Capítulo 5 5

Andrew estava sentado em sua escrivaninha, na casa antiga de sua família em Londres. O ambiente tinha o cheiro amadeirado de história, e as estantes eram cheias de álbuns de fotos e documentos que pertenciam ao seu avô, George Miller. Depois de dias tentando juntar peças do passado, ele finalmente havia encontrado o testamento deixado pelo patriarca da família.

Enquanto lia o documento, seu rosto alternava entre descrença e irritação. As palavras na folha deixavam claro que seu avô havia orquestrado um contrato matrimonial com a família Jones, anos antes de Andrew sequer ter consciência de que sua vida seria transformada em uma negociação.

"O primogênito da família Miller deve contrair matrimônio com uma legítima herdeira da família Jones como condição para manter as propriedades e o patrimônio familiar."

Andrew passou a mão pelos cabelos, exasperado.

Isso é um absurdo – murmurou para si mesmo. – Meu avô queria me usar como moeda de troca.

Mas o que o deixava mais inquieto era o nome que aparecia como a noiva designada no contrato: filha legitimada familia Jones. A irmã mais nova de Bridget. Ele se levantou abruptamente, incapaz de ignorar o turbilhão de pensamentos. Como poderia seguir em frente com algo assim, especialmente agora que se sentia cada vez mais ligado a Bridget?

Enquanto isso, na mansão Jones...

Bridget estava sentada na sala de estar, de frente para Agnes. As duas mulheres mantinham uma tensão latente entre si. Agnes, como sempre, parecia altiva, enquanto Bridget exibia um semblante sério, sem nenhuma intenção de baixar a guarda.

Então, você aceita o acordo? – perguntou Agnes, com um sorriso frio nos lábios.

Bridget respirou fundo. Ela sabia que entrar no jogo de Agnes era como andar sobre uma corda bamba, mas não tinha escolha. Sua avó, Nívea, estava cada vez mais doente, e a livraria de sua mãe corria risco de ser destruída.

Sim, eu aceito – respondeu Bridget, com a voz firme. – Mas quero garantias. Quero a livraria de volta, assim como o controle total das finanças dela.

Agnes estreitou os olhos, mas manteve o sorriso no rosto.

Ora, querida, você sempre foi determinada. Está em seus termos, desde que cumpra sua parte no acordo.

E qual seria exatamente a minha parte? – perguntou Bridget, cruzando os braços.

Agnes deu um pequeno gole em seu chá antes de responder.

Você deve assumir o lugar de sua irmã, Callie, no casamento com Andrew Miller.

Bridget sentiu seu coração parar por um instante. Apesar de ter aceitado o acordo, ouvir isso de maneira tão direta era um choque. Casar-se com alguém que ela mal conhecia – ou achava que conhecia – era algo que não estava em seus planos.

Por que eu? – perguntou, estreitando os olhos. – Callie é a legítima herdeira.

Agnes deu uma risada baixa.

Callie tem uma reputação a zelar. Ela não pode se associar a um homem como Andrew Miller, que carrega rumores de escândalos e histórias de mulherengo. Mas você, Bridget... Você é a filha "menos importante". Não há nada a perder.

Aquelas palavras a atingiram como uma faca, mas Bridget não demonstrou. Se havia algo que aprendeu ao longo dos anos, era como mascarar suas emoções diante de Agnes.

Muito bem – disse ela, levantando-se. – Se esse casamento é o preço que devo pagar, então que assim seja.

Naquela noite, Andrew e Bridget se encontram...

Andrew foi até a livraria de Bridget para esclarecer o que havia descoberto. Ele a encontrou no andar de cima, sentada à mesa com alguns papéis à sua frente.

Precisamos conversar – disse ele, direto.

Bridget levantou os olhos para ele, surpresa com a seriedade em sua voz.

Sobre o quê?

Andrew aproximou-se, colocando o testamento sobre a mesa.

Isso. Descobri que meu avô deixou um contrato de casamento entre nossas famílias.

