Acordo pela manhã e fico deitada olhando para o teto, hoje, é por assim dizer, meu último dia nas Bahamas, já que amanhã após o almoço estarei em um avião de volta para casa.
A Lia e o Aidan saíram bem cedo para o tal passeio na Ilha dos Porcos, ela até fez uma última tentativa de me convencer a ir junto, dizendo que seria divertido. Mas esse não é o tipo de diversão que procuro para hoje, quero uma aventura, algo para poder me lembrar quando estiver morrendo de tédio ou em um dia estressante.
Vou até a varanda e me debruço no parapeito da sacada, olhando toda a extensão do resort, daqui posso ver inclusive onde estão montando a estrutura para o show desta noite, que será na Paradise Beach, sendo o palco no início da Paradise West.
Será difícil deixar este lugar com suas belas paisagens, mas o mundo real não é um conto de fadas, e tenho minhas responsabilidades a cumprir. E estou bem ansiosa por meu estágio na DelBel, empresa de nossa família. Trabalhar ali sempre foi minha vontade, e sei que terei que pegar firme no trabalho como assistente do meu pai na administração, e com ele irei aprender seus melhores truques, para conseguir um dia, estar à sua altura.
A empresa é voltada ao ramo de vinhos e espumantes, e atualmente é reconhecida em todo o mundo, embora o produto chefe sejam os vinhos artesanais.
Tudo começou quando meu avô, Dante Del Conti, decidiu deixar a Itália e se mudar para o novo mundo. Ele comprou uma vinícola próxima a cidade de Napa e começou com a produção de vinhos artesanais. E quando minha tia Gianna se casou com o Enrico Bellucci, que herdou do pai várias fazendas voltadas a viticultura, foi decidido unir tudo e assim fundaram a Vinícola DelBel.
Vovô não viveu o bastante para ver nosso sucesso, mas sei que ficaria orgulhoso de onde chegamos. E de ter a maioria dos netos seguindo o negócio da família, pois não sou a única que irá trabalhar na empresa, a Lia está estudando para ser advogada empresarial e o Matt já é formado como enólogo.
No entanto, meus irmãos não vão seguir em nosso ramo. Luigi é viciado em computador, aos 15 anos já é um hacker muito habilidoso, e quer seguir nessa linha de trabalho após o High School. O oposto de seu gêmeo, Stella ama cinema e o sonho dela é ser uma grande diretora.
- Olha que vista maravilhosa. - Uma voz masculina fala em coreano, parece vir da sacada acima da minha.
Como dona Hyemi é descendente de coreanos, me ensinou de pequena a falar a língua de sua terra. E eu adorava poder xingar em outra língua, para nunca ser flagrada e repreendida na escola. E como sempre passamos as férias na Itália, também sei italiano, o qual falo com muito mais facilidade.
- Nós podemos ensaiar aqui na varanda. - Uma segunda voz fala também em coreano.
- Não sei Yoon-gi, podemos incomodar os vizinhos.
- Ho-seok, vamos treinar só a parte vocal e assim não iremos incomodar.
Apesar de não saber o nome dos cantores do BTS, a conversa me faz perceber que devem ser os rapazes do BTS conversando. Não acredito que com tantos quartos, eles foram ficar justamente no quarto acima do meu. Certo que ali é a melhor suíte do Aaru, mas por que não estão no Elísio?
- O que você acha, Nam-joon?
- Vamos tomar nosso café e depois podemos ensaiar aqui.
Ao ouvir isso, me dou conta de que se eu ficar aqui sentada, irei ter um show a capella particular. Quantas garotas nesse resort matariam por uma chance dessas?
Bem, eu não sou uma delas e não vou perder minha manhã presa nesse quarto, nunca fui do tipo que fica enlouquecida atrás de um cantor em particular, ainda mais por causa de algum cuja músicas nem gosto. Vou atrás de algo emocionante.
Vejo um barco saindo da marina e me lembro do dia em que fui mergulhar com Lia e vimos as cavernas submersas, foi um passeio incrível, será muito bom poder ver tudo mais uma vez. É isso, essa será minha última aventura. Vai ser um modo perfeito de encerrar essa viagem.
