"Esse filho que você espera realmente é de Cesare?" ela perguntou e, mesmo eu não estando grávida, senti a raiva subindo para a minha cabeça. Como aquela mulher ousava?
"Sim, é de Cesare," eu coloquei a minha mão na barriga. "É o fruto do nosso amor."
Atanasia inspirou fundo, e se sentou ao lado de Bibiana.
"Mas Cesare vai se casar comigo. Eu entendo que você esteja confusa e magoada, mas... é algo de família." O sorriso falso dela me dava nos nervos.
"Como assim 'algo de família'? Está me dizendo que os seus pais armaram um casamento entre vocês, como se estivéssemos presos em um passado distante?"
Às vezes, eu não entendia o motivo de eu não conseguir segurar a minha língua. Aquelas pessoas, fossem quem fossem, não eram o tipo de gente que alguém quer entrar em uma discussão com, mas ali estava eu, falando mais do que deveria.
"Está nos chamando de antiquados?" Bibiana perguntou e sorriu desdenhosa, mesmo que não tão escancaradamente. "Talvez devesse se afastar de nossa família o quanto antes. E pensar duas vezes antes de ter um bastardo."
Eu me levantei da cadeira e encarei a mãe de Cesare. Eu tinha muito respeito pelas pessoas mais velhas, mas aquela mulher não merecia!
"Eu apenas perguntei se era o caso de um 'casamento arranjado' ou coisa do tipo, porque se for, é mais um motivo para que eu não me afaste de Cesare. Ele é dono de si mesmo, adulto e capaz de decidir com quem ele quer se casar. E sobre..."
"Amor?" ouvi a voz de Cesare soando atrás de mim e me virei. Havia uma marca vermelha no rosto dele, visível mesmo que a barba desse uma disfarça. O homem passou a mão pela minha cintura com intimidade.
"Cesare, nós estávamos apenas aqui conversando com a senhorita que você trouxe como acompanhante e ela... ela começou a falar de uma maneira estranha." A sonsa da tal Atanasia disse, fazendo uma cara de desentendida. Na boa, eu odiava esse tipinho de gente!
Bibiana se levantou da cadeira, encarando o filho.
"Cesare, essa moça foi desrespeitosa. Como você pôde trazer aqui uma moça desse tipo?" Ela levou a mão ao peito, como se fosse uma vítima nas minhas mãos! As pessoas ao redor estavam observando e se eu não fizesse nada, seria a vilã daquela noite.
Eu sabia que minhas próximas palavras me fariam conquistar uma inimiga. Me virei para Cesare e coloquei as mãos no peito dele, fazendo um biquinho e levando minha mão à minha barriga.
"Eu só defendi o nosso filho e o nosso amor, Cesare," eu disse e levantei os olhos para Cesare, que me observava com o que eu chamaria de curiosidade. "A sua mãe me disse que você vai se casar com outra mulher e... que eu deveria pensar sobre um aborto!"
O local todo ficou em silêncio e eu vi pelo canto do olho como Bebiana abriu a boca várias vezes, mortificada, enquanto recebia olhares de reprovação. O pai de Cesare apareceu e ele estava de mau humor.
"Cesare não vai fazer um filho e não tomar responsabilidade. Além disso, ninguém que carregue o sangue dos Varricchio será abortado!", ele olhava para a esposa e então se virou para mim. "Não precisa se preocupar."
"Eu não disse nada disso! Eu não disse que você deveria abortar a criança!" Bibiana se defendeu.
"A senhora me disse para pensar duas vezes antes de ter um bastardo. Eu já estou grávida e a senhora sabe. O que haveria para eu pensar além de decidir prosseguir com a gestação ou interrompê-la?", funguei e olhei para Cesare. "Não quero tirar o nosso filho, mesmo que você não me queira."
"Cesare, vá acalmar a sua noiva. Eu cuidarei das coisas aqui, antes da nomeação dos novos homens de honra."
Cesare assentiu e segurou meu braço com cuidado, levando-me para longe da multidão e me fazendo passar por um portal bonito de madeira e vidro, que dava para os jardins.
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CESARE
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Melanie parecia ter incorporado uma moça frágil e eu já tinha percebido que ela estava longe de ser aquilo!
Quando ela se colou ao meu corpo eu precisei me concentrar, porque aquela mulher ativava algo dentro de mim que eu nem sabia como descrever. Ela era bonita, mas eu já tinha conhecido muitas belas mulheres. Não, Melanie Walton tinha uma língua afiada que me incitava a querer cometer traquinagens.
Assim que meu pai me disse para 'acalmá-la', eu sabia que ele lidaria com a minha mãe e com o escândalo que possivelmente estava se formando depois que Melanie colocou a boca esperta dela para trabalhar - eu achava interessante, mas preferia que ela a usasse de outra forma, comigo.
Chegamos aos jardins, onde não havia ninguém além dos guardas e eu acenei com a cabeça para eles, indicando que eu queria ficar sozinho com a minha companheira.
"Devo dizer que você alcançou algo inédito hoje," eu disse e Melanie se soltou da minha mão, afastando-se um pouco de mim. "Nunca vi ninguém deixar a minha mãe sem resposta imediata,"
"Então as pessoas aqui estão precisando aprender a se defender," Melanie falou e suspirou. "Não quero desrespeitar a sua mãe, na casa de vocês, mas ela estava sendo pouco razoável!"
Eu não duvidava. Minha mãe sabia ser amorosa, mas também sabia como ser desagradável.
"Você arranjou confusão com a sua futura sogra. Não sente que isso vai dificultar a sua vida?" perguntei e vi Melanie dar de ombros. Ela olhou ao redor e se inclinou para mim, sussurrando.
"Não é como se eu precisasse lidar com a fúria dela novamente, já que nunca mais a verei," ela levantou os ombros de novo, com um biquinho na boca e virou o corpo em outra direção.
"Bom, sobre isso..." eu falei e vi Melanie virando-se lentamente na minha direção, com os olhos arregalados.