Bridget leu o documento rapidamente, sentindo um misto de incredulidade e raiva.

Então você sabia?

Não até agora – respondeu Andrew, cruzando os braços. – E, para ser honesto, estou completamente contra isso.

Bridget se levantou, os olhos brilhando de determinação.

Eu também estou. Mas às vezes precisamos fazer sacrifícios.

Andrew franziu a testa.

Sacrifícios? Do que você está falando?

Ela suspirou, desviando o olhar.

Aceitei o acordo de Agnes. Vou me casar com você.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Andrew demorou um momento para processar as palavras dela antes de se aproximar mais.

Você está falando sério? Por quê?

Bridget olhou diretamente para ele, sua voz firme.

Porque é a única maneira de proteger minha avó e a livraria da minha mãe.

Andrew segurou os ombros dela, olhando-a nos olhos.

Bridget, isso não está certo. Você não pode sacrificar sua vida por causa disso.

Ela sorriu tristemente.

Você não entende, Andrew. Já sacrifiquei tantas coisas que isso não parece tão diferente.

Por um momento, os dois ficaram presos naquele olhar, a intensidade entre eles quase insuportável.

Se vamos fazer isso – disse Andrew, finalmente –, então faremos do meu jeito. Eu não vou deixar Agnes controlar tudo.

Bridget arqueou a sobrancelha.

E qual seria o seu jeito?

Andrew deu um meio sorriso, cheio de determinação.

Vamos descobrir todos os segredos que ela está escondendo. E, no processo, talvez possamos virar esse jogo a nosso favor.

Bridget assentiu, sabendo que aquele acordo forçado era apenas o começo de algo muito maior.

A mansão Jones estava às escuras, mas o ar pulsava com a tensão dos acontecimentos recentes. Bridget permanecia acordada em seu quarto, a mente girando em torno de sua decisão. Aceitar o acordo de Agnes fora um ato de desespero e racionalidade, mas o peso de casar-se com Andrew Miller – um homem que despertava nela sentimentos conflitantes – era algo que ela ainda não conseguia digerir completamente.

Ela olhava para a janela, onde a luz da lua iluminava o jardim de tulipas azuis. Aquele lugar lhe trazia lembranças de sua mãe, uma das poucas pessoas que realmente a compreendiam. Se Melinda estivesse viva, o que ela diria sobre tudo isso? Bridget suspirou, sentindo uma mistura de tristeza e resolução. Era tarde demais para voltar atrás.

Enquanto isso, Andrew estava em sua própria casa, sentado em frente à lareira. O contrato matrimonial repousava sobre a mesa de centro, junto com um copo de whisky que ele mal havia tocado. Seus pensamentos estavam um caos. Bridget Jones não era apenas mais uma figura no tabuleiro de xadrez que sua família havia criado. Ela era diferente, intrigante, e ele sabia que havia algo muito maior em jogo do que um simples casamento arranjado.

Andrew pegou o telefone e discou o número de seu advogado.

Preciso que você investigue tudo sobre a família Jones – disse, com a voz firme. – Quero saber cada detalhe, principalmente sobre Agnes e os contratos que envolvem a livraria.

Entendido, senhor Miller. Começo imediatamente.

Ele desligou, determinado a virar o jogo. Se tivesse que se casar, faria isso com as cartas na mão.

Na manhã seguinte, a família Jones organizava os preparativos para o que seria apresentado como um noivado surpresa entre Bridget e Andrew. Callie, sempre fúva e provocativa, não perdia a oportunidade de alfinetar a irmã.

Então, Bridget, como se sente sabendo que vai se casar com um homem que não escolheu? – disse Callie, com um sorriso malicioso enquanto ajustava seu vestido diante do espelho.

Bridget manteve a expressão neutra, mas sua voz saiu firme.

Callie, prefiro me casar com um homem que carrega segredos a me submeter a ser um fantoche como você.

Callie bufou, virando-se para encarar a irmã.

Sempre a valente. Vamos ver quanto tempo isso dura quando você estiver sob os olhos da sociedade. Boa sorte com seu príncipe imperfeito, Bridget.

