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Capítulo 4
Eliza Altheron
Eu congelei. O homem à minha frente era ele. O mesmo que matou as pessoas que me criaram.
- Um assassino? - sussurrei.
Numa fração de segundo, minha cabeça se negou a aceitar. Balancei, recuei dois passos, negando com a cabeça enquanto meu peito apertava.
- Não... - sussurrei, sentindo o chão girar debaixo de mim. - Não, não, não...!
Samuel, meu suposto pai, levantou as mãos como se pudesse conter o desespero que subia dentro de mim.
- Eliza, escute. - A voz dele soava calma, como se fosse razoável o que estava prestes a dizer. - Esse era o combinado. Ninguém queria se arriscar a entrar naquela casa. Nem os melhores homens que contratei. E ainda havia um pedido de extermínio. Liam - apontou para o assassino - Ele foi e fez.
Minhas sobrancelhas se franziram automaticamente.
- Pedido de quê?
Samuel respirou fundo, a voz carregada.
- O casal que te sequestrou, aqueles dois... - Ele cerrou a mandíbula. - Já tinham gasto quase todo o dinheiro. Você, para eles, não servia mais pra nada. Estavam planejando... - ele desviou o olhar por um instante - ...te matar. Eu tenho provas. Contrataram gente para te apagar discretamente.
Meus joelhos vacilaram. Eu sabia que isso era verdade, eu mesma havia visto o documento que inclusive, ainda estava no meu bolso.
Samuel deu um passo à frente, como se pudesse me segurar apenas com palavras.
- O Liam se infiltrou. Ele matou aqueles desgraçados antes que fizessem algo contra você. E te trouxe de volta pra sua verdadeira família. - Seus olhos queimavam de uma convicção que me dava vontade de gritar. - Era o mínimo que nós podíamos fazer. Não sei se você sabe, mas somos da máfia Lyons. Os casamentos são todos arranjados.
Meu olhar vacilou para Liam - o assassino - que apenas me encarava, braços cruzados, como se estivesse entediado com toda a cena.
- E tem mais - Samuel continuou -, seu avô exigiu que você estivesse casada para receber sua herança. É a cláusula final. O prazo vence este mês. Era agora ou nunca.
As palavras batiam na minha cabeça como tapas.
- Casada? Com esse... monstro? Ele mata só pra ver o tombo! É esporte pra ele.
- Estará segura, filha.
- Me procurou a vida toda, mesmo? Porque parece tão fácil me entregar a um assassino de aluguel?
- Liam é de segurança. Você vai ficar melhor assim. - Samuel respondeu.
- Eu não... - minha voz falhou. Recuei mais, tentando me afastar, tentando encontrar alguma saída. - Eu não vou me casar com ele. Não vou fazer parte disso! Nada disso faz sentido!
Girei nos calcanhares e comecei a correr dali - só queria sair, sair, sair! Meus pés descalços foram batendo no chão de mármore, minha respiração entrecortada...
Mas fui puxada.
Uma mão dura fechou no meu braço com força, me girando de volta. Liam. Seu olhar queimava como ferro quente. Seu aperto era bruto, sem nenhuma delicadeza.
- Agora é tarde pra correr, princesa - ele rosnou baixo, quase num sussurro, puxando meu rosto para perto do dele. - Você é minha agora.
- Me solta! - gritei, tentando me desvencilhar, mas ele segurava firme, como se eu fosse um objeto que ele tinha acabado de conquistar.
Seus olhos verdes claros eram como um rio antes de uma tempestade - intensos, ameaçadores, e assustadoramente frios.
- Faz o escândalo que quiser - ele disse, usando um sorriso sarcástico no canto dos lábios - No final, vai ser você no meu quarto. Não tem pra onde correr, Eliza - falou num sussurro.
Meu peito arfava, minha garganta apertava.
Por um segundo, pensei em morder, em gritar, lutar. Mas ao olhar pra Samuel - e ver que ele apenas observava, impassível, como se fosse inevitável - percebi.
Eles estavam todos juntos nisso. Eu estava presa.
Então, respirei fundo e fiz algo que me repugnou até a alma: sorri.