Volto para dentro da suíte e pego o panfleto que mostra as diversas atividades que os hóspedes podem usufruir por aqui. Procuro pelo telefone da empresa que oferece passeios com mergulho em mar aberto. Fico feliz quando consigo um passeio para logo após o almoço.
Para passar o tempo, desço e vou andar pelas lojas do resort. Quando estou passando em frente à loja da Rolex, vejo o vendedor colocando um relógio na vitrine, com uma placa dizendo se tratar do novo Rolex Deepsea. Entro na loja para ver melhor o modelo, que se trata de um relógio para mergulhadores profissionais com resistência impermeável para mais de 3000 metros de profundidade e mostrador D-blue.
Compro o relógio para meu pai e aproveito para comprar um modelo Pearlmaster de ouro branco com diamantes para minha mãe, e peço para gravar em ambos: "Você é minha força, minha inspiração. Te amo B".
Enquanto espero, fico olhando a vitrine e acabo comprando um modelo Submariner de ouro com mostrador azul para mim, que já irei estrear durante meu mergulho hoje.
Após um almoço leve, subo para meu quarto para me trocar e ir para a marina. Para facilitar, coloco um vestido vermelho simples de alcinha e que vai até a altura das coxas. Faço duas tranças laterais, pois sei o quanto o cabelo solto pode atrapalhar na hora de mergulhar.
Outra vantagem de estar hospedada no Paradise é que o resort possui uma marina exclusiva para os hóspedes, o que evita precisar ir longe para desfrutar de um passeio de lancha. Porém, por estar no Aaru, tenho que praticamente atravessar todo o resort para chegar até na marina.
Ao chegar no píer indicado, vejo que a lancha que irá me levar se chama Queen Bee, chega a ser fofo o desenho na borda de uma abelhinha com coroa. Envio uma mensagem para Lia dizendo que estou saindo para o mergulho e qual o nome da lancha. Foi nosso combinado para hoje, assim sabemos que a outra está em segurança, o que é importante com tantos perigos que existem no mundo.
Um rapaz desce da lancha e reconheço ser o mesmo guia do mergulho em cavernas que fiz com a Lia, recordo que seu nome é Tyler e ele flertou comigo naquela ocasião.
- Olá Trixie. - Ele me cumprimenta em tom de flerte.
Durante anos, odiei o apelido e ficava furiosa em ser chamada assim, mas durante essa viagem, não sei bem o porquê, decidi tentar usá-lo.
- Olá Tyler.
Ele me ajuda a subir na lancha e vejo o piloto preparando tudo para nossa partida, escuto um barulho e ao me virar, vejo um homem subindo a escada com uma roupa de mergulho. Posso estar enganada, mas tenho quase certeza que é o homem que estava deitado na praia ontem.
Enquanto dou uma olhada para confirmar, não consigo evitar notar o enorme volume entre suas pernas, marcado pela roupa justa. Céus, se tranquilo ele está assim, imagina como deve ficar quando está animado. Chego a salivar só de imaginar.
- Trixie, pode ir se trocar e assim que estiver pronta podemos partir.
Paro com meus devaneios safados e vou logo me vestir, tiro o vestido e o guardo em minha bolsa, coloco o macacão de mergulho e quando volto, me sento no banco, próxima ao homem, e o Tyler se afasta para avisar ao piloto que já podemos partir. Sinto que ele está me observando e decido me apresentar, se vamos mergulhar juntos, não tem como simplesmente ficarmos nos ignorando ou observando discretamente.
- Olá, eu sou a Trixie e você? - Estendo a mão para ele.
- Theo. - Retribui o comprimento, noto um pouco de sotaque em sua voz.
Percebo o risinho em seu rosto ao ouvir meu nome. É claro que ele deve ter assistido Lúcifer. Foi por culpa dessa série que parei de usar o Trixie, mas depois de tanto tempo, pensei que ninguém mais se lembrava e até agora estava certa.
- Por favor, não diga nada.
- Não direi, imagino que tenha ouvido muitas piadas por isso.
- E como. Por que ele tinha que falar que esse nome é de prostituta?
- Uma maldade dele, mas foi divertido.
- Diz isso por não ser para você os risinhos.
Prefiro não mencionar os insultos que recebi, que foram a verdadeira causa para não usar mais o apelido.
- É justo.
Sinto a lancha de mover, sinal de que estamos deixando a marina, e virei para olhar a paisagem.