Bridget saiu da sala sem dizer mais nada. Tinha coisas mais importantes para fazer do que lidar com as provocações da irmã.

Naquela tarde, Bridget encontrou Andrew na livraria. Ele havia marcado o encontro para discutir os próximos passos do acordo, mas, ao vê-la entrar pela porta, percebeu que o clima entre eles mudara. Havia algo mais ali, algo que nenhum dos dois conseguia nomear, mas que os envolvia como uma corrente invisível.

Está pronta para isso? – perguntou Andrew, apoiando-se no balcão enquanto observava Bridget com atenção.

Ela ergueu o queixo, determinada.

Não tenho outra escolha. E você? Está pronto para o que vem a seguir?

Andrew deu um meio sorriso, um brilho divertido nos olhos.

Nunca estive tão preparado para algo tão inesperado.

Bridget rolou os olhos, mas não conseguiu evitar o leve sorriso que surgiu em seus lábios.

Os dois começaram a discutir os detalhes do noivado e como lidariam com a família de ambos. No entanto, em algum momento, a conversa mudou de tom. Andrew, sempre perspicaz, inclinou-se para mais perto dela.

Por que você aceitou esse acordo, Bridget? Quero ouvir da sua boca, sem rodeios.

Ela o encarou, surpresa com a pergunta direta. Suspirou, desviando o olhar por um momento antes de responder.

Porque minha mãe lutou por essa livraria a vida inteira.

Não vou deixar que Agnes destrua tudo o que ela construiu. Isso é maior do que eu.

Andrew assentiu, admirando a determinação dela.

Você é incrível, sabia? – disse ele, sem disfarçar o tom de admiração em sua voz.

Bridget sentiu o coração acelerar, mas manteve a postura.

E você é bem mais decente do que eu imaginava.

Os dois riram, e por um momento o peso da situação pareceu desaparecer.

Naquela noite, Andrew decidiu que era hora de mudar as regras do jogo. Ele convidou Bridget para jantar, mas escolheu um lugar que não fazia parte do circuito tradicional. Em vez disso, levou-a a um restaurante pequeno e aconchegante, escondido em uma rua pouco movimentada de Londres. O ambiente era íntimo, iluminado por velas, e o aroma das especiarias preenchia o ar.

Por que me trouxe aqui? – perguntou Bridget, curiosa.

Porque achei que você merecia um momento longe das manipulações da sua família e do caos que é minha vida – respondeu Andrew, sincero.

Bridget o observou por um momento antes de sorrir.

Bom, você acertou. Preciso disso.

Eles conversaram sobre tudo, desde livros e música até as expectativas irreais que carregavam por serem parte de suas respectivas famílias. Andrew descobriu que Bridget tinha uma risada contagiante, enquanto ela percebeu que ele era muito mais profundo do que a fama de mulherengo fazia parecer.

No final da noite, enquanto caminhavam lado a lado pelas ruas tranquilas, Andrew parou de repente.

Bridget, preciso que você saiba de uma coisa.

Ela virou-se para ele, surpresa com o tom sério em sua voz.

O quê?

Ele hesitou por um momento antes de continuar.

Eu não quero que você pense que é apenas uma peça nesse jogo. Eu... me importo com você. Mais do que deveria.

Bridget sentiu o coração disparar, mas não soube como responder. Antes que pudesse dizer algo, Andrew se inclinou e a beijou. Foi um beijo lento e cheio de significado, como se ele estivesse tentando transmitir tudo o que sentia sem precisar usar palavras.

Quando se afastaram, Bridget ainda estava sem fôlego.

Isso foi... inesperado – disse ela, tentando esconder o sorriso que surgia.

Andrew deu um pequeno sorriso.

Algumas das melhores coisas são.

Enquanto voltavam para casa, ambos sabiam que, apesar das intrigas e dos desafios que enfrentariam, algo mudara entre eles. E, por mais complicado que fosse, nenhum dos dois estava disposto a ignorar isso.