Capítulo 8 Reflexões Preciosas

Beatrice

Toda a situação no fundo do oceano foi aterrorizante, mas de certa forma, ter o Theo ao meu lado me ajudou. Naquele momento, ele foi a tranquilidade e estabilidade que eu tanto precisava em meio ao pânico e medo que sentia.

Agora que estou segura, vejo o quanto errei. Eu deveria ter confiado mais nas pessoas com quem estava mergulhando antes de arriscar minha vida. Meu pai sempre me falou sobre essa questão, ninguém deve mergulhar sozinha e uma vez lá embaixo, devemos confiar em quem está conosco.

Foi vergonhoso demais sair da lancha na maca, e por mais que quisesse sair andando e evitar tudo aquilo, sabia que devia cooperar e assim terminar o mais rápido possível. Para evitar ver as pessoas que certamente estavam ao redor tentando descobrir o que aconteceu, permaneci de olhos fechados até sentir a ambulância se movimentando.

Ao abrir os olhos e olhar para o lado, vejo que o Theo está ali e parece abatido, sei que também foi difícil para ele essa situação, que ficou me segurando o tempo todo, e no barco, enquanto ouvia sua conversa com o Tyler, notei que sua voz estava rouca, e não era do jeito bom.

Eu quero muito agradecê-lo por ter me ajudado e salvado minha vida, mas minha garganta está muito seca para conseguir falar, e não acho certo fazer isso sem conseguir olhar direito em seus olhos, e nem com pessoas por perto. Como ele está olhando para mim, faço um sinal de "obrigado", recebendo um sorriso em resposta. Espero ter a chance de agradecer adequadamente mais tarde.

- Senhorita, está conseguindo respirar bem?

Faço um sinal demonstrando que estou um pouco, pois já me sinto bem melhor desde que usei a máscara na lancha. Com minha resposta, o rapaz pega uma máscara e após pedir licença, a coloca em meu rosto. Não posso negar que torna a respiração mais fácil. Assim que chegamos ao hospital, sou levada para um quarto, onde uma enfermeira me ajuda a tirar a roupa de mergulho e a colocar uma camisola hospitalar.

- Por favor, enfermeira Lima, eu posso beber um pouco de água?

- Claro, senhorita.

A enfermeira vai até uma mesa que tem próxima a janela e logo retorna com um pequeno copo com água, o qual, eu vou bebendo devagar.

- Após os exames, a senhorita poderá tomar mais.

Agradeço e sou encaminhada para realizar uma tomografia e mais alguns exames.

Embora já me sinta bem, sou avisada que precisarei ficar em observação por um tempo, até mesmo para esperar o resultado dos exames. Só espero não ter nada de grave.

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Theodore

Ao chegar no hospital, sou o último a descer. Só espero ser liberado logo, mas sabendo que terei de fazer alguns exames, decido enviar uma mensagem para Fifi e avisar que irei demorar um pouco a voltar. Sabendo que elas estão na piscina do hotel, sinto-me mais relaxado.

Após trocar de roupa, sou conduzido para os exames e deitado na maca deixo meus pensamento vagarem...

Eu vim para as Bahamas como parte de um cuidadoso planejamento que fiz para conhecer os Blue Hole que existem. Comecei pela Austrália, onde pude conhecer dois de uma vez, o Wonky Hole e o Barrier Star. Depois fui para a Micronésia onde tem o Guam Blue Hole. No ano passado, fui para Belize, ver o Great Blue Hole e no ano que vem, já planejei ir até a China, conhecer o Dragon Hole, um sumidouro com 300 metros de profundidade, e por fim ir até o México mergulhar no TammJa, que é o sumidouro marinho mais fundo do planeta, sua profundidade de 420 metros o torna mais alto que o Empire State em uma comparação direta.

O Dean's Blue Hole, aqui nas Bahamas, é também bem profundo, com 202 metros, e estou bem ansioso por esse mergulho, no entanto, só consegui agendar um passeio para terça-feira. E na quarta irei para o norte, até a Ilha Abaco para conhecer o Far Side Blue Hole, também conhecido como Magical Blue Hole, que possui águas tão claras que os mergulhadores se sentem como se estivessem flutuando. Minha vontade é conhecer todos os Blue Hole que tem na Ilha de Andros, pois calculam que sejam em torno de 50. Porém para isso, eu iria precisar de umas férias bem longas, o que no momento é impossível para mim.

Tudo começou uns anos atrás, quando viajei ao Egito para mergulhar no Mar Vermelho. Foi onde descobri a existências dos Blue Hole. Na ocasião fui orientado sobre o risco, pois muitos mergulhadores perderam a vida ali, fazendo o lugar receber o nome de "cemitério de mergulhadores". Dizem que existem corpos que nunca foram encontrados. Devido a profundidade e a estrutura desorientadora, acaba ocorrendo uma narcose por nitrogênio, condição resultante da respiração de certos gases em alta pressão, dizem que a sensação é semelhante à embriaguez. Todavia, o desafio era intrigante e valia a pena, e no final, adorei a experiência, que foi magnifica.

A história mais impactante foi dos dois mergulhadores que foram encontrados abraçados, na ocasião, pensei que talvez não tivesse sido um que causou a morte do outro, como falam, mas que eles buscaram consolo ao ver que a morte era certa.

Foi o que aconteceu aqui hoje. Eu que nem conhecia a Trixie e até poucas horas não sabia sequer seu nome, me vi ali empenhado em salvá-la, mas também quando a abracei lá embaixo, de alguma forma, foi bom saber que não estava sozinho naquele lugar.

No entanto, ao vir para as Bahamas, escolhi o resort Paradise por conta de toda mitologia envolvendo o lugar, já que cada um dos cinco hotéis remete a um paraíso pós vida mitológico. O Elísio é grego; o Aaru é egípcio; o Valhala é nórdico; o Aztlan é asteca e o Vaikuntha é hindu. E existe também o TinNaNog que é irlandês, mas nesse prédio ficam os cassinos e as boates.

Por culpa de um guia irresponsável, quase que o paraíso virou pesadelo. Jamais imaginei que durante esse breve passeio, fosse passar por uma situação como essa. Ter a vida de alguém em minhas mãos, foi aterrorizante, embora tenha mantido o controle naquele momento, agora vejo o quanto estivemos próximos da morte.

Talvez tenha sido o destino que me fez ir para esse passeio. Afinal o que poderia ter acontecido com a Trixie se ela estivesse sozinha com Tyler lá embaixo? Não gosto nem de pensar nessa possibilidade.