Ao retornar para o quarto, dispenso usar a máscara de oxigênio, quero ver como meu corpo irá reagir sozinho, e melhor fazer isso aqui do que no hotel.
- Agora tente descansar, em breve o médico virá falar com a senhorita.
- Obrigada. Enfermeira Lima, poderia pegar minha bolsa, por favor?
Quero saber se Lia mandou alguma mensagem. Se ela já tiver retornado, poderá vir ao meu encontro.
- Claro.
Ele me entrega a bolsa, procuro logo por meu celular e vejo que não tem nenhuma mensagem. A Lia deve estar se divertindo, e se eu mandar alguma mensagem agora falando que estou no hospital, só irei deixá-la preocupada por estar longe.
Deixo o celular de lado, e mal fecho os olhos, quando escuto a porta se abrir. Olho para o lado e um enfermeiro vem trazendo o Theo, mas ele olha para mim, em vez de colocá-lo na cama.
- Senhorita Conti, se importa se os dois dividirem o quarto? Nós estamos com poucos quartos vagos e os dois estão com o mesmo quadro clínico.
- Por mim não tem problema.
- Obrigado. Em breve o médico virá atendê-los. Com suas licenças.
Ele acomoda o Theo na outra cama e sai do quarto, fechando a porta, então me sento na cama, virando de frente para o Theo, e noto que ele faz o mesmo.
- Theo, eu quero agradecer o que fez por mim, mas sinto que apenas dizer obrigado não é o suficiente.
- Um obrigado quando dito de coração é mais do que suficiente.
- Sendo assim, muito obrigada.
- Por nada. Eu estou feliz por ter conseguido te ajudar e impedir de acionar o colete. - Ele fica um momento em silêncio, olhando para mim. - Você não pensou em nos procurar antes de tomar aquela decisão?
- Pensei sim e até olhei em volta, mas não vi nenhum de vocês e sabia que o tempo estava acabando. - Recordo do medo que senti lá embaixo. - Eu estava com medo de não ter tempo e sabia que era a solução mais rápida.
- Entendo, não devíamos ter lhe deixado sozinha, desconfio que você já não estava bem quando pediu para ficar sentada, estou certo?
- Eu estava um pouco fatigada, mas não pensei que seria algo para se preocupar, achei que era apenas efeito da pressão.
- Você deveria ter avisado, nós teríamos voltado naquela hora e evitado o susto. - Sinto o tom de repreensão.
Seu jeito de falar me lembra do Matt, com sua pose de irmão mais velho, ele com toda certeza irá me passar um sermão infinito quando eu chegar em casa. E não será o único a falar, meu pai vai ser ainda pior.
- Agora percebo isso, mas na hora pensei em não estragar seu passeio.
- Você sumindo do nada ou morrendo, iria estragar bem mais.
- Quando pedi para parar, não pensei que fosse tão ruim, só depois que fui ver que estava sem oxigênio, então fiquei um pouco desesperada.
- Eu te entendo e sei que quando estamos lá embaixo, as coisas podem ficar um pouco confusas.
- Nem me fale, vejo isso com mais clareza agora, e ainda bem que no final tudo deu certo. - Falo com um sorriso.
Escuto uma batida na porta e um médico entra no quarto.
- Boa tarde, eu sou o doutor Thomas Lopez, responsável pelo acompanhamento de vocês. - Ele se aproxima mais da cama do Theo. - Senhor Hakimi seus exames estão normais e o senhor já está liberado.
Noto que o doutor está esperando Theo sair do quarto, mas ele não se mexe, permanece sentado olhando para mim, fazendo que o médico se vire, me questionando com os olhos se deve falar na frente dele. Eu apenas dou de ombros, afinal o Theo me salvou, e nada mais justo que permitir que ele ouça do médico que estou bem.
- Senhorita Conti, eu verifiquei todos os exames que foram realizados e constatei uma leve hipoxemia, resultado do tempo que passou com pouca oxigenação em uma pressão elevada. É comum sentir dor de cabeça, sonolência, suores frios, dedos e boca arroxeados. No entanto, se desmaiar, deve voltar ao hospital.
- Está bem.
- Por segurança, precisará refazer os exames amanhã. E recomendo se abster de qualquer mergulho durante o próximo mês. - Isso não será problema, já que estarei no meio de Napa e em pleno inverno. - E também esperar por pelo menos 48 horas antes de fazer uma viagem de avião.
O que? Ele não pode estar falando sério. Eu preciso estar em casa amanhã à noite, eu nunca deixei de estar com meus pais nessa data, não posso quebrar a tradição que temos há tantos anos.
- Doutor, meu voo para casa é amanhã. - Começo a me desesperar.
- Eu sinto muito senhorita, mas entrar em uma nova situação com pressão elevada pode colocar sua vida em risco. Não tem como a senhorita remarcar esse voo?
Eu sei que deve ser fácil remarcar o voo para daqui uns dias ou então pegar um navio até Miami e de lá um trem ou ônibus para casa, mas em ambas as situações eu não estarei em casa amanhã quando o relógio bater meia noite.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao perceber o que irá acontecer, não era isso que eu queria quando vim para as Bahamas, e com certeza não é a lembrança que pretendia levar quando for embora daqui.
- Senhorita Conti não precisa chorar, é apenas um dia a mais que ficará em Nassau, não é tão ruim assim.
Entendo que o médico apenas está tentando me acalentar, mas nesse momento é algo impossível.
- Será muito ruim sim, eu preciso estar em casa amanhã à noite, realmente preciso estar lá.
Percebo que o médico olha para minha ficha, porém sei que ele não pode fazer nada.
- Eu sinto muito, senhorita. Por mais que seu quadro seja estável no momento, pode ocorrer efeitos tardios, e apesar de não ter sofrido uma grande descompressão, os gases corporais não mantiveram níveis normais. Não sabemos quais efeitos poderá causar em seu corpo, mas podem trazer riscos a sua saúde.
- Entendo, doutor. - Respondo cabisbaixa.
Eu sempre ouvi que não se deve mergulhar um dia antes de fazer um voo, e por isso não se recomenda deixar os mergulhos para o último dia de uma viagem, pois se deve esperar no mínimo 12 horas antes de voar, ainda que o mais recomendado seja 24 horas.
Por que eu fui inventar de mergulhar hoje? Não era assim que planejava encerrar minha viagem.