"Está me dizendo que ficar perto de você é mais seguro?" ele assentiu com uma expressão cínica. Eu me aproximei mais e coloquei a mão na frente do peito dele, mas não o toquei. "Então me diz, como é que você estava jogado em um beco, baleado, e eu que te salvei, levando pro meu 'apartamento de segurança duvidosa'?"
Vi o rosto dele mudar de expressão, até ficar frio.
"Nós vamos buscar as suas coisas!"
"Cesare, não!", eu insisti e ele segurou meus ombros. O medo desceu pelas minhas costas.
"Ou você faz o que eu estou dizendo, ou pode ter certeza de que visitarei seu amiguinho no hospital mais rápido do que você consiga dizer 'não'!"
A ameaça era clara: ou eu fazia o que ele mandava, ou ele mataria Spencer. Que cretino miserável!
"Eu deveria ter deixado você morrer!"
Droga, eu não queria dizer aquilo! Nunca fui uma pessoa mesquinha, apesar de ter resposta pra tudo. Respirei fundo, enquanto Cesare apenas me soltou e vi desprezo estampado em seu rosto.
"Não tenho todo o tempo do mundo! Vamos logo passar na sua casa e pegar o que você precisa."
Ele falou sério, sem emoção alguma. Ajeitou a roupa e começou a se afastar, parando alguns passos depois e virando a cabeça levemente, como se pudesse me olhar. O segui e Cesare voltou a andar.
Entramos no carro e Magno, como se compreendesse que não era o momento para gracinhas, ficou calado. Ele era um cara legal, porém, falava demais. Tanto que eu não conseguia nem ouvir os meus próprios pensamentos. Enquanto isso, Cesare era mais calado, quieto. A não ser quando estava me ameaçando ou flertando apenas para me constranger.
Já no prédio, a primeira coisa que eu vi quando as portas do elevador se abriram foi Spencer. Ele jogou as mãos para o alto e começou a andar até mim, então os olhos dele recaíram sobre Cesare e ele parou de andar.
"O que é isso?" ele perguntou e deve ter percebido como eu não estava feliz, por isso, Spencer segurou meu braço e me puxou para ele. "Cai fora, mano."
Cesare não se moveu, exceto os olhos dele, que se cravaram em mim.
"Spencer, calma," eu comecei a falar, mas Spencer não parecia disposto a ouvir.
"Não, Mel. Esse cara tá perseguindo você? Isso é errado em tantos níveis!"
"Como eu poderia perseguir a minha própria esposa?" Cesare soltou e eu queria matá-lo ali mesmo! Eu pretendia contar as coisas com calma para Spencer, explicar a situação.
"Esposa?" Spencer olhou pra mim e então, para Cesare.
"Sim. Melanie e eu nos casamos, então, ela é a minha esposa."
"Cesare, deixa que eu falo com o Spencer!", eu falei mais alto, ganhando um olhar de desdém de Cesare. Virei-me para Spencer, que tinha as mãos na cintura.
"É bom você explicar isso direitinho, Mel. Você já conhecia esse cara?"
"Claro! Você acha que ela se casaria com um estranho?"
"Cesare!"
"Por que quer poupar os sentimentos dele?", Cesare falou. "Ele é gay, que você disse. Mas não é o que eu estou vendo. E...", Cesare me puxou para ele. "Não gosto nem um pouco disso!"
"Tire as suas mãos dela!"
"Mas que inferno! O que diabos está acontecendo aqui?", a voz do senhor Fischer se fez ser ouvida, e ele saiu do apartamento dele, olhando para nós três. Droga, aquele senhorzinho era uma pedra no sapato quando queria ser. "Eu fiz uma pergunta! Ou os três paspalhos ficaram surdos? Isso explicaria o porquê de serem tão barulhentos!"
"Senhor Fischer, desculpe, é que..."
Cesare andou a passos firmes até o idoso e eu não podia acreditar. Ele não mataria o senhor Fischer, não é?
"Sou Cesare Varricchio. Desculpe pelo incômodo, senhor. Minha esposa e eu estávamos apenas discutindo acaloradamente com o amigo dela. Nada sério,"
Cesare estendeu a mão para que o senhor Fischer a apertasse. Este olhou desconfiado para Cesare e estreitou os olhos.
"Vocês jovens não têm respeito pelos mais velhos!"
"Perdão. Isso não voltará a acontecer."
"E um momento, 'esposa'? Desde quando aquela garota ali é casada?", o senhor Fischer olhou para Spencer e então para mim. "Achei que ela era namorada dele. Ele dorme aqui constantemente."
Eu coloquei as mãos na cintura. Marlon Fischer estava mesmo dando uma de fofoqueiro e tentando me colocar em uma saia justa, era isso mesmo?
"Ah, é? Spencer Wilkinson passa as noites no apartamento da minha mulher?" ele perguntou e pareceu mais do que desagradado.
"Não é nada disso!", eu me defendi.
"Senhor Fischer! Não acredito que está criando intrigas!", Spencer diz. "Depois de todas as vezes que lhe ajudei! Como pôde?"
"Eu não vou ser comprado tão fácil!", o velho falou e olhou para Cesare. "Achei que eles eram namorados! Além disso, se você é casado com ela, como é que ela mora aqui, sozinha?"
"Nós nos casamos há pouco e viemos buscar as coisas dela," Cesare se explicou e vi um olhar complicado no rosto dele.
"Então é por isso que aquele ali estava fazendo escândalo ontem de noite?" O senhor Fischer perguntou e olhou para Spencer, com uma certa pena. "Rapaz, se valorize! Há muitas mulheres nesse mundo. Podem não ser tão bonitas quanto a senhorita, digo, senhora Varrechio-"
"Varricchio," Cesare o corrigiu.
"Isso. Varrechio," eu sabia que ele tinha repetido errado apenas para incomodar. "Mas deixe-a ir. Esperava mais dela!"
Eu já estava de saco cheio! Passei por eles, abri a porta do apartamento e entrei. Cesare e Spencer brigaram para ver quem entrava primeiro, e Cesare ganhou, empurrando Spencer para o lado e entrando no apartamento como se fosse dele.
"Vamos logo. Eu não tenho o dia todo," Cesare falou e eu fui para o quarto. Vi Spencer vindo atrás de mim, mas Cesare colocou o braço no caminho.
"Eu vou conversar com ela!"
"Nem pensar. Não vai pro quarto dela!"
Eu só os ouvia discutir, enquanto colocava as roupas que podia na pequena maleta que eu tinha retirado de dentro do closet.
"Eu já dormi no quarto dela, seu idiota!"
Fechei a porta e continuei. Se aqueles dois iam ficar se bicando, não era problema meu!
Minutos depois, saí do quarto com a maleta e mais uma valise.
"Estou pronta," olhei em volta e não tinha sinal de Spencer. Cesare estava sentado tranquilamente no sofá. Ele se levantou e ajeitou o terno.
"Vamos."
Ele fez menção de pegar a valise do meu ombro, mas eu o impedi, ao que ele levantou uma sobrancelha.
"Cadê o Spencer?"
"Não está aqui."
Cesare tentou de novo e eu me afastei.
"Não sou cega e nem burra! Quero saber por que ele não está aqui!", soltei a valise no chão.
Cesare sorriu de lado e começou a andar até mim, como um felino pronto para atacar. Minha garganta secou e eu só pude andar para trás. A porta do quarto estava aberta e eu só me dei conta de que tinha entrado ali porque bati com os joelhos na cama e caí. Cesare se debruçou sobre mim, prendendo as minhas mãos no colchão.