"Não tem problema", ele disse, e por um momento, Elore achou ter ouvido um traço de suavidade em suas palavras. "Por favor, sente-se."

Ela obedeceu, mas escolheu uma cadeira no extremo oposto da longa mesa de jantar. A distância entre ela e o rei parecia simbolizar a barreira invisível entre os dois mundos que habitavam. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, e a vastidão da mesa tornava impossível uma interação direta.

O ambiente foi quebrado pela chegada de Ajax, que entrou na sala de jantar e se ajoelhou ao lado do rei. Suas palavras, sussurradas, fizeram o rei se levantar quase imediatamente. Ele anunciou sua saída com um aceno breve e deixou Elore sozinha à mesa, sentindo-se mais deslocada do que nunca.

Elore olhou ao redor, os olhos caindo sobre os pratos exuberantes que se estendiam por toda a mesa. A comida estava ali, pronta, mas parecia desperdiçada sem alguém para compartilhá-la. Ela, então, voltou sua atenção para os funcionários do rei que estavam imóveis nas laterais da sala, quase como sombras que passavam despercebidas.

"Tanta comida, vocês não querem se sentar e comer?", ela perguntou, a voz carregada de sinceridade. Seus olhos passavam de um rosto a outro, esperando uma resposta.

O mordomo olhou para ela com os olhos arregalados, como se tivesse ouvido algo absurdo. "Como assim, senhorita?", ele murmurou, confuso.

"Por favor, é horrível comer sozinha, e a comida vai estragar. Sente-se comigo", insistiu ela, determinada. Sua bondade era tão natural que desarmava qualquer resistência. O que poderia parecer insubordinação era, na verdade, uma expressão pura de humanidade.

Os funcionários hesitaram, trocando olhares incertos. O que ela estava propondo era completamente fora dos padrões. No entanto, a maneira como ela falou, tão gentilmente, mas com firmeza, os fez ceder. Um por um, eles se sentaram, timidamente, ao redor da mesa.

Junne, sentada ao lado de Elore, inclinou-se em sua direção e sussurrou com preocupação. "Senhorita, acho que o rei vai repreendê-la."

Elore deu de ombros, um sorriso discreto nos lábios. "Não me importo. Desperdiçar tanta comida é um pecado." Havia convicção em suas palavras, e, apesar do receio de Junne, Elore parecia alheia às possíveis consequências.

Enquanto conversava com os funcionários, as barreiras invisíveis que os separavam começaram a desaparecer. Eles riram, compartilharam histórias e saborearam a comida como se fossem velhos amigos. A atmosfera, que antes era tensa e formal, agora estava cheia de calor humano.

Do outro lado da sala, parado na porta, o rei observava a cena. Seus olhos fixos em Elore brilhavam de uma maneira que ninguém ali podia perceber. Ele a viu rindo, movendo as mãos enquanto falava, os olhos cintilando com uma vivacidade que parecia iluminar o ambiente. Era como se ela estivesse trazendo algo que aquele castelo havia perdido há muito tempo.

O sorriso que se formou nos lábios do rei era suave, quase imperceptível. Seus traços severos relaxaram, e ele parecia por um momento alguém completamente diferente, alguém capaz de sentir, de se conectar.

Enquanto Elore continuava interagindo com os funcionários, alheia ao olhar atento do rei, ele permaneceu ali, imóvel. Talvez fosse a simplicidade dela, ou a coragem de desafiar o protocolo, mas algo havia sido despertado nele, algo que ele não conseguia explicar.

Finalmente, Ajax tocou seu braço e o trouxe de volta à realidade. Com relutância, o rei se virou e saiu, mas aquela imagem de Elore, com sua bondade e leveza, permaneceu em sua mente.

Quando o jantar terminou, Elore agradeceu a todos, com um sorriso que era tão caloroso quanto o que ela havia dado no início.

Elore, ainda embalada pela leveza do momento compartilhado com os funcionários, parecia ter se desprendido, por um breve instante, do peso que carregava em seus ombros. No entanto, quando Junne sugeriu retornar ao quarto, a realidade voltou a se insinuar, como um lembrete sutil, mas constante, de sua nova vida no castelo.

"Vamos ao jardim por um tempo", Elore disse, um brilho forçado em seus olhos. Era como se buscasse o frescor da noite para acalmar as tempestades internas que a consumiam. Puxou Junne pela mão, e as duas atravessaram os grandes corredores em direção ao exterior. Assim que os pés de ambas tocaram o jardim, a fragrância doce das flores e a brisa noturna pareciam acolhê-las.

A lua cheia pendia no céu, iluminando o caminho com uma luz prateada suave. As sombras das árvores dançavam sobre o chão, e o som distante de grilos preenchia o silêncio com uma melodia tranquilizadora. Mas, apesar da beleza ao seu redor, Junne não pôde deixar de notar algo diferente no jeito de Elore. Era sutil, mas estava lá - um peso invisível, uma tensão que ela tentava mascarar com um sorriso.

