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O som do tiro ainda ecoava na minha cabeça enquanto Justin me conduzia para longe da pista. Tudo ao redor parecia borrado. As luzes, as vozes, a música. Eu andava como se estivesse em transe, com a mão dele firme no meu ombro, como uma âncora me puxando de volta à realidade.
Mariana apareceu do meu lado, pálida como um lençol.
- Carla... você tá bem? - perguntou, com a voz falhada, como se ela própria estivesse tentando não entrar em pânico.
Assenti lentamente, sem saber ao certo se era verdade.
Justin abriu uma porta lateral que dava para um corredor estreito, longe do som e da fumaça da pista. Me guiou até um pequeno escritório com iluminação fraca, uma mesa bagunçada e garrafas vazias pelo chão. Era o tipo de lugar onde decisões perigosas eram tomadas.
- Senta - ordenou ele, com a voz mais baixa, agora mais contida.
Eu obedeci, sem discutir. Mariana permaneceu perto da porta, olhando de um lado para o outro, inquieta.
Justin puxou uma cadeira, se sentou de frente pra mim, e ficou me observando. A tensão no ar era sufocante.
- Ele encostou em você - disse, sem levantar a voz, mas com os olhos carregados de algo que misturava ódio e... posse.
- Ele não tinha o direito - completei, quase num sussurro, tentando entender se eu realmente achava que aquilo justificava o que ele fez.
Ele se inclinou para frente, os cotovelos nos joelhos.
- Nesse lugar, quem não impõe respeito, desaparece. Eu não deixo ninguém tocar no que é meu.
Aquela frase me gelou por dentro. Eu não era dele. Mas o pior... era que uma parte de mim não sabia mais se queria discutir isso naquele momento. Tudo parecia embaralhado.
Mariana finalmente rompeu o silêncio:
- A gente precisa ir. Isso foi demais, Justin. Não é normal!
- Já tá sendo resolvido - disse ele, sem olhar pra ela. - Nolan tá cuidando.
- Não é disso que tô falando. Ela não deveria ter visto isso - rebateu Mariana, firme.
Justin ignorou o comentário. Em vez disso, se virou pra mim de novo.
- Você ainda quer ficar aqui ou quer que eu mande alguém levar vocês pra casa?
Eu hesitei. Eu deveria ter levantado. Gritado. Dito que nunca mais queria ver ele de novo. Mas em vez disso... me vi olhando pra ele com os olhos ainda presos naquela tensão maldita entre o medo e o fascínio.
- Me leva pra casa - pedi, baixinho.
Ele assentiu, chamou Nolan pelo rádio e, minutos depois, estávamos saindo pelos fundos da boate, evitando os curiosos.
No caminho de volta, no banco traseiro do carro, Mariana apertava minha mão em silêncio. Eu olhava pela janela, tentando entender como aquela noite tinha começado com um convite e terminado com um disparo.
E, o mais confuso de tudo... por que, mesmo depois de tudo, eu ainda sentia vontade de olhar pra trás.