Desde que cheguei às Bahamas, ontem, vinha sentindo que as férias que tanto ansiei não seriam tão boas como planejei.
Eu planejo essa viagem há meses, mas não contava que justo esse ano teria esse bendito show aqui. Minha irmã, Safira, é muito fã desses cantores, e ficou louca para vir, mas por ter apenas 17 anos, precisava de permissão para viajar, o que nossos pais recusaram em dar.
Sua amiga, Karen, conseguiu reservar um quarto, e convidou a Fifi para ficar com ela, e com isso minha irmã implorou muito para que eu me colocasse como seu responsável.
Por querer dar esse mimo para ela, acabei lhe trazendo comigo. Por mais que a Fifi diga que já são bem grandinhas, não gosto de deixá-las sozinhas no resort, pois sei que são um pouco desajuizadas. Por essa razão, ontem fiquei apenas na praia. No entanto, ao ver essa manhã os barcos na marina, não resisti em fazer esse mergulho, será bom estar em mar aberto, é revigorante mergulhar e um bom jeito de terminar o ano. Só fiz as meninas prometer não sair do resort e ficar perto do nosso hotel enquanto estou fora.
Ver a pequena moça subindo na lancha, tornou esse passeio bem mais interessante, não foi difícil ver que era a mesma moça da praia ontem, é bom observar seus traços mais de perto. Foi impossível deixar de sorrir ao ouvir seu nome, mas ao ver que ela estava sem graça, decidi não brincar com o assunto.
Eu deixei essa questão de lado e me preocupei por ser um mergulho profundo e ver que a Trixie não tem experiência. Mas como ela se mostrou animada e pareceu entender do assunto, vi que estava exagerando.
Mergulhar até a zona rarifótica, uma área do oceano com profundidades entre 130 e 300 metros, é algo muito lindo, a baixa luminosidade dessa área torna tudo melhor, além da possibilidade de encontrar uma vida marinha totalmente nova aqui embaixo.
Não gostei nada em nos separar estando tão fundo no oceano, e fiquei dividido entre a parte que queria explorar mais o Lady Marion e a parte que dizia ter algo errado com Trixie, e que o melhor é suspender o mergulho.
Seguimos para a proa e entramos por um novo buraco no casco, indo até um dos compartimentos de carga. Vejo uma ostra em um canto e noto que ela está quebrada, certamente por algum predador. Ao chegar mais perto, com o auxílio da faca a abro com cuidado, encontrando uma linda pérola. Eu nunca tive essa sorte antes. A guardo em um bolso da roupa, e deixando a parte protetora que existe em mim falar mais alto, decido ir ver como a Trixie está, pois, a pressão aqui é grande e deve estar afetando ela. E também quero mostrar a pérola que encontrei.
Volto para perto do Tyler, que está vasculhando o chão do lugar, talvez em busca de objetos perdidos. Toco em seu ombro e aviso que quero ir ver como a Trixie está e em seguida ir embora, ele concorda e diz que irá verificar a corda e comunicar ao barco nosso retorno.
Esse homem não é um bom guia, não se importando em deixar os mergulhadores sozinhos aqui embaixo, mas não irei discutir agora, ao voltar a marina cuidarei dessa questão.
Vou nadando e logo vejo a luz que indica onde Trixie está, ela permanece no mesmo lugar, o que não é bom sinal, pois nenhum mergulhador consegue ficar parado ao estar em um lugar assim.
Trixie se vira para mim, e minha preocupação aumenta ao ver onde sua mão está.
O que essa garota tem na cabeça ao pensar em abrir o colete aqui embaixo?
Nado o mais rápido que consigo, para chegar logo perto dela, e através da máscara percebo que ela não está bem. Não devíamos tê-la deixado sozinha aqui.
- Que pensa fazer?
- Ar acabando - Estende-me seu mostrador, onde indica que só restam 18% de oxigênio. - Preciso voltar barco rápido ou morrer aqui.
Mas que merda! Isso é muito grave, ela está com baixa oxigenação, é uma sorte não ter desmaiado ainda, ou estaria morta a essa hora.
- Calma. Eu ajudar você.
Puxo meu bocal reserva e entrego para ela, notando que respira superficialmente e faço o mesmo, pois agora o oxigênio terá que ser o suficiente para nós dois.
- Consegue se locomover?
Ela faz que sim com a cabeça, mas noto que seus movimentos estão lentos, então seguro em seu corpo e lhe ajudo a se levantar, e passando minha mão por sua cintura, vamos nadando de volta até onde Tyler está.
Assim que nos vê, ele vem até nós e peguei o braço dela para mostrar o problema, que entendendo a gravidade da situação, nos sinaliza que vamos subir. Percebo também que ele fala algo, e imagino ser para avisar o barco.
Começamos a subir lentamente, fazendo a primeira parada após subir 25 metros, quando Tyler entrega seu bocal reserva a Trixie, embora eu permaneça segurando seu corpo. E assim vamos fazendo a cada parada, revezando o uso do bocal reserva com Trixie para que todos tenham oxigênio suficiente, apesar de que eu evito respiradas mais profundas, não quero correr o risco de ficar sem oxigênio também. Por fim chegamos a 5 metros da superfície, e permanecemos parados para nossos corpos terminar de se adaptar antes de saímos da água.
Percebo que a Trixie não está bem, mesmo dividindo nosso oxigênio com ela, tem algo de errado, a única coisa que a impede de afundar no momento, é minha mão em sua cintura. Então a puxo para mais junto do meu corpo, a segurando com firmeza, seu corpo é tão pequeno comparado ao meu.
Em uma prece silenciosa, peço ajuda à Poseidon, para que ele nos proteja nesse momento de grande perigo. Pois, mesmo não sendo o principal responsável, nunca me perdoarei se alguma coisa ruim acontecer com Trixie após esse mergulho.