Capítulo 4 Novas regras

No dia seguinte, acordei com aquela sensação estranha de que nada mais seria como antes. Mesmo tentando fingir que tudo estava normal, a lembrança do olhar de Justin e seu sorriso malicioso não saía da minha cabeça.

Na escola, o clima parecia diferente. Os corredores estavam mais agitados, e eu percebia olhares curiosos ou até mesmo desafiadores lançados na minha direção. Mariana ficou ao meu lado o tempo todo, como se estivesse preparada para qualquer coisa.

Durante a primeira aula, meu olhar vagou pela janela, e meu coração acelerou ao perceber Justin do outro lado do pátio, cercado pelos amigos: Ryan, que parecia sempre estar rindo, Chaz, o mais sério e calculista, e Nolan, o mais novo, mexendo no celular, alheio à tensão do grupo

No intervalo, tentei me afastar daquela zona central, procurando um lugar mais tranquilo para respirar. Mariana e eu nos sentamos no canto da quadra, longe da multidão, mas mesmo ali, eu não consegui escapar do que estava por vir.

Justin apareceu como quem surge do nada - com o jeito desleixado de sempre, camiseta amassada, cabelo bagunçado e um sorriso que misturava provocação e controle.

- Vejo que você não sabe ainda como as coisas funcionam por aqui - disse ele, olhando direto para mim. - Eu gosto de deixar claro uma coisa: se você quiser ficar longe de problemas, é melhor aprender as regras do jogo.

Eu tentei manter a voz firme.

- Não quero confusão .

Ele riu, aquele riso rouco e provocador.

- Confusão já está no seu caminho. A questão é: vai saber lidar com ela?

Chaz soltou uma risada baixa, Ryan me fitava com um olhar avaliador, e Nolan finalmente ergueu os olhos do celular para observar.

Mariana apertou minha mão, seu gesto uma mistura de alerta e apoio.

Eu senti que estava entrando em um território desconhecido, onde cada passo seria uma decisão e onde nada seria simples.

Depois daquele breve encontro com Justin e seus amigos, a tensão parecia pairar no ar, como uma tempestade prestes a explodir. Eu tentava focar na aula, mas minha mente vagava, presa entre o medo e a curiosidade que aquele garoto despertava.

Os dias que se seguiram foram uma mistura confusa de olhares, cochichos e tentativas de manter a rotina intacta. Mesmo com a atenção que Justin atraía e as provocações de Cloe, eu tentava passar despercebida, como sempre fizera.

Foi numa dessas manhãs, durante a aula de História, que notei um movimento discreto ao meu lado. Um garoto com óculos grandes e um jeito meio desajeitado - Ethan, como me apresentaram no dia anterior - ajeitava seu material e, com um sorriso tímido, perguntou:

- Posso me sentar aqui?

Eu assenti, surpresa por ele escolher justamente o meu lugar no meio da sala cheia.

Ao longo da aula, ele fazia perguntas baixinho, quase para si mesmo, enquanto eu tentava acompanhar a explicação da professora. Não era do tipo que chamava atenção, nem puxava conversa, só parecia querer estar ali, perto, compartilhando aquele silêncio.

No intervalo, Ethan apareceu de novo, trazendo uma maçã e oferecendo um pedaço.

- Pensei que poderia gostar - disse, meio sem jeito.

- Obrigada - respondi, sorrindo timidamente.

Ele não parecia querer mais do que isso, só estar presente, como uma presença calma no meio do turbilhão que minha vida estava se tornando.

Enquanto Justin e seus amigos dominavam os corredores com risadas e olhares desafiadores, Ethan parecia uma âncora silenciosa, algo que eu ainda não sabia se precisava - mas que, sem perceber, já estava começando a notar.

            
            

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