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O som grave da batida já era audível do lado de fora quando chegamos. As luzes piscavam por trás da porta de metal escuro, como um aviso: a partir daqui, tudo muda
Justin estava na entrada. Estava de jaqueta preta, camiseta amassada e um cigarro apagado preso no canto da boca, só de estilo. Ele lançou um olhar demorado para mim, de cima a baixo, e pela primeira vez, vi sua expressão vacilar.
- Então você veio - disse ele, com a voz mais baixa do que o habitual. Seus olhos ficaram um segundo a mais na curva do meu quadril antes de se desviar rapidamente. - Bonito o vestido.
Fiz que sim com a cabeça, sentindo minhas bochechas queimarem, e Mariana puxou meu braço antes que o silêncio ficasse constrangedor.
Entramos juntas.
O som nos engoliu. A boate era como outro planeta - quente, barulhento, vivo. Luzes vermelhas e violetas cruzavam o ambiente como relâmpagos dançantes. Pessoas se moviam ao ritmo da música, algumas dançando como se não existisse amanhã, outras apenas observando dos camarotes ou dos cantos escuros.
- Meu Deus... - murmurei, absorvendo tudo ao redor. - É outra realidade.
- Pois é - Mariana gritou de volta, sorrindo, puxando minha mão. - Agora dança comigo antes que você comece a pensar demais!
No começo, me senti fora do meu corpo. Mas com a batida certa, o calor da música e a confiança da Mariana, aos poucos fui me soltando. Nossos corpos se moviam juntos, entre luzes e sombras, como se o mundo lá fora tivesse desaparecido.
Foi quando, ao girar devagar, meus olhos bateram em Cloe.
Ela estava encostada num dos sofás VIP da lateral, uma taça na mão, e vestia preto. O olhar dela me atravessou como um golpe. Era nítido: ela me mediu com desprezo e um toque de algo mais... talvez ciúme, talvez desafio.
Justin estava do outro lado da pista, com Ryan e Nolan conversando com alguém de aparência mais velha - provavelmente discutindo algum negócio. Mas, assim que me viu dançando, os olhos dele congelaram. A conversa parou. Ele não se moveu por alguns segundos.
Quando começou a atravessar a pista, o olhar preso em mim, senti meu corpo enrijecer. Justin não sorria. Seus passos eram lentos, certeiros. Ele parou atrás de mim, encostando o rosto próximo ao meu ouvido.
- Você tá se divertindo, né? - murmurou, com a voz baixa e rouca. Era mais afirmação do que pergunta.
- Tô só dançando com a Mariana - respondi, tentando parecer natural.
Ele não respondeu. Em vez disso, envolveu minha cintura com uma das mãos e me puxou levemente para ele, de forma sutil, mas clara. Um gesto silencioso. Um aviso.
Mariana fingiu não notar e continuou dançando ao nosso redor, mas eu senti tudo mudar.
Naquele instante, Justin estava dizendo, sem palavras, para todos - inclusive Cloe, que nos observava com a taça na mão - que eu era dele.
E eu? Ainda tentava entender se aquilo era perigoso, sedutor... ou os dois ao mesmo tempo.
O toque da mão de Justin na minha cintura ainda me deixava em alerta quando Ryan se aproximou. Ele parecia mais sério que o normal, falando perto do ouvido do Justin, com um olhar rápido e cauteloso para mim.
- Aqueles caras chegaram. Estão esperando no fundo, perto do escritório.
Justin não respondeu de imediato. Soltou um suspiro e me olhou, como se não quisesse sair dali.
- Fica aqui com a Mariana. Eu já volto - disse, com a voz firme, e então se afastou, desaparecendo em meio à multidão com Ryan e Chaz logo atrás.
Mariana voltou ao meu lado, mas foi pegar uma bebida no bar. Fiquei sozinha por poucos minutos - tempo suficiente para o clima mudar completamente.
Um homem, uns dez anos mais velho do que eu, apareceu vindo do balcão com um copo na mão e um sorriso exagerado no rosto. Estava arrumado demais pro estilo da boate, com um relógio dourado brilhando no pulso e um cheiro forte de perfume amadeirado.
- Sozinha, gatinha? - disse ele, parando na minha frente. - Nunca te vi por aqui. Nova na cidade?
- Tô esperando alguém - respondi, firme, tentando recuar.
Ele riu, ignorando totalmente meu desconforto.
- Ninguém deixa uma garota bonita como você esperando. Vem, deixa eu te mostrar como a noite pode ser melhor.
Antes que eu pudesse responder, ele segurou meu pulso.
- Solta - disse, tentando puxar o braço de volta, o coração disparado.
Mas ele não soltou.
Foi aí que ouvi o estouro.
O som foi seco, brutal, e ecoou como um trovão abafado pela música alta. As pessoas ao redor se viraram, algumas gritaram, outras simplesmente congelaram. O homem caiu de joelhos no chão, os olhos arregalados, a mão escorregando de mim.
Justin estava ali, de pé, com a arma ainda apontada. A multidão deu um passo para trás.
Ninguém se atreveu a dizer uma palavra.
Ele caminhou devagar até mim. A expressão em seu rosto não era de raiva. Era fria. Calculada.
- Eu disse pra você esperar - falou baixo, antes de guardar a arma de volta na cintura.
O silêncio depois do tiro parecia ainda mais ensurdecedor do que a música.
Mariana apareceu em seguida, pálida, os olhos arregalados. Eu ainda tremia, mas não conseguia me mover. Não sabia se o que eu sentia era medo, choque ou uma estranha vertigem de adrenalina.
Justin olhou ao redor e fez um gesto para Nolan, que já estava ligando para alguém no celular, provavelmente para "limpar" a cena. Era claro: aquilo não era incomum ali.
Naquela noite, entendi exatamente onde eu tinha me metido.
E percebi que, a partir dali, sair não seria tão simples quanto entrar.