"Pera aí, eu não concordei com isso."
"Dado a sua encenação perfeita, eu pensei que estivesse louca para que eu colocasse uma aliança no seu dedo," me aproximei mais dela, que não se moveu. Eu sorri e passei a mão pela cintura de Melanie. Ela se agarrou nos meus ombros. "Nosso filho não pode nascer um bastardo, não é mesmo?"
Melanie ficou mais séria e me encarou. Eu quase podia ver o fogo dentro dela, pelos olhos. Droga, ela era o fogo em pessoa! E eu, descaradamente, adoraria me queimar.
Senti uma pontada no meu abdômen, mas não demonstrei. O remédio já estava perdendo o efeito e logo, eu precisaria tomar alguma coisa ou cairia na frente de todos.
"Cumpri com o nosso acordo. Aceitei fingir ser sua noiva. Agora, cumpra a sua," ela franziu a testa e inspirou fundo. "Deixe a mim e aos meus em paz. Ajude o abrigo."
"Farei isso... mas quero melhorar o nosso acordo."
"Não, nem pensar," ela negou com a cabeça e tentou se afastar de mim. "Você não vai me enrolar!" A dor se intensificou e eu apertei os lábios.
"Sendo você uma pessoa que gosta tanto de ajudar os outros, estou chocado com a sua falta de empatia," falei e ela soltou uma risada de desdém. "Eu preciso casar. Ou você quer que eu acabe atando os nós com Atanasia? Não seria isso castigo demais?"
E eu não estava brincando. Atanasia era viúva. Menos de um ano de casamento e o marido dela pereceu em um ataque. Isso foi há seis meses e ela já estava buscando casamento comigo, manipulando a minha mãe. Essa era a parte que me deixava com ainda mais raiva.
"Não tenho nada a ver com isso!" ela olhou em volta. "Tirei você de um beco e te levei pra minha casa. Estou aqui, fingindo ser a sua noiva. É muito atrevimento seu querer pedir alguma coisa mais!"
"Eu já disse que vou pagar. Preciso de uma esposa! E uma que não vá ficar no meu pé, pedindo por amor. Você me parece ideal, Melanie," eu falava a verdade. "Você e eu podemos trabalhar juntos. Prometo que vou ajudar pelo menos dez locais que precisem de caridade. Garantirei a sua segurança, a da sua família..."
Ela xingou baixo.
"Não sei quem vocês são, mas não me parece ser algo que eu queira pra mim, Cesare," ela falou e eu já estava suando frio. "Cesare? Você..."
"Preciso me sentar," eu olhei para o banco mais próximo e Melanie me ajudou chegar até lá. "Merda!"
"Você foi ao hospital?"
"Temos médico particular. E sim, ele cuidou de mim. Só que eu preciso descansar, o que é meio difícil, dadas as circunstâncias,"
Ela estreitou os olhos e balançou a cabeça.
"E depois ainda disse que eu poderia passar a noite com você," ela riu. "Não sou médica nem enfermeira."
"Existem muitas formas de aproveitarmos a noite, Melanie. Eu posso mostrar pra você," outra fisgada.
"Aham. Uma delas é dormindo," ela colocou a mão no meu ombro. "Onde está esse médico?"
"Não aqui, não na frente dessas pessoas," eu engoli em seco. "Preciso antes descobrir quem fez isso. Argh! Caspita!"
Eu enfiei a mão no bolso do paletó e ia tomar o comprimido à seco, mesmo. Eu não aguentava mais. Porém, minha mão acabou deixando o frasco cair e Melanie se moveu para pegar. Ela estava de joelhos na minha frente.
"Ah, desculpem! Eu não queria atrapalhar!" ouvi Magno dizendo.
Melanie olhou por sobre o ombro, olhou para mim e então compreendeu o que se passava na cabeça do meu irmão. Ela se levantou como se tivesse levado um choque.
"O que quer, irmão?"
"Ah, a cerimônia vai começar. Você tá bem?"
"Sim. Só estou um pouco frustrado, se é que me entende," eu ofereci um sorriso de lado e olhei para Melanie, que empalideceu.
"Certo! Eu... eu vou nessa e vê se não demora. O pai tá chamando."
Ele saiu do jardim e Melanie se virou para mim.
"Cesare, você precisa de médico!" eu pensei que ela iria reclamar por eu ter deixado implícito que ela e eu estávamos tendo uma diversão ali nos jardins, mas não.
"Me ajude a ir para o salão. Eu vou tomar remédio e me segurar,"
Ela passou o braço pelo meu e me ajudou a levantar. Assim que o primeiro garçom passou com taças de água, Melanie pegou uma e me deu. Eu coloquei o remédio na boca disfarçadamente e bebi a água.
Meu pai estava no palanque e olhou para mim. Eu fiz sinal que já estava indo.
"Ele não sabe?" Melanie perguntou baixinho.
"Sabe," claro que ele sabia. Como eu pediria ao médico que mentisse para o meu pai, ou ocultasse algo? "Sente-se onde eu possa te ver. Aqui está bom."
Eu não a colocaria junto com a minha mãe, até porque Atanasia estava lá. Aquela mulher era pior do que carrapato!
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MELANIE
Vi Cesare andando calmamente para o palanque e eu tinha que dizer: ele sabia fingir muito bem.
Quando o pai dele começou a falar de Organização, do valor deles, de uns homens lá que estavam entrando e então, um juramento começou, com direito a furo no dedo e sangue numa tigela com sangue, eu não tive mais dúvidas: se aquilo não era a máfia, era algum tipo de seita. E eu definitivamente não queria ter nada a ver com aquilo!
Olhando ao redor, vi a porta. Eu ainda estava sem o meu celular, porque Cesare não o entregou a mim. A bolsa que ele tinha me dado continha batom, pó e era isso! Nem mesmo as chaves da minha casa! A sorte era que eu tinha uma escondida num vaso de planta, ou ficaria ao relento!
Levantei da cadeira e calmamente fui para a saída. Eu era a noiva de Cesare, ninguém iria me parar!
Pelo menos, eu pensava que não.
"Onde pensa que está indo?"