"Você está com medo, não está?", Junne perguntou de repente, a voz delicada, mas firme. Ela parou de andar, puxando levemente a mão de Elore para forçá-la a olhar em seus olhos.

Elore hesitou, os lábios se entreabrindo como se estivesse prestes a negar. Mas a verdade era pesada demais para esconder. Seus ombros cederam levemente, e ela desviou o olhar para o céu estrelado.

"Estou aterrorizada, Junne", confessou, sua voz quebrando levemente. "Eu tento parecer forte, fingir que estou feliz. Mas a verdade... a verdade é que tenho medo do rei. Medo das histórias que contam sobre ele, medo de viver sob o mesmo teto que ele. É como se... cada passo aqui fosse uma dança sobre cacos de vidro."

Junne sentiu seu coração apertar ao ouvir a sinceridade na voz de sua amiga. Ela apertou a mão de Elore com força, como se quisesse transmitir toda a sua coragem e apoio por aquele simples gesto.

"Vamos superar isso juntas, Elore", respondeu, o tom decidido, mas carregado de ternura. "Lembre-se, estou ao seu lado. Sempre."

Os olhos de Elore se encheram de lágrimas que ela não deixou cair. Em vez disso, ela segurou a mão de Junne com força e esboçou um sorriso tímido. "Obrigada, Junne. Com você ao meu lado, sei que posso enfrentar o que vier."

A caminhada pelo jardim parecia mais longa do que realmente era, como se o tempo tivesse desacelerado para permitir que Elore absorvesse o peso da sua vulnerabilidade e o alívio por tê-lo compartilhado com Junne. Cada passo que davam nas pedras de calçamento suavemente iluminadas pela lua parecia uma tentativa de se afastar do que temiam, mas ao mesmo tempo, um mergulho profundo no que as conectava de forma ainda mais forte.

As árvores, com seus troncos grossos e folhas que balançavam suavemente ao ritmo da brisa, pareciam ser as únicas testemunhas daquela troca silenciosa, uma promessa de que nada as separaria. Elore sentia uma paz que raramente experimentava - uma sensação de que não precisava ser perfeita, que não tinha que ser a princesa imbatível ou a filha do rei que todos esperavam que fosse.

Junne, ao seu lado, era um alicerce. O simples fato de estar ali, sem pressa, sem pressões, dava-lhe a coragem de seguir em frente. Por mais que o medo ainda estivesse lá, no fundo de seu peito, a presença dela suavizava o peso.

O som das folhas sendo agitadas pela brisa trouxe Elore de volta ao momento, lembrando-a de que o mundo lá fora continuava a girar, indiferente às suas emoções. Mas dentro dela, havia uma calmaria rara. Ela respirou fundo, sentindo o cheiro de terra molhada e flores frescas, e a tensão que costumava se instalar em seus ombros começava a ceder.

Elore então olhou para o céu, para as estrelas que se espalhavam por todo o firmamento. Cada uma delas parecia brilhar com uma intensidade que refletia sua esperança. A noite, com toda a sua tranquilidade, parecia sussurrar que o medo não poderia dominar para sempre.

Elore despertou no meio da madrugada, um arrepio gelado percorreu sua espinha enquanto ela se levantava da cama. O silêncio da noite era profundo, e ela sentiu uma leve inquietação percorrer seu corpo, como se uma presença invisível a observasse. Junne estava profundamente adormecida ao seu lado, respirando calmamente, alheia ao turbilhão de pensamentos que ocupavam a mente de Elore.

Com um suspiro, Elore se levantou cuidadosamente, tentando não fazer barulho. A escuridão do quarto a envolvia, mas ela sabia exatamente onde ir. A biblioteca, com suas estantes repletas de livros, sempre fora um refúgio seguro para ela. Era lá que ela conseguia se perder nos mundos imaginários das páginas, onde os medos e as inseguranças se dissolviam por um tempo, onde as palavras eram a única companhia que ela precisava.

Ela percorreu o corredor silencioso do castelo, suas mãos tocando levemente as paredes de pedra, sentindo a textura fria sob seus dedos. O castelo estava quieto, com apenas o som distante de algumas portas que rangiam à medida que a brisa noturna se movia pelas frestas. A biblioteca estava logo à frente, e Elore empurrou a porta com cuidado permitindo que a luz suave da lareira a acolhesse.

O ambiente da biblioteca era acolhedor, com a luz tênue das chamas iluminando os volumes antigos que se empoleiravam nas prateleiras. Elore caminhou até a lareira, onde as brasas ainda se mantinham quentes, e se acomodou na poltrona ao lado. Pegou um livro das prateleiras, um romance de aventuras que a havia encantado nas últimas semanas, e se perdeu nas palavras.

A leitura a envolveu com a mesma intensidade de sempre, as histórias ganhando vida diante de seus olhos enquanto ela se permitia escapar das preocupações. As páginas do livro, quentes da proximidade da lareira, pareciam suavizar os remorsos que ainda estavam na sua mente, o peso da sua posição, o medo do rei, e as pressões que sentia sobre os seus ombros.

                         

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