- Ok... - disse, engolindo o gosto amargo da mentira. - Você venceu. Eu aceito.
Vi o brilho de surpresa passar rápido pelos olhos dele. Liam afrouxou a mão, como se não esperasse tanta facilidade. Aproveitei o momento e desviei o olhar, fingindo submissão.
- Só... me dá um tempo pra me arrumar - pedi baixinho. - Se é pra ser assim, quero estar... bonita.
Ele riu com desprezo, mas soltou meu braço.
- Você tem meia hora. Quero assinar isso hoje, é melhor.
Assenti e subi as escadas correndo, mas sem parecer desesperada.
Era só o que faltava... Sem contar que Samuel disse que hoje eu descansaria, agora esse Liam quer me ver em meia hora?
Não vou casar com ele. Nunca.
Quando fechei a porta do quarto atrás de mim,
meu corpo todo tremia, então comecei a agir. Verifiquei a janela: fechada, trancada. Mas o closet... havia uma pequena janela alta ali, esquecida entre prateleiras de roupas de grife.
Subi nas prateleiras, rasguei a palma da mão no ferro enferrujado, mas consegui destrancar a janela. Era estreita, mas talvez eu passasse.
Olhei uma última vez para trás. Se ficasse, seria prisioneira para sempre.
Então respirei fundo, me esgueirei pela abertura e saí. Era noite, fui parar numa sacada do andar de baixo e com cuidado fugi pela rua de trás. Fui determinada a encontrar a liberdade - custasse o que custasse.
O vento batia no meu rosto enquanto eu corria pelas ruas silenciosas do condomínio. O pijama leve grudava na pele suada, os pés descalços machucavam no asfalto, mas eu não parava.
Minha respiração era curta e rasgada. Só queria chegar até o portão. Só queria sair dali.
Quando alcancei a saída principal, vi que a guarita estava vazia - ou o vigia dormia, ou estavam todos comprados. Empurrei o portão lateral, que estranhamente estava entreaberto, e escapei para a rua deserta.
Um sorriso pequeno se formou nos meus lábios partidos.
Consegui.
Mas a sensação de alívio durou apenas dois segundos.
O som de pneus no asfalto chamou minha atenção. Olhei para trás.
Um carro preto. O mesmo que vi parado nas sombras do internato, o mesmo que perseguiu o carro que me trouxe até esse inferno. Meu coração disparou como um tambor enlouquecido.
Não era de Samuel. Nem de Liam. Era o outro inimigo.
O carro acelerou, vindo direto na minha direção. Seus faróis cortaram a escuridão como olhos de predador. Girei nos calcanhares e corri pela rua, buscando uma saída, qualquer saída, mas as casas estavam afastadas, a rua parecia se estender interminável à minha frente.
Ouvi o motor roncando mais alto. Estavam perto.
Foi quando o ronco de outro motor invadiu a rua, furioso e agressivo. Um carro prateado surgiu em uma curva, pneus derrapando no asfalto, quase saindo do controle.
E então ouvi a voz dele, parecia um trovão:
- Entra logo! Porra! - Era Liam.
Eu hesitei por meio segundo.
Confiar nele? Ou enfrentar o desconhecido?
Não havia escolha. Entre o monstro conhecido e o monstro oculto, preferi o primeiro.
Corri em direção ao carro de Liam. Ele abriu a porta com brutalidade e me puxou para dentro, quase me lançando no banco do passageiro.
Antes mesmo que eu fechasse a porta, ele já estava acelerando, cantando pneus e jogando o carro na estrada.
Olhei para trás. O carro preto tentou nos seguir, mas Liam era mais rápido, mais ousado. Cortava curvas, rasgava retas, como se conhecesse cada centímetro daquele caminho.
- Que merda você estava tentando fazer, hein?! - ele rosnou, sem tirar os olhos da estrada.
Fiquei quieta, o coração ainda batendo na garganta.
Ele me lançou um olhar rápido e feroz.
- Quer morrer, Eliza?
- Eu... - de repente olhei pelo espelho e lá estava ele novamente... O carro preto na nossa cola - Estão nos seguindo!
- Porra! Se segura! - meu corpo foi jogado para a direita com o impacto do movimento